Os dias continuaram passando normalmente, e agora eu tinha aulas de esgrima com John, que conseguiu uma espada que se ajustava perfeitamente a mim, e deixou que eu a usasse para treinar.
Ellie já não me deixava em paz quanto a isso, fazendo milhões de perguntas, e sempre passando por perto quando estávamos juntos, sorrindo perversamente pra mim.
Percy acabou se afastando um pouco, eu já não passava mais tanto tempo com ele por não termos mais aulas.

O dia da Caça à Bandeira chegou. Eu nunca havia participado de uma e estava meio nervosa, sabia que levavam esse tipo de atividade bem a sério por aqui. Pra melhorar as coisas, o chalé de Apolo estava aliado ao de Ares e ao de Hefesto, e competiríamos contra o de Atena, a deusa das estratégias de guerra, então digamos que nós tínhamos a força, mas não o cérebro.
Você provavelmente nunca usou uma armadura grega, mas se já usou, sabe o quanto é desconfortável. É pesada, e não tinha jeito de eu ficar bem em uma. E dessa vez tinha que usar também o elmo, o que não ajudava. Já no caso dos garotos era diferente, eles ficavam ótimos nelas. Viu? Eu já estou falando igual à Ellie! Falando nela, ela não vai participar. Tem algo a ver com não querer quebrar unhas. O chalé de Afrodite vai servir mais como líderes de torcida, o que a maioria deles realmente é.
Começamos a nos espalhar, e como planejado, os arqueiros ficaram de guarda. Depois de um tempo todos os outros arqueiros deixaram suas posições e seguiram pelos flancos para o outro lado do bosque. Eu não achava muito inteligente a ideia de me deixarem sozinha com um filho de Ares, David York, pra proteger a bandeira. Não era um plano muito bom, mas era o plano A, e nosso alfabeto acabava por aí. Quando eu já estava cansada de ficar agachada no meio dos arbustos, ouvi um barulho de passos. Olhei para David e ele acenou com a cabeça, indicando que já sabia o que fazer. Olhei de novo e vi Percy saindo das árvores, e percebi que ele parecia ter se molhado. “Ah não...” pensei. Eu já sabia que a água podia deixá-lo mais forte, mas antes que pudesse avisar a David, ele atacou. Foi difícil, mas eu consegui ficar quieta e esperar a minha vez. Quando David caiu, espero que não muito machucado, Percy olhou ao redor, para ter certeza que não tinha mais ninguém por perto e andou em direção a bandeira.
Antes que ele pudesse dar mais de três passos eu atirei uma flecha que passou a milímetros de seu rosto e ficou cravada numa árvore.
- Wow! – Percy exclamou, quando percebeu o que eu tinha feito. – Sabe, você e sua flechinha mágica poderiam ter me machucado de verdade!
- Não é minha flechinha mágica, Percy, é uma flecha normal. Eu é que sou muito boa.
- Certo... Mas agora, você poderia sair do caminho pra eu poder pegar aquela bandeira ali? Eu não tô querendo lutar com você...
- Por que não? – perguntei, erguendo as sobrancelhas. – Eu assusto você?
- Claro que não, eu só...
- Ficou com medo de me machucar? – eu ri. – Percy, eu sou boa o suficiente pra competir com você. E você só vai pegar aquela bandeira ali – apontei para a bandeira atrás de mim – depois de me derrubar. A não ser que você se renda, e seja meu prisioneiro. Aí você pode ficar bem ali, até que alguém chegue aqui com a sua bandeira. – Eu não sei de onde saiu tanta coragem pra falar assim, mas aparentemente, parecer corajosa funcionou, já que ele pareceu meio impressionado, o que me deu tempo de desembainhar a espada e apontar para seu pescoço. Percy não hesitou por mais um segundo e começamos a lutar de verdade. E eu comecei a achar que John me deixava ganhar. Uma pequena distração e eu consegui derrubar a espada de suas mãos.
Enquanto apontava a espada novamente para o pescoço dele e sorria, arfante, notei que estavam todos ali de volta, e John segurava a bandeira do outro time. Acho que então foi isso que distraiu o Percy. Mas no final ficou todo mundo feliz: eu defendi a nossa bandeira, John conseguiu a do outro time, e nada de serviços na cozinha por uma semana.
- Você sabe que eu deixei você ganhar, né? – Percy falou quando devolvi sua espada.
- Ah, tudo bem, meu time ganhou mesmo assim – dei de ombros, rindo. – Você tá com o braço machucado? Deixa eu dar um jeitinho nisso. – Coloquei a mão em cima e me concentrei, e o corte começou a cicatrizar.
- Você tá ficando boa nisso!
- O corte era pequeno, não foi nada.
- Obrigado mesmo assim. Ei, tenho que admitir, você tá bem melhor com a espada.
- É, o John anda me ensinando. Mas ainda me saio melhor com o arco – e saímos conversando até chegar ao pavilhão do refeitório, onde nos separamos e ele foi se sentar sozinho em sua mesa.