Fome Insaciável escrita por Shadow


Capítulo 1
Banquete




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-O que..Que é? – gritei jogando uma lata em um dos zumbis. – Eu não sou digna ser seu jantar?

O zumbi virou seus olhos vidrados para mim e continuou a andar normalmente. Ou tão normal quanto essas coisas andavam.

-Não sou não? - perguntei chegando mais perto, ficando em seu caminho. - Vamos lá feioso, eu sou altamente nutritiva! - cuspi em seu rosto deformado e cheio de dentadas.

O zumbi rosnou e começou a correr não para me pegar, mas para ir ao centro da cidade, ele esbarrou em mim com força me fazendo cair de bunda no chão imundo de sangue e vomito.

-Muito obrigado seu cretino. – falei olhando para suas costas.

Então todos os zumbis correram em direção ao som, passando ao meu redor, alguns caíram na tentativa de correr e passar por cima de mim como se eu fosse parte do asfalto.

-Seus escrotos, descerebrados do inferno. – eu disse tirando um deles de cima de mim levantei-me e o chutei fazendo com que sua cara fosse de encontro ao chão. Ele não se importou, se levantou e correu em disparada para o som de... sirenes?

-Não é possível – eu disse enquanto mais deles corriam para o centro. Era muito estranho de se ver. Minha mente fez uma comparação ridícula com uma maratona, só que essa era uma maratona de gente morta. Quase um show de horrores ou uma convenção onde um zumbi feio se encontrava com outro mais feio ainda.

Uma garota zumbi que devia ter sido líder de torcida quando era viva estava bem atrás e arrastava a perna quebrada numa desesperada tentativa de alcançar os outros. Atravessei a rua alegremente, confesso que até saltitei um pouco, tentando irritá-la, mas bem eles não tinham sentimentos não é mesmo? . Cheguei perto suficiente para tocá-la e andei paralelamente ao lado da garota.

-Então? – comecei a bater papo com ela – Você se machucou em um ensaio de torcida? – eu ri da minha piada ridícula.

Ela continuou se arrastando em resposta, agora isso pode parecer loucura mais eu andava meio solitária ultimamente. Minha única diversão era tentar arrancar uma reação daquelas coisas.

 Coloquei minhas mãos nas costas como se fosse um magnata falando com um filho sobre que carreira seguir no ramo empresarial. A garota zumbi se apoiou na parede e com a ajuda da parede ela começou a andar mais rápido.

Continuei a andar ao seu lado parando somente quando ela caia. Aborreci-me com ela e parti para um menino que devia ter sido bonito antes de virar um pedaço de carne podre ambulante.

-E aí você vem sempre aqui?- ele me ignorou e continuou a correr. Parei no meio da rua e gritei para ele:

-Ei achei que estávamos tendo um papo legal aqui.

Respirei fundo e pensei comigo mesma se eu estava realmente ficando louca. Talvez sim, talvez não completamente louca. Resolvi ir ver o que havia ligado o som que tinha atraído os feiosos.

Acabei encontrando um prédio com enormes altos falantes tocando aquele som infernal. O barulho ficava mais alto conforme eu me aproximava. A multidão de zumbis estava ao seu redor. Como fãs ensandecidas de estrelas de cinema esperam para ver se o Taylor Lautner ia aparecer sem camisa. Tentei abrir caminho, mas era difícil passar por eles.

-Com licença que eu tô passando! – eu dizia enquanto os empurrava para fora do meu caminho. - Sai do meio cara. - eu disse para um zumbi baixinho. Mas é claro que ele me ignorou.

Eu era o Moises do mar de zumbis. Quando finalmente eu alcancei as grades de proteção que impediam os zumbis de entrarem no prédio me deparei com uma cena que fez meu coração parar de bater.

Um garoto de apenas dez anos se escondia na barra das saias da mãe que por sua vez estava atrás do marido que atirava incessantemente em grupo de trinta zumbis que se aproximava cada vez mais. Eu queria entrar lá, tentar ajudar de alguma forma, mas eu estava presa do lado de fora e eles do lado de dentro. Vi quando sua munição acabou e quando  ele puxou a mulher para lhe dar um beijo apaixonado, a mulher estava com o rosto banhado em lagrimas o homem se abaixou e disse algo no ouvido do filho e correu de encontro a morte gritando para os dois correrem.

A mulher agarrou o menino e correu para uma porta que levava a rua dos fundos. O plano do homem funcionou, enquanto os zumbis se ocupavam em comê-lo vivo deixavam o caminho livre para ela é o garoto.

 Vi quando ela finalmente abriu a porta e correu para longe dos gritos do marido. Não sei o que me fez ficar olhando para aquela cena grotesca em minha frente, os zumbis que ainda estavam “vivos” se é que pode dizer isso, arrancavam membro por membro do homem que tentava lutar apesar de ambos sabermos que ele iria morrer ali como um verdadeiro banquete para os feiosos.
   Os braços e as pernas foram arrancados em meio aos gritos de dor que eu não
poderia ouvir já que a maldita sirene não parava de soar, sua barriga foi rasgada por mãos que se tingiam de vermelho a cada mergulho para pescar os órgãos do pobre homem seus gritos em fim cessaram seus olhos rolaram nas orbitas que
logo foram profanadas pelos dedos imundos dos mortos-vivos.

   Incapaz de me mover continuei a observar com certa fascinação mórbida, igual aqueles malditos curiosos que adoram ver batidas de carros para ter um novo assunto na fofoca do dia seguinte.

 Logo só restaram ossos e uma mancha vermelha que não tinha origem visível. Alguns zumbis roíam os ossos a fim de conseguir um pedaço de carne esquecido pelos outros. A multidão de mortos se dispersou e apenas eu fiquei para ouvir a sirene morrer lentamente como o homem que deu sua vida para salvar a família. Lagrimas deixaram rastros em meu rosto paralisado.




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