Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 9
Capítulo 8 - Descanse


Notas iniciais do capítulo

POV Miguel...

Boa leitura :)



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A luz branca se dissipou e não pude acreditar em meus olhos. Harper estava ajoelhada ao lado de Melanie, que abraçava a menina humana. Estava viva e não havia nenhum traço do demônio dentro da criança, que chorava alto. Jules também estava perplexo com o que havíamos presenciado.

Melanie destruiu a alma demoníaca de uma vez por todas. Tudo fazia sentido agora. Era por isso que eu havia sentido sua presença tão diferente e suave em Abyssi e por isso Lucius se interessou tanto por ela. A alma de Melanie era rara e pura e Lucius pode sentir toda sua força antes de nós, pois sua alma negra clamava pela paz que só Melanie poderia lhe oferecer.

Ouvi sirenes ao longe. Em breve, a polícia estaria aqui. Todo esse alvoroço chamou a atenção da população que, embora não tenha visto nada, pôde ouvir que se passou.

- Temos que ir. – falei firme e elas se puderam de pé.

A criança soltou Melanie e correu para o corpo de uma mulher que estava há alguns metros de nós. Provavelmente sua mãe. Encarei Melanie com cuidado e vi um sorriso em seus lábios. Era puro e lindo e ela estava feliz. Por um instante, não consegui deixar de admira-la.

Então ela deu um passo a frente e cambaleou. Mais que depressa a segurei em meus braços e Melanie desmaiou. Havia gasto muita energia e seu corpo precisaria de descanso.

- Eles estão chegando. - Jules me alertou, bem na hora que vi o azul e vermelho das sirenes dobrando a esquina.

Segurando o frágil e quente corpo em meus braços, andei depressa para o lado oposto, com Jules ajudando Harper a me seguir. Andamos algumas quadras e Harper disse que precisávamos parar para ver como Melanie estava. Bem nessa hora, Jules e eu sentimos a presença de um irmão.

Ele surgiu com cautela e parecia estar procurando algo.

- Jules?

- Calabriel, somos nós. – Jules respondeu.

Calabriel me reconheceu imediatamente e fez uma suave reverência, que me deixou impaciente.

- Calabriel, precisamos de um lugar pra cuidar de Melanie. – eu disse, preocupado.

- Venham! – ele respondeu analisando o corpo em meus braços..

Logo encontramos mais dois irmãos que estavam junto com Calabriel e nosso pequeno grupo seguiu até uma igreja. Descobrimos que havia um pequeno grupo de anjos guerreiros vivendo ali e que Calabriel e os outros dois saíram para vasculhar quando perceberam uma agitação nas redondezas. Havia um sensitivo beta entre eles.

Ao todo eram sete os guerreiros, nove, comigo e Jules, além de Melanie, Harper e os dois padres responsáveis pelo lugar.

Enquanto Jules ficou contando aos outros o que tinha acontecido e reunia novas informações sobre a situação, Harper e eu acompanhamos um dos padres até o dormitório deles. Coloquei o corpo desacordado de Melanie sobre uma das camas simples e a acomodei.

Eu estava tão surpreso. Talvez não pelo fato dela ser uma sensitiva alfa, mas principalmente por ela ter me enfrentado de um jeito tão único e determinado. Não pude evitar sorrir ao lembrar de sua atitude. Nunca, desde quando assumi os exércitos do Pai, um outro anjo havia contrariado minhas ordens. Ela o fez de um jeito tão simples que eu não pude fazer outra coisa além de sorrir.

Ela era única em muitas coisas e eu compreendia em certo aspecto, a necessidade de Lucius ao tê-la por perto. Agora, olhando-a tão serena e indefesa, eu pude perceber o quanto a ideia de que ele pudesse roubar toda essa pureza e força, me deixava apreensivo.

Nem sei quanto tempo fiquei ali, parado ao lado da cama, olhando-a descansar, mas quando dei por mim, estava a sós com Melanie no quarto. Delicadamente, cheguei seu corpo para o lado e sentei na cama. Respirei fundo e invoquei minha Gladius. Depositei minha espada sobre o corpo de Melanie e pus minha mão sobre ela. Fechei os olhos e me deixei levar até o Criador.

Sentia a energia fluindo devagar, preenchendo o meu ser por completo. A mesma energia que usei para espantar as trevas há pouco, a mesma energia que nutria a vida, estava sendo requisitada por mim novamente. Senti o calor e o amor da presença de meu Pai e a energia fluía de mim para Melanie, através de minha espada.

Não precisou muito, em poucos instantes, senti-a se mover ao meu lado.

- Miguel? – ela perguntou um pouco atordoada. Sorrindo, retirei minha Gladius de seu corpo e levantei.

- Como se sente? – perguntei.

- Não sei... um pouco confusa.

- Isso é porque precisa descansar. Gastou muita energia para salvar a criança e matar o demônio. – eu disse – Você precisa aprender a controlar sua força pra não gastá-la demais quando fizer isso de novo.

- Mas...

- Não se preocupe, ambos sabemos que fará novamente, se tiver a oportunidade. – eu a interrompi. Sabia que Melanie seria capaz de tudo para salvar alguém.

Ela respirou fundo e me pareceu não ter mais forças para continuar. Instintivamente, baixei a mão e passei por sua testa úmida, afastando alguns fios de cabelo. Sua pele era macia e lisa e seus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro. Faziam longas ondas claras que combinavam com seus lindos olhos.

- Descanse. – eu disse antes de virar e sair do aposento.

Na sala onde os outros estavam reunidos, estava um verdadeiro pandemônio. Mas todos se calaram assim que apareci. Os guerreiros estavam reunidos em volta de uma mesa grande de madeira e havia um mapa da cidade estendido sobre ela. Reconheci todos os meus irmãos que, respeitosamente, me saudaram.

Antes que pudesse falar, porém, Harper se dirigiu a mim:

- Como ela está?

- Bem, já voltou à consciência, mas precisa descansar. – respondi.

Ela pareceu aliviada e se sentou ao lado dos padres. Eles assistiam a uma pequena televisão e o mais velho apertava seu terço nas mãos. Harper passou pelo padre e tomou a liberdade de aumentar o volume para que todos nós ouvíssemos as noticias.

O mundo estava um caos. Em diversos lugares, vários acontecimentos estranhos estavam ocorrendo. Eram apagões, pessoas desaparecidas, acidentes. Eles estavam entrando nesse mundo e o dia da batalha estava muito próximo. Senti a tensão de meus irmãos.

Rapidamente convoquei-os ao centro, precisaríamos de uma estratégia. Através do mapa, eles me mostraram os lugares em que havia tido alguma ocorrência nos últimos dias e estava se espalhando.

- Senhor... – Calabriel começou – ontem saímos em uma incursão pela cidade. Alguns seres inferiores apareceram num bairro vizinho. O líder deles, antes de morrer, nos disse algo que eu acho que pode significar alguma coisa.

- E o que foi? – perguntei.

- Ele disse que os príncipes sairão.

Tudo o que eu temia estava prestes a acontecer. As recordações me invadiram a mente e cerrei os punhos.

- Como assim, os príncipes sairão? O que isso quer dizer? Quem são eles, Miguel?

Olhei para Harper. Ela era espontânea e autêntica. Ela pouco se importava com minha posição ou com o fato de eu ser um anjo, tratava-me como igual. Eu gostava disso. Às vezes, eu queria poder ser igual aos outros para que as recordações amargas não me invadissem a mente.

Encarando Harper, que estava de pé e com as mãos na cintura, respondi:

- Os príncipes do inferno.

Meus irmão se sobressaltaram e os padres iniciaram uma oração fervorosa.

- Mas... como? Eles vão se libertar? É isso? Quem são eles? – ela insistiu, caminhando em minha direção.

- Antes de cair em Abyssi, encontrei um superior que me disse que nosso sangue divino foi a chave para abrir as portas do inferno. Existem poucos lugares que servem como passagens, que, quando enfraquecidas, permitem que demônios passem para este plano. Mas só existe uma porta pela qual os príncipes podem sair e é a mesma pela qual entraram. Mas muito sangue divino deve ser derramado pra isso, nunca pensei que seria possível. Se eles saírem, os humanos não terão chance.

Silêncio. Todos estavam pensando, orando. Mas nem todos sabiam da gravidade da situação.

- E você por acaso sabe onde fica essa... porta principal? – Harper voltou a perguntar.

- Sim.

- E como você sabe? Esse seu superior te falou por acaso?

- Não. Eu sei porque fui eu quem os prendeu. – respondi.

Um silêncio ainda mais profundo se fez e continuei:

- Há muito tempo atrás, eles foram expulsos daqui e presos no abismo. Eles trouxeram os pecados para os humanos e o Pai nos ordenou que os expulsassem. Uriel, Rafael, Gabriel e eu lutamos e conseguimos prendê-los, mas parece que estão tentando sair.

 - E o que nós podemos fazer pra impedir que saiam?

Olhei para a suave voz que veio dos fundos. Era Melanie. Estava de pé, apoiada na parede e me olhava fixamente, parecia bem melhor. Fiquei instantes olhando aquele tom suave e misterioso e eu podia jurar que senti um fio de esperança.

- Temos que ir até lá e nos certificar de que ninguém, humano, demônio ou anjo, abra aquela porta. – respondi, sem ter forças para deixar de olhá-la.

Ela sorriu e senti a esperança que emanava dela me atingir mais uma vez, e sorri.


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Notas finais do capítulo

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