Capítulo II – Misha Nariki

A garota saiu da sala onde treinavam radiante: finalmente ouviria a verdadeira Lenda da Guardiã. Mesmo tendo apenas seis anos de idade, Misha já tinha lido em um artigo de jornal sobre a lenda, que a deixara realmente fascinada. Uma garota guardiã, que protegia os exames da academia que estava em perigo. Misha sentia muito não saber mais nada sobre a lenda, o que contava exatamente ou como havia surgido, mas isso não importava mais. Agora ela saberia.

Depois do banho tomado e da roupa trocada, Misha despediu-se de sua melhor amiga, Brianna Mackenzie, da classe de Michelle. As duas tinham a mesma idade e Brianna era gêmea do garoto por quem todas as meninas das duas classes eram apaixonadas: Ryan Mackenzie. O menino fazia o tipo galã e extrovertido, além de bonito. E ainda lutava bem! Mas Misha sabia que não tinha chances com o garoto. Ele não parecia muito interessado em meninas. Mas ela não se importava com isso, tampouco. Achava-se muito nova para se interessar por garotos.

Misha saiu sozinha da academia, pois, apesar da pouca idade, só precisava andar três quarteirões, sem nem atravessar a avenida em que a academia ficava, e subir três lances de escada. Então estaria sã e salva em casa.

– Papai, cheguei! – chamou a menina, entrando no pequeno apartamento que dividia com o pai. Ao ver o mesmo bilhete de sempre em cima da mesinha de centro, Misha soube que estava sozinha em casa. Por um bom tempo. – Ah, não... – disse, lendo o bilhete, que dizia:

“Misha,

Fui à venda com uns amigos, não me espere para jantar.

Papai.”

Misha sabia que nem tão cedo o pai voltaria para casa. Ele não saia muito para beber, mas quando saía, voltava lá pelas tantas da noite, completamente alterado. Ele era um pai realmente amoroso, mas a garota não podia deixar de ficar chateada. O que ele queria afinal? Morrer atropelado e deixar a menina em um orfanato qualquer? Ou que os vizinhos chamassem a polícia por causa da algazarra que ele fazia no corredor do prédio? Misha já tinha perdido a mãe, que morrera no parto. Não queria ficar sozinha de vez.

Misha era uma menina linda. As duas tias costumavam dizer que ela era a mãe em miniatura. Os cabelos castanho escuros, lisos e levemente ondulados desciam até o meio das costas da menina. Os olhos, também castanhos, ganhavam um puxão nos cantos externos, dando-lhe um ar extremamente oriental. A pele, nem tão branca, não tinha sardas nem muitas espinhas. Procurava ser gentil com todos, mas nem sempre conseguia. Com Alan, a garota nunca conseguira trocar menos do que ofensas. E eles tinham apenas 6 e 7 anos de idade. Este era um menino moreno, os cabelos pretos arrepiados e os olhos castanhos irritantemente pregados na menina, provocando-a. Sempre achava uma maneira de aborrece-la e sempre conseguia. Misha o odiava.

Apesar da companhia do pai, Misha sentia-se extremamente sozinha. Tinha alguns amigos na escola e no Kung Fu, mas o verdadeiro vazio que a menina sentia não podia ser preenchido por amigos ou colegas. Misha sentia muita falta era mesmo da mãe.

O jantar estava pronto, sobre o fogão. A menina, ainda meio chorosa, jantou, agarrada à boneca preferida. Lavou o prato, copo e garfo que usara e foi se deitar. Antes de adormecer, Misha ainda fez a oração silenciosa que fazia toda noite ao se recolher.

“Querida Guardiã, guarde meus sonhos e pesadelos, proteja-me dos males do mundo e afaste os Dragões de Fogo. Obrigada por existir. Amém.”

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A aula naquele dia foi mais tranqüila do que os mestres, em suas melhores expectativas, poderiam esperar. Quando Phillip terminou as lições de sua classe ainda faltavam quarenta minutos para que o horário expirasse. Cinco minutos depois, sua sala foi invadida pelos alunos de Michelle, que vinham animados para ouvir a história d’A Guardiã.

– Bom, crianças, - começou o mestre. – como hoje vocês foram ótimos e terminaram as lições bem cedo, poderei contar a vocês A Lenda da Guardiã.

Gritinhos de excitação e forte expectativa fizeram-se ser ouvidos do grande grupo de crianças que encaravam Phillip bastante animados.

– Há aproximadamente um século – começou ele. – uma menina entrou aqui na Academia para, obviamente, aprender as técnicas do Kung Fu. Ela tinha um talento incrível, e todos acreditavam que ela seria uma grande lutadora. Porém, como todos já sabem, ela não conseguiu pegar a faixa verde, por causa dos Dragões de Fogo de Yant. Mas ela nunca desistiu. Propôs então para seus mestres que a deixassem treinar nas outras faixas mesmo sem te-las, mesmo porque não havia ninguém que as tivesse. Então... – Phillip ia continuar, mas foi interrompido por Michelle. Ela parecia bastante entusiasmada, e fez o mestre levantar-se do banco onde estivera para dar-lhe lugar.

– Você não sabe contar essa história, Finger! – disse, dirigindo-se ao colega pelo sobrenome, assustando-o. – deixa que eu vou contar a verdadeira Lenda da Guardiã.