- O que tem o Justin? Eu sei que ele ficou na casa dele jogando vídeo-game e... – Caitlin mal deixou eu terminar de falar e me lançou um olhar “você sabe do que eu estou falando”. Afinal de contas, eu sabia mesmo, só não queria encarar o inevitável.

- Suzzie, ele foi atrás do Braddy quando viu você brigando com ele.

A verdade é que eu tinha visto Justin sair de casa assim que eu cheguei na esquina da casa de Caitlin. O problema estava na minha inocência, em acreditar que ele não iria prestar contas com a turma dos idiotas que tentaram bater em Christian.

- Ele ta bem? – cada vez mais eu ficava preocupada. Tantas coisas poderiam ter acontecido...

- Sim. Por sorte, Ryan chegou depois, mas ele apanhou o bastante para ir pro hospital tratar dos ferimentos. – ela mal terminou de falar, entrei em desespero.

- E o que a gente ainda faz aqui? Temos que ir o mais rápido para lá. Por favor. – eu saí pela porta e comecei a andar, quando lembrei que o hospital era realmente longe.

- Volta, Su. Vem com a gente. – entramos no carro, e então fomos.

Eu não conseguia parar de pensar que a culpa simplesmente era minha. Ele havia se machucado e havia se metido na briga por minha causa, eu devia simplesmente fingir que tava tudo bem com o Braddy e tirado o Christian de lá. Eu realmente sempre estragava tudo.

Cheguei, e logo perguntamos pelo quarto onde Justin estava. Na recepção, a Avó e o Avô de Justin estavam presentes, provavelmente esperando pela ordem de entrar no quarto.

- Suzzana, você já está sabendo o que aconteceu com ele? – perguntou a avó, assustada. Provavelmente ela não tinha sido avisada da história por completo.

- Bem... ele foi defender o Christian em uma briga, mas acabou apanhando. – ela se assustou mais ainda. – mas... nada de pânico, porque ele não sofreu nada grave. É só alguns ferimentos que precisavam de tratamento, pelo o que eu sei.

Me afastei para perto da porta assim que Caitlin entrou e pude ouvir algumas partes da conversa. A sensação de ouvir aquilo foi... estranha. Eu realmente não esperava descobrir dessa maneira.

- Você contou a ela? – dizia ele, em uma voz quase como um sussurro. – Contou a ela o que eu havia te pedido? Por favor, diga que sim.

- Eu... eu não tive a chance. Ela chegou quando eu já havia recebido o telefonema. Não se preocupa, em outro momento...

- Caitlin, olha só. Eu mesmo contaria se ela me ouvisse. Mas... ela sempre vai me ver como um amigo. Entende? Sempre, nunca vai mudar. – ele assumiu um tom triste. – Queria que fosse de outro jeito.

“Queria que fosse de outro jeito”.

Ele realmente havia dito isso? Ou era só um devaneio?

Enquanto eu mal pensava, a porta abriu e de lá saiu Caitlin, seguida de uma ordem para eu entrar. Como eu ia vê-lo da mesma forma agora que eu havia ouvido tudo aquilo?

- Entra, Su. – aquela voz sussurrada, que havia me deixado tão preocupada, agora me chamava.

E se eu não conseguisse mais fingir esconder o que eu sentia?

- Oi, Justin. – sentei no banco ao seu lado. – eu só queria dizer... Por favor, me desculp...

- Shhh, não precisa. Não é sua culpa se aquele palhaço resolveu usar um inocente pra continuar com você. – Ele me puxou pra mais perto e eu novamente tombei a cabeça no seu ombro. Era o que eu havia fazendo a anos, e era o que eu mais queria fazer agora e para sempre. Não havia nada mais confortável do que fazer isso e nada, nem ninguém, iria estragar aquele momento.

- Caham. – corei e me afastei rápido, pensando ser alguém da família de Justin, mas olhei  para a porta e era apenas a enfermeira. Ela trazia alguns materiais para fazer curativos.

- Vou cuidar dos últimos e você já pode ir para casa, já que não é nada grave.

Deixei o quarto com a enfermeira conversando com Justin e fui para o saguão de espera, onde a mãe de Justin se encontrava. Nos vários anos de convivência com Justin, vi Pattie pouquíssimas vezes devido ao seu trabalho, mas a conhecia o bastante para saber o quão humilde e simpática ela era.

- Suzanna! Como vai? – disse ela, me abraçando docemente. – eu fiquei preocupada quando minha mãe me telefonou. Como o Justin está? Vou ver ele daqui a pouco...

- Não é nada grave. É só a velha mania dele de defender os amigos. – menti. Infelizmente, eu não tinha coragem o suficiente para dizer que ele havia brigado por minha causa, ainda que Christian também estivesse envolvido. – a enfermeira disse que ele já podia sair quando terminasse os...

Mal terminei de falar e Justin já estava fora do quarto, com apenas alguns arranhões e alguns curativos.

- Mãe? O que você faz aqui? – Ele deu um sorriso e abraçou-a. – achei que você só viria para o concurso...

- Sua vó me ligou falando sobre o “acidente”. Vim o mais rápido que pude, e já que não falta muito para o concurso, decidi ficar. O que acha? – ela sorriu também. O sorriso dela era idêntico ao de Justin: contagiante.

- Isso é realmente surpreendente. Minha mãe, deixando o trabalho para vir para cá...

- Que tal irmos ao Mc Donald’s? – sugeriu Pattie. – Podemos ir todos juntos, aí conversamos lá. Suzzie, seu pai vem para casa cedo hoje?

- Não... ele trabalha também. – eu respondi. – eu posso ir.

E então, fomos, como costumávamos ir sempre que Pattie voltava a Stratford. Após comer, resolvi dar uma volta pelo parque que ficava logo a frente do restaurante, apesar de ser tarde da noite.

Fui andando pela grama, até ouvir passos atrás de mim.

Eu sabia que ele também viria.

- Suzanna. – ele disse, bem atrás dos meus passos. – nós precisamos conversar.