Invisible escrita por TodyWild


Capítulo 6
Romênia - PARTE 1




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 3 meses depois..

Já tinha me conformado com o peso do “pra sempre”. Desde aquela tarde a única pessoa que eu tinha como só minha tinha virado fumaça e nunca mais tinha voltado, eu era como um robô programado para viver: acordar,escola,casa,cama... era um ciclo vicioso, via Miguel nos meus sonhos (mais pra pesadelos.) ouvia som do seu Blues nas estações do rádio, mas não passava de uma ilusão, como se eu tivesse batido a cabeça com muita força e sonhado com tudo aquilo, mas foi tão real que existia uma cicatriz flamejante dentro do peito que ardia com todas as forças possíveis.

Coloquei o que sobrou do colar destruído num pequeno pote, sacudi seus restos, pedi a Deus com tanta força que ele voltasse...mas depois do primeiro mês foi ficando inútil, e doía cada vez mais como uma ferida aberta todos os dias no mesmo lugar com uma adaga maior.

A fama no colégio não valia mais a pena, o único momento de felicidade que tive foi quando Novan foi condenado e dois anos de prisão por estupro... é! Isso mesmo! Ele conseguiu consumar o ato com uma garota que por acaso também ofereceu sua piscina pra ele, o resultado: os pais dela o denunciaram, porque é isso que deve ser feito.

- Feliz aniversário querida. – era a manhã de 20 de maio. Meus pais me acordaram com total animação, 16 anos...

Eu não senti o mesmo. O único presente que queria ter eu jamais recuperaria.

- obrigada. – fingi alegria abrindo meus presentes.

- este é dá vovó Mildred. – ela colocou o pacote no meu colo.

Abri com um chaminha no meu coração que fosse alguma coisa dos desejos ou sei lá, mas não era... era uma passagem de avião.

- é para a Flórida querida! Não era seu sonho? – minha mãe sorriu animada.

Foi quando numa súbita idéia, vi a única solução de sarar a ferida do meu coração.

Levantei da cama vesti uma calça e deixei meus pais chocados:

- a onde vai? – perguntou meu pai impaciente.

- aeroporto... vou trocar as passagens. – afirmei segura.

-hã? Mas é para esta noite querida...é a Flórida... – a voz da minha mãe era pasma.

- quero conhecer a Romênia. – então sem dar maiores explicações, peguei a passagem e minha fiel bicicleta e parti a toda velocidade para o aeroporto de Long Mayland, não era tão longe de casa, se eu acordasse bem cedo podia ver os aviões ainda em processo de decolagem do meu quintal.

Em 25 minutos eu estava lá, cabelos esvoaçantes, suada e com uma passagem nas mãos no balcão do check in.

- quero trocar minha passagem. – falei para a recepcionista.

- boa tarde senhora...qual o destino? – ela falou toda educada.

- Era Flórida...Flórida, quero trocar para ir a Romênia. – ela franziu a sobrancelha a eu dizer isso. 

Depois de um longo processo conferindo se minhas passagens eram verdadeiras (eu não tinha exatamente a expressão de quem poderia gastar com passagens.) ela fez a troca.

- quando sai o vôo? – perguntei desesperada.

- em 30 hora senhora. – afirmou ela com um sorriso.

Essa não! Xinguei baixinho a mim mesa por não ter trazido uma mochila com roupas.

- é o único vôo? – perguntei aflita.

- o próxima é só em duas semanas. – eu não podia esperar.

Liguei para vovó Mildred (detestava pedir favores a ela) mas por um acaso ela estava no Brasil, ela trouxe voando uma mochila pra mim com dinheiro e algumas roupas e claro meu passaporte.

- estarei aqui amanhã. – afirmei a ela quando estava perto de embarcar.

- siga seu coração... – ela falou baixinho apontando para meu peito. – ela estendeu uma autorização da embaixada (ela sempre tinha uma extra.)

Era clichê, mas funcionava.

Minha viagem de avião sem comunicar a ninguém da minha família (tirando minha avó) para um país completamente desconhecido, com um plano completamente maluco na cabeça, que eu nem sei ao certo se daria certo.

Ok, podem me internar eu tinha pirado de vez.

Acho que meio que dava para entender o meu plano, eu precisava de um colar daquele novamente para desejar ter o Miguel novamente, todo esse tempo sem o riso dele, os olhos dele e até os sumiços dele (é sério) estava me matando! Mas eu era uma tola, não tinha feito reservas em nenhum hotel e nem sequer sabia onde era o local que minha avó falou (uma feirinha no subúrbio de Päntc Moountrech um bairro esquisito e exotérico de lá.)

Eu falava português (como se alguém de pais de primeiro mundo fosse entender)  e inglês que não era lá essas coisas fluentes, como eu ia chegar lá?

Foram longas horas de vôo, sentei ao lado de uma velha Russa que falava o básico da minha língua pátria, ela falou (meio engrolado) que veio buscar a filha que fugiu com um pintor brasileiro, mas ela se recusou a vir, disse que preferia se matar (e eu que pensava que tinha problemas... na verdade tinha mesmo.)

O aeroporto era esquisito, devido ao fuso horário 00:37, muitos abraços de famílias, e eu sozinha como a minha mochila procurando alguma placa que eu pudesse entender e que me levasse a um local seguro, eu esperaria o romper da manhã para ir a feirinha de PM.

Eu era como um coelho assustado solto num salão trancado cheio de coiotes. eu olhava para as pessoas procurando alguém familiar(super possível), culpei até a minha avó por não ter me impedido de cometer essa loucura,  foi ai que vi um homem idoso se aproximar de mim com uma bandeira brasileira e uma plaquinha que dizia: “Da Mildred”

Ele estava na casa dos oitenta anos, mas possuía diversas tatuagens sinistras nos braços enrugados:

- você deve ser a pequena Alice. – ele sorriu amarelo.

Eu senti medo de dizer, e se aquele cara fosse um traficante de humanos, mas como ele sabia meu nome?

- sou o Gregório, o namorado da sua avó. – o sorriso dele se alargou.

Não sei se o bolor no meu estomago foi causado por achar alguém que me conhecia, sentir medo dessa pessoa, ou saber que minha avó tinha um namorado, acho que foi a mistura homogenia dos três.

Eu continuei sem fala, senti medo de acompanhá-lo mas a historia dele era convincente demais para ser obra de um pedofilo maníaco e desconhecido, ele contou que minha avó ligou do Brasil pedindo que ele me acolhesse, descreveu-a perfeitamente e finalmente comentou que morava num flete movimentado no centro de Bucareste.

Ele me acolheu com total respeito, acomodou minhas malas num quarto de hospedes (um recanto luxuoso diga-se de passagem) me mostrou as acomodações e disse que eu podia pedir-lhe carona quando precisasse. Conclui que o Gregório era um homem bom e que minha avó tinha bom gosto.

Em quanto ele nos servia um Gravlax (o prato típico.) na sua enorme mesa de mármore ele me questionava (de um forma bem passiva e sorrateira, o tipo de coisa que minha avó faria pra me roubar uma informação.)

-então...você veio de tão longe para... – parecia até minha avó falando.

- conhecer a Romênia. – contrataquei bem séria;

- garotas de dezesseis anos querem Flórida, Inglaterra e até Paris... porque veio para um país tão distante e pouco atrativo em relação aos outros? – ele sentou-se do outro lado da mesa, o Gravlax com porções de bolinhos com curry ainda fumegava no prato.

- gosto de ser exótica...será que pode me levar para a feirinha de PM amanhã pela manhã. – eu queria a todo custo contornar o assunto.

- mas é claro... – ele bebeu um gole da sua taça de vinho, pareceu ter caído na minha e não entrou mais em nenhuma assunto que eu não quisesse comentar. 

Eu só aguardava pela luz do sol... sabia exatamente que um pedido traria ele de volta pra mim...o Miguel... fui dormir e não sonhei.

(...)


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