Depois de passear no shopping da cidade com a família inteira, Lucas voltou pra casa, muito cansado. Ele deixou todos eles no hotel e ainda ficariam até amanhã em LA. Ele jogou as chaves de casa no sofá, mas percebeu que tinha alguém do lado de fora, na piscina.

Isabella estava sentada em uma das cadeiras, com um violão no colo, uns papéis em uma mesinha e uma caneta na mão, escrevendo em um caderno.

– Buu! – Lucas exclamou, tentando assustá-la.

– Nossa quanto medo. – ela disse, não alterando a expressão. – Você esqueceu que eu sou treinada pra perceber onde pessoas estão escondidas? Sou espiã, caso você tenha alguma dúvida quanto a isso.

– Claro, não podia faltar a sua resposta sempre sutil. – Lucas disse sarcástico e sentou na cadeira ao lado dela. – Precisamos conversar.

– Ah claro. Se for sobre aquele beijo, - ela disse séria e com as sobrancelhas arqueadas – foi um erro.

– Ah certo... – Lucas disse, desapontado. Aquelas palavras entraram nele como se fossem facadas, mas ele tentou ao máximo não transparecer isso.

– Por favor, Lucas, finja que isso nunca aconteceu. – ela pediu. – Principalmente porque não quero que você seja como os outros.

– Sem problema, eu nem sei mais do que estamos falando. – ele disse, um pouco chateado, mas não deixou ela perceber. – Então... o que você está fazendo a essa hora, aqui e com um violão?

– Eu costumo fazer isso. Mas ninguém nunca está acordado pra ouvir, graças a Deus.

– Mas você é ótima na guitarra!

– É, mas... Sei lá, é quando eu fico sozinha e quando só tenho a mim mesma, sem ninguém pra... Acho que você me entendeu.

– Ahh, você quer que eu saía... – ele se levantou.

– Não, não, fique. – ela disse, segurando a mão dele.

Um arrepio subiu a espinha do Lucas. Ela percebeu que ele sentiu algo estranho e então largou a mão dele:

– Você está bem? – ela perguntou.

– Estou sim, é só... – ele iria dizer “sua mão maravilhosa”, mas só disse: - ... o frio.

– Ah. Então, como foi o shopping?

– Eu tive que levar meus irmãos menores pra assistir Smurfs, enquanto meus pais e minha irmã mais velha assistiam Planeta dos Macacos. Fora isso, foi muito legal.

– Que bom.

Por um tempo ficou silêncio. Lucas só conseguia pensar no beijo e como Isabella pediu para ele esquecê-lo. Mas ela não podia perceber que ele estava pensando nisso, então inventou qualquer assuntou:

– E... hãm, como vai o Jesse e a Tay em Sacramento?

– Ah! Com a ajuda do Jesse, os dois voltaram hoje.

– Que bom.

Ficou silêncio por um tempo, mas Lucas perguntou meio sem jeito:

– O Jesse tem quantos irmãos?

– Só um. Mais novo.

“ Será que é por isso que ela prefere ele? Humm... Besteira”

– Aliás, eles tão passando aqui agora, o Jesse e a Tay.

– Agora?! Mas é meia noite.

– É, você realmente não sabe muita coisa sobre mim. Eu sou da noite Lucas. Essa é a hora que eu saio de casa. Mas você não sabe disso porque desde que vocês chegaram aqui, eu quase nem fiz mais isso. Mas agora, - ela sorriu. – “the gang is back, baby.”

– Uau, super malvada. Mas sua perna ainda está ruim, você não vai poder sair. Aliás, eu não vou deixar.

– Ah! Sei, ficou preocupadinho foi? – ela se levantou. – Se a minha perna ainda estivesse doendo, eu não poderia fazer isso.

E começou a dançar em direção a porta principal. Então parou na porta e a abriu, sendo que nenhuma campainha tinha tocado. Thalia e Jesse estavam na porta parados e sorrindo. Jesse carregava um case de guitarra nas costas e Thalia duas baquetas de bateria.

Thalia abraçou Bella e pulou no sofá. Jesse encostou o case na parede e abraçou Isabella, tirando-a do chão.

– Jesse, me bota no chão. Agora.

– Foi mal. – e obedeceu. Reparou que Lucas estava parado na porta pra a área da piscina de braços cruzados olhando pra eles. – Ah, e aê Luquinhas. Como vai sua cicatriz?

– Cicatrizada. – ele respondeu.

Abriu a camiseta de botões e mostrou a cicatriz no peito. Thalia assobiou e fingiu que não viu. Isabella ficou paralisada olhando pro tanquinho dele e é claro, Jesse com ciúmes.

– Quer que eu mostre o meu, colega? Garanto que é muito melhor que esses seus pneuzinhos. – ele disse, secamente.

– Meninos, por favor parem com isso. – Isabella pediu, ainda olhando pro tanquinho de Lucas. Sacudiu a cabeça,voltando ao normal e desviou o olhar. – Lucas abotoe... hm... isso, agora. E Jesse, você não precisa provar nada a ninguém.

– Então Bellinha, minha tigresinha, queridinha... - Thalia tentou mudar de assunto. O tigre é o animal favorito de Isabella, então às vezes ela é feroz, então inventaram o apelido tigresa, que ela não gosta muito, pra ela. – qual o plano de hoje?

– Primeiramente se você me chamar de “queridinha” de novo, eu... – ela procurou palavras ameaçadoras, mas não achou - ... acabo a tua raça. Vamos fazer o de sempre.

– Posso saber o que é “o de sempre”? – Lucas disse, abotoando a blusa.

– Ir pro quartel general, é claro. – Thalia disse.

– Que quartel general? – ele perguntou, surpreso.

– Deixa pra lá. Galera, deixa eu arrumar meu violão e a gente vai pra lá. – Isabella disse. Ela arrumou tudo que precisava em 5 minutos e já voltou pra sala. - Estou pronta. Vamos?

– Eu não vou deixar você ir a lugar nenhum. – Lucas disse, segurando-a.

Ela suspirou como estivesse cansada dessa tentativa inútil de deter-la.

– Venha conosco então. Sabe jogar boliche?

Ele pegou e foi junto com eles no carro de Thalia, uma picape de 5 lugares velha, com a pintura vermelha descascada e arranhada. Eles levaram Lucas a uma área perto do letreiro de Hollywood, onde não tinha movimentação. Entraram numa estrada de terra e Lucas perguntou:

– Essa não era a estrada que levava ao mirante abandonado?

– É, esse mirante foi desativado na década de 50, mas foi reativado por nós. É nosso “lugar especial”.

O mirante tinha uma vista incrível pra os estúdios Hollywoodianos mais famosos. E o lugar também era incrível. Uma casa velha e com a pintura descascada com o nome “Bowling” em neon vermelho, piscando e do lado de fora, uma pista completa de skate.

– Uau! Como vocês descobriram esse lugar? – Lucas exclamou.

– Faz alguns anos, quando nós tínhamos 14 anos. Lembro até como se você ontem. – Isabella disse, pensativa.

– Pegamos nossas bikes, a Bella na carona da bike do Jesse e eu com a minha... – Thalia disse.

– É, foi uma boa malhação pras pernas. – Jesse disse rindo e Bella deu um tapa no braço dele.

– Nós começamos a explorar Los Angeles juntos. Então descobrimos esse lugar e descobrimos sua história. Era nossa coisa secreta. Pouca gente sabia, pouca gente sabe. – Jesse disse pensativo.

– Nós começamos a reformar esse lugar. Um lugar só nosso. Montamos essa pista de skate, com as nossas próprias mãos. Depois das missões todos viam aqui, jogavam, brincávamos, olhávamos as estrelas. Quase todo dia. – disse Isabella.

– Nós vínhamos aqui pra tocar juntos também. E até hoje fazemos isso. Quando fomos ficando maiores e ganhando nossos carros, por exemplo, a gente lavava o carro junto aqui, fazia piquenique, levava as namoradas... – Thalia disse, cotovelando Jesse.

– Ei, eu não levo namorada pra cá! – ele protestou.

– E a Bella era o que? – Thalia disse, franzindo a testa.

– Hum... Deixa eu ver... Max, Michael, Nick... E eles todos eram o que?

Thalia ficou vermelha.

– Eu apaguei a memória de todos eles! E eu não namoro o Nick!

– Sei... – Bella disse. – E aquele agarramento todo era o que?

– Ok,ok. Eu namoro ele, sim.

Jesse e Bella se olharam. Ela sorriu pra ele, fazendo com que aquela escuridão se iluminasse.

– É aqui.

Eles empurraram a porta velha de madeira, que rangeu e Lucas quase quebrou o maxilar de tanto a boca ficar escancarada. O lugar era incrível!

As paredes eram de madeira, novinhas, com fotos ampliadas gigantes, tinha uma cozinha futurística automatizada a esquerda, um sofá de couro marrom com uma TV e lareira,uma cesta de basquete perto das fotos, guitarras, muitos instrumentos, uma estante de livros, uma pista de boliche na frente, um banheiro do tamanho de apartamentos hoje em dia, um robô parado bem do lado deles...

– Senhores, bem-vindos novamente ao lar. – com uma voz mecânica e robótica.

Lucas tomou um susto.

– Tá com medo da Beth é? – Jesse perguntou, rindo.

– Quem é Beth?

– Essa é a Beth. – Thalia disse, batendo nas costas metálicas da robô.

– Olá. – ela passou um laser infra-vermelho em todo Lucas e disse: - Individuo não identificado. Devo matar?

– Não! Não, Beth. Ele é meu amigo. Coloque no seu banco de dados, ele é Lucas Justice.

– Beth tem no seus arquivos esse nome. – ela disse, confusa. Jesse estava se segurando para não rir.

– Tem? Qual é a descrição?

– Sim. Senhor Jesse Black pediu para colocar este nome na lista dos Indivíduos Para Matar. Devo matar?

Jesse caiu na risada.

– Não, já disse que não Beth! – Isabella gritou.

– Processando informação... Processo concluído. Não matar Lucas Justice. – ela disse.

– Obrigado... hãm... Beth. – Lucas disse, se acalmando. – Por não me matar.

– De nada. Agora, senhores, vocês desejam algo em especial?

– Eu quero meu tradicional pedaço de pizza de calabresa com azeite e um copo de Pepsi. – Thalia disse, se jogando no sofá de couro e se espalhando.

– Uma vitamina de banana e chocolate com o cheeseburger caprichado. – Jesse disse, ativando a pista de boliche para contar os pontos.

– Eu vou querer as batatas fritas com queijo australianas que eu ensinei você a fazer tão bem e um copo de Pepsi, por favor. – Isabella disse. – E você Lucas, quer comer algo? Temos de tudo aqui.

– Ela tem pizza de mussarela? – ele sussurrou, como se tivesse medo da robô.

– Tem. Aliás, não tenha medo dela. – então ela se virou para a robô ainda esperando o pedido acabar. – Uma pizza de mussarela caprichada e refri, Beth!

– Obrigada senhora Storm.

– Quantas vezes eu já tentei reprogramar você pra me chamar só de Bella? – Isabella perguntou, cansada. Ela se sentou no sofá, enquanto Thalia e Jesse escolhiam as bolas de boliche.

– Muitas senhora Storm, muitas... – ela respondeu. – Agora, com licença, trarei seu pedido em 5 minutos. – e foi para cozinha.

Lucas se sentou no sofá ao lado de Isabella.

– Vai jogar? – ela perguntou.

– Jogar o que?

– Boliche, oras.

– Ah! Sim, adoro boliche. – ele respondeu.

– Você é bom?

– Melhor que vocês com certeza.

– HAHA! Não me subestime.

Isabella se levantou e pegou uma bola roxa . Ela piscou pra Jesse, disse alguma coisa pra ele e Thalia e todos olharam pra Lucas, rindo. Ela caminhou até a pista e jogou a bola, dando um strike, ou seja, acertando todos os pinos. As TVs que estavam marcando os pontos começaram a piscar o nome Storm e cair confetes e tocar uma música pop feliz.

Lucas levantou e parou perto de onde fica as bolas, cruzando os braços.

– Não humilha. – ele disse.

– Ah, sim, humilha sim. – ela disse. – Ta bom, sem humilhar.

Lucas olhou para as fotos grandes emolduradas na parede de madeira e perguntou apontando:

– Hum... Posso ver?

– Ah, claro, eu te mostro. – Bella disse, e puxou ele pelo braço até a frente das fotos.

Tinha várias fotos de anos diferentes. Só que em algumas, Bella e seus amigos não estavam vestidos normalmente, na verdade, eles estavam fantasiados.

– Porque vocês estão vestidos com fantasias? – Lucas perguntou.

– Algumas são do Halloween de todos os anos, é a nossa data favorita. – ela explicou. – Por exemplo, nessa aqui é o Halloween do ano passado, que foi um dos melhores de todos!

Na foto Isabella estava vestida de Alice no País das Maravilhas, só que o vestido e ela estavam melados de sangue falso e usava maquiagem de zumbi. Os outros também eram zumbis: Jesse era um zumbi guitarrista; Thalia era um zumbi com baquetas nas mãos e uma tiara de flecha de mentira na cabeça , ou seja, uma baterista zumbi flechada; Lilly era uma cientista zumbi; Nicole era uma noiva zumbi. Mas tinha um garotinho zumbi na foto, entre Jesse e Isabella. Lucas perguntou:

– Quem é? – apontando pro garoto.

– Ah, esse é o Fred, meu fofo. Quer dizer, o irmão mais novo do Jesse.

O menino tem 11 anos. Ele era um zumbi skatista: usava um boné de aba reta preto dos Yankees, com roupas de skatista manchada de um pouco de sangue e era como um mini Jesse. Tinha o cabelo preto grande com uma franja acima dos olhos verdes e era um pouco menor que Isabella.

Lucas viu a foto ao lado e perguntou:

– E esse aqui, era dia de quê?

– Da estréia do filme dos Padrinhos Mágicos, Os Padrinhos Mágicos: Cresça Timmy Turner!

Eles estavam fantasiados de personagens do desenho Padrinhos Mágicos e estavam mais novos, um pouco, talvez uns 2 anos atrás. Jesse estava como Cosmo, com o cabelo verde – mais curto que agora - e vestido igualzinho ao personagem; Thalia como Wanda, com o cabelo rosa; Nicole era a Vicky e até que ela realmente parecia com a personagem, fez cara de malvada e tudo; O namorado de Thalia, o Nick, estava de Professor Crocker; Lilly de Britney Britney ; e Isabella e Fred estavam de Timmy Turner.

– Você também estava de Timmy Turner?

– É, uma Timma Turner. Nós dois concordamos em ser o mesmo personagem e ficou bem legal.Aí é só a nossa foto, porque a nossa turma tinha todos os personagens: os pais dele, o Puffy era o irmãozinho do Nick, tinha o Hugh e o Brandon fazendo o AJ e o Chester, a namorada do Fred, a Miranda, também estava lá, de Trixie. Foi uma festança, até conheci o Drake Bell pessoalmente.

Tinha muitas fotos deles fantasiados de desenhos animados como As Três Espiãs Demais – Isabella era Alex, Lilly a Clover e Nic era a Sam -, Bob Esponja, Phineas e Ferb, muitos outros. Havia fotos sem fantasias também, eles em parques temáticos, shows de rock, eles mais jovens, brincando no parquinho, a primeira missão, etc.

Eles começaram a jogar boliche e Beth levou a comida deles com mais dois braços de metal surgidos do nada. Lucas teve uma das madrugadas mais divertidas da sua vida e ainda por cima com Isabella. Depois eles voltaram para casa e dormiram.

Lucas acordou cedo e foi tomar café. As garotas já estavam lá, sentadas na mesa e conversando. Ele deu bom dia e se sentou.

– Então Lucas, gostou do nosso quartel general? – Nicole perguntou.

– Ah, é o lugar mais incrível que eu já vi.

– Que bom que gostou.– Lilly disse.

– Vou fazer meu suco lá na cozinha, meninas.

– Beleza. – todas responderam juntas.

Quando ele saiu, Lilly falou baixinho:

– Falou pra ele?

– Falei. – Isabella respondeu.

– E como ele ficou? – Lilly foi interrompida pelo som da campainha.

– Eu atendo! – Isabella disse correndo até a porta.

Ela abriu e de novo, alguém invadiu a casa. Todas se assustaram e se levantaram. Uma mulher loira entrou na casa gritando:

– Lucas!

– Só me faltava essa... Você é o que dele, prima? – Isabella perguntou apoiada na porta, cansada.

– Claro que não! – ela respondeu. – Sou a namorada dele!

Isabella sentiu como se tivesse recebido uma facada no peito.

– Como é que é?!

– E vocês, quem são? – ela perguntou, olhando em volta. Depois gritou: - Lucas, não estou gostando nada disso!

Lucas saiu correndo da cozinha.

– Britney, o que você está fazendo aqui?!

– Luquinhas! Você está bem? – ela correu até ele e o agarrou, beijando-o e abraçando-o. Isabella não acreditava no que estava vendo, ela, Nicole e Lilly estavam boquiabertas. Lucas se desvencilhou da Britney e pareceu aterrorizado:

– Britney...

– Lucas, quero explicações, quem são essas garotas? – ela perguntou.

– Elas são da minha equipe aqui em Los Angeles...

– Acho bom mesmo. Não vai me apresentar a elas?

– Claro. – ele disse, sem jeito. – Meninas essa é a Britney Pattinson, a minha... – ele foi interrompido.

– Namorada dele.

– Ex-namorada, na verdade. – ele corrigiu-a.

– E vocês são...?

– Essa é a Lilly Morrinson. Essa aqui é a Nicole Jones e essa aqui...

Isabella sorriu maliciosamente.

– Não está me reconhecendo pequena Britney? – ela perguntou, sorrindo.

– Não... Você é o que, alguma fã minha...

– Nem pensar... Eu sou seu pior pesadelo. – Isabella disse.

– Esperaí...

– Isso mesmo. – ela disse confiante. - Eu sou Isabella Storm, a menina que você dizia que não iria conseguir chegar onde eu cheguei e aqui estou, vaquinha.