# Bella Swan #

A sensação era estranha, era como não sentir nada, mas dava pra sentir, dava pra sentir um fluxo de energia saindo do meu corpo, me deixando num estado letárgico. Eu comparava isso ao mesmo que fumar maconha, mesmo que eu nunca tivesse feito isso. As cores, os sons, tudo vinha diferente para mim. Mais cálidos, mais suaves.

Olhei para a banheira na minha frente e me arrastei até ela, com uma facilidade desconhecida, eu tirei toda a roupa, mesmo sentindo meus braços e minhas pernas um tanto doloridas. Mas aquilo era bom, sentir aquela dor era bom, sinal que estava surtindo efeito. Abri as três torneiras da banheira e tampei o ralo. Me encostei na parede, esperando a banheira encher e fiquei olhando para o teto.

Minhas mãos dedilhavam pelo piso de cerâmica gelado, e eu descobri que gostava do frio. O frio era meu amigo, meu companheiro, o frio me lembrava a solidão, a ausência dele.

Eu olhei para minhas pernas, na coxa, havia algumas linhas vermelhas, onde pequenos filetes de sangue escorriam. O meu sangue. O sangue dele. Que ele usava para lhe trazer toda a força e poder que precisava.

E nos meus braços, a coisa ficava mais intensa, eu olhei para a tesoura já jogada no chão e achei que precisava de mais alguns cortes, me arrastei até ela e a peguei, bem a momento quando sentia algo molhado em meus pés, era a água que já tinha escorrido da banheira. Eu sorri. Levantei, ainda com a tesoura em mãos e entrei na banheira, sem fechar as torneiras.

Todo o meu corpo ficou debaixo da água, sentindo a temperatura ossilar entre baixa e alta. Apenas minha cabeça e meus braços ficaram de volta. Com a tesoura, eu mirei, já com a visão embaçada, meu pulso esquerdo e cortei, sentindo a dor vir bem-vinda. Fiz o mesmo com o outro pulso e larguei a tesoura, o barulho dela chocando-se contra o chão foi como sinos de uma igreja. Eu sorri mais ainda e fechei os olhos, sentindo meu coração bater intensamente dentro de mim. Eu não precisava olhar, para saber que a água e o chão já estavam tingidos de vários tons de vermelhos. E então eu me preparei e afundei meu corpo completamente.

Tão rápido quanto o alívio veio, ele se foi. Tudo isso porque eu parecia estar sendo carregada. Braços fortes e acolhedores, familiares até. Haviam ruídos, como se fossem vozes, mais de uma. Mas eu estava cansada demais pra discerni-los. Tudo que eu queria agora era dormir...dormir para nunca mais acordar.

# Alice Cullen #

- Ela está morta? Ela está morta? Ela está morta? Ela está morta?

- Não Alice, ela não está morta. Cale-se por favor! – gritou Edward nervoso a colocando na cama.

Eu fui até o closet e peguei algo para cobri-la, Bella estava nua, mas não era isso que tornava a visão horrível, haviam cortes, em todo o seu corpo. Eu joguei um lençol azul claro em cima dela, e rapidamente ele absorveu um pouco do sangue, ficando com algumas partes mais escuras.

- Porque ela fez isso Edward? – Esme perguntou chorando, sentada na cama e segurando uma mão de Bella.

- Os pulsos dela Edward.  – Carlisle disse, trazendo uma maleta de primeiros-socorros. – Ela está ferida demais para você curá-la sozinho.

Edward se afastou só por uns instantes para dar espaço a Carlisle, e logo voltou a sua posição, em pé, próximo a cabeça dela.

Bella estava muito, mas muito pálida, com olheiras enormes em volta de seus olhos, a pele sem vida e cheia de hematomas. Eram as partes de seu corpo que não recebiam mais o sangue bombeado pelo sangue.

- A quanto tempo isto pode estar acontecendo Carlisle? – Mamãe perguntou, ainda segurando a mão de Bella, enquanto papai cuidava dos ferimentos.

- O banheiro está repleto de sangue. – Edward respondeu. – Isso era responsabilidade sua Alice, você prometeu que cuidaria dela enquanto eu estivesse fora! – ele acusou, virando-se para mim.

- Sim, eu sei que eu prometi e eu vinha todo dia aqui verificá-la, mas ela nunca abria a porta, o que eu poderia fazer? E quem tem um laço com ela é você Edward. Você podia ter percebido antes de chegar aonde chegou! – eu me defendi, sem necessidade alguma.

- Ela perdeu muito sangue. Mesmo para uma Sgiah que o corpo produz sangue mais rápido que humanas normais, ela precisará de transfusão.

Edward passou a mão no seu cabelo, nervoso.

- A quanto tempo ela está assim Carlisle? – minha mãe perguntou novamente.

- Pelos ferimentos, e a quantidade de sangue perdida, ela começou a se cortar há uma semana. Só ainda não morreu por conta de sua singularidade. Bella provavelmente não sabia que para ela é mais difícil morrer. Mas ela fez muito estrago.

- Ela vai sobreviver não é? – eu perguntei, eu queria muito que isso não tivesse acontecido. Mas querer não significava nada agora.

- Vou ter que levá-la até minha clínica. Só lá ela pode receber os cuidados necessários.

Eu me sentei na poltrona que tinha no quarto deles e cobri meu rosto com as mãos. Eu sabia que a culpa não era minha, mas eu me sentia culpada. Eu poderia ter sido mais ofensiva. Poderia ter arrombado aquela porta. Poderia ter percebido os sinais de depressão. Afinal, que tipo de psicóloga eu era? Senti mãos afagando minhas costas e as lágrimas molhando minhas mãos.

- Me desculpe! – eu sussurrei, assim que vi ela sendo levada por Carlisle e Edward. Esme apenas me abraçou mais apertado e eu chorei com mais intensidade.

- Ela vai ficar bem, você vai ver.

- Não mamãe, ela não vai. Será que a senhora não pode ver o que está acontecendo? Bella não vai parar. Não importa o que façam. Seja la o que aconteceu entre ela e Edward. Ela não vai parar. Edward lhe roubou o seu bem mais preciso. Sua liberdade, e ela viu que a única forma de consegui-la de volta é se matando.

- É claro que não Alice, ela só quis...

- Mamãe não seja tola. Isso só vai piorar...

# Bella Swan #

Abri os olhos absorvendo todo o ambiente a minha volta. Eu estava numa cama de hospital, e olhando para meu próprio corpo, detectei uma intravenosa onde o sangue entrava.

Eu estava recebendo transfusão, mas porque? Isso era péssimo para Edward, eu demoraria três dias para ter meu sangue de novo. O sangue que ele precisava.

Olhei para meus braços tentando achar alguma marca do corte, mas elas se foram. Era como se isso nunca tivesse acontecido.

- Eu te fiz tanto mal assim Bella? – escutei a voz de Edward e procurei por ele.

Ele estava de costas para mim, as mãos dentro do bolso da calça jeans, a camisa amassada e olhava pela janela do quarto.

- Me responda! Eu te fiz tanto mal, a ponto de você sentir nojo de mim e preferir tirar a vida do que viver ao meu lado?

Eu não consegui mais olhar para ele. Simplesmente não conseguia. De repente, minha garganta estava fechada, eu não conseguia falar, e a sensação era agoniante dentro de mim? Eu queria pedir desculpas e dizer que ele estava errado. Mas isso era mentira, não era?

Isso se chamava arrependimento? Pelo que? Por ter tentado me matar? Porque a possibilidade de morte nunca tinha se passado pela minha cabeça. Arrependimento por tê-lo feito sofrer? E desde quando ele se importava comigo?

Eu causei-o dor, em alguma hora de todo aquele meu estado, eu posso ter causado dor nele, mas não parecia intencional. Eu não queria que Edward sentisse dor. Isso traria mais dor a mim. Mas a dor que eu queria sentir e a que eu sentiria se fizesse isso eram diferentes. Eram como dois pólos girando em volta do outro, mas sempre se repelindo.

Pude detectar as lágrimas caindo, antes de ouvir meus soluços. Eu estava arrependida. Mas eram tantos sentimentos e tanta confusão que eu jamais poderia dizer com certeza do que era. Eu odiava Edward, mas eu sabia e não podia mais negar, havia uma parte de mim que o queria e muito. Havia uma parte de mim que me fazia agonizar pelo simples fato de perdê-lo ou infligi-lo dor. E essa parte estava se fortalecendo cada vez mais.

Eu poderia muito bem resolver não me vingar, poderia continuar com ele, afinal, a vingança não traria meus pais de volta. Mas para que? Se Edward nutria sentimentos por mim ele nunca demonstrou. E agora...agora poderia ser tarde demais.

Eu resolvi olhar para ele de novo e me perdi naqueles dois mares verdes. Ele estava próximo de mim, me encarando. Os olhos cheios de angústia e dor. Sim, eu havia causado dor em Edward, e agora eu me odiava por estar sentindo como se isso fosse errado. Eu queria odiá-lo por completo. Mas não o fazia.

- Me perdoa! – eu solucei e senti seus braços em volta de mim antes que pudesse piscar.

Me apertei a ele o máximo que podia e chorei.

Chorei por arrependimento.

Chorei pela dor.

Chorei pelos meus pais.

Chorei por mim.

Chorei por não saber o que fazer.

E chorei por saber que eu estava cada vez mais no fundo do poço, e a luz era distante demais para alcança-la.