A Lenda da Guardiã escrita por LudmilaH


Capítulo 4
10 anos depois


Notas iniciais do capítulo

Oooi pessoal! Desculpa pela demora em postar, mas eu tava fazendo umas modificaçõezinhas no outro, queria até agradecer à Hidden M, que me ajudou muito...
Espero que gostem deste, fiz com todo o carinho! *-*



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Capítulo IV - 10 anos depois

– Nariki, não precisa se maquiar pra ser guardiã, você só vai ficar lá em pé, olhando o movimento... – disse Alan, à porta do vestiário feminino.

Era dia do exame de faixa amarela, e Misha e Alan iam ser os guardiões. Alan estava despreocupadamente recostado na parede, esperando que Misha saísse finalmente do banheiro feminino.

- Não estou me maquiando – soou a voz da menina, de um jeito que denunciava que ela estava passando batom.

- É claro que não. – retorquiu Alan, sorrindo de lado.

Então, quando Misha finalmente saiu do banheiro, o garoto pensou que valia a pena ter esperado. Misha não parecia estar maquiada, mas a boca tinha uma cor bonita entre o rosa e o vermelho, os cílios pareciam maiores e os olhos, mais delineados. Os cabelos castanhos e compridos estavam presos em um coque bem feito com palitinhos decorados. A menina parou, reparando que Alan olhava fixamente sério para ela. Sorriu de lado, marota.

- Fecha a boca, McGrew. – disse ela. – Vai babar desse jeito. – continuou, começando a andar em direção a porta. Alan fechou a cara.

- Bonito penteado, Nariki. – admitiu ele, andando também, sentindo por dentro que isso era um grande eufemismo. Misha riu.

- Pode falar que eu estou bonita, McGrew. Não vou contar pra ninguém. – garantiu a menina, sorrindo marota, encarando o menino. Ele lhe sorriu de lado.

- Não tenho por que mentir. – responder ele, simplesmente. Misha fechou a cara.


Os dois já estavam parados à porta da academia, lanças na mão e expressões fechadas. Alan olhou pelo canto do olho para a menina ao seu lado e viu, pendendo em seu pulso, uma pulseira de prata com dois pingentes; um coração e uma letra M.

- Não vá me dizer que acredita até hoje naquela lenda? – perguntou ele, olhando-a descrente.

- Por que não acreditaria? – retorquiu ela, simplesmente.

- E por que acredita? – devolveu ele. Ela baixou o rosto.

- Tenho meus motivos. – ele riu.

- Todos precisam ter fé em algo, não é?

- Na verdade, não é isso. – respondeu, ainda com o rosto baixo. Alan estranhou, franzindo o cenho.

- E o que é então? – Misha demorou alguns instantes pra responder. Suspirou e levantou o rosto.

- Minha mãe acreditava.

Alan torceu a boca, percebendo que não era um assunto agradável pra ela.

- Desculpe – pediu, sem encará-la.

- Não tem problema. – ela respondeu quase fria.

Houve uma pausa desagradável, ela olhando para a rua muito séria, ele com o rosto baixo.

- Sabe, - continuou ela. – quase todos acham que eu acredito na Guardiã porque vivi muito tempo sem a perspectiva de alguém que me protegesse, que me cuidasse, que zelasse por mim. Quase todos acham que vejo na Emmy a minha mãe que eu não conheci. – disse ela, encarando o garoto. Ele sustentou o olhar. – Não tenho nela uma mãe, Alan. – continuou. – Mas acredito que todos precisamos de alguém pra nos proteger. Mesmo que seja uma lenda, eu acredito. Afinal, - disse, dando um pequeno sorriso de lado. – todos precisam ter fé em alguma coisa, não é? – completou, perdendo novamente o sorriso.

Diferentemente de quase todas as vezes que os dois discutiam, Alan não teve o que retorquir. Apenas voltou a olhar a rua, muito sério, perguntando-se intimamente por que não calava a boca de vez em quando.


***

Os exames haviam acabado, os pequenos contavam excitados aos pais suas incríveis façanhas para que conseguissem a faixa amarela. Passando ao lado de um dos bancos para pegar sua mochila, Alan ainda ouviu um garotinho ruivo com o rosto coberto de sardas contar ao avô, animado:

- Você precisava ver, vovô! Foram todos os mestres de uma vez, assim! – dizia ele, gesticulando com pernas e braços. - , mas eu derrubei todos eles, foi demais!

- E então por que não conseguiu a faixa, Albert? – perguntou o avô, com um olhar desconfiado. O garotinho enrubesceu, parecendo ofendidíssimo e Alan balançou a cabeça negativamente, sorrindo.

O garoto passou pela porta de vidro na lateral da Academia, que dava para um belo jardim gramado com um grande pessegueiro. À sombra da árvore, abraçando calmamente as pernas, a silhueta de uma menina de cabelos castanhos e compridos amarrados em um rabo-de-cavalo que olhava atentamente as montanhas no horizonte a frente.

- Não vai pra casa? – perguntou o menino, a voz branda, ao lado da menina que não se assustou.

- Já estou em casa. – respondeu simplesmente, sem ao menos olhar o garoto de pé ao seu lado. Alan, estranhando, colocou a mochila na grama e sentou-se ao lado da menina.

- Quase, Misha, mas três quarteirões dão uma diferença enorme... – disse ele, com o meio sorriso presunçoso de sempre.

- Não estou mais naquele apartamento, McGrew. – cortou Misha, parecendo impaciente. – Achei que já sabia, há mais de um mês estou morando com a Michelle na sobreloja desse prédio aqui. – completou. Alan ficou surpreso.

- Puxa, desculpe, não tinha reparado. – pediu o menino, reparando que já era a segunda vez que se desculpava com a garota aquele dia. – Achei que estivesse morando com a sua tia. – Misha riu.

- Minha tia mora em outra cidade, apesar de não ser longe daqui. É fotógrafa, viaja muito, não tem tempo pra mim. Assim, como ela e a outra também testemunharam a favor da Michelle no meu caso, o Estado deu a minha guarda provisória pra ela. – disse, sem sorrir.

- Eu sinto muito que tenha perdido seu pai. – disse Alan, quando tomou coragem. A maioria dos colegas ainda não tinha tocado no assunto com a menina desde que ela voltara a freqüentar a academia, um ou dois meses antes.

- Eu também sinto. – disse a menina, ainda encarando as montanhas. – Mas acho que seria pior se ele continuasse vivendo como estava, coitado. – continuou, os olhos já encharcados. – Os rins não funcionavam mais, o fígado todo destruído... E ainda – a menina fez uma pausa, limpando a lágrima que caíra. - ...e ainda o câncer no pulmão... Droga, eu insisti tanto que ele parasse de fumar... – continuou a menina, limpando mais uma lágrima.

Alan não sabia o que dizer. Apenas virou o rosto devagar, observando a menina por alguns instantes. Ela parecia cansada, tinha olheiras debaixo dos olhos pouco vermelhos.

- Eu sinto muito. – disse ele, colocando a mão sobre o ombro da menina. Ela o encarou. – De verdade. – completou. Misha esboçou-lhe um meio sorriso, antes de encarar a grama.

- Obrigada, Alan. – agradeceu, sincera. O garoto também deu um meio sorriso e baixou a mão, desviando o olhar.

- Hey, gatinha! – a voz de Brianna foi ouvida pelos dois, da porta da Academia.

- Fala, gata! – respondeu Misha, um pouco mais animada.

- Quero te ver poderosíssima amanhã na festa, ok? – disse a loira.

- Conte comigo! – disse a outra, sorrindo abertamente no fim da frase.

Brianna mandou um beijo para a amiga, colocando a mão sobre os lábios e estendendo-a depois para Misha. A loira ainda piscou um olho para ela, rindo, e a menina revirou os olhos. Estalou os lábios duas vezes antes de a outra sumir no interior da Academia. Misha voltou a observar o horizonte como se nada tivesse acontecido enquanto Alan a olhava, perplexo.

- Ela não parece muito sensível, né? – perguntou, com um meio sorriso. Misha riu gostosamente.

- Brianna? – disse, encarando o garoto. – Uma manteiga derretida, isso sim! – continuou, sorrindo. – Se visse que eu estava chorando, tinha começado a chorar também. – completou. Alan riu.

- E a festa? Vai com alguém? – quis saber o menino, curioso. Misha o encarou, incrédula. – O que? – perguntou o garoto, estranhando a reação. A menina deu uma risadinha e voltou a observar as montanhas.

- Os pais de Matt concordaram em me buscar, vamos juntos. – respondeu a menina. Alan ergueu uma sobrancelha e sorriu de lado.

- Juntos? – perguntou, malicioso. Misha olhou-o com censura.

- Não nesse sentido, McGrew. – respondeu a menina, ríspida. Alan observou a paisagem também, sorrindo maroto.

- Ora, vai saber – disse ele. Misha sorriu de lado, balançando a cabeça negativamente. – Vocês vivem se abraçando por aí... – insinuou ele, ainda sorrindo.

- Somos amigos, cabeção! – disse a menina, dando um tapa na parte de trás da cabeça de Alan. Ele riu, colocando a mão sobre o local atingido. Misha voltou os olhos novamente para o horizonte antes de continuar, com um meio sorriso. – Amigos se abraçam, ora essa! E além do mais, Brianna está louca por ele, eu não poderia fazer isso com ela. – soltou, displicente. Alan arregalou os olhos e encarou a menina.

- O que? – perguntou, um estranho sorriso meio surpreso, meio incrédulo estampando o rosto. Misha também arregalou os olhos, tampando a boca.

- Brianna vai me matar! – disse a menina, com as mãos na testa. Então, de repente, levantou o rosto e virou-se para Alan, que ria aberta e tranquilamente sentado no gramado. Quando ele viu a expressão assassina no rosto da garota que o encarava, parou de rir na hora. – Você não vai abrir o bico, entendeu, McGrew? – disse a menina, pausadamente, o dedo indicador em riste.

- Claro que não – disse ele, simplesmente. – Eu tenho boca.

Misha quase pulou no pescoço do menino, que ria ainda mais.

- Se contar isso pra alguém, McGrew, eu juro que te caço para o resto da vida! – disse ela, furiosa, indo pra cima do menino, que se curvava cada vez mais, se esquivando.

- Calma, Nariki, respira – disse ele, calmamente. Misha voltou para o lugar, pernas e braços cruzados e cara fechada. – Não vou contar pra ninguém. – continuou, pensando: “como se quisesse mesmo fazer isso”.

Misha descruzou os braços, mas não desamarrou a cara. Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, a menina brincando com folhas secas no chão, o menino olhando despreocupadamente para as montanhas além. A menina espreguiçou-se, olhando as montanhas também.

– E a Karina Peterson, vai com você? – perguntou a menina, referindo-se à menina com quem Alan estava sendo visto há algumas semanas. Alan se mexeu, pouco confortável.

– Não estamos mais juntos. – disse simplesmente, sério. Misha desviou o olhar.

– Sinto muito. – disse a menina, encarando o chão. Alan riu gostosamente, Misha não entendeu.

– Eu não. – disse ele, simplesmente, colocando as mãos cruzadas atrás da nuca.

Misha quase não acreditou. Como assim “eu não”? Olhou-o, incrédula, enquanto o garoto sorria, admirando o nada. Um sorriso escapou por entre os lábios da menina, e ela balançou a cabeça negativamente.

Algo no bolso do rapaz chamou-lhe a atenção, despertando-o. Depois de olhar rapidamente o celular, o garoto recolheu a mochila e se dirigiu a Misha, dizendo que tinha que ir.

– Ok, te acompanho até a porta. – respondeu a menina, levantando-se também.

Os dois andaram lado a lado, os olhares baixos ou em frente, mas que não se encontraram. À porta, o garoto virou-se para Misha, que lhe sorriu.

– Até mais, então. – disse a menina, despedindo-se do garoto com um acendo tímido. Ele avançou até ela, colocou a mão em sua cintura e beijou-lhe delicadamente a bochecha.

– Até, Nariki. – disse, daquela forma confiante e presunçosa de sempre.

Misha observou-o se afastar com a mochila no ombro, um sorriso bobo escapando entre os lábios até que ele desaparecesse pela primeira esquina. Fechou a porta, dando de cara com uma Michelle que lhe olhava, curiosa, com os braços cruzados e a expressão marota. A menina enrubesceu e trocou o apoio das pernas, desconfortável.

– O que foi? – perguntou, séria. – Eu, hein! – disse, encaminhando-se para as escadas.

Enquanto isso, um garoto de cabelos pretos e arrepiados, com a mochila no ombro, pensava sozinho durante o caminho pra casa. “Então a Brianna está a fim do Matt e a Nariki, solteira? Ryan vai gostar de saber desta última parte. É, essa festa promete...”


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Notas finais do capítulo

E aíi, o que acharam?
Comentem, please!
beeeijos ;D



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