- Katerina! Venha aqui, por favor! – Mamãe gritou, o som parecia que vinha do outro lado da sala.

Corri passando a mão em meu cabelo bagunçado, mamãe não poderia me ver assim ou se não iria dizer que damas não poderiam ficar desarrumadas. Parei para respirar, tentando colocar os fios de cabelo que soltavam do meu coque. Respirei fundo vendo que não iria dar certo, por isso tirei o pequeno amarrador brilhante na cinza, que combinava com meu vestido.

Meus cabelos soltaram-se, caindo em ondas até minha cintura, passei a mão tirando os pequenos nos de lá. Por fim, passei a mão no vestido tirando o vestígio de folhas secas que grudaram em ao longo da corrida. Pronto! Eu estava perfeita de novo.

- Mamãe, aqui estou – Disse ao avistá-la, sentada na velha cadeira de balanço bordando um pequeno cachecol para meu irmãozinho que brincava distraidamente com barra do vestido dela.

Mamãe levantou os olhos, arrumando os óculos que usava, mesmo não tendo nenhum problema de visão. Seu olhar passou de meu cabelo aos meus pés que calçavam sandálias também na cor cinza. Ela se levantou dessa vez tirando os óculos e com as sobrancelhas arqueadas, apertou os lábios perguntando:

- Onde estava, Katerina? – Ela pegou meu irmãozinho no colo, que chorava por ter arrancado o seu passatempo.

Respirei fundo, abaixando a cabeça, decidindo contar a verdade, por mais que ela me coloque de castigo. Acho que demorei demais pensando, pois mamãe soltou um pigarro, me fazendo levantar a cabeça imediatamente pelo susto que levei.

- Eu... Bom, eu estava com o novo vizinho, Thomas William. – Respondi rapidamente para não gaguejar.

Mamãe fez uma careta de desgosto antes de aproximar-se de mim, pegando minha mão, me olhando com carinho.

- Oh, minha filha. – Falou ela maternalmente, seus lábios se curvaram em um sorriso doce. – Querida, você não pode se envolver com outro homem. Lembre-se que sei pai está procurando um noivo para ti. – Mamãe colocou meu irmão no sofá ao lado, para que segurasse minhas duas mãos.

- Mãe, eu não quero me casar – Abaixei a cabeça, suspirando.

- Filha, você precisa. Sei que você não quer se casar agora, mas temos que honrar nossa família. – Repetiu ela, igualmente a semana passada, quando tivemos a mesma conversa, pelo mesmo motivo.

- Vou me casar sem amor? – Perguntei, com uma pontada de ironia.

- Eu e seu pai nos casamos sem amor. Agora olhe para nós. Nós nos amamos. - Ela aumentou o sorriso – Você vai casar sem amor, mas irá aprender a amar seu companheiro. Não se preocupe, filha. Isso irá acontecer.

Sentei-me no sofá, dando fim a conversa. Por que eu tinha que me casar sem amor? Sem amor, para que vamos viver? Talvez mamãe esteja certe; irei me apaixonar pelo meu novo companheiro. Mas, como irei me apaixonar por ele, se estou apaixonada pelo meu vizinho?

Meu primeiro amor era lindo. Alto, loiro e com lindos orbes verdes, que me deixava nas nuvens, seu sorriso era doce ao mesmo tempo maliciosamente encantador. Quando ele chegou aqui, ouvi dizer que era um bruxo, demônio, com o tempo as pessoas pararam de falar mal dele. Minha intuição dizia que eu sabia de algo, só não conseguia saber o que era. Talvez fosse o fato de Thomas sumir de dia e só aparecer à noite.

Não, ele não era algo ruim, afinal ele nunca me machucou, nunca tentou algo comigo. Todos os dias nós nos encontrávamos á noite para conversarmos sobre nosso dia. Papai não sabia disso, ele ia caçar com os amigos. Apesar disso deixava os empregados dormir aqui, apenas de segurança.

Levantei-me sem dizer nada, indo para meu quarto. Ao chegar lá, deitei-me de vestido e tudo, olhando para o teto do quarto, perdida em pensamentos. Eu não queria me casar, mas era obrigada, o que eu faria para impedir esse casamento?  A resposta era fácil e dolorosa.