Eterno Verão. escrita por _BieberHot


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Muitas surpresas nesse capítulo.
Boa leitura!



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Marie saltou do avião no Aeroporto Charles De Caulle numa nuvem de exaustão, terror e enjôos. Passara a noite olhando reto para a frente e apertando as mãos. Ligara do aeroporto para o hospital, mas não havia novidades. Marie fez sinal para um táxi diante do aeroporto e ficou sentada em silêncio, enquanto corriam. Dera ao motorista o endereço do Hospital Americano. Parecia ter levado horas até que chegaram ao local e freiaram ruidosamente diante das grandes portas duplas. Marie tirou rapidamente do bolso os francos que tinha trocado pelos dólares no aeroporto. Os olhos dela fitaram os dele por um segundo, depois ela se virou e entrou rapidamente no hospital. Havia uma enfermeira de cara azeda sentada à recepção.

- Olá, em que posso ajudá-la?

- O número do quarto de Madame Duras. – Só o número do quarto, por favor. Não deixe que me digam... Não deixe...

- 425.

Marie teve vontade de soltar um suspiro longo e angustiado. Ao invés disso, balançou a cabeça brevemente e seguiu pelo corredor, indo direto ao elevador. A viagem de avião longa e cheia de medo estava começando a fazer sentir os seus efeitos. A noite fora longa e insone, e seus pensamentos permaneceram em Justin o tempo todo. E se tivesse deixado que ele viesse com ela? Pegou-se ansiando pelos braços dele, seu calor, seu conforto, seu apoio, a meiguice das suas palavras. As portas do elevador se abriram no 4º andar, e ela saiu, hesitante. Lutou contra uma onda de tonteira e enjôos, depois se dirigiu lentamente para a recepção.

- Estou procurando por Madame Duras, sou a nora dela.

- Duras? – A enfermeira parecia perturbada enquanto erguia os olhos para Marie, depois franziu a testa, fitando um gráfico. Tudo dentro de Marie virou primeiro geléia, depois pedra. – Ah, sim. – Fitou os olhos de Marie e balançou a cabeça, perguntando-se subitamente se a mulher desesperadamente pálida tremendo à sua frente estaria doente. – Madame Duras?

- Sim. – Marie pôde emitir apenas um sussurro. Cada momento da viagem parecia afetá-la, de uma só vez. Não agüentava mais.

- Senhorita, você está se sentindo bem?

Nem mesmo Marie tinha certeza. Se sentia esquisita, como se estivesse prestes a desmaiar.

- Tenho que... Acho... Posso me sentar? – Olhou à sua volta imprecisamente, enquanto tudo ao seu redor ficava primeiro cinzento, depois encolhia. E então sentiu a mão de alguém pousar no seu braço.

- Senhorita? Senhorita? – Era a voz da mesma moça e Marie sentiu-se sorrir.

Ela sentia-se insuportavelmente sonolenta. Tudo o que queria fazer era apagar, mas a mão ficava puxando-a pelo braço. Subitamente, sentiu uma coisa fresca no pescoço, e depois na cabeça. Abriu os olhos devagar e uma dúzia de rostos a cercava, todos olhando pra baixo. Ela começou a se sentar, mas uma mão imediatamente a deteve, e dois rapazes falaram urgentemente entre si, em francês. Queriam transferi-la para a emergência, mas Marie sacudiu a cabeça.

- Não, estou bem. Juro. É que fiz um longo vôo desde São Francisco e não comi o dia todo. Só estou cansada. Tenho que ver minha sogra, Madame Duras.

Dali a um momento, com uma mão em cada cotovelo, ela estava de pé, enquanto uma enfermeira ajudava-a a endireitar a saia. Alguém trouxe uma cadeira, e a primeira enfermeira trouxe um copo d’água. Um momento mais tarde, a multidão tinha se dispersado. Apenas duas enfermeiras permaneceram.

- Sinto muito. – Disse Marie.

- Sem problemas. A senhorita está muito cansada, fez uma longa viagem, nós entendemos. Daqui a um momento a levaremos pra ver Madame Duras.

- Obrigada. – Marie tomou outro gole d’água e devolveu o copo. – O Dr. Kirschmann está aqui?

- Saiu hoje à tarde, mais cedo. Ele esteve com ela a noite toda, eles a operaram.

- Nas pernas? – Marie sentiu-se tremer de novo.

- Não, na cabeça.

- Ela está bem?

Fez-se uma pausa interminável.

- Está melhor, venha ver. – Afastou-se para ajudá-la a se levantar, mas Marie agora estava firme, e furiosa consigo mesma por ter perdido tanto tempo.

Conduziram-na por um longo corredor cor de pêssego, e finalmente pararam diante de uma porta branca. A enfermeira olhou para Marie, depois abriu lentamente a porta. Marie deu alguns passos pra dentro do quarto, e sentiu o ar congelar nos pulmões. Madame Duras estava enrolada em ataduras e coberta de máquinas e tubos. Havia uma enfermeira de ar severo sentada sossegadamente em um canto, e pelo menos três monitores estavam produzindo relatórios misteriosos. Madame Duras mal estava visível no meio das ataduras, e seu rosto estava muito distorcido pelos diversos tubos. Mas dessa vez, Marie não desmaiou. Entrou no quarto com passo firme e um sorriso, enquanto orava por forças.

- Oi, é a Marie Elizabeth. – Ouviu-se um fraco gemido vindo da cama, e os olhos da mulher acompanharam-lhe os passos. – Tudo vai dar certo, vai dar certo... – Ficou parada ao lado da cama, e pegou a mão de Madame Duras que não estava machucada, e meigamente, quase tão de leve que mal a tocava, segurou a mão nas suas duas, levou-a aos lábios e beijou os dedos da sua sogra. – Tudo bem, você vai ficar bem.

A mulher da cama emitiu um som horrível.

- Shiu... Você fala comigo mais tarde, agora não. – A voz de Marie mal passava de um sussurro, mas era firme.

- Eu...

- Shiu... – Falou Marie, desolada, mas os olhos de Madame Duras estavam cheios de palavras. – É algo que você quer? – Agora Marie estava atenta, mas não havia resposta naqueles olhos. Marie lançou um olhar à enfermeira. Será que ela estava sentindo dor? A enfermeira se aproximou, e juntas observaram e esperaram enquanto Madame Duras tentava de novo.

- Que... Bom... Vocêêê... Veio. – Era apenas um sussurro vindo da cama, mas encheu o coração de Marie de paixão e lágrimas. Os seus olhos ficaram marejados. Forçou-se a sorrir enquanto continuava segurando a mão de Madame Duras.

- Também acho, agora não fale, por favor. Podemos conversar mais tarde, teremos muita coisa pra dizer

Madame Duras balançou a cabeça afirmativamente, depois, fechou os olhos por algum tempo. A enfermeira disse a Marie, quando saíram para o corredor, que, exceto na hora da operação, quando lhe aplicaram anestesia, Madame Duras estivera acordada o tempo todo, como se estivesse esperando alguém, alguma coisa, e agora era fácil ver por quê.

- A sua presença aqui fará uma enorme diferença, Srta. Walters. – A enfermeira de Madame Duras falava um inglês impecável e parecia terrivelmente decidida.

Marie ficou aliviada ao ouvir as palavras. Madame Duras estivera esperando por ela. Ainda gostava dela. Era uma besteira que, numa hora dessas, isso tivesse importância, mas tinha. Ela temia que mesmo nas circunstâncias mais extremas, Madame Duras ainda a rejeitasse. Mas não o fizera. Ou será que estava esperando era por Mike? Não fazia diferença. Marie voltou com passos leves para o quarto e se sentou.

- Srta. Walters?

Marie teve um sobressalto e foi trazida de uma grande distância pela voz desconhecida. Já tinha se passado bastante tempo desde que ela se sentara na poltrona que tinha ali no quarto, talvez duas ou três horas. Olhou à sua volta, espantada, e viu uma nova enfermeira.

- Sim?

- Não quer descansar? Podemos preparar uma cama pra você no quarto ao lado. – O seu rosto era muito meigo, e os olhos velhos e sábios. Deu um tapinha no braço de Marie. – Já está aqui à muito tempo.

- Que horas são? – Marie sentia como se estivesse vivendo à horas num sonho.

- Quase onze.

Eram duas da tarde em São Francisco. Estava longe de casa a menos de 24 horas, mas parecia que eram anos. Levantou-se e se espreguiçou.

- Como ela está? – Marie olhou intensamente pra cama.

A enfermeira bondosa hesitou por um momento.

- Está na mesma.

- Quando o médico vai voltar? – E por que não tinha estado ali nas 5 horas em que Marie se encontrava ao lado de Madame Duras? E onde estava Mike, afinal? Será que não viria? Ele daria um jeito de fazer aqueles molengas se mexerem. Marie fitou os monitores, irritada.

- O médico voltará daqui a algumas horas. Você bem que podia descansar um pouco, podia até mesmo ir passar a noite em casa. Demos outra injeção em Madame Duras, e agora ela dormirá por algum tempo.

Marie não queria partir, mas parecia que estava na hora de ir para a casa da sogra. Podia descobrir onde Mike estava e ver o que estava acontecendo com aquele médico. Quem era ele? Onde estava? O que tinha pra dizer? A única coisa que Marie sabia agora, era que o estado de Madame Duras era crítico. Marie sentia-se desesperadamente impotente, sentada ali à horas, esperando uma explicação, ou um sinal, algo pra encorajá-la ou dar-lhe uma boa notícia... Alguém que lhe dissesse que não era nada. Mas isso seria difícil de acreditar.

- Srta.? – A enfermeira a observava.

Marie parecia quase tão pálida quanto Madame Duras.

- Vou deixar o número do telefone onde posso ser encontrada, e volto logo. Quanto tempo acha que ela vai dormir?

- Pelo menos 4 horas, talvez até 5 ou 6. Mas não acordará antes das três. E eu prometo... Se houver algum problema, ou se ela acordar e te chamar, eu telefonarei. - Marie assentiu e anotou o número do telefone da casa de Madame Duras. A enfermeira prendeu o número no gráfico e sorriu para os olhos cansados de Marie. – Você precisa dormir um pouco.

Marie não se lembrava de ter se sentido assim cansada na vida, mas a última coisa que planejava fazer era dormir. Tinha que ligar para Justin, falar com o médico, descobrir onde andava Mike. A cabeça dela estava a mil por hora, e se sentiu tonta de novo. Apoiou-se contra a parece, mas dessa vez não caiu. Simplesmente ficou parada por um longo momento. Depois saiu do quarto, a mala na mão, o casaco em cima do braço, arrastando o coração atrás de si. Achou um táxi num ponto fronteiro ao hospital, e desabou no banco com um suspiro tão alto que era quase um gemido. Cada centímetro do seu corpo estava cansado e dolorido, cada fibra do seu corpo tensa e exausta, e a sua cabeça não conseguia parar de funcionar. Quando o motorista parou no endereço, seus olhos se encontraram com os de Marie com um sorriso sedutor. Ela não notou. Simplesmente entregou-lhe o dinheiro e saiu. Tocou a campainha com duas pressões rápidas e fortes, e a pesada porta externa de madeira se abriu diante dela. Uma empregada desconhecida a recebeu, logo que Marie entrou.

- Acabou de chegar? – Perguntou a empregada.

- Não, passei essas últimas horas com Madame Duras, e ainda não vi o médico. – Marie tirou o casaco e quase caiu numa cadeira.

- Está parecendo muito cansada. – A mulher mais velha olhava pra ela atenciosamente.

- Não importa. Quem é esse tal de Kirschmann e onde está?

- É um cirurgião conhecido em toda a França. Esteve com Madame Duras até o fim da tarde de hoje, e vai vê-la de novo daqui a algumas horas. Marie... – Ela hesitou, depois falou. – Não há nada mais que ele possa fazer, pelo menos, não mo momento.

- Por que não?

- Agora precisamos esperar. Ela precisa recuperar as forças. Precisa... Viver. Quer comer alguma coisa?

- Só quero tomar um banho e descansar um pouco.

- Acho que deve comer algo, você está muito pálida.

Também se sentia muito pálida, mas não tinha fome. Não conseguiria comer, de jeito nenhum.

- Vou tomar um banho, trocar de roupa e voltar. Vai ser uma longa noite. Teve notícias de Mike? – Perguntou, franzindo a testa. A empregada assentiu.

- Chega de Atenas em uma hora. Você vai buscá-lo no aeroporto?

Marie já ia dizer que não, mas algo dentro dela vacilou. Estava pensando em como seria para Mike entrar, como ela entrara, e vê-la pela primeira vez. Parecia cruel deixar que passasse por aquilo sozinho, porque afinal de contas, Madame Duras era sua mãe. Tinha que ir encontrá-lo no avião.

- Sabe o número do avião dele? – A mulher fez que sim. – Então, eu vou. Vou só lavar o rosto, nem vou trocar de roupa. Pode chamar um táxi?

- Claro, e vou fazer um sanduíche pra você.

Marie fez um gesto de cabeça e desceu às pressas o corredor. No quarto de hóspedes familiar, olhou ao seu redor. Tudo era num tom polido de bege arenoso, em damasco ou seda, e os móveis eram todos Luís XV. Era um quarto que sempre parecera frio a Marie, mesmo quando dormira nele na sua lua-de-mel com Mike. Passou um pente nos cabelos e tentou forçar-se a pensar em Mike. Como seria vê-lo de novo? Ver o seu rosto, tocar a sua mão... Depois de Justin. Por que seria que Justin lhe parecia mais real, agora, ou era apenas um sonho? Será que ela fora engolida viva de novo por esse mundo de seda bege, para nunca mais voltar? Desejava desesperadamente ligar pra Justin, mas não tinha tempo. Tinha que ir para o aeroporto a tempo de pegar Mike enquanto saía pelo portão, caso contrário não o encontraria mais. A empregada bateu à porta do quarto de hóspedes e avisou que o táxi estava esperando. Enquanto dizia as palavras, entregou a Marie um pequeno pacote. Dois sanduíches de presunto. Fome? Quem conseguiria comer? Ao contrário da viagem anterior do aeroporto para o hospital, que pareceu interminável, essa pareceu curta demais. Ela se pegou cochilando no banco de trás enquanto corriam noite adentro, os pensamentos pulando, numa confusão de Justin para Mike. Parecia que tinham se passado apenas alguns momentos quando o táxi freou.

- Chegamos.

Murmurou um “obrigada” distraído ao motorista, pagou a corrida, e entrou rapidamente no terminal, alisando a saia enquanto corria. Estava começando a sentir como se não trocasse de roupa à uma semana, mas não se importava com a aparência, estava com a cabeça cheia de muitas outras coisas. Olhou para o quadro imenso que dava o número dos vôos e dos portões e saiu correndo na direção do portão pelo qual ele sairia. O vôo acabara de pousar. Dali a um ou dois minutos os passageiros desembarcariam. Ela tinha justo o tempo de chegar lá. Os passageiros da primeira classe sempre desembarcavam primeiro, e Mike sempre viajava de primeira classe. Saiu “costurando” por entre os outros viajantes, quase tropeçando nas malas de alguém. Mas chegou ao local quando os primeiros passageiros estavam passando pela alfândega, e com um suspiro recuou para um canto pra espiar. Por um momento louco, teve vontade de surpreendê-lo, de mostrar que gostava dele, apesar da traição do verão. Mas, mesmo nessa hora pavorosa de agonia, ela queria tornar as coisas mais fáceis pra ele. Apertou mais o casaco em volta do corpo e baixou os olhos. Sete ou oito pessoas já tinham passado por ela, mas nem sinal de Mike. Então, de repente, ela o viu. Alto, magro e arrumado, impecável mesmo depois do vôo. Notou com surpresa que parecia menos abalado do que ela temia. Obviamente, ainda não tinha entendido o quanto a coisa era séria, ou quem sabe... E então, quando já ia dando um passo para sair do seu esconderijo, Marie sentiu o coração parar. Ele estava se virando com um sorriso lento e suave. Viu quando ele pegou a mão de uma moça. Essa bocejava, sonolenta, e ele deixou a mão pousar no seu ombro, enquanto a puxava mais pra junto de si. A mulher disse algo e deu uma batidinha no braço dele. Marie fitava-os, sem voz, perguntando-se quem seria a moça, mas sem se importar realmente. O que estava vendo era a peça que faltava no quebra-cabeça, a resposta pra tantos anos de perguntas na sua vida. Essa não era uma conhecida casual, uma garota que paquerara no avião, era alguém com quem ele se sentia à vontade, alguém que lhe era familiar, que ele conhecia bem. O jeito com que andavam, falavam, se moviam e compartilhavam, contava tudo à Marie. Ela ficou presa ao chão, no canto, com a mão erguida em horror até a boca entreaberta, e ficou acompanhando os dois com o olhar até que sumiram de vista. E, então, de cabeça baixa, correndo, sem ver ninguém, e desejando desesperadamente não ser vista, correu para a saída e chamou um táxi.


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Notas finais do capítulo

Esse foi grande.
E aí, o que acharam?
Sim, é exatamente o que vocês tão pensando, haha :)
Me digam o que vocês acham que vai acontecer daqui pra frente!
Reviews, galera! Tô sem incentivo pra escrever, assim não dá.
Obrigada e até logo!