O assassino do Cantor escrita por Kitty


Capítulo 13
Capítulo 13




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Capítulo treze

1

Nagase Tomoya era um homem viril cuja aparência e temperamento explosivo constumavam intimidar os clientes que causavam problemas. Contudo, entre seus amigos, seja do trabalho ou fora dele, era uma pessoa até atenciosa e preocupada. Disfarçava ao máximo essas características porque era tímido e não sabia se expressar corretamente com as palavras. Era uma pessoa leal que preservava suas amizades acima de tudo e era muito respeitado por seus subalternos. Era por isso que naquela casa de acompanhantes o clima era sempre divertido. Os profissionais podiam cuidar de suas tarefas em um ambiente amistoso e contavam com a proteção de Nagase.

Nagase colocou a taça de vinho na mesa e coçou o queixo. Se naquela noite, ele não estivesse fora, teria sido ele a proteger Akanishi daquele cliente incoveniente e não Kimura. E os caminhos do cantor e do jovem talvez jamais tivessem se cruzado. Às vezes, ele pensava que isso poderia ter evitado muitos problemas. Por outro lado, Nagase tinha compreendido que Kimura estava disposto por Jin. Talvez sua interferência pudesse apenas ter atrasado todo o destino, mas, no final, não teria mudado nada.

Naquele dia em que Kimura conheceu Akanishi, ele estava fora, resolvendo um assunto para um amigo de infância. O mesmo que agora lhe pedia um novo favor.

– Um jornalista? – ele olhou para o rapaz que veio lhe avisar sobre a presença de Kamenashi e Tanaka.

– Sim. E ele está acompanhado de Tanaka Koki. Ele é da Nishikido-gumi. Estão perguntando sobre Yamapi e Jin. Devemos expulsá-los?

– Ahhh... Não. Essa atitude levantaria suspeita. Vou recebê-los... Em todo caso, eu estou muito curioso com todo esse crime do cantor. Também quero respostas.

– Você acha que eles estão envolvidos?

– Talvez... Jin porque é um tolo. – ele sacudiu a cabeça – E Yamapi porque é um tolo apaixonado. – ele suspirou – Eu sempre soube que Yamapi me traria muitas dores de cabeça... Maldita hora em que eu convidei para trabalhar com a gente.

– Fala assim agora, mas, quem o assediou para vir trabalhar neste ramo foi Nagase-sama, não foi?

Nagase estreitou o olhar para o rapaz magricela, de cabelo cumprido e negro, cuja franja caía sobre o olho direito. Ele tinha um sorriso divertido de quem tinha acabado de aprontar.

– Maldito, como ousa falar desse jeito comigo e... Bem, é verdade que Pi me trouxe muito dinheiro! – ele riu – Ahhh... Devo arcar com as conseqüências agora... – ele inclinou o rosto para o lado, emburrado, e gemeu. – Bem não tem jeito.

Ele se levantou, colocou o charuto na boca e ajeitou o terno preto que vestia.

– Levem eles para a área vip, vou recebê-los lá...

O rapaz fez que sim e se retirou, enquanto Nagase seguiu para o terraço, onde os encontros entre Kimura e Jin sempre aconteciam e ele, Nagase, fechava os olhos para o romance. Talvez esse tenha sido o seu maior erro. Sempre soube que aquele namoro não traria mais que dores de cabela, mas nunca imaginou que haveria morte.  

Ele dispensou o bartender exclusivo daquela sala, as bebidas, ele mesmo as prepararia, lembrando-se do tempo em que trabalhava atrás do balcão.

– Esse moleque... Parece que é um imã para encrencas... – resmungou, enquanto despejava o uísque nos copos.

Ele escutou o barulho da porta e viu seu assistente se aproximar com os dois rapazes. Eram baixos e franzinos, comparando com o seu próprio físico, mas Nagase sabia da ligação de Tanaka com a família Nishikido. Estreitou seu olhar nele. Os cabelos raspados, as roupas largadas, os brincos e correntes denunciavam seu modo de vida. Mas ele era educado e, sabendo-se em território quase inimigo, mantinha respeito em seu olhar. Se seu amigo de infância estivesse ali, agora, Nagase sabia que certamente haveria derramamente de sangue... Riu, sabendo que logo mais isso aconteceria, não faria diferença. 

Depois das formalidades iniciais e de todos estarem acomodados e servidos, Nagase tomou a palavra.

– Fui informado de que estavam questionando meus rapazes sobre Yamashita e Akanishi.

Kamenashi assentiu.

– É sobre o assassinato do Kimura. – ele foi direto – Soubemos que Yamashita foi visto discutindo com o cantor. Gostaríamos de fazer algumas perguntas.

– Infelizmente... Yamashita não trabalha mais com a gente. – Nagase interrompeu o jornalista. – Nós não sabemos onde ele se encontra e, sobre seus assuntos particulares, não poderemos ajudar muito...

– E Akanishi? – Kame perguntou ansioso, embora, no fundo, imaginava que ele tivesse tido o mesmo destino de Yamashita.

– Akanishi também já não trabalha mais aqui.

– Eles estão juntos? – Koki quis saber.

–... Isso eu não saberia responder.  

– E foi isso? – Koki franziu a testa – Eles quiseram sair e saíram? Simples assim?

Nagase riu de leve, sabendo a imagem que o rapaz estava fazendo do seu negócio.

– É verdade que ouros lugares usam da força para não perder seus melhores rapazes... Mas a minha política é diferente. Somos uma família e não uma organização... Eu não prendo meus garotos, eu os protejo. Além disso, essa vida não é para todo mundo e também não é para sempre. Vocês devem entender, quando ainda estão no começo da vida adulta, mantendo o frescor da adolescência... Esses são os melhores. Nossos clientes buscam por esses perfis por que tem seus feitiches, mas não querem se arriscar com a polícia. Mas se o rapaz for maior de idade e tiver rosto juvenil é o que importa... Além disso, não há nada mais cativante que um jovem sorridente. Não posso me dar ao luxo de perder o brilho dos sorrisos dos meus rapazes, é o nosso maior trunfo.

– Então Yamashita e Akanishi estão ficando velhos?

– Isso acontece com todos, Tanaka-san. Não podemos parar o tempo. E eu não tenho tantos lugares na administração para manter todos que estão ficando para trás... Vocês sabem... Depois da morte do cantor, os clientes de Akanishi diminuíram. Nossos clientes são figuras conhecidas, populares, importantes... Eles não querem atrair atenção da mídia. Até que descubram quem é o assassino e até que a poeira baixe, isso pode levar anos, Akanishi já perdeu a preferência dos clientes e dificilmente conseguirá recuperá-la.

– Você fala como se ele fosse apenas um produto que vai se tornar imprestável com o tempo... – Kamenashi se revoltou e a única coisa que conseguiu foi um sorriso irônico de Nagase-san.

Ao notar o nervosismo de seu amigo, Koki achou melhor mudar o foco da conversa.

– Sobre a briga entre Yamashita e Kimura...

Nagase olhou para Kamenashi e tomou com tranquilidade um gole do seu uísque antes de responder.

– Yamashita é uma pessoa passional, embora seu rosto esteja sempre impassível... Mas suas atitudes, como esta briga com o cantor, são sempre resultado de seus sentimentos... Pode ter sido uma discussão tola. Naquela época, Kimura estava freqüentando nossa casa, sempre acompanhado de estrangeiros. Ele nunca pediu nenhum acompanhante... Mas todos ficavam afoitos para servi-lo. Talvez Yamapi, é como costumamos chamá-lo, talvez ele tenha apenas ido além do limite tentando conquistar a preferência de Kimura... Não temos como ter certeza. Naquela noite, quando interferimos na dicussão, eles já tinham dito tudo o que queriam um para outro... Foi neste terraço, sem testemunhas, e depois Kimura foi embora.

– Demo... – Kamenashi franziu a testa e levou o indicador aos lábios, pensativo: – Kimura-san vinha sempre acompanhado de estrangeiros, certo?

– Sim.

– E nunca pediu a companhia de nenhu host, certo?

– Foi o que eu disse.

– Então... Porque Yamashita e ele estavam sozinhos aqui, na área, vip? Se Kimura-san realmente pretendia recusá-lo, não precisava ter vindo até esta área. E se ele estava ocupando mesmo esta sala, onde estava o estrangeiro no momento da discussão? Porque Yamashita e Kimura estavam sozinhos nesta área vip?

– Como disse, os detalhes da briga, apenas eles, Kimura e Yamashita, sabem. – Nagase respondeu calmamente – Infelizmente, agora, apenas Yamashita pode contar o que aconteceu naquela noite. Mas foi assim que aconteceu. Eles discutiram aqui. Quando eu cheguei para apartar, estavam apenas os dois. E depois Kimura foi embora. E nunca mais voltou.

– Nagase-san... Há rumores de que a amante de Kimura pode ser um garoto de programa. Seria Yamashita? Eles estavam em um encontro nesta área e discutiram sobre o relacionamento que mantinham? – Koki se inclinou no sofá em que estava sentado na direção de Nagase.

– Sobre isso, eu não faço a menor ideia. Como disse antes, eu não me envolvo nos assuntos pessoais dos meus rapazes. Será que Yamapi podia ser o amante de Kimura? – ele levou a mão no queixo e refletiu.

– E quanto a Akanishi? Akanishi poderia ser o amante de Kimura... E Yamashita discutiu com Kimura por... Ciúmes?

Nagase depositou o olhar em Kamenashi e notou um leve tremor de seus lábios. A resposta daquela pergunta, ele pode perceber, era algo que incomodava o jornalista. Lembrou-se que Jin havia comentado que não estava mais morando com Yamapi. E, depois, ouviu Yamapi resmungar algo sobre algum jornalista. Sorriu de leve... Akanishi continuava despertar paixões, pelo visto.

– Já disse que não sei nada sobre esse assunto. Se realmente Kimura tinha um amante homem... Também imagino que seja um de meus rapazes... Temos os melhores garotos, não é difícil se apaixonar por eles. Mas, pelo que eu ouvi, as meninas da Casa de Chá também são suspeitas. Hayami parecia proteger alguém, fingindo ser a amante. Não podemos afirmar que a pessoa seja homem ou mulher...

Koki percebeu que não descobririam nada daquele homem com perguntas diretas. Por isso, ele pediu a Nagase que contasse mais sobre Akanishi e Yamashita.

– Sobre eles? Isso... Eu os conheço há alguns anos... Tudo que eu sei são apenas coisas que ouvi falar. Não sei até que ponto é verdade. E são histórias antigas, pode ser que minha memória falhe... Mas foi mais ou menos assim...

2

– Você deveria voltar para o seu país, gaijin.

O homem ajeitou as provas e as guardou em sua pasta sem nem ao menos prestar atenção aos jovens a sua frente.

Akanishi Jin olhou para o professor de matemática com raiva, mas não lhe respondeu e, quando notou a movimentação atrás de si, estendeu um braço para impedir qualquer atitude dele. Yamashita Tomohisa queria quebrar a cara daquele sujeito, mas ele não permitiu.

– Arigatou, sensei. – disse, com ironia, e puxou Yamapi para fora da sala.

Ainda no corredor, Jin desabotoou a gola do seu uniforme e socou uma parede enquanto andavam para o terraço.

– Cretino. – rosnou.

– Eu podia ter acertado a cara dele, Jin.

– E ser expulso por isso?

– Não é como se eu quisesse mesmo entrar em uma faculdade. – ele disse, abrindo a porta do terraço. – Itte... – gemeu, quando a luz do dia fez seus olhos arderem.

A sala em que eles estavam antes era escura e o professor sempre a deixava com as cortinas fechadas. Eles passaram pelas carteiras e cadeiras quebradas e outros materiais que não eram mais usados. Ali era o cemitério desses objetos.

– Porque está num cursinho se não quer estudar? – Jin lhe perguntou.

– Minha mãe e minha irmã insistem nisso.

– E se não passar, o que dirá a elas?

– Elas não precisam saber disso. – Yamapi se aproximou da grade e se jogou sobre ela.

– E como você vai esconder isso? – Jin perguntou, franzindo a testa e acendendo um cigarro.

– Elas foram para o sul... Vão morar lá com o novo marido da minha mãe. – ele resmungou – Não é tão perto para elas poderem me visitar com freqüência. Elas não precisam mesmo saber o que acontece com a minha vida.

–... Se é assim, porque você continua vindo nas aulas?

Yamapi sorriu de canto. Jin não era capaz de perceber por si próprio. Então, ele mentiu. Embora não fosse uma mentira completa:

– O que? Você quer ficar sozinho aqui pra aqueles idiotas voltarem a pegar no seu pé? Não posso abandonar um fracote sozinho.

– Owe! Eu posso cuidar de mim!

– Até parece. Aos dezenove anos chorando no banheiro, sangrando e molhado com a água da privada... Deprimente!

– Mou~... Você precisa me lembrar disso? – fez um bico – Nee~... O começo foi mesmo difícil... Você pode imaginar como é vir sozinho pra outro país pra morar com um cara que se te diz seu avô, mas que você nunca tinha visto na vida? E ainda com essa praga de ijime! Eram cinco contra um, como você queria que eu me defendesse?

– Nos Estados Unidos existe o bulling.

– Sim, mas eu não era vítima disso lá, em todo caso. Eu era popular, ok?

– Então volte pra lá... – sacudiu os ombros.

– O que? E você quer voltar a ser solitário e deixar os boatos de que você é um delinqüente juvenil envolvido em sexos, drogas e assassinatos te impedirem de se aproximar das pessoas de novo? Não posso abandonar um cara assim!

Yamapi apenas riu. O modo como eles se conheceram foi estranho. Jin era um cara estranho. Não era do tipo que deveria ser vítima de ijime. Era mais provável que ele praticasse o ijime. Ele era bonito, era alto e era legal. Ele se encaixava no estereótipo de “kakkoi”. Mas ele tinha um defeito. Era um intrometido. E quando ele viu os piores alunos daquele cursinho roubando o dinheiro de outro aluno, ele se intrometeu. E passou a ser a vítima.

Foi em uma dessas ocasiões em que ele tinha sido pego por esses alunos que eles se conheceram. No banheiro do cursinho, Yamapi o ouviu choramingando pela dor. Normalmente, ele não se importaria. Pi também era um cara estranho.

No colégio, ele também tinha sido popular, mas depois que terminou a escola e não entrou direto na faculdade, tendo que trabalhar para ajuda sua casa, os boatos surgiram e pioraram quando seu padrasto anterior foi preso por envolvimento com drogas. E ele acabou sendo excluído pelos amigos e nem teve chance com as pessoas com as quais estudava agora. Ele nunca se importou com isso, na verdade. Ele nunca tinha se importado com ninguém, diferente de Jin. Mas, quando o viu, daquele jeito tão fragilizado, não foi capaz de ser indiferente a ele. E ali foi a primeira vez que Yamapi o ajudou.

Logo ficaram amigos e, pelos boatos em torno de Yamapi, deixaram de molestar Jin com medo da Yakuza. Boato tem mesmo uma força poderosa, eles puderam comprovar.

– Tem bico hoje? – Jin perguntou de repente.

– Vou ajudar no estoque do mercado aqui perto. – e ele se virou – Por quê? Tá precisando de grana? E a sua mesada?

– O novo jogo do X-box levou toda a minha mesada...

– Tsc... Filhinho de papai de merda

– Owe! Me deixa te ajudar, Pi!

– Eu não tenho que deixar nada, não sou o patrão.

– Me leva com você e deixa eu falar com seu chefe!

– Mou~... Você é irritante!

– Onegai, Pi! – ele o agarrou pelo pescoço – Me salva!!

Contrariado, Yamapi apenas o olhou.

3

Jin contou o dinheiro que recebeu naquela tarde e o guardou em seu bolso, sorridente. Ele tinha mesmo jeito com as pessoas e foi fácil convencer o chefe de Pi a lhe dar uma vaga naquele bico também.

Despediu-se de Pi no trem e seguiu para sua casa. Quando estava para sair do trem, ele viu uma máquina que vendia livros. Teria passado direto, não gostava de ler, mas o título de um deles chamou a sua atenção. Era sobre cinema. E ele era fissurado em filmes. Teve vontade de ler, o preço era um pouco caro, mas, ele estava com dinheiro agora. Comprou e perdeu metade do que tinha recebido pelo seu trabalho. Não se importou, segurou o livro com as duas mãos e quis chegar logo em casa para poder ler.

– Nossa, já são quase oito horas... Aquele velho vai me esfolar vivo! – ele se lembrou da hora e correu com toda a sua velocidade, como se sua vida dependesse disso.

Dobrou uma esquina e viu a casa em que estava morando desde que chegou ao Japão. A luz da frente estava acesa, o que significava que seu avô já estava em casa. Gemeu e xingou baixo, prevendo a bronca que levaria. Guardou o livro em sua pasta, não queria que ele visse o que tinha comprado, pois certamente zombaria do seu sonho como já tinha feito antes e diria que cinema não é profissão decente, que ele devia pensar na família que o enviou para estudar algo que preste.

Entrou em casa, retirou os sapatos e calçou os chinelos. Seu avô estava na cozinha, preparando o jantar e ele o cumprimentou com alguma timidez. A discussão na noite anterior ainda o constrangia.

– Tadaima...

Como pensou, não houve resposta. Ele nem ao menos se virou para vê-lo. Akanishi fez um bico e depois subiu para o seu quarto. Abriu a porta e, em seguida, a boca quando viu que o lugar estava limpo. Seus pôsteres, quadros, revistas, jogos e mangás haviam desaparecido. Restaram apenas a sua mesa com o computador e livros do cursinho. E alguns livros de matemática e física que ele nunca tinha visto na sua vida.

– Que diabos...

Desceu as escadas com pressa e invadiu a cozinha.

– Onde estão as minhas coisas? – sua voz era alta e agressiva.

Seu avô manteve sua calma e experimentou o tempero do udon. Só depois ele disse alguma coisa.

– Um vestibulando não devia perder tempo com essas coisas. Ainda mais com as notas da sua última prova de matemática. Estude, ingresse em uma boa faculdade, isso é tudo no que você precisa se concentrar agora. O jantar está pronto.

– Enfia essa comida no... – ele se calou – Por que você não pode respeitar as minhas coisas? Que merda! Não precisava ter me deixado vir pra cá se não queria!

– Eu nunca disse que não queria você aqui.  – ele respondeu suavemente – Como você chegou a essa conclusão?

– Você não me respeita. Não respeita minhas coisas, não respeita o meu sonho.

– Os jovens de hoje estão mal acostumado. No meu tempo, respeito se conquistava, não era algo que se dava de graça. E você ainda continua com essa ilusão? Não vai conseguir nada fazendo filmes. Faça algo de útil para a sociedade, mas, primeiro, consiga fazer algo de útil para a sua família.

Ele encerrou a discussão. Sentou-se a mesa e agradeceu pela comida. Olhou para Jin, que ainda estava irritado.

– Eu vou morar sozinho. – ele disse – Agradeço o que fez por mim até aqui.

Deu as costas e caminhou em direção ao quarto sem ver o rosto surpreso de seu avô. Esperou por uma palavra de protesto, alguma tentativa de impedi-lo, mas, não recebeu nenhuma das duas. Quando desceu com suas coisas, deu uma última olhada para a cozinha e foi embora.

Akanishi Jin nunca saberia que foi naquela noite que apareceram os primeiros sinais do infarto que mataria seu avô.

4

Yamapi estava no banho quando a campainha tocou. Não existiam muitas pessoas que o procurariam àquela hora. Só poderiam ser Koyama Keiichiro, um amigo de infância que tinha voltado pra cidade e inaugurado uma quitanda perto dali a poucos dias, ou Jin. Por isso ele deixou o banho pela metade, enrolou uma toalha na cintura e foi abrir a porta.

Não tinha se enganado. Ali estava parado Jin, cabisbaixo, com mochila e duas sacolas de mão. Ele não disse nada, Yamapi também não fez nenhuma pergunta e apenas deu um passo para o lado. Jin sorriu e entrou.

Pela segunda vez, Yamapi o ajudou em um momento bastante crítico. Ele era o melhor amigo do mundo. 

5

Ele olhou para o saldo da sua conta. Era o terceiro mês que não recebia a mesada. Alguma coisa definitivamente estava estranha, seus pais não lhe respondiam os e-mails. Não quis perguntar para seu irmão, não queria preocupá-lo à toa. E também ainda tinha uma pessoa a quem ele poderia perguntar o que estava acontecendo.

Jin esperou por seu avô na porta de casa. Ele chegou no final da tarde, como sempre, e não demonstrou a sua surpresa por vê-lo, apesar de ser o primeiro encontro depois que Jin deixou a sua casa.

– Konnichiwa... – ele o cumprimentou com a voz baixa. – Faz algum tempo, não?

– O que você aprontou desta vez? – a pergunta veio carregada de um tom severo.

– Eu não fiz nada! Estou me virando muito bem, obrigado! É só que... Estou preocupado com meus pais.

A sua afirmativa fez o mais velho lhe olhar com atenção. Eles entraram em casa e seu avô lhe serviu chá. Ele gostava do chá verde que seu avô preparava. Era uma das coisas que sentia falta de morar ali.

– Eles estão escondendo alguma coisa. E você sabe o que é.

– A que se refere exatamente? Sei de muitas coisas sobre eles que você não sabe e eu não vou lhe dizer.

Porque seu avô tinha que agir assim? Era quase como se ele gostasse de provocá-lo.  Mas Akanishi disse a si mesmo que não estava ali para brigar com ele.

– Não estou recebendo o dinheiro deles e eles não me respondem os e-mails. Tentei ligar algumas vezes, mas estavam sempre fora de casa. Eu não quis colocar o Reio nesse assunto, não quero que ele se preocupe à toa.

– Então está com problemas de dinheiro. De quanto você precisa?

– Não é isso! – ele se enfureceu – Que droga! Eu só quero saber o que está acontecendo com meus pais! Porque você tem que colocar isso de uma forma que me faz parecer interesseiro?

– Porque você nunca faz nada de útil a sua família. Nem ao menos conseguiu passar no vestibular. Porque não voltou aos Estados Unidos? Poderia arranjar um trabalho.

– O que eu faço da minha vida não é problema seu!

– Acontece que a sua vida está ligada a da minha filha. – e ele encerrou a questão – Quando vai deixar de ser criança e finalmente criar juízo? Porque ainda insiste nisso em trabalhar com cinema? Não vai chegar a lugar algum.

Jin estava com as mãos em seu bolso e amassou os ingressos da peça que participaria no próximo final de semana. Não era o papel principal, mas fazia parte do primeiro elenco. Para um estreante, ele tinha conseguido uma boa personagem. E quis que seu avô fosse assisti-lo. Depois do que ouviu, contudo, sentiu-se constrangido em fazer o convite. Voltou ao assunto que tinha mais urgência.

– O que está acontecendo com meus pais? – insistiu.

– Não é possível que, por mais que eles estejam evitando em tocar neste assunto com você, que você não tenha percebido...

– Eu sei... É óbvio que eles estão com problemas de dinheiro. Eu quero saber o que exatamente... Alguma divida? Meu pai foi despedido?

Seu avô suspirou e decidiu por contar a verdade.

– Sim, seu pai foi demitido. E, mais do que isso, ele pode ser preso.

– Isso... Por quê? O que ele fez? – quis saber, completamente atordoado.

– Desvio de dinheiro.

– Não pode ser... Meu pai jamais faria isso e...

– Jin... Ele admitiu. E o advogado está tentando um acordo para a empresa não denunciá-lo. Por tanto, você deveria arranjar dinheiro por conta própria. Ao menos por um tempo, já que não é capaz de conseguir um emprego fixo.

A tanquilidade com que contou a situação irritou a Jin. De alguma forma, ele sentia como se o seu avô estivesse insinundo que sempre esperou que seu pai fizesse algo desse tipo.

Akanishi, então, abriu mão do seu sonho. Não voltou a falar com seu avô, manteve o máximo de distância possível e se esforçou em procurar emprego. Passou a trabalhar em bicos carregando mercadorias. Tinha muito trabalho, mas, o dinheiro nunca era suficiente.

6

Yamashita Tomohisa riu quando ouviu aquela proposta. Não era a primeira vez que ele fazia, mas, sempre era engraçado. Nagase Tomoya sorriu de canto e se apoiou no balcão do bar, fitando o outro rapaz diretamente.

– Pi, você me faria ganhar muito dinheiro com esse rostinho! – disse, segurando no queixo do amigo. – E você sabe que não precisa liberar o seu traseiro... A maioria dos clientes quer alguém que os pegue de jeito... Se é que me entende!

– Pare de me molestar, isso é crime, ainda não sou maior de idade. – ele riu com bom humor e tomou a cerveja.

– Nesse caso, devolva a bebida. Menores também não podem beber. – ele disse com o mesmo tom de voz. –... Daqui a pouco você já faz vinte anos, não me venha com esse papo... Mas acredito mesmo que você se daria bem. Só disfarçar um pouco esse rosto entristecido de cão abandonado. As pessoas não gostam muito de companhias assim. As pessoas não se importam com os seus problemas, por mais que elas digam que são suas amigas. Então, você deveria aprender a controlar melhor seus sentimentos. Eu posso te ensinar, isso.

Yamapi sacudiu a cabeça, com um leve sorriso, e bateu sua mão no ombro dele algumas vezes.

– Arigatou... Pela bebida! – ele jogou a sua pasta escolar nos ombros e deixou o bar.

Já era tarde, estava mais frio e ele ajeitou na sua jaqueta jeans. Com as mãos nos bolsos, seguiu para a casa. Parou em uma loja de conveniência quando viu que tinha saído a nova edição do mangá que Jin e ele estavam acompanhando. Jin ficaria feliz, ele ficava feliz com pequenas coisas, não era difícil agradá-lo. Ele era uma pessoa simples, não entendia porque não conseguia se dar bem com seu avô. Não o conhecia, mas, só podia considerar que o avô era uma pessoa muito complicada.

Quando chegou na rua em que moravam, avistou Jin sentado na escada de emergência, que havia ao lado do prédio. Ele estava cabisbaixo. Tinha acontecido alguma coisa, Yamapi logo percebeu e se aproximou, em silêncio, e parou diante de Jin.

Jin ergueu o rosto em sua direção. Os cabelos jogados para trás por causa do vento lhe deram uma visão total daquele rosto liso e delicado. Jin parecia ainda mais frágil com os olhos marejados daquele jeito. Mordia os lábios, estava aflito.

– Pi... Meu avô... Morreu... Eu não sei o que fazer...

Jin se referia aos documentos, os procedimentos necessários. Era claro que Jin não saberia sobre algo desse tipo, ele não era alguém que se preocupava com o futuro, ele não tinha tido a experiência de um parente próximo morrer antes. Ele não sabia o que fazer. Pi entendia isso, mas, também sabia que o amigo estava desorientado sob outro aspecto. Seu avô tinha morrido e eles tinham brigado. Eles só tinham brigado desde o momento em que se conheceram... Jin estava com remorso. E com medo. Estava sozinho, sem nenhum parente por perto. Só tinha a ele, Yamapi.

O mais novo sentou ao seu lado e o abraçou. Jin deitou seu rosto no ombro do amigo e chorou.

7

Não havia muitas pessoas ali, mas todos os presentes estavam sentados de forma respeitosa em fileiras atrás dos parentes mais próximos: a filha e o neto. Um grande retrato com a imagem do falecido estava no centro do altar e, ao seu redor, frutas e os doces que ele mais gostava.

A missa foi rápida ou talvez fosse ele quem não era capaz de perceber o tempo. Não conseguia prestar atenção a sua volta, sua mente sempre se perdendo em alguma lembrança amarga. Jin percebeu que não tinha uma memória feliz com seu avô. Quando deu por si, estava de pé, recebendo os cumprimentos. Vizinhos e poucos amigos.

Jin afrouxou sua gravata e se afastou. Yamapi estava do lado de fora, fumando, e Jin se aproximou para pegar o seu cigarro. Tragou e devolveu o fumo para o amigo, depois deixou seu corpo encostar-se ao tronco de uma árvore.

–... Está tão magra...

– Un?

– A minha mãe.

Era a primeira vez que via a senhora Akanishi, uma mulher que tinha um porte pequeno e delicado, cabelos negros, olhos grandes e um rosto cansado. Yamapi não saberia dizer se estava mais magra ou não, mas, Jin estava mesmo preocupado. Não soube o que lhe dizer.

– Meu pai ainda não conseguiu outro emprego. Ninguém contrata um ladrão, certo?

– Jin...

– No fundo, meu avô sempre teve razão... Se eu não tivesse perdido tempo com sonhos idiotas... Se eu tivesse me preparado para sustentar minha família... – fechou seus dedos fortemente, como se isso pudesse diminuir seu arrependimento. – Se ao menos eu...

– Você não pode afirmar que não estariam nessa situação se você tivesse tentado ser médico ou advogado. – Yamapi cortou o seu choramingo – E se você se tornasse médico e cometesse um erro fatal? E se fosse advogado e condenasse um inocente? O que está decidido, decidido está. Não fique se lamentando. Seja o que for que estiver doendo aí dentro... Vai passar depois de um tempo.

Jin o olhou, incomodado com aquela bronca. Ele achava que não deveria estar recebendo uma bronca naquele momento, mas, sim, consolo. Estalou a língua e ignorou o comentário de Yamapi. Apenas pegou seu cigarro novamente e fumou.

8

Yamapi estava certo. Alguns dias depois e Jin sentia aquela dor em seu peito apenas de vez em quando, principalmente à noite quando estava sozinho no apartamento. Não estava mais se lamentando pelas suas escolhas, mas, ainda sofria com as conseqüências. Sua mãe foi embora há uma semana e ele não teve coragem de contar sobre a sua situação financeira. Disse a ela para não se preocupar, que tinha uma poupança para arcar com as despesas do falecimento de seu avô. Era mentira, claro.

Sentado na mesa da sala, mergulhado nos papéis de suas contas, ele bagunçou o cabelo e reclamou:

– Porque é tão caro morrer??? As pessoas deviam ser proibidas de morrer! Como eu vou pagar isso?

Ele deixou de reclamar quando viu o relógio pendurado na parede.

– Ah, merda! Vou me atrasar!!

Ele se levantou, pegou sua jaqueta jeans pendurada na cadeira, foi até a cozinha e pegou um pedaço de pão duro, sobras da janta anterior. Seria seu café até o horário do almoço. Correu para o mercado em que havia conseguido um bico no período da manhã. Depois do almoço, estava trabalhando em uma loja de conveniência e estava procurando mais um emprego para o final do dia. Não tinha formação necessária para algum emprego que lhe rendesse um salário razoável e não tinha tempo para se dedicar em uma empresa e ir subindo de cargo aos poucos. Precisava de muito dinheiro. E precisava rápido.

9

– Oyasumi...

A voz fraca desapareceu e Jin dormiu em questão de segundos. A sua respiração alta era um sinal do seu cansaço, que era bastante visível. Yamapi fechou o livro que estava lendo e apagou a luz do abajur. Não estava com sono, mas queria preservar o descanso do amigo.

O pouco de iluminação que vinha da rua, apesar da janela fechada, era suficiente para ele se preocupar com o rosto de Jin. Ele estava mais magro e abatido. Ele estava em uma jornada insana atrás de dinheiro.

Ele, Yamapi, também procurou por outro emprego. Também estava com uma jornada dupla de trabalho, embora mais fixa que a de Jin, que ainda trabalhava de bicos em bicos.Yamapi trabalhava em uma mecânica no período da manhã e como auxiliar de escritório no período da tarde. Não era suficiente nem para os seus próprios gastos porque ele sempre guardava uma parte para as dívidas de Jin, mas havia um futuro no escritório que, se ele tivesse tido tempo, certamente agora estaria ocupando um cargo alto naquela empresa. Mas ele não se importou em jogar seu futuro fora...

...Por Jin.

10

Quando ele derrubou o prato que estava lavando, percebeu que todos os olhavam pelo silêncio dos trabalhos interrompidos. Jin tentou não se incomodar com os olhares ou comentários sussurrantes sobre a sua incrível falta de capacidade. Não podia se irritar, não podia discutir, precisava daquele dinheiro, precisava daquele emprego.

Estava cansado, muito cansado, mas o que realmente acabava com suas forças eram aquelas humilhações diárias. Trabalhava em um restaurante de luxo durante os finais de semana, mas, como não era mais que um auxiliar na limpeza, os outros funcionários se achavam no direito de menosprezá-los. Jin reconhecia que não tinha talento para cozinhar. E que era desastrado demais para receber os clientes. Reconhecia ainda e pedia desculpas por isso pelos acidentes que já tinha causado e entendia que devia ser obediente e grato por não terem lhe demitido e ainda concordarem com seu horário de trabalho, mas...

– Ei, idiota! Não consegue nem ao menos fazer o seu trabalho direito?

Jin olhou para Sakamoto Yuuki, um dos cozinheiros, aspirante a chef e um dos primeiros que haviam antipatizado com Jin assim que ele começou a trabalhar. Jin não entendia muito bem porque Sakamoto não gostava dele, mas aprendeu a ter o mesmo sentimento.

Ele passou a odiar Sakamoto. Porque aquele cara que menospreza todos a sua volta tinha uma boa vida, uma boa família, ganhava bem e recebia elogios dos maiores críticos de gastronomia? Porque ele vivia tão bem, mas se preocupava em humilhar os mais fracos?

Jin não achava justo. E um dia, quando estava sozinho no vestiário, ele percebeu que o armário de Sakamoto estava aberto. Não saberia explicar suas ações, ele sabia que roubar era errado, que ele não podia ceder a essas tentações, mas...

... Ele precisava tanto de dinheiro.

11

Yamapi olhou para Jin, finalmente adormecido. Era difícil manter o sono por muito tempo, os analgésicos finalmente fizeram efeito. Ele se aproximou da cama, a luz do abajur amenizava aquelas marcas roxas no rosto dele. Ajoelhou-se ao lado da cama e passou a mão sobre o rosto de Jin.

Havia marcas abaixo dos olhos, uma coloração ainda avermelhada e roxa; na face, na altura da maçã do rosto e os lábios estavam inchados, com um pouco de sangue seco no canto.

Como alguém teve coragem de machucá-lo dessa forma?

Não houve denúncia. Aquele maldito queria mesmo machucar Jin e só precisava de um motivo, que seu amigo, desesperado com as contas, deu a ele de bandeja. A lei não permite, mas ninguém se importa se um ladrão é agredido daquela forma. Levado para um beco, sem testemunhas, quatro contra um. Covardes.

Deixou o rosto e segurou as mãos de Jin. Elas eram ainda macias, apesar de carregar caixas, lavar pratos, fazer trabalhos pesados todos os dias. Sua pele era naturalmente macia, mais que da maioria dos homens, ele não era alguém que nasceu para o trabalho manual...

– Né, Jin? Tudo vai ficar bem. Não se preocupe. Não se preocupe nunca mais. Descanse e melhore rápido.

Inclinou seu corpo sobre o de Jin e sentiu os lábios carnudos. Sorriu e depois se levantou. Um último olhar. Deixou o quarto e fechou a porta no mesmo momento em que seu celular vibrava. Leu a mensagem de Nagase.

Agora ele não precisava mais segurar sua raiva. Faria o puto que ousou tocar em Jin pagar por cada ferimento, cada dor, cada gemido que causou em Jin. Não se importava com o preço que teria que pagar pela sua vingança, também seria uma forma de ajudar com os problemas de Jin.

Depois que leu a mensagem de Nagase, discou o número de Koyama.

– Keii? Desculpa ligar essa hora, eu preciso de um favor seu... Você ainda tem aquele soco inglês?

Ouviu uma resposta afirmativa e uma indagação, que ele disse que responderia mais tarde. Encerrou a ligação, vestiu a sua jaqueta de couro que estava pendurada na porta da sala. E saiu.

12

Caiu ao chão e olhou para o seu algoz. Instintivamente, rastejou de costas, sem perdê-lo de vista. Ao menos do que seu olho inchado podia permitir que ele visse. Assim, com pouca nitidez, ele o viu parar e encarar o próprio punho manchado de sangue. Com o seu sangue. O sangue que ainda escorria de seu nariz e boca e manchavam sua camisa.

Os gemidos próximos o fizeram lançar um olhar para o que acontecia além do seu agressor. Mais atrás, seus amigos estavam sendo espancados por homens que ele sabia que tinham ligação com a Yakuza.

Sakamoto voltou prestar atenção no que estava preste a acontecer com ele quando escutou o os passos de seu algoz.

Tentou se levantar e sair correndo, mas tinha a impressão de que estava com uma perna, no mínimo, fraturada. Não importava porque ele não conseguiria ir longe mesmo se tivesse condições para isso. Havia sido encurralado naquele beco e não havia altenatia a não ser se deixar abater.

– Você quer saber o porque disso? – ele perguntou, agachando-se ao seu lado.

–...

– Akanishi Jin.

–...

– Eu não me importo em dizer o motivo. Você jamais voltará a colocar um dedo nele... Porque você quer ter um futuro, certo?

Com terror, ele o viu colocar a mão no bolso de sua jaqueta de couro e pensou que seria alvejado à queima roupa. Isso porque ele não prestava atenção no que estava sendo dito, estava com medo demais para isso. Era, no entanto, apenas um maço de cigarros e, em seguida, um isqueiro. Ele levou um aos lábios, o acendeu com calma e depois tragou saboreando o gosto, sem se importar com o sangue que escorria de sua boca. Na verdade, aquele sujeito parecia que não sentiu os golpes que tinha levado. Não que foram muitos, contudo, mas isso contribuía para aumentar o medo de Sakamoto.

– Dizem que você é excelente na cozinha... – ele continuou e agarrou o pulso da mão direita e a analisou: – Você pode cozinhar sem alguns dedos.

O suor começou a escorrer de sua testa e ele olhou para seu agressor.

– Não... – balbuciou.

– Você pode sim. Muitas pessoas incríveis fazem coisas incríveis mesmo estando fiscamente em desvantagem. Você pode até mesmo cozinhar sem uma mão inteira... Você é destro ou canhoto?

–...

– Está com medo?

Ele não se atrevia a dizer nada. Aquele cara... Era louco. E com loucos nenhuma resposta parece ser apropriada. Notou um sorriso de canto, maquiavélico, e um olhar malicioso. O que esse maluco faria com ele?

– Será que sem as duas mãos, você levaria quanto tempo para aprender a cozinhar de novo?

Terminou o cigarro e colocou a mão novamente dentro de sua jaqueta para retirar alguma outra coisa.

– Bem, é a sua noite de sorte. Não farei nada para prejudicar a sua carreira... Não hoje. Apenas esqueça Akanishi Jin. Nunca mais se lembre de seu nome ou de seu rosto. Se o encontrar na rua, atravesse, fuja dele. Não olhe sequer nos olhos dele, você é um verme, coloque-se em seu devido lugar! Eu vou te mostrar qual é o seu lugar!

Então ele tirou algo de metal, que encaixou em seus dedos.

Um soco inglês, prateado, que rapidamente se manchou de vermelho.

13

Andavam lado a lado. O mais alto estalava os dedos e os pescoços, parecia satisfeito com aquela atividade noturna. Olhou para o rapaz ao seu lado, que estava em silêncio. Ele sempre estava em silêncio, na verdade, mas o mais velho percebeu que algo ainda o incomodava.

– Porque essa cara preocupada? – Nagase questionou, enfim.

–... Você ainda tá pensando em me contratar como Host?

Nagase sorriu. Imaginava que terminariam desse jeito quando Yamapi veio lhe pedir aquele favor.

– Sim. No começo, você será apenas um aprendiz. Vamos esperar você completar a maioridade para deixá-lo trabalhar na Casa. Enquanto isso, você será treinado na casa de Toshio. Não se preocupe você já receberá algum salário nesse tempo. – ele disse e notou o outro abrir a boca, mas emendeu: – E de quanto você precisa adiantado? Não será um problema. Confio em você, posso lhe dar o dinheiro de que seu amigo precisa.

Yamapi assentiu. Era assim que devia ser. Ele tinha que proteger a Jin, afinal.

14

Ao final do relato, para Nagase eram nítidos os sentimentos do jornalista. Ciúme e amargura. Ele ouviu toda a história com o rosto sério, os lábios franzidos. Piscava incomodado quando alguma informação o surpreendia, principalmente quando ele ressaltava o laço forte que unia aqueles dois.

O laço entre Yamapi e Jin.

– Então... – Kamenashi estava organizando aquelas informações dentro de sua cabeça: – Yamashita e Akanishi são amantes?

– Yamapi sempre amou a Jin. – Nagase foi enfático. – Agora, o que Jin sente, isso sempre foi uma mistério. Difícil dizer se ele realmente já amou alguém... Isso porque ele parece amar a todo mundo... Mas isso não é possível, certo? – ele acendeu um novo charuto e ofereceu a seus convidados. Apenas Koki aceitou: – Eu me pergunto... A quem Jin ama?


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