"- Alan, Alan! – perguntou Henry, com quem o garoto conversava antes de se perder num canto distante da casa. – Que houve com você, cara?, to te chamando tem um tempão! – disse, sorrindo maroto.
            - Desculpa, cara. Tava olhando... O movimento. – disse, sorrindo também. Henry levantou uma sobrancelha.
            - Não sabia que a Nariki tinha mudado de nome. – Alan enrubesceu levemente. Os dois riram. – Vai lá, cara. – continuou, dando um tapinha no ombro do amigo. – Boa sorte. – completou e saiu de perto. "

Capítulo IV – Just Dancing

- Bonita festa, não? – perguntou Alan, um meio sorriso, chegando perto da menina que se balançava no mesmo lugar olhando para a pista de dança.
Misha se assustou por um instante, vendo o garoto sorrir ao seu lado, as mãos nos bolsos da calça, encarando-a. Sorriu também.
- Linda – respondeu, brincando com o copo em sua mão. – Mas o que faz aqui sozinho? – perguntou, curiosa.
- Ah, bem... – começou, desviando o olhar. – Fui despachado. – disse, por fim. Não era lá uma mentira. Misha riu com gosto.
- Por quem? – quis saber, bebendo um gole do refrigerante.
- Henry – respondeu o outro, simplesmente. Misha quase cuspiu o líquido.
- O que? – deixou escapar, começando a rir. Alan arregalou os olhos e ficou muito vermelho.
- Não, não é isso o que você está pensando, não mesmo! – disse o menino, desesperado. Misha gargalhava.
- Aham... – disse a menina, marota. Alan começou a ficar irritado.
- To falando, Nariki! Eu não cheguei no Henry não, ta maluca?? Ele tava ficando com uma menina, eu não ia bancar o castiçal, né?– insistiu, o cenho franzido. Misha estava parando de rir, com a mão livre sobre a barriga.
- Quer se acalmar, to brincando com você! – disse a menina, pegando outro pastelzinho.
Alan sorriu, deixando os ombros caírem. Palhaçada...
- E você, por que está sozinha aqui? – perguntou ele, enquanto a menina comia.
- Não estou sozinha. – respondeu, simplesmente. Alan sentiu algo em seu estômago murchar. – To com você, ora. – disse, sorrindo de lado. – Alan sorriu também, meio aliviado, não sabia por que.
- Cadê o Ryan? – perguntou, servindo-se de refrigerante. Misha riu.
- Digamos que ele ficou mais interessado nas pernas da Alex. – respondeu, bebendo. Alan aumentou o sorriso.
- Engraçado, ele me disse que estava interessado em você. – disse o rapaz, encarando a garota por cima do copo. Ela enrubesceu um pouco.
- Podia dar uns conselhos a ele. Ele definitivamente não sabe como conversar com uma garota. – disse a menina, desviando o olhar. O garoto riu com gosto.
- Ele nunca precisou... – observou. Misha soltou uma risadinha. – Brianna convencia todas as meninas a ficarem com ele antes mesmo de conversarem com ele. Mas não funcionou com você. – continuou, encarando a menina, que só então percebeu as conversas da amiga de uns tempos pra cá. Deixou o queixo cair, incrédula. Não acreditava que Brianna podia ter feito isso.
- Caramba... – deixou escapar, bebendo um longo gole enquanto Alan ria.
- Lábia boa a dela, não? – perguntou o menino, olhando a pista de dança. Misha sorriu descrente.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, bebendo refrigerante e observando a festa. Então, começou a tocar uma outra música, um forró rápido e animado, com letra em português. Alan imediatamente deixou o copo na mesa e puxou Misha pela mão.
- Vem, eu adoro essa música! – Misha resistiu um pouquinho, puxando Alan de volta. O garoto encarou-a com um enorme sorriso.
- Eu não sei dançar... – disse a menina, sorrindo com desânimo.
- Não tem problema, eu conduzo você. – disse o outro, simplesmente. Misha aumentou o sorriso e aceitou o convite, deixando o copo na mesa.
Os dois pararam na pista, um de frente para o outro, a menina encarando o garoto com certa expectativa. Ele lhe sorria, maroto.
- Confia em mim? – perguntou, colocando a mão em sua cintura e segurando a outra mão na da menina. Ela ficou sem saber o que responder por um instante, mas sorriu e acenou afirmativamente com a cabeça.
O garoto começou a conduzi-la pela pista, rapidamente e com desenvoltura. Misha não tinha dificuldades para acompanhá-lo, ele conduzia tão bem que parecia que a menina adivinhava os passos seguintes. Os dois sorriam, e a menina riu quando o parceiro a rodou várias vezes pela mão. Logo, restavam apenas poucos pares no salão, a maioria colegas da academia de dança dos aniversariantes. Durante um passo em que os dois ficaram mais próximos, Alan chegou o a boca perto do ouvido da garota.
- Isso porque você não sabe dançar? – disse, sorrindo maroto.
Misha sorriu, encabulada, e continuou dançando, mordendo o lábio inferior.

- Não acredito que você não bebe! – disse Misha para Alan, os dois estavam sentados no sofá. Ela estava meio ajoelhada, virada para ele, escorando-se com o cotovelo no encosto do sofá, enquanto o garoto sentara-se normalmente, como se tivesse sido jogado ali.
- Ué, por que a surpresa? Eu não pareço um menino comportado? – perguntou, bebendo um gole do copo de refrigerante.
- Quer mesmo que eu responda? – perguntou a menina, um olhar de censura e diversão no rosto.
- Não. – respondeu o menino, simplesmente. Misha gargalhou e bebeu mais um gole do drink de frutas e champagne.
Os dois estavam suados e vermelhos pelas várias músicas que haviam dançado. Observavam a festa, algumas pessoas ainda na pista de dança, algumas desmaiadas nos braços do sofá e poltronas e nos primeiros degraus da escada. Vários casais se beijavam, entre eles uma maliciosa Alex que prensava Ryan na parede, apertando, unhando e passando a mão pela cintura e tórax do loiro. Brianna também ocupara-se com um moreno alto que a beijava sensualmente perto da pista de dança.
- É, acho que perdi minha carona. – disse Misha, meio desanimada, observando Matthew perder uma das mãos nos cabelos compridos e loiros da menina. Alan riu também quando olhou para a mesma direção.
- Pode voltar comigo, se quiser. – disse simplesmente. Misha enrubesceu, sem saber direito por que. – Vou a pé, vou passar na Academia de qualquer jeito. – a menina encarou-o.
- Mas está de madrugada, não pode ficar andando por aí sozinho! – disse, preocupada. Alan riu, bebendo.
- Qualquer coisa você me protege. – disse, num meio sussurro, o olhar penetrante fazendo a garota se perder por instantes. Piscou um olho e ela sorriu de lado, marota e incrédula.
- Aham, claro. Uma faixa vermelha protegendo um faixa vermelha-ponta-preta dos perigos obscuros da madrugada – disse ela, num tom dramático, ficando com o rosto a centímetros do garoto.
- Os dois sozinhos, sem nada nem ninguém que os detenha. – disse ele, no mesmo tom, sem se afastar.
- Combatendo os vilões da madrugada.
- Precisa mesmo ter vilões? – perguntou ele, sorrindo de lado.
- Não me obrigue a te chamar de frouxo.
- Eu não disse nada nesse sentido. – respondeu, aumentando o sorriso. Misha sorriu de lado também, embora não estivesse ciente. Estreitou os olhos, estudando o garoto que estava tão perto dela agora.
- Olha que eu posso acabar aceitando a oferta – disse, marota.
- Olhe que você pode acabar gostando do produto. – respondeu ele, ainda mais maroto. Misha riu gostosamente e se afastou. Alan sentiu seu estômago desabar.

Os dois estavam andando pela grande avenida, deserta àquela hora da madrugada, sorrisos marotos estampados nos rostos.
- O exame de faixa vermelha-ponta-preta é daqui a alguns dias, não é? – perguntou o garoto, curioso. Misha concordou com a cabeça.
- Duas semanas.
- Pouco tempo.
- Eu sei. – disse ela, parecendo pesarosa. – Não tenho treinado muito. – confessou.
- Tem que se concentrar, se quiser essa faixa. – o garoto repreendeu-a. – Ela não vai vir de graça pra você.
- Sei disso, mas pra você é fácil falar. Você já se formou na escola. Eu estou toda atolada de deveres.
- E indo a festinhas a noite? Tsc, tsc, tsc... – disse ele, balançando a cabeça negativamente. Misha olhou-o, incrédula. – Brincadeira. – completou, rindo.
- E quando eu finalmente tenho tempo, está na hora da aula de outras turmas... – lamentou Misha. Alan pareceu pensar um pouco. – Que foi? – perguntou, curiosa.
- Me aceitaria como professor? – perguntou, de repente.
- Quê? – a menina deixou escapar. Ele riu.
- Tenho horário livre à noite, posso te passar umas lições. – Ela sorriu, os olhos brilhando.
- Poxa, isso seria ótimo! – respondeu. O garoto ampliou o sorriso.
- Podemos começar quando você quiser. – Ela sorriu, mordendo o lábio inferior.
- Obrigada, McGrew. De verdade. – agradeceu, sincera.
- Será um prazer, Nariki.
Quando finalmente alcançaram o prédio cuja placa indicava a Academia, Misha virou-se para ele, sorrindo com doçura.
- Obrigada por me trazer.
- Obrigado pela companhia.
-Obrigada pela dança.
- Ei, essa fala é minha! – disse, maroto. Os dois riram. - Até mais, então. – disse à menina, colocando as mãos nos bolsos. Misha mordeu o lábio inferior, ponderando. Por fim, adiantou-se um passo e depositou um delicado beijo na bochecha do garoto, que parou, surpreso demais pra responder.
– Até, Alan. – respondeu, sorrindo. O garoto aumentou o sorriso.
– Até, Misha. – completou.
A menina sorriu mais uma vez antes de pegar a chave e enfiá-la no portão. Acenou para o garoto, entrando em seguida e fechando a porta. Alan se virou e seguiu o caminho para casa sem conseguir disfarçar um sorriso estranhamente vitorioso. O que ele estava comemorando afinal? Era só a Nariki. Só?
Quando entrou em casa, Misha encontrou Michelle sentada no sofá, de hobby, lendo uma revista qualquer sobre esportes. Quando viu a menina, que entrou em casa sorrindo bobamente, estampou o rosto com seu sorriso mais maroto.
– Se divertiu? – perguntou, assustando a menina, que logo riu.
– Muito. – respondeu simplesmente.
– Não quis convidar Matt pra subir? – perguntou, jogando a revista sobre a mesinha de centro.
– Não voltei com Matt. – Michelle estranhou.
– Não voltou com Matt?
– Não. Ele e a Brianna estavam ocupados. Vim andando com o Alan.
Michelle achou que não tinha entendido direito.
– Alan McGrew? – perguntou, desconfiada.
– É. – concordou a menina com a cabeça, mexendo preguiçosamente nos cabelos enquanto sorria.
– Então deve ter sido realmente divertido. – disse a mulher, observando a menina andar até alcançar o quarto, rindo quando o fez.
– Foi sim. – disse, perdida ao olhar para as flores estampadas na colcha de cama.
– E ele beija bem? – perguntou, sem esconder um sorriso maroto.
– Não sei... – respondeu Misha, jogando-se na cama e contemplando o teto. – Ele não me beijou. – completou, com um tom que beirava a insatisfação. Michelle boquiabriu-se, totalmente pasma.
– Acho que alguém aqui está apaixonada... – disse, cantarolando.
– O que está dizendo, Valentine? – disse Misha, rindo-se. – Eu e o McGrew? Que idéia absurda!
– Não parecia absurda quando você quase lamentou que ele não tivesse te beijado. – respondeu a outra, como quem não quer nada. Misha olhou-a incrédula.
– Vá dormir, Michelle, ta precisando recuperar sono perdido. – disse, encarando novamente o teto.
– Ok, eu vou dormir. – disse a moça, em tom de rendição. – Durma bem, sonhe com os anjos. – continuou, puxando a porta. – Sra. McGrew. – completou.
Misha gargalhou e atirou-lhe um ursinho de pelúcia, que bateu na porta e caiu de lado no chão. “Se bem que...” pensou a menina, “ não poderia ser assim tão mal...”