Internato Ausgefallen - Flores escrita por itsritz


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

História da Loou...



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E enquanto a garota morena de uns 14 anos passeava no shopping com a mãe, um grande muro feito de heras passava despercebido por todos. Ou não?

          Muitos miravam com curiosidade. Outros iam lá espiar. Mas nenhuma dessas pessoas demonstrou um interesse em especial, o que deixou a garota indignada. Cara, são heras no meio do SHOPPING!

         Ela puxou a mão da mãe, dizendo que queria olhar. A mulher foi arrastada pela filha até a grande barreira verde. A menina passou a mão na hera, analisou, cheirou...

         - Gostariam de entrar?

         A garota teve um sobressalto. Ao erguer os olhos, mirou uma adolescente, um ano mais velha, mais ou menos. Era loira, os cabelos lisos chegavam em sua cintura. Os olhos eram escuros, e analisaram a garota e a mulher de cima a baixo.

         - Vamos, podem entrar! - insistiu ela - qual é o seu nome, querida? - perguntou, olhando para a garota.

        - Meu nome é Loou...

        A mãe de Loou já foi entrando. Mas a adolescente puxou seu braço.

        - Desculpe senhora, mas para entrar você vai precisar me doar uma coisinha.

       - O que? - perguntou a mãe de Loou, curiosa.

       A adolescente resfolegou, como se fosse falar algo irônico:

       - Sua noção de tempo.

       A mãe de Loou riu, divertida. Parecia não ter entendido que a adolescente dizia.

      - Ah... Querida, qual é o seu nome? - a mulher perguntou.

     - Zeit.

     - Ok, Z... - a mãe refletiu um pouco sobre como o nome era esquisito, mas continuou a falar - ...Zeit. Não creio que isso seja possível. - quando a garota começou a perguntar o seu nome, a mulher respondeu - Leila.

     - Ótimo, Leila. É muito fácil. Tudo o que eu preciso fazer é... - Zeit tirou de seu bolso um relógio prateado, grande, preso em uma corrente, e levantou-o, de modo a ficar visível para Leila e Loou - pegar esse relógio aqui e dar algumas voltas no seu botão... - ela girou o botão na lateral do relógio algumas vezes e ele começou a fazer tique, taque, muito devagar.

       Loou observou o relógio, muito curiosa. Zeit a viu, e lhe deu um sorriso muito amigável. Loou se sentiu feliz ao ver Zeit sendo simpática com ela.

       - Agora, sintam-se à vontade para entrar.

        Leila e Loou, ainda muito confusas, entraram pela porta escondida entre as heras, que fora aberta por Zeit. A passagem dava para um jardim.

       O jardim era o mais bonito, o mais lindo jardim que a imaginação humana alcança. Era feito de flores, de todos os tipos e tamanhos que, juntas, formavam diversos desenhos magníficos. Havia uma fonte no centro, complementando para a paisagem maravilhosa. A grama era tão verde que chegava a doer os olhos, e o céu era muito azul, sem nuvens. Céu? Elas não estavam em um shopping?

      Pareciam muito curiosas, as coisas lá dentro. Loou ouviu, meio distraída, o barulho do relógio ficar mais rápido, mas nem ligou. Parecia tudo maravilhoso.

      Bom, até ela ver a sua mãe. Quer dizer, não é uma visão que deva deixar-nos horrorizados, a não ser que tenha algo de assustador na sua mãe. Mas ela parecia mais a sua bisavó. Muito velha. Mesmo. Quando Loou olhou para Leila nem a reconheceu. Muitas rugas, ela parecia curvada, fraca.

      -... Mãe?

      Leila virou-se para a filha, com a expressão preocupada; talvez por ter se sentido mais velha.

     - S-sim, filha?

     - O que... aconteceu com você?

Tique,taque,tique,taque

     A mulher vacilou por alguns segundos. Parecia confusa, como se soubesse que algo estava errado mas não conseguia perceber o que era. Observou as mãos atentamente, murchas e cheias de rugas e veias saltadas, apertando os olhos. Não parecia entender.

     - O que está... acontecendo....?

     Tique,taque,tique,taque

      A sensação de ansiedade ao ouvir o som do relógio cada vez mais rápido invadiu o corpo de Loou, que, por algum instinto, esticou a mão para pegar o braço da mãe.


       Não achou nada. Ué, cadê? Cadê o braço da sua mãe, estava logo ali. Olhou, procurando-a. Andava devagar, muito devagar, pelo jardim.

Tique,taque,tique,taque

- Mãe!

      Foi aí que ela caiu. Tão leve, tão gentil. Mas assustador. Seu olhar desfocado, sua mão esticada em cima do rosto, procurando apoio. Tocou no chão sem nenhum ruído.

        Uma pequena margarida nasceu ao seu lado. Loou observou a flor e a mãe, sem expressão alguma.

       - O que foi isso? - perguntou, vazia, à Zeit.

       - O normal, querida - respondeu ela, risonha - as flores desse jardim são feitas disso.

      - Porque...?

      - Eu que te pergunto. Porque você está normal? era para você estar morrendo agora. Você talvez seja imune à magia de tempo presente nesse lugar, então...

     Loou franziu a testa, confusa. Zeit devia estar pirada, mas aquilo realmente não fazia sentido. Loou não entendia nada.

     - O que? Por favor, me explique isso direito, não estou entendendo nada - disse, a cabeça latejando.

     - Olhe, Loou, querida. Esse lugar foi construído sob circunstâncias misteriosas. Eu não sei de onde ele veio. E alguém tem que tomar conta dele, não é? Desde... muito tempo atrás, meninas que são imunes à magia do tempo presente nesse jardim são designadas para cuidar dele. E para que esse jardim continue, será necessário flores novas.

       O engraçado é que sementes normais não florescem aqui. É necessário um sacrifício para que esse local lindo seja mantido. Você acabou de presenciar um, sabia? "

       Ela sorriu, como se isso não fosse nem um pouco sinistro. Sabe o que era mais sinistro? Loou não se importou com o fato de aquela beleza ser feita de sacrifícios. Não se importou com o quão sombrio era aquele local. Ficou até um pouco contente de finalmente ter acontecido algo emocionante na sua vidinha pacata de adolescente, até então muito monótona.

      - Continue, ainda não entendi direito - murmurou Loou, interessada.

       Zeit sorriu ao ver a curiosidade na voz da garota. Lembrou-se de que, quando foi a sua vez de entender aquilo, teve nojo, aversão, medo. Mas aos poucos foi se acostumando. Não era ruim.

      - Então - continuou ela -, a única coisa que deverá ser feita por nós é adiantar um pouquinho a morte da pessoa. Pois todos morrem. Veja só.

      Ela tirou o relógio prateado, grande e com a corrente longa, e Loou percebeu que com ele dependurado no pescoço Zeit a lembrava um rapper. A garota levantou o relógio, agora silencioso, para Loou vê-lo melhor.

      - É só rodar aqui no relógio a velocidade que o tempo deverá passar. - ela mostrou um pequeno botão na lateral do objeto - os números, que deveriam indicar horas, indicam potência. Por exemplo - ela colocou o ponteiro no nove - assim, o tempo passará noventa vezes mais rápido. Porque noventa? Porque nove é pouco demais. Simples, não?

       Loou refletiu por alguns instantes. Sim, era simples. Era divertido, admitiu para si mesma. Diferente, incomum, anormal. Ela adorou. Só havia algo que a incomodava um pouco.

      - Zeit... Porque fazemos isso? Porque devemos manter esse jardim vivo?

      - O que você acha que controla o tempo? É isso daqui - ela envolveu o lugar com as mãos -. Se esse jardim morrer, secar, o mundo vai virar um caos. O tempo vai parar, ou passar muito mais rápido do que deveria. Vai haver desastres naturais de todos os tipos.

       - Ah... - balbuciou Loou, agora assustada - E porque, por exemplo, eu não posso simplesmente... fugir?

      - Você pode sim, querida. Mas, se o fizer, todo o tempo que você passou aqui vai se manifestar do lado de fora. Você vai ficar velha. Da mesma forma que aconteceu com a sua mãe.

      Ao ouvir a palavra mãe, Loou sentiu-se desconfortável. O lugar era sombrio, sem dúvida, ele próprio matara sua mãe.

     - Então - continuou Zeit -, como diz a história desse local, você deverá permanecer aqui por um século, até a outra garota imune ao tempo aparecer e te libertar, como...

      Zeit sorriu, deixando suas palavras no ar. Loou finalmente percebeu que era sua substituta, e que estaria presa lá nos cem anos seguintes. Ótimo.

      - Agora, Loou, se prepare para passar aqui os piores anos de sua vida. - e, como se isso fosse uma despedida maravilhosa e emocionante, virou-se - Esse lugar é o inferno, menininha. Vá se acostumando. Não vão ser poucas as pessoas queridas que terá que ver morrer. Agora não posso te dar mais ajuda. Se vire. Adeus.

       A garota disparou pela porta de heras, que estivera entreaberta. Antes de deixá-la, tirou o relógio do pescoço e o jogou no chão. Então, sumiu de vista, andando pelo shopping e olhando curiosa para as coisas que, certamente, não eram de sua época.

        E lá ficou Loou, entre assustada e animada, confusa e empolgada, deprimida e feliz. Não sabia o que fazer, mas ao mesmo tempo ansiava para fazer algo.

      ... E agora?

      Olhou para o relógio no chão e o pegou com as mãos trêmulas. Não podia deixar de fazer algo, ou de acreditar em Zeit. Ela disse que o jardim controlava o tempo na Terra, portanto se Loou não fizesse nada... Ia ser muito ruim transformar o mundo em um inferno por puro medo, não é?

        Um barulho sussurrante veio das heras, que rodeavam todo o lugar. Loou percebeu uma pessoa atrás da planta, olhando, curiosa. A garota apertou o relógio prateado e respirou fundo. Caminhou vagarosamente até a pequena maçaneta e segurou-a, firme. Abriu a porta, pensando em como seria sua vida daquele momento em diante.

      -Gostaria de entrar?

No quarto escuro do Internato Ausgefallen, Loou abriu os olhos. Suspirou e abraçou o travesseiro, se perguntando como faria para ir ao shopping no dia seguinte, realizar seu trabalho.


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