Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 5
Capítulo 4 - Temptantes


Notas iniciais do capítulo

Geente, a fic mal começou e jah tem indicação *_*Ivaine, pelo carinho e lindas palavras, te dedico este cap, que está agitaado!!O princípio do fim, começa agora! [risada malévola] :Dboa leitura :)



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O tempo estava próximo. Dava pra sentir no ar o cheiro da tensão. Acendi um cigarro e caminhei lentamente por entre as ruas quase vazias. Era uma noite agradável. Quando dobrei a esquina senti a presença dos seres do submundo e parei. Havia um guerreiro de cabelo comprido, que facilmente eliminou os dois infelizes que tentavam combatê-lo. Mas minha atenção se prendeu em outro ponto.

Havia mais um demônio e ele estava em sua forma nativa. Estava cada vez mais fácil fazê-lo. Ele atacava uma humana de cabelo curto, que se defendeu com uma pequena adaga. Na segunda tentativa o demônio foi dilacerado por uma pequena.

Era linda. O cabelo suave e claro caía longo sobre a pele alva. As mãos delicadas estavam trêmulas, empunhando a Gladius manchada com o sangue negro. Os olhos brilhantes e assustados me fizeram parar de respirar. Essa criatura encantadora era a coisa mais pura que já encontrei na vida, ou na morte.

Rapidamente, ocultei-me nas sombras, tornando-me invisível aos olhos humanos ou angelicais. Precisava tê-la, de qualquer maneira, eu precisava tê-la.

Sentia todo meu ser se agitar ante a antecipação. O momento era propício, tudo era propício. Eu já ouvi histórias sobre seres assim como ela, puros de corpo e alma, mas nunca havia encontrado um. Era irresistível, sua pureza me chamava tão alto que era quase enlouquecedor.

Segui-os até onde a humana morava e esperei. Esperaria por ela o tempo que fosse necessário... eu tinha a eternidade pra isso.

...

Eu estava estranha, definitivamente.

- Harper... você tem certeza que...

- Melanie, querida – ela me interrompeu – relaxa. Você está linda.

Não era bem isso que meu reflexo dizia. Ela me fez retirar o manto que vestia, pois eu o havia manchado com o sangue negro daquele demônio, e me emprestou algumas peças de roupa humana. Era uma blusa azul escura, que deixava meus ombros de fora e também uma saia muito curta pro meu gosto. Harper me calçou uma coisa estranha que apertou um pouco meus pés, mas ela disse que eram as suas favoritas. Não recusei, mas me olhando assim, nem parecia ser eu mesma.

Ela foi deitar pra descansar um pouco, já era meio da noite, eu acho. Jules estava parado junto a janela, observando lá fora.

- Ela é uma boa garota, faz bem em protegê-la. – falei voltando a sentar naquele negócio confortável no meio do recinto.

Jules não respondeu, tampouco me deu atenção, apenas continuou encarando o nada.

- Você tem alguma noção do que está acontecendo, Jules, de como podemos impedir o que está por vir?

Demorou um pouco, mas ele finalmente respondeu:

- Não podemos impedir. Por isso estou aqui, para lutar.

Respirei fundo. Era engraçado como meu corpo se comportava diferente aqui embaixo. Eu tinha sensações diversas, fortes, inconstantes.

- Depois de um tempo, você se acostuma. – ele disse de repente.

- Desculpe? – perguntei confusa.

- Com seu corpo. Depois de um tempo você se acostuma a ele.

Baixei a cabeça, é claro que meu irmão podia sentir minha confusão.

- Sabe... eu nunca havia matado alguém antes...

Jules se virou pra mim. Era alto e forte e tinha um lindo cabelo longo que mantinha amarrado em um rabo baixo. Ele parecia estar medindo as palavras.

- O que você liquidou, não era alguém, era um demônio. Além disso, você não o exterminou de vez, apenas fez sua alma suja voltar pro lugar de onde veio.

- Como assim? Ele não está...

- Não – Jules interveio – Somente sensitivos alfa podem exterminar demônios, fazer suas almas definitivamente desaparecer e retornar ao zero.

- Sensitivos alfa? Não entendo.

Levantei-me e caminhei na direção de seu imenso corpo. Ele então continuou:

- Nem deveria. Apenas os guerreiros detém este conhecimento. O que fazemos, é apenas expulsá-los daqui, quando matamos sua forma neste plano. Mas somente uma alma poderosa pode exterminá-los de uma vez por todas.

- E... como se faz isso? – perguntei curiosa.

- Você precisa doar uma parte de sua própria energia pro demônio, então ele é exterminado.

Ficamos em silêncio e Jules voltou a encarar a rua. Eu me sentia confusa e perdida. Cada vez menos eu compreendia o motivo de ter descido. Eu não sabia nada. Não entendia o mundo em que os humanos viviam, não sabia sobre como exterminar demônios... como eu fui capaz de pensar que poderia ajudar em alguma coisa?

- Não se preocupe. Vou ajudar você, Melanie.

Olhei para ele mais uma vez, surpresa. Jules era capaz de entender meus sentimentos com tanta facilidade que era como se pudesse ler meus pensamentos.

- Você também é um sensitivo? – perguntei.

- Não. Apenas tenho o dom da observação, só isso.

- Harper é uma sensitiva, não é? – perguntei, lembrando-me do jeito que ela avisou Jules sobre os demônios antes deles aparecerem.

- Sim. – Jules respondeu – Ela é uma beta, capaz de sentir quando um deles se aproxima... e ultimamente tem sentido bastante.

- Eles estão mais fortes, não estão? Eu vi como Harper ficou impressionada ao ver o demônio em sua forma nativa.

Jules não respondeu, mas seu silêncio já tinha me dito mais do que eu precisava ouvir.

Alguns minutos depois ele ainda permanecia de pé, perto da janela. Eu estava sentada relembrando do encontro que tivemos com os seres do submundo. Então, de repente, senti uma inquietação. Era sutil, mas constante, insistente, urgente. Sentia-me agoniada, sem saber o motivo.

- Alguma coisa errada? – Jules perguntou sentindo minha agitação.

- Não. Eu acho que estou um pouco assustada com tudo isso, nada mais. – respondi.

Um calafrio passou por mim e tão rápido quanto veio, se foi. Bem naquele momento, eu pude ouvir uma voz sussurrar meu nome, bem baixinho e suave. Olhei pra Jules, que estava imóvel, e desviei o olhar e o pensamento, não havia de ser nada.

...

No dia seguinte, Jules decidiu que seria melhor me dar algum tipo de treinamento básico de batalha. Ele e Harper treinavam todos os dias e eu me juntei a eles. Harper usava uma adaga pequena e afiada e percebi que seus movimentos eram rápidos e precisos, muito bem treinados.

Harper atacava Jules com rapidez e agressividade e não media forças. Ela sabia que não podia machucar um guerreiro como ele, então se dedicava ao máximo. Cada vez que ela cometia um erro, Jules a repreendia e mostrava como era a forma certa de fazer. Aprendi bastante somente observando-a.

- Melanie, sua vez. – ele chamou. Eu estava com uma roupa bem confortável de Harper, acho que era de ginásia, ou gincástica, sei lá, mas me caíram bem e permitiam uma boa movimentação.

Postei-me de frente pro anjo, que ordenou:

- Invoque sua Gladius.

E o fiz. Ao pronunciar as palavras certas e mentalizar minha espada sagrada, ela instantaneamente surgiu em minhas mãos.

- Agora – ele disse – quero que repita estes movimentos.

Então Jules passou a me mostrar algumas posições básicas de ataque e defesa utilizando a Gladius. Foi bastante proveito e eu até que levava jeito. É claro que ele me venceu em todos os duelos, mas pro primeiro dia de treinamento, eu fiquei satisfeita.

No fim da tarde, Harper me levou a uns lugares bem estranhos e cheios de gente. Ela me comprou algumas roupas e fiquei surpresa ao descobrir que tinha que dar algo em troca por elas, tinha que pagar. Isso era estranho pra mim.

Era noite quando saímos novamente. Eles sempre saíam às ruas e percorriam as redondezas em busca de seres do submundo. Harper contou que por diversas vezes os enfrentaram e que cada dia que passava, mais fácil era encontra-los entre os humanos.

- Por que as ruas estão mais movimentadas hoje? – perguntei sem entender. Na noite anterior não parecia ter tanta gente fora de casa.

- É porque é final de semana. As pessoas saem de casa porque não precisam trabalhar no dia seguinte. Saem pra curtir. – ela respondeu.

- Curtir?

- Sim, se divertir, distrair a mente.

Dobramos a esquina e demos de cara com um grupo de pessoas agitadas. Elas estavam amontoadas na frente de uma porta vermelha, entreaberta. Pude ouvir uma música bem esquisita e barulhenta que vinha do local.

- Isso é uma boate – Harper explicou enquanto passávamos pelas pessoas – As pessoas dançam, bebem e transam lá dentro. Um horror.

Olhei mais uma vez para a porta e o som que vinha por detrás dela me prendeu. Então eu senti, mais uma vez, aquele sussurro em meu ouvido. Era meu nome. Uma voz, a mesma voz, mais uma vez me chamava.

Parei.

- Melanie? – Jules perguntou aproximando-se.

Olhei mais uma vez para a entrada da boate que Harper falou. Então eu vi o reflexo de alguém atrás da porta. Era uma figura alta e devido a escuridão de lá de dentro, não pude perceber os detalhes, mas de alguma maneira, meu olhar ficou ali, preso, fixo, enquanto o arrepio estranho passeava pelas minhas costas mais uma vez.

- E-eu... preciso ir lá dentro. – falei, dando as costas pra Harper e Jules.

Nem ouvi a resposta. Havia algo, alguém me chamando. Era urgente.

Passei pelas pessoas com certa facilidade. Era como se elas estivessem me deixando passar. A música me atingiu violentamente e era diferente de tudo o que eu já tinha ouvido. Tinha um ritmo forte e um tum-tum-tum que me invadia o peito.

Estava escuro lá dentro e tive que forçar os olhos para ver alguma coisa. Havia um cheiro forte e muita fumaça, além de muita gente também. As pessoas dançavam muito próximas, fazendo movimentos semelhantes.

Fui andando mais um pouco e observando tudo a minha volta. De tempos em tempos, um raio de cor vermelha ficava passando freneticamente. E ao longe eu vi uma luz piscando bem rápido e os tons eram laranja, vermelho e azul. Vi muitas pessoas abraçadas, dançando juntas, e todos pareciam muito eufóricos. Bom, estavam se divertindo, eu acho.

A música mudou um pouco e comecei a ouvir uma batida um pouco mais lenta que a anterior. As pessoas começaram a se mover diferente. Estavam sacudindo o corpo de maneira sinuosa e envolvente, especialmente as mulheres, que levantavam as mãos e desciam e subiam lentamente, dançando.

Era bom. Senti vontade de dançar também aquele ritmo tão gostoso. Deixei meu corpo se mover lentamente, como as humanas estavam fazendo. E então ouvi mais uma vez, alguém chamar meu nome. Mas dessa vez, não foi um sussurro fantasmagórico, foi real.

Senti apenas um par de mãos me envolver. Eram quentes e grandes, mãos masculinas, que me seguraram gentilmente pela cintura.

Virei rapidamente, assustada. Vi uma figura alta e forte e senti um cheiro gostoso emanando dele. O homem sorriu pra mim e me puxou pra mais perto. Eu não sabia o que fazer, exatamente. Ele estava se movendo no ritmo da música, segurando minha cintura, dançando comigo. Mesmo sem vê-lo, senti seu magnetismo impressionante.

Ele levantou uma das mãos e levou ao meu rosto. Delicadamente, o estranho carinhou meu rosto e sua mão foi parar em minha nuca. Meu corpo estava tão inerte, e sem ação, que eu apenas deixei. Estava hipnotizada por ele de um jeito único.

O homem chegou mais perto e eu pude ver apenas um reflexo verde quando o feixe de luz passou diante de seu rosto. Tinha traços bonitos, muito bonitos, quase irresistíveis. Meu corpo reagiu a isso de um jeito estranho e quente. Foi com muito esforço que eu consegui dizer alguma coisa.

- Quem é você? – perguntei ao estranho que me carinhava o rosto e apertava a cintura com a mão quente.

- Sou Lucius. – a voz grave dele respondeu.

- E-eu te conheço, Lucius? – perguntei confusa. Era estranho, mas de algum jeito eu o estava reconhecendo, mas não fazia idéia de como.

- Não. – ele respondeu – mas seria uma grande honra pra mim.

Engoli com dificuldade. Lucius me deixava totalmente sem ação.

- Sou Melanie.

Ele sorriu e eu pude ver um sorriso perfeito se formar quando mais uma rajada de luz passou.

- Eu sei. – ele disse simplesmente – É maravilhosa, Melanie, simplesmente irresistível.

Não entendi o conteúdo de suas palavras, mas não deu tempo pra pensar. Lucius se aproximou de mim vagarosamente e colou seu corpo forte e duro contra o meu. Era quase rude e me envolveu apertado em seus braços. Eu não consegui me afastar, meu corpo não queria. Minha respiração estava acelerada e sentia o corpo formigar em todas as partes.

Lucius aproximou seu belo rosto do meu. Desviou a boca para meu ouvido.

- Temptantes.* - ele sussurrou.

Então ele deslizou o nariz bem lentamente fazendo o caminho de volta e tocou meus lábios com os seus.

Fechei os olhos. Senti as mãos dele me apertando cada vez mais. Senti a língua dele em meus lábios, pedindo passagem. Concedi, mesmo sem saber o que fazer. Ele então tocou a minha língua com a sua e começou um movimento ritmado e delicioso. Isso era um beijo, eu sabia que era.

Então, de repente, ele interrompeu o beijo e senti que algo muito errado estava acontecendo. Quando abri os olhos, vi o olhar perdido e desfocado de Lucius me encarando e senti algo pontiagudo em minha barriga.

Atrás de Lucius estava um homem de olhos cor de mel, que me encarava fixamente. Não podia ser, eu o reconhecia. Era Miguel.

Olhei pra baixo e vi que o que tocava minha barriga era a ponta da Gladius do arcanjo, que atravessou o corpo de Lucius por trás e parou antes de me atingir. Afastei-me dele rapidamente e o corpo de Lucius caiu lentamente em direção ao chão.


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Notas finais do capítulo

*Temptantes - tentadora

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