Merda. Merda. Merda. MERDA...!

Suspirei. Ficar xingando os leitores não iria resolver nada. Olhei para o meu caderno, e vi que a folha que eu escrevia estava cheia de furinhos que apareceram ali devido à força que eu escrevia. Suspirei novamente. O que estava acontecendo comigo...?

Tentei prestar atenção à aula, mas não adiantou muita coisa. Tudo o que aconteceu ainda estava vivo na minha mente, no meu coração. Esse órgão que só serve para fazer a gente sentir dor.

Mas por que meu coração doía...? Eu nunca tinha sentido tal coisa. Para falar a verdade, eu nunca senti nada. Sempre fui um robô. Só fazia o que os outros faziam... Minha vida era completamente cinza. Mas, de um dia para o outro, esse cinza ficou colorido. Graças a ela.

De repente senti uma pontada no meu coração. O simples ato de pensar nela já me deixava assim... Espera um pouco. Será que... Será que a causa de eu me sentir assim é... Ela?

Sim, provavelmente sim. Mas se for, por quê...? É porque ela reencontrou uma antiga amiga? Que mal há nisso? Se elas são só amigas... Não. Elas não são só amigas. Não por parte daquela garota.

Ao pensar nisso, em vez da dor meu coração se encheu de... Raiva? Por que eu estou com raiva? A Carol é livre, ela pode escolher quem ela quiser. Mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer. Além disso, somos só amigas. Só...

Uma lágrima caiu na folha do meu caderno. Ah, era só o que faltava. Eu agora estava chorando e bem no meio da aula! Parabéns, Bia! Você ganhou o prêmio de maior idiota do ano! Rapidamente enxuguei essas malditas lágrimas e olhei ao redor se alguém tinha visto... Pelo visto ninguém tinha visto... Oh, não.

Olhando da carteira atrás de mim, uma pessoa me encarava. Ela se vestia toda de preto (com exceção do nosso uniforme, que era verde-escuro) e usava uma maquiagem bem pesada. Seus cabelos eram originalmente pretos, mas ela fez várias mechas vermelhas nele. Olhando bem, você diria que ela era extremamente roqueira. Seu nome? Fernanda. Mas todo mundo a chamavaela de Nanda. Bem, não que ela quisesse. Ela não falava com ninguém.

Quando eu percebi que ela tinha visto meu momento emotivo, rapidamente eu tentei explicar a situação:

- Er... Eu não estava...

- Não precisa se desculpar. – sua voz grave saiu despreocupada – Isso não é do meu interesse.

Ah.

Bem, essa me pegou de surpresa. Realmente, ela não interagia com ninguém. Mas eu fiquei feliz de ela não perguntar nada. Esbocei um sorriso e disse:

- Obrigada.

Ela olhou para o lado e não respondeu nada. Se eu tivesse no meu momento normal, podia jurar que suas bochechas ficaram vermelhas...

BÉEEEEIN.

O som do intervalo podia perfeitamente se encaixar como uma trombeta de guerra: era só tocar e todo mundo saia correndo. Até a professora rapidamente saiu de maneira cômica. Ouvi Ana comentar que ela tinha interesses a tratar na sala dos professores: seu nome era Valdir e sua disciplina era Geografia. Combinava bem com a disciplina História da professora Maria. Ambas eram chatas. De acordo com Ana.

Como quase todo mundo tinha corrido para sair da sala, os únicos que ficaram na sala foram: Tomas, que não tinha dinheiro para pagar o lanche (coitado, ouvi dizer que ele está passando fome); Ana, que estava mexendo no seu celular; Daniela, que parecia mexer em sua mochila; Fernanda;  que estava ouvindo seu Ipod com cara de quem estava extremamente entediada; Carol... Que ainda estava copiando as coisas do quadro (e isso era completamente ANORMAL. Confesso que ao olhar para ela senti um frio no estômago...); eu, lógico e... Aquela garota nova, Emanuella.

Senti a raiva fluir no meu sangue de novo. Tudo naquela garota me irritava. Desde sua perfeição... Ao modo como ela olhava a Carol. Isso simplesmente me... Irrita.

Ela estava sentada na carteira ao lado da Carol, esperando ela terminar de copiar. Essa garota irritante estava observando ela copiar, a maneira como que ela olhava o quadro, suas pernas...

Meu sangue ferveu. Eu tinha que fazer algo.

Sem raciocinar direito, saí do lugar onde estava e fui direto para a carteira da Carol. Peguei seu braço e tentei arrastá-la para fora da sala, dizendo.

- Está bom, pare de copiar. Eu tenho tudo isso anotado, depois você copia. Vamos.

- Es... Espera! – Carol já estava juntando suas coisas, quando a Emanuella pegou seu braço livre.

Garota irritante!

- Aonde vocês vão?! – sua voz fina me irritava extremamente – A Carol prometeu que ia me mostrar a escola no intervalo!

Ela prometeu isso? Quando? Ah, Carol...! Eu já estava começando a sentir raiva dela!

- É verdade...? – perguntei, apertando os olhos.

Carol pareceu estar com medo. Ela sorriu timidamente e disse:

- Sim...

A cara que eu fiz deveria ser tremendamente assustadora, porque tanto Carol quanto Emanuella ficaram com muito medo.

Ah, elas não iam sair dessa tão fácil...

- Espera gente, espera! – uma voz que parecia estar se divertindo muito veio do lado oposto da sala.

Era a Daniela.

- Vocês não precisam brigar agora pra ver quem fica com a Carol! – continuou ela, sorrindo.

O quê...? Quem estava brigando por aquela idiota...?!

- O que você está dizendo, Dani? – Ana a interrompeu, aborrecida.

Ela sorriu ainda mais, e continuou:

- Estou dizendo, amor, que elas podem brigar pelo coraçãozinho da Carolina hoje à noite, na minha festa do pijama!

Festa... Do pijama...?

Isso não iria prestar. Merda.