New Boy In Town escrita por SofiaB


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Um one-shot para lembrar minhas leitoras queridas que eu existo :)
Esse é POV Isabel, minha personagem principal.



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Vinha para casa depois de mais uma aula de Educação Física cansativa. E não estou a falar de fisicamente cansativa – isso também, claro –, mas, para mim, a parte mais difícil de aguentar era a psicológica. Tentar e falhar; tentar e falhar; tentar e falhar… E não tinha a ver com a minha professora – ela era excelente comigo –, nem até com os meus colegas – por mais insensíveis que fossem de vez em quando, sabiam os limites. Tinha a ver com o facto de ser assim desde pequena. Simplesmente não tinha jeito nenhum com o desporto, e quando era obrigada a praticá-lo, o nervosismo que isso provocava só piorava tudo. E apesar de sempre ter sido assim, não estava muito mais perto de aceitá-lo. Era uma falha que me magoava, porque me fazia sentir como se isso fosse a razão de não ser considerada bonita, nem popular…
E de nenhum rapaz gostar de mim. Mas isso é outra história.

Era nisto que eu pensava à medida que caminhava para casa, até que uma cena estranha me acordou do meu transe.

Eu morava em frente a uma pequena praça, onde havia um parque infantil, algumas árvores e bancos. A toda a volta da praça havia casas. E quem é que eu vejo à porta de uma delas? Bingo: a minha professora de Educação Física.

- Olá, stora! Que faz por estes lados?

- Olá, querida! Vou mudar-me para cá.

- Mas a stora não morava na aldeia?

- Sim, mas os meus sogros precisam de nós, e assim os meus filhos também ficam mais perto de mim – assenti. – E tu, como te sentes depois da aula de hoje?

- Hum… – eu encolhi os ombros – Normal, acho eu.

- Faz-me um favor, Isabel: não deixes que isso te defina. Desculpa, linda, tenho de ir. Até amanhã – sorriu-me e entrou na casa, enquanto eu me despedia, confusa. Que queria ela dizer? Voltei a encolher os ombros, desta vez para mim mesma e segui para casa.

***

- É o que te digo, a stora mudou-se para a minha beira – estava a contar a novidade à minha melhor amiga, Susana – que era de outra turma, mas que tinha a mesma professora – e à colega de turma dela, Maria, que costumava andar connosco.

- Fixe. E como pensas aproveitar a situação? – a Susana levantou as sobrancelhas, fazendo-me rir.

- Pois, pois. Até parece que não me conheces.

- Pelo menos metes a cunha para a amiga.

 Fazemos assim: vens a minha casa, bates-lhe à porta e metes tu! – ela fez uma careta e resmungou por entre dentes.

- Mas agora a sério – a Maria chamou-nos a atenção. – Ouvi dizer que a stora tem um filho de 16 anos. E é lindo! – já disse que ela é louca por rapazes? Não? Quem me dera não ter de o fazer – Por isso, pode ser que tires mesmo alguma coisa disso.

- Pois sim, e tu não conheces a Bel?

- Que queres dizer, Suse?

- Não me digas que queres “tirar alguma coisa da situação”, Bel – perguntou, espantada, enquanto fazia as aspas com os dedos.

- Claro que não. Só não percebi o que é que isso tem a ver com conhecer-me.

- Só estou a dizer que tens juízo a mais para andar por aí atrás de um rapaz que, pelo que sabemos, pode até nem existir.

- Bem, como as férias estão a dois dias de distância, não me parece que vá andar atrás de nada. Vou passar o verão em casa – constatei levemente. A Susana ia passar o verão com o pai, em França. E eu? Bem… eu ia arranjar-me como pudesse. Percebi, pela reacção dela, que o comentário não caiu bem – Não estou a dizer nada, Suse. Deves ir e deves ir feliz. Afinal, vais ver o teu pai – ela contribui com um meio sorriso.
- Ok, Bel. Agora vamos para a aula, que já tocou.

***

O último dia de aulas chegou depressa. O que por um lado era bom, mas por outro não significava mais do que 3 meses a ler todo o tipo de calhamaços e a trabalhar na escrita. Bendita J.K. Rowling… Enfim, não me restava mais do que engolir em seco e enfrentar o dia.

Um dia muito especial na minha escola. Ninguém tinha aulas e o horário (que continuava a ser obrigatório) era preenchido com todo o tipo de actividades. Os professores também tiravam o dia de folga e vinham participar. Ironicamente, era o dia em que se via mais gente a andar pela escola.

Bem, na realidade, a maior parte aproveitava para experimentar desportos como escalada, rappel e patinagem, mas ainda havia muita gente a ver a feira de artesanato. Havia lá coisas originais e uma música de ambiente agradável – pois, certo, nada de especial. Mas nesse dia estava cheia. E lá estava eu, a desviar-me das pessoas entre a banca dos brincos e a das malas, quando sinto a minha mão a bater noutra, quase como se fosse pegar nela. Foi muito estranho, nunca me tinha acontecido, e senti um arrepio a percorrer-me a espinha. Virei-me, envergonhada, para pedir desculpa, mas a palavra fugiu-me quando me deparei com um rapaz. LINDO. Ok, isto pareceu muito “adolescente-cabeça-oca-apaixonada”, mas pronto, que seja. Porque ele era lindo. Moreno, cabelo castanho meio selvagem, um sorriso incrível – ok, ele está a sorrir para mim – e olhos verdes. Aliás, uns olhos que me faziam lembrar alguém…

- Vejo que já conheceste o meu filho! – ninguém mais do que a minha professora – só podia mesmo – de EF.

- Hã… O seu filho? – abanei ligeiramente a cabeça para espantar o momento de morte cerebral.

- Ah, então ainda não se apresentaram. Isabel, este é o meu filho mais velho, Leonardo. Leo, esta é a Isabel, minha aluna.

- Prazer – ele deu um sorriso de canto e beijou-me na cara. De quê que eu estava a falar mesmo? Morte cerebral?

- Olá – risinho nervoso. Anda, Isabel, controla-te.

- Agora os vizinhos já se conhecem, boa! Um dia ainda apareço a pedir-te uma chávena de açúcar – rimo-nos.

- Será sempre bem-vinda. Hã, qualquer um dos dois. Ou quem mais viver em sua casa – calei-me antes do surto irracional continuar. Cérebro, por favooooor, volta!!!!!!!!!!!!!!!!

- E o mesmo vale para ti e para a tua família. Vemo-nos mais logo, sim?

- Parece que sim. Adeus!

Corei enquanto eles viravam costas e iam ver outra banca qualquer. Ok, onde andava a Susana quando precisava dela?

***

Era a primeira segunda-feira de férias e os meus pais tinham ido trabalhar. No dia anterior, tinha levado a Susana ao aeroporto. Foi difícil – não a ia ver durante três meses – mas ela não via o pai durante o resto do ano, por isso tinha de ser altruísta e fazer o sacrifício. Além disso, não me dava muito mal com a minha turma. Podia ser que combinasse alguma coisa com eles… Se me apetecesse. Pois, boa sorte com isso.

E assim começou a minha rotina de férias. Chegava a altura de arranjar projectos para me ocupar o tempo – escrever uma nova fic; fazer um filme no Sims; pintar uns quantos quadros para decorar o meu quarto; e já que estávamos nessa onda, renovar o quarto de princesa todo de uma vez – já não era sem tempo… Talvez uns posters dos Paramore, All Time Low... Qualquer coisa mais fixe, mais rockeira. E enquanto sonhava com um quarto novo e vestia a minha t-shirt preferida, encaminhei-me para a janela. Era uma coisa que adorava fazer: assim que estava vestida, abria a janela e apoiava-me no parapeito, enquanto observava o jardim, o parque, as pessoas… Era um momento de paz, de calma, em que não precisava de pensar em nada para além daqueles rostos. Era engraçado tentar imaginar a história por trás de cada um… E assim fiz, até, mais uma vez, avistar um rapaz moreno de olhos verdes, sentado num banco. Não parecia ansioso, pelo que deduzi que não estivesse à espera de ninguém. Talvez estivesse apenas a ver os rostos passar, como eu.

Afastei-me e fui tomar o café da manhã, enquanto via um bocado de televisão. E quando terminei, fiquei um bocado sem saber o que fazer. Lavei a loiça, limpei o pó, arrumei o quarto… Pronto, ok, passei a minha tigela por água e pus a roupa usada para lavar. Ah, e passei a mão pelo tampo do móvel de entrada. Temos de ser uns para os outros, não é? Mais tarde eu daria um jeito à casa, mas o que me apetecia nesse momento era descer para a praça. Estava um dia lindo e ainda se sentia a brisa fresca da manhã, e eu só queria sair de casa. Peguei nas chaves e desci – para quê levar celular, não é?

Fiquei admirada quando reparei que ele ainda lá estava sentado. Parecia que não tinha mexido um dedo, para além de estar com uma daquelas expressões de forever alone. Todos temos dias assim, pensei, mais vale estender a mão. Aproximei-me do banco – e nem sei como ia tão calma, acho que eram os meus instintos de boa samaritana – e ele levantou o rosto para ver quem era. Sorriu assim que me reconheceu.

- Leonardo, certo? – claro que estava certo, eu nunca me teria esquecido do nome dele.

- Sim… Isabel – assenti.

- Então, que fazes cá fora?

- Hã… Estava só… sentado – encolheu os ombros e riu. Respira…

- E os teus amigos?

- Estão todos na praia, por esta altura.

- E tu não?

- Hã, – fez ele, sem entender – eu estou aqui.

- Ah! Os teus amigos na aldeia. Pois, desculpa – ok, Isabel, não desistas. – E amigos aqui, não há?

- Não, infelizmente os meus pais decidiram vir para cá mesmo no fim do ano lectivo, por isso ainda não pude conhecer ninguém. Para além de ti, claro – sorriu. Foco, Isabel, foco.

- Então parece que estamos no mesmo barco.

- A sério?

- A minha melhor amiga acabou de ir para França. Vai ficar lá o verão inteiro. E muito sinceramente, os meus colegas não… não têm muito a ver comigo – ele assentiu.

- Sei o que isso é. Também me custou encontrar amigos de quem gostasse. E agora que os tinha, vim embora.

- Pelo menos tens a tua família.

- E tu não?

- Os meus pais só têm férias em Agosto. Até lá, vejo-os das sete da tarde à meia-noite. E de manhã, se tiver mesmo de ir ao banheiro e acordar às sete – ele assentiu e sorriu carinhosamente.

- Acho que é a essa hora que dá o SpongeBob SquarePants no Nickelodeon – ri-me.

- Também gostas de SpongeBob?

- Mas há algum desenho animado melhor?

Passamos o resto da manhã a falar. Tínhamos muito em comum, por acaso. Ele não era só um rapaz giro, era um rapaz com cabeça e responsabilidade. A mãe tinha-o educado bem.

Nessa tarde, fui mostrar-lhe a cidade e os meus cantos preferidos, enquanto continuávamos a nossa conversa. Falei-lhe da minha escrita e dos meus outros projectos e ele ofereceu-se para me ajudar a pintar o meu quarto. Também me falou dos interesses dele, da música e da arte. E, surpresa, ele gosta de rock. Eu disse que queria ouvi-lo a tocar guitarra, e ficou combinado para o dia seguinte.

E assim foi durante quase todo o verão. Falámos, passeámos, fomos à praia – às vezes com os irmãos mais novos dele –, tocámos guitarra – ele até me ensinou algumas músicas –, remodelámos o meu quarto. Ele até me ensinou a andar de bicicleta! Quando fui de férias com os meus pais senti-me um bocado mal por deixá-lo sozinho, mas ele próprio me encorajou a aproveitar o tempo que tinha com eles. Acabou por ser uma semana divertida, mas voltar também foi bom. Cada vez que o via, tinha aquele primeiro segundo de deslumbramento, e eu sabia o que isso significava – quando ele se ria, quando dizia alguma coisa mais pessoal… Mas não queria estragar o que tínhamos, até porque eu achava que não tinha hipótese. Ele era um rapaz incrível, e eu era… eu.

Apesar de a Susana me encorajar todas as noites. Mantínhamos contacto por Messenger e, de início, ela própria ficou admirada por nós estarmos tão próximos. Mas eu descrevi-o o melhor possível, e ela acabou por aceitar que ele era um bom rapaz e uma óptima companhia para mim. Costumava dizer que era um substituto (quase) à altura. E começou a notar que eu tinha uma certa paixoneta. Mas eu recusava-me a “declarar-me” (uggghhh, até a expressão soa a lamechice) e ela acabava por desistir, sobretudo quando eu lhe dizia que se devia ver a milhas que eu gostava dele e que se ele não me dizia nada, é porque também não valia a pena eu tentar.

O fim das férias aproximou-se mais depressa do que eu alguma vez previra. E ao contrário do que pensara 3 meses antes, eu sentia-me realmente triste por ver o verão a acabar. Sem ofensa à minha Suse, este tinha sido o melhor verão de sempre. O que me preocupava agora era futuro.

- Que se passa? – a voz que eu adorava puxou-me dos meus pensamentos.

- Nada… Estava só a pensar no verão.

- No verão?

- Sim, neste verão. Foi… incrível – ele sorriu, mais uma vez tirando-me o fôlego.

- Hey, eu sei que vais chegar um bocado tarde a casa e tudo, mas… estava a pensar se… se queres vir ver o pôr-do-sol – nunca o tínhamos visto, os meus pais chegavam sempre a casa antes dele se pôr – Como o verão está quase a acabar…

- Claro que quero! Deixa-me só deixar um bilhete aos meus pais.

- Força – corri para casa, escrevinhei num post-it à pressa e peguei num casaco de malha. A noite começava a ficar fria.

Antes que desse conta, já tínhamos chegado à praia. Sentámo-nos numa duna durante muito tempo, apenas a apreciar os diferentes tons que tingiam o céu. E depois, senti a mão dele a pegar na minha. O meu coração acelerou e olhei para ele, tentando perceber o significado disso. Ele segurou o meu olhar com sinceridade.

- Sabes que preciso de ouvir as palavras – ele sorriu.

- Quando este verão começou, pensava que ia viver os 3 meses mais longos da minha vida. Não conseguia esquecer tudo o que tinha deixado para trás… O grupo antigo que eu adorava. E achava que a escola não ia ser mais fácil – ia ser o miúdo novo, mesmo ao fim de tanto tempo nesta terra. E depois… conheci-te. Achei que eras linda, mas não pensei que resultasse em nada de especial, mesmo depois de saber que eras minha vizinha. Bem… até vires falar comigo. Eu pensava que ninguém na cidade queria saber de nada, que tinha vindo para um daqueles sítios em que as pessoas passam umas pelas outras sem sequer se verem. Essa foi a parte mais difícil. Sentir-me quase excluído. Mas tu renovaste a minha fé. Tu quiseste saber. Tu olhaste para mim – eu não conseguia parar de sorrir, nunca tinha visto nada daquilo sobre essa perspectiva.

- Eu sabia que tu eras novo na cidade. E pelo que vi, estavas morto de tédio. Porquê que eu havia de ignorar isso?

- Mesmo se não fosse eu? Mesmo se tivesse sido outra pessoa – o meu irmão mais novo, por exemplo? – fiquei confusa, mas respondi.

- Se não me parecesse abelhudice a mais, claro que o faria na mesma – ele sorriu, vitorioso.

- Por isso é que eu descobri que eras especial. Nunca conheci ninguém como tu.

- Nem na aldeia? – brinquei. Ele soltou uma gargalhada linda.

- Nem na aldeia.

Ficámos em silêncio durante algum tempo, apenas a olhar um para o outro. Ele pareceu tomar uma decisão repentina e inclinou-se para mim. Eu deixei-me levar e beijei-o de volta, com suavidade. Passado algum tempo, perguntei em voz baixa:

- E agora?

 - Agora eu sou o teu namorado. Se quiseres ser a minha namorada, eu aceito – sorri.

- Acho que a tua mãe vai gostar da ideia.

- Acredita, não faço isto por ela – ri-me e beijámo-nos outra vez. Nesse momento, eu tive a certeza de que aquele tinha sido o melhor verão de sempre.


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Notas finais do capítulo

E então? Se chegaram até aqui, não faz mal deixar um review ;)de qualquer forma, obrigada pela atenção! espero que tenham gostado.kisses*