Hocus Pocus escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 8
Capítulo 8




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Dias piores virão

A estrada para o lugar escolhido por Dongwan era linda. Apesar do breu da noite, tudo parecia iluminado pelas estrelas que nos acompanhavam. Eu gostava de olhar as estrelas. Algumas vezes, era tudo que eu tinha para fazer. Recordei-me do tempo em que morava com meu pai, no Brasil. Quantas vezes eu deitava no chão e ficava olhando o céu, imaginando se uma estrela cadente ou um disco voador não passaria por ali. Nunca passou. Nunca vi estrela cadente. Não acreditava em desejos, não acreditava na realização deles que não pelo nosso esforço físico e mental.

Hyesung diriga sem conversar, apenas uma música suave tocava de fundo. Eu senti sono e quis recostar-me em alguém. Mas estava grande demais para deitar no ombro de Dongwan. Suspirei e aceitei. Acabaria logo, era só no que eu pensava.

Enquanto desejava dormir, o telefone celular de Hyesung tocou. Ele o pegou e jogou no colo de Dongwan.

_Atenda. – Foi enfático.

Dongwan pegou o minúsculo aparelho e fez uma cara de desânimo, ao perceber que era Andy.

_É Andy Lee, o mala. O que fazemos?

_Atenda! – Hyesung repetiu.

_Hyesung, eu estou falando como uma mulher.

_Sempre falou.

Dongwan fez sinal de que estava se enfurecendo com Hyesung novamente. Resolvi tomar o celular da mão dele e atender. Eu poderia mentir, achava.

_Fala, Andy.

Dongwan me olhou assustado, mas fiz sinal para que ele me ajudasse com o diálogo. Coloquei o telefone no viva-voz, assim ele poderia ouvir Andy.

_Dongwan? Onde você está? Hyesung está com você?

_Sim... não ligou para o celular dele?

_Onde estão?

Dongwan soletrou para mim a palavra “casa”. Arregalei os olhos e lembrei que ambos moravam por Seoul.

_Estamos indo para casa.

_Casa? Dongwan, vocês endoidaram? Está todo mundo feito maluco atrás de vocês... Eric disse que você andava meio esquisito, aí desaparece o dia todo. E ainda mais com Hyesung... e depois da morte daquela garota que estava com você. Está tudo bem?

_Está sim, claro. Vamos para casa porque nossa agenda está adiada. Amanhã, sem falta, estaremos no hotel.

Fiquei orgulhosa da minha mentira.

_A produção vai escalpelar vocês dois.

_Deixe que nos entendemos com eles amanhã. Está tudo bem, Andy. Não se preocupe.

Desliguei o telefone e respirei fundo, aliviada. Dongwan sorriu para mim e segurou minha mão. Hyesung percebeu novamente alguma coisa esquisita.

_O que tem com vocês dois? Quero dizer... vocês parecem que conseguem conversar sem falar nada! Estão me excluindo, é?

_Só se fôssemos telepáticos, Hyesung. E não somos, esqueceu? Apenas estamos de corpos trocados.

_Ah, sim. Claro. Estar no corpo de uma mulher é normal para você, acontece sempre.

Pensei que Dongwan ia revidar, mas ele ficou quieto. Aliás, todos ficamos quietos até o final da viagem, que durou mais ou menos as duas horas previstas por Hyesung. Ele parou o carro em um lugar escuro e aparentemente sombrio, iluminado pela luz da lua cheia. Um lugar lindo, digno de qualquer filme de terror.

Hyesung saiu do carro e deu alguns passos.

_Temos que tomar cuidado. Está muito escuro.

_E daí? – Perguntei.

_A não ser que não ligue de cair morro abaixo, não podemos nos afastar muito do carro. Você nunca viu os fiordes?

_Não... mas acho que sei o que são.

Dongwan sorriu, e também saiu do carro. Fiquei com medo, estava frio, escuro e pisávamos em ovos. Mas precisávamos quebrar o feitiço. Futuquei os bolsos e retirei o papel com as palavras ditadas por Consuelo. Fiz um sinal para Hyesung, e ele pegou o sal no porta-malas.

_O que fazemos com o sal? – Perguntou.

_Um círculo. Pelo que entendi, temos que ficar no centro do círculo enquanto alguém profere as palavras mágicas.

_Isso parece coisa de filme. – Dongwan resmungou.

_Não pense que acredito nisso tudo. É que simplesmente estamos presos neste pesadelo, e precisamos acordar.

Enquanto conversávamos, Hyesung fez o círculo menos redondo que eu já vira.

_Deixem de conversa e entre no círculo, rápido. O tempo está passando, só temos até meia noite.

Obedecemos Hyesung e entramos no ‘círculo’. Segurei as mãos de Dongwan e olhei diretamente em seus olhos. Se funcionou para realizar o feitiço, devia funcionar para desfazer também. Hyesung começou a ler o papel que anotei, e o vento nos atingiu. Nossos cabelos esvoaçavam, e novamente tive medo de cairmos das pedras. Como se estivesse possuído, Hyesung fez um gesto com os dedos e senti algo me atingir, jogando o corpo de Dongwan longe. Logo após, o vento cessou e tudo estava calmo novamente.

_Dongwan! – Corri para ajudá-lo a levantar-se. Nem percebi que já estava em meu corpo, apenas fui socorrê-lo. Mas...

_Estou aqui! – Hyesung me disse.

_Eu sei, vou ver como está Dongwan.

_Eu sou Dongwan.

Olhei para o lado e era Hyesung que aparecia para meus olhos. Ele estava lá, imóvel. Olhava para as mãos, como que não acreditasse ter dado tudo errado mais uma vez. E seu pé, exatamente em cima da linha do círculo.

_Ah, não!! Você pisou no sal!!!

_Eu não, Hyesung pisou. Mas o que tem isso?

_O sal é um catalisador. Você pisou, deu alguma coisa errada. Eu voltei a ser eu, mas você e Hyesung...

Aproximei-me do corpo inerte de Dongwan, que jazia atordoado no chão. Ajoelhei-me ao seu lado e o sacudi, querendo fazê-lo voltar a si.

_Hyesung... acorda, Hyesung.

O homem me olhou, sorridente.

_Deu certo?

_Não. – Dongwan aproximou-se. – Agora você sou eu e eu sou você.

Hyesung levantou-se pulando para trás, como se tivesse tomado um choque.

_Isso não pode estar acontecendo! Kim Dongwan não! Como vai ficar minha reputação?

_Cale a boca, Hyesung! – Dongwan agarrou o amigo pelo colarinho. – Estou te devendo muitas porradas, não te quebro porque este corpo é meu! Cale-se, vamos descobrir um jeito de resolver isso... não vamos?

Dongwan olhou para mim, que não sabia o que fazer. Somente uma pessoa podia ajudar naquele momento, e ela estava a milhas de distância de nós. Corri para o carro e peguei o celular de Hyesung. Pela diferença de fuso horário, Consuelo devia estar na hora de almoço, fazendo nada. Disquei alguns números sem muito controle dos dedos. Ansiosa, esperei impaciente minha amiga atender o telefone.

_Alô.

_Consuelo, aconteceu uma tragédia! – Fui dramática.

_Debby? Você de novo? O que está acontecendo agora? Conseguiu desfazer o feitiço? Qual tragédia?

_Não deu nada certo, Consuelo!!! Nada!!! Fizemos tudo como você mandou! Mas antes de virmos para esta maldita roda de sal, o corpo de Dongwan tocou meu corpo e ele passou para dentro de mim.

_Que confusão!

_Confusão que você me meteu! Tem mais... viemos para os fiordes, fizemos a roda de sal e Hyesung disse as palavras que você ditou. Mas ele pisou no sal e...

_PISOU NO SAL??? Ai, Dios... mas que desgracia!

_Agora Hyesung é Dongwan e Dongwan é Hyesung. Diga alguma coisa que vá nos ajudar, algum contra-feitiço para o contra-feitiço!!

_Não dá, chica... ele pisou no sal. Agora... eles têm que vir ao Monte Cuervos.

_Consuelo, estamos falando do Shinhwa. Como eles vão ao México sem chamar a atenção?

_Não sei, chica. Mas tem que ser assim.

Desliguei o telefone desanimada. Nem precisei contar aos rapazes minha conversa, tinha esquecido de desligar o viva-voz. O semblante de Dongwan foi de total desânimo, e Hyesung não parava de rodar de um lado para o outro. Eu estava ainda mais confusa. Antes sentia-me irremediavelmente atraída por Dongwan, e estava usando seu corpo. Depois, Dongwan virou Hyesung, e fiquei sem saber se estava atraída pelo homem ou pelo invólucro. Estava tudo complicado demais.

_Vamos voltar para Seul. – Disse Dongwan, tentando colocar as coisas em ordem.

_Não podemos. – Hyesung tentou refletir, também. – Acham que Debby está morta, ela não pode aparecer assim, do nada, sem causar tumulto. Se houver tumulto, como vamos consertar... isso?

_Se sumirmos também haverá tumulto.

_Eu acho que devíamos ir para algum lugar. Está tarde e eu estou sem roupas. – Lembrei-me estar vestida com um lençol.

_Vamos para a cidade. Estamos perto, e lá conheço um hotel muito bom. Ficamos hospedados até a manhã, e pensamos no que fazer. – Dongwan sentenciou.


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