Hideaki

O próximo dia chegou rápido demais, mas não pude fechar meus olhos e descansar nem por um minuto. Eu estava confuso, mas ainda sim comprometido com meu dever. Mais do que antes, eu sabia que eu deveria protegê-la. Encostado numa pilastra do canto da sala, eu analisava o cômodo. Quantas memórias teriam sido feitas ali e que eu jamais lembraria? Entendia agora a dor que Yuri deve ter sentido. Condenada a viver encarnação após encarnação sabendo de tudo, lembrando de tudo, mas sem poder mudar nosso destino.

Assim como o sol e a lua, nós estávamos fadados a viver em momentos opostos. Pela primeira vez em dias meu celular tocou. Um número privado novamente.

“- John?”

“-Hideaki, você tem que sair daí. Não digo apenas de onde está escondido, mas sim do país. O mais longe possível. E rezar aos céus para que não te encontrem. Fomos todos convocados para busca-lo. Querem que regresse conosco para cumprir sua punição”

Um silêncio pairou no ar por um tempo, antes que ele continuasse.

“-E, Hideaki... Eles querem a garota”

“-Obrigado, John”

Levantei e fui até a sacada, rumo ao jardim em frente à casa. A casa era antiga, mas muito bem construída. Acredito que em algum momento devo ter desejado morar numa casa assim com ela. Em alguma dessas muitas vidas que eu havia passado, pelo jeito. Isso era confuso.

Andei despreocupado pela grama, olhando para os primeiros raios de luz que surgiam no horizonte. Olhei para o céu e puxei minha espada. Girei-a habilmente por cima de minha cabeça e a cravei no chão com toda minha força. Ouvi um barulho de algo ruindo. Me ajoelhei ao lado dela e falei em tom de voz normal:

“-Preciso de respostas”

Sem que eu notasse, alguém ouvira meu chamado. Senti uma sombra sobre mim muito antes que pudesse notar sua presença. Quando olhei para cima, me deparei com olhos violetas e um cabelo longo e ruivo, como fogo, me encarando.

Suas vestes eram pretas como a noite e possuía o mesmo par de asas que o meu, negras, mas muito maiores. Eu sabia quem ela era.

“- Morgana?”

“- Hideaki, meu guerreiro. Sei que deve estar muito confuso. Peço desculpas primeiramente por ter mantido todos esses segredos de ti. Mas vim aqui hoje poder me redimir.”

Olhei ao redor, sem entender

“- Como me encontrou?”

“- Eu nunca deixei de estar com você. Sou sua superiora mesmo após seu banimento. Sou o anjo da morte e sei de tudo”

“- Foi você...”

Claro como os raios que me atingiam agora estava a verdade. Bem em frente à mim. Que pessoa teria o poder e a autoridade de ordenar que um ceifador fosse destinado a uma coleta específica?

“- Você quis que eu a encontrasse”

“- Muito bem, Hideaki. Nunca achei que fosse burro e você sempre me prova certa. Muito fiel, sempre” – ela deu uma risada, jogando a cabeça para trás

“- Mas... por que?”

“- É simples. Eu busco um poder que não posso ter. Não sozinha. E um poder que não pode ser tomado. Tem de ser dado. O poder dos anjos da luz. Yuri é um anjo muito poderoso, por mais que agora seus poderes já não se manifestem como antes. Ela possuí dentro de si a essência que pode me dar o que eu preciso”

Ela andou em direção da casa e com seu cajado bateu na proteção invisível que Yuri havia levantado. Como uma bolha plástica, a proteção se moveu, mas retornou ao local de origem.

“- Uma guerra está vindo. E eu sou um dos lados da guerra. Você pode estar comigo ou contra mim, Hideaki. Mas imagino que não vá querer estar contra” – Seus olhos brilharam mais intensamente e eu caí no chão, sentindo minha ferida ser reaberta e meu sangue escorrer. Dei um grito de dor – “Eu vou ter o que desejo ou vou destruir a Terra buscando”