Perfeição Inalcançável escrita por Simone Hoffmann


Capítulo 3
Lágrimas Impossíveis de Conter




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Por Erick
Há uma coisa tão inevitável quanto a morte: a vida.

Charles Chaplin

Eu não sabia ao certo o porque de eu ter gostado tanto daquela garota. No dia em que a conheci, senti como se algo dentro de mim estivesse me forçando a fazer dela minha amiga. Algumas vezes ouço vozes que parecem vir de dentro da minha cabeça, mas não sei de quem são e porque estão ali. Já tentei concentrar-me inúmeras vezes, em uma tentativa de descobrir o significado das vozes. Tentativas em vão.
Independente se eu viesse a descobrir o que era acredito que seja aquilo que me força a amar Sophia mesmo muitas vezes não sentindo amor por ela. Agora a única opção que eu tinha era tentar ser pelo menos um bom amigo para Sophia, já que ela parece muito satisfeita em me ter como, digamos, amigo.
Fiquei algum tempo deitado em minha cama, pensando. Eu consegui entender inúmeras vezes uma voz masculina a chamar por meu nome. Uma voz grossa e bem definida. Não consegui compreender muito bem, mas me parecia que o ser dizia se chamar Aramaiko.

Enquanto eu pensava e tentava entender o que esse tal de Aramaiko falava e qual o motivo de eu poder escutá-lo, fui interrompido por Sophia a chamar por meu nome.
Erick!? Pode me ajudar? - Chamou ela.
Já estou indo!
Sophia estava arrumando as coisas no quarto de hospédes, e me chamava para ajudá-la a organizar os móveis para haver mais espaço livre. Enquanto isto ela falava sobre a vida dela enquanto eu ouvia atentamente. Ela parecia muito feliz em estar ali comigo naquela noite. Tenho que agir com cautela para não estragar tudo.
Fomos interrompidos pela empregada a me chamar no andar inferior. Era somente para informar que meus pais haviam saído para negociar pagamentos atrasados e eu ficaria sozinho com os empregados até eles retornarem, o que poderia demorar. Isto no fundo sempre me deixou incomodado - eu preciso deles, mesmo não demonstrando. Acabei por descobrir algum tempo atrás - enquanto eles utilizavam o telefone - que tem envolvimento com contrabandistas. Eu não podia fazer nada para mudar seus planos, muito menos alertá-los quanto ao perigo que estavam correndo.

Voltei para o segundo andar e mostrei à Sophia onde era meu quarto e alguns outros. Somente com um gesto, me pediu que voltássemos até meu quarto. Lá nós permanecemos durante horas a conversar sobre nossas vidas, gostos e desgostos. Eu jamais poderia imaginar que eu algum dia eu poderia desabafar com alguém como eu faço atualmente com Sophia. Me sinto muito melhor em poder compartilhar meus sentimentos com alguém.
Nós dois éramos muito parecidos em alguns aspectos, porém totalmente diferentes em outros.Tendo ou não coisas em comum eu gostava muito dela e penso que ela também goste de mim - mesmo sabendo que provavelmente não é tanto quando gosto dela. Enquanto estávamos a conversar, fomos interrompidos por um forte grito que veio do andar inferior. Era uma das empregadas, que conversava apavorada com o mordomo que havia recebido um telefonema recentemente. Tive um mal pressentimento. Uma gota de suor escapou de minha face. Pude perceber que Sophia arrepiou-se. Ela estaria com medo? Lhe dei um abraço com a intenção de tentar acalmá-la, como se eu estivesse a sussurrar que nada havia acontecido.
Eu não sei o que aconteceu, mas acredito que não deve ter sido algo ruim. Respondi - Vou lá em baixo ver o que aconteceu...
Eu vou com você - Suspirou ela.
Acho melhor não...
Mesmo eu sugerindo que ela permanecesse em meu quarto ela silenciosamente seguiu-me até a cozinha. Fiquei parado na porta somente espiando, tentando descobrir o que estava a acontecer.
Deve ter sido algo muito sério para eles estarem reunidos...
O que aconteceu? - Sussurrou Sophia em meu ouvido, acabando por me assustar. Fiz um sinal de que ainda não sabia. Quando os empregados perceberam minha presença logo chamaram por meu nome. Pedi para Sophia permanecer distante.
Acabamos de receber um telefonema muito horrível... - Suspirou um deles.
Continuei apenas olhando, esperando que continuasse, porém nada mais ele disse.
E o que seria?
Um mordomo puxou duas cadeiras e pediu-me para sentar. Meu coração acelerou. Tentando manter a calma, lentamente começou a explicar o que havia acontecido.
O telefonema que haviam recebido era da polícia, que informava sobre o assassinato de meus pais. Imediatamente, meus olhos se encheram de lágrimas, as quais não consegui conter. Tentei evitar, mas não consegui e elas rolaram pelo meu rosto e pingaram no chão.
Eu jamais havia demonstrado interesse em meus pais, porém eles sempre ajudaram em algumas coisas. Eu não tenho como sobreviver sem a ajuda deles, principalmente para me ajudar com bens materiais. Agora eu já não teria mais com quem viver, não sei o que farei agora...
Minhas mãos tremiam, enquanto Sophia que havia escutado a notícia aproximou-se e segurou firmemente a minha mão.
Não se preocupe, estou aqui... - Suspirou Sophia, me dando um forte abraço, com a intenção te tentar consolar-me. Eu estava muito triste pelos meus pais, porém muito feliz por ter Sophia ao meu lado. De qualquer maneira eu estava muito deprimido e agora eu percebi como eu não dei valor ao que eu tinha e como eu sentiria falta agora que não mais tenho. Lentamente levantei-me e fui para meu quarto onde sentei em minha cama e ali fiquei a refletir. Sophia imediatamente seguiu-me e sentou-se ao meu lado.
Não adianta chorar -Sussurrou ela, colocando a mão sobre meu ombro - De nada vai adiantar você ficar se lamentando. Não há como mudar o passado, agora você tem que planejar o futuro!
As palavras dela eram um grande ânimo para mim, porém de qualquer maneira eu sentia como se alguém tivesse dado uma facada em meu peito, fazendo jorrar longe o sangue que existe dentro de mim.
Ah Sophia... Eu entendo sua tentativa de me amimar - Suspirei - Porém isto não vai adiantar agora para me fazer sentir melhor...
De alguma forma, eu sentia uma energia positiva enquanto ela estava por perto. Uma coisa que vinha de dentro me forçava a sentir-me melhor. Lhe dei um forte abraço de boa noite e um leve beijo em seu rosto. Ela me abraçou com força e sussurrou um boa noite antes de levantar-se e ir para o seu quarto.

Na manhã seguintei, percebi que Sophia não estava no quarto ao lado, onde ela supostamente havia dormido durante a noite passada. Chamei por seu nome, enquanto ela respondeu ao chamado, avisando que estava na cozinha.
Por que levantou tão cedo? - Questionei-a.
Eu estou acostumada a acordar cedo. Eu tinha alguns pensamentos me perturbando, então não consegui permanecer na cama...
Observei-a por uns instantes. Ela parecia nervosa, a ponto de acabar derramando o leite no chão. Ajudei a limpar, enquanto acabei questionando-a.
Que coisa estava a perturbar-te?
Ela, disfarçadamente me olhou, envergonhada, e não respondeu. Terminou de colocar as coisas de volta no lugar, sentou-se e após começar a comer, respondeu minha pergunta.
Eu estou com um mal pressentimento, como se algo muito ruim estivesse prestes a acontecer...
Sophia me olhou com face apreensiva e percebeu que me senti encomodado com suas palavras. Resolvi deixar por isto mesmo.
Tomei meu café da manhã normalmente até quando fui surpreendido pelo mordomo que imediatamente pediu para que eu viesse com ele pois ele precisava falar comigo. Pedi que esperasse pois eu iria trocar de roupa. Sophia permaneceu na cozinha. Chegando em meu quarto comecei a sentir tontura, então me sentei na cama para não cair no chão.
O que... O que está acontecendo? - Suspirei, enquanto colocava a mão sobre a cabeça. Eu mal conseguia sustentar meu próprio corpo. Levantei-me e ao dar os primeiros passos para longe de minha cama, acabei caindo ao chão. Eu ouvia vozes me chamando. Aquele mesmo Aramaiko me falava muitas coisas e a maior parte delas eu não conseguia compreender. Depois de pensar um pouco, acabei conseguindo entender apenas que ele dizia que de nada adiantaria eu ficar triste e que eu deveria seguir em frente. A dor que eu estava sentindo era tão forte que eu adormeci ali mesmo.

Quando eu acordei Sophia estava ao meu lado, chamando por meu nome e perguntando porque eu estava dormindo no chão. Apenas dei um leve sorriso por estar feliz em ver Sophia ao meu lado. Porém, eu não havia entendido o que ela me falou. Levantei da cama e fui até o banheiro.
Enquanto eu caminhava pelo corredor acabei ouvindo ruídos distantes. Caminhei na direção do ruído e ao sentir que estava me aproximando ouvi um grito muito alto e meu coração acelerou. Entrei em um aposento abandonado e procurei por ele. Nada encontrei. Olhei pela janela e avistei algo que caminhava pelo jardim. Ao conseguir localizar aquela criatura, a janela subitamente se fechou. O impacto foi tão forte que acabei me ferindo.
Corri de volta ao meu quarto chamando por alguém que pudesse me ajudar a fazer o ferimento parar de sangrar. Sophia teve um susto ao me ver sangrando daquela forma. Logo veio uma pessoa que eu não conhecia e fez um curativo. Me disseram que eu deveria permanecer em minha cama e descançar. Como ninguém queria encomodar-me eu fiquei a dormir até o dia seguinte, quando Sophia já havia voltado para a sua casa e eu não sentia mais dor.

Levantei da minha cama muito cedo, ainda de madrugada. Quase não conseguia ficar em pé de tanta fome. Estava indo na direção da cozinha para prcurar algo para comer quando o mordomo me impediu, dizendo que tinha de falar comigo imediatamente.
Pelo fato de seu único parente mais próximo vivo é seu tio que atualmente reside em Brightvalle, você irá morar com ele dentro de apenas um dia.
Mas eu não quero morar em Brightvalle! - Respondi imediatamente - Eu não poderia ir morar com a minha tia Mary? Ela vive aqui nos Bosques Assombrados.
Ele fez sinal de que eu não poderia, pelo motivo de que minha tia não gosta de crianças e ela mal consegue sustentar a própria família. Eu estava muito frustrado. Eu não queria de maneira alguma ir morar em outro lugar, porém eu sabia que ninguém permitiria que eu ficasse em minha velha casa, já que eu só tinha quinze anos. Mesmo sem eu saber, meu tio já estava como responsável por cuidar de mim desde o dia em que meus pais faleceram. Ele obrigou-me a ir me despedir de Sophia imediatamente, pois o velório de meus pais seria em breve.
Sem poder explicar à ela o que estava acontecendo, apenas lhe falei que eu teria de sair de casa, e que dali a dois dias ela poderia retornar que eu estaria esperando por ela.
Almocei, tomei um banho procurando me sentir melhor, me arrumei e fui deitar-me enquanto aguardava a limusine que me levaria até a casa de minha tia, onde meus pais seriam velados e levados para o cemitério mais próximo no dia seguinte. Mesmo antes do velório, o céu ficou com uma tonalidade cinza e logo a chuva chegou. Estava tudo cinza e triste enquanto eu só podia ver pessoas chorando ao meu redor. Eu iria permanecer na casa de minha tia durante mais um dia.
Enquanto eu observava meus pais de perto pude perceber que ambos haviam levado vários tiros. Naquele momento eu pude perceber que eu sentiria a falta de minha mãe muito mais do que eu poderia imaginar. Uma lágrima acabou escapando a qual acabou me fazendo recordar de toda a dor e o ódio que sempre senti de meu pai. Tranquei a porta do quarto de hóspedes e só voltei a ver minha mãe pela manhã do dia seguinte quando ela seria levada para o cemitério. Permaneci longe o quanto pude. Almocei com quase toda a família em um restaurante perto dali. Quando percebi que o relógio marcava uma hora e doze minutos, uma limusine muito luxuosa chegou para levar-me até minha nova casa. De maneira alguma eu queria entrar naquela limusine já que se eu acabasse por aceitar provavelmente eu não veria mais Sophia pelo resto de minha vida. Eu nem importava com quem e onde eu moraria, eu só queria estar junto de Sophia. Eu só conseguia pensar nela, e era exatamente viver afastado dela o que eu estava prestes e fazer. Infelizmente eu não tinha escolha. Logo vi a porta se fechar e tudo estava sendo deixado para trás.

Meu olhar se fixava na paisagem externa durante a viajem inteira. Pouco a pouco tudo começava a mudar. A diversidade de cores eu começava a perceber. Pássaros cantavam, felizes. Tudo estava alegre, exceto eu.
Ainda falta muito para chegarmos?
Não - Respondeu o motorista - Logo depois da charneca aí a frente está a casa de seu tio.
Eu não estava ansioso para chegar, só não aguentava mais ficar dentro do carro. Agora mais do que nunca eu me sentiria sozinho. Eu não gostava mais de pintar e sempre que eu olhasse para o jardim me sentiria triste por não ver mais aquela paisagem cinzenta. Eu não me sentia feliz em estar ali, porém algo me forçava a me sentir melhor, alguma coisa que vinha de dentro não queria de maneira alguma me ver triste. Acredito que seja Aramaiko o nome para isto que sinto.
Depois de mais alguns minutos de sufoco, chegamos a uma enorme mansão. Meu tio sempre foi muito rico, teve tudo do bom e do melhor. Está sempre viajando por causa de negócios envolvendo dinheiro. Nada mais lhe importa, eu acho. Com certeza nem vai perceber que eu já cheguei, pois deve estar trabalhando como sempre está.
Haviam mais de pelo menos cem quartos naquela casa. Quando chegamos lá fomos atendidos por um mordomo que pegou minhas malas e me levou até meu quarto.
Seu quarto é este e o da frente. Fique somente neles. Seu tio não te quer bisbilhotando a sua casa. - Disse-me - E seu tio não quer te ver, melhor ficar longe dele.
Pelo visto, agora eu viveria somente em dois quartos, solitário novamente e desta vez provavelmente pelo resto de minha miserável vida. A única coisa que me restava agora era novamente ficar observando o céu, mais nada. Quando a noite chegou vieram me servir o jantar e logo depois fui dormir. Eu não tinha nada melhor a fazer.

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