Em Busca da Musa Perdida escrita por lpersonal


Capítulo 1
Eu fujo com um estranho


Notas iniciais do capítulo

Os capítulos geralmente são desse tamanho, só espero que não canse vocês.



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- Um Frappuccino pra levar, por favor - disse para a atendente da cafeteria.
Depois de pegar o café fui em direção à porta, mas ao mesmo tempo que eu estiquei meu braço para puxá-la, alguém a empurrou com força demais, batendo na minha mão, e consequentemente derramando meu café inteirinho na minha blusa branca.
- Ah, que droga! Desculpa mesmo, eu não... Poxa, eu tenho que arrumar outra blusa pra você, essa daí tá estragada!
- Não, tudo bem - eu disse, tentando segurar o riso diante daquele garoto que se preocupava tanto comigo. - Eu nem gostava dessa blusa! Se você me pagar um café novo fica tudo bem.
- Tem certeza? - perguntou ele finalmente olhando pra mim, e vendo que eu assentia, me disse pra esperar.
Acabamos nos sentando em uma mesa, e conversando até terminarmos o café, e depois disso também. Descobri que seu nome era Percy Jackson, e então eu percebi que já era tarde e eu precisava ir pra casa.
- Uau, está tarde mesmo, eu tenho que ir!
- Que pena. Pra que lado você vai?
- Aquele ali - disse, apontando pro lado do meu apartamento.
- Eu também vou pra lá! Quer companhia?
Claro que eu hesitei, afinal ele era um completo estranho, mas não achei que nada pudesse acontecer. Nós nunca achamos.

Estávamos chegando ao bloco do meu prédio, quando senti algo passando por trás de nós.
“Deve ter sido um pássaro”, pensei.
Mas eu senti aquilo outra vez, e quase pude ver um vulto. E não era um pardal. Percy já estava tenso, e os pêlos da minha nuca se arrepiaram quando aquilo passou uma terceira vez, e ele começou a se virar.
- Vamos andar mais rápido – ele disse, segurando o meu braço.
- Ei, espera aí! O que você tá fazendo?! – perguntei, puxando meu braço e parando.
- Tentando te proteger!
- Me proteger do quê? Do que você tá falando?
- Daquilo. Pro chão!
Nos abaixamos quando a criatura passou bem acima de nós, tão perto que eu pude sentir garras muito próximas da minha cabeça.
- Ao meu sinal eu quero que você corra pra lá, entendeu? Eu posso cuidar disso – e bem na frente dos meus olhos ele tirou uma caneta esferográfica do bolso e a destampou, transformando-a em uma espada de bronze. – Vai!
Mas eu não conseguia me mover ao erguer os olhos e ver o que havia parado na nossa frente. Aquela criatura, o que quer que fosse, não parecia muito feliz.
- Katherine, ela está atrás de você, eu preciso que você corra!
Ele me deu um empurrão e eu comecei a correr, sem nem ao menos ver aonde ia, e então me vi em um beco sem saída. Me virei e dei de cara com a coisa. Não tive tempo de pensar, muito menos de tentar escapar, então o que pude fazer foi fechar os olhos bem apertados.
Mas nada aconteceu. Quando abri os olhos ainda pude vê-la sumir em uma nuvem de poeira, e Percy segurava aquela espada reluzente.
Não me mexi por um instante, tentando processar o que acabara de acontecer, mas simplesmente não conseguia.
Percy colocou a tampa de volta na espada, que voltou a ser caneta, e a guardou no bolso outra vez.
- Vamos – disse ele, me segurando pelo braço e me guiando até em casa.
- O que... O que era aquilo?
- Costumava ser a minha professora de álgebra – respondeu, dando de ombros. – Escute bem o que vou dizer: já farejaram você, então você corre um perigo muito maior agora. Quero que arrume uma mochila com algumas coisas essenciais, e me encontre aqui depois da escola, sem levantar suspeitas. Por favor, não pergunte agora, teremos muito tempo pra discutir isso depois. Só pensa no que eu disse, ok? – Balancei a cabeça em resposta, e entrei no prédio.
Subi as escadas ainda meio catatônica. E não devo ter demorado muito, afinal, não me lembro nem mesmo de ter ido dormir.

Acordei pensando que tinha tido o sonho mais estranho possível. E o mais real também. Só quando vi minha blusa branca manchada de café jogada num canto do quarto é que soube que tinha sido mesmo real.
Mas era loucura! Eu não podia fugir assim com uma pessoa que eu conheci numa cafeteria. Tem uma caixa de leite na minha geladeira com mais de 24 horas, e nem por isso eu vou fugir com ela. Mas por outro lado, o acontecimento de ontem fora assustador o bastante para que eu começasse a acreditar nele.
- Katherine, você vai se atrasar! Acorda logo! – minha mãe chamou, batendo à porta do meu quarto.
Minha mãe costumava ser a pessoa mais doce do universo, e uma excelente cantora, que tinha o sonho de fazer carreira. Pelo menos até se casar com o Harold e irmos morar com seus dois (irritantes!) filhos. Ele sempre estava dando ordens à minha mãe, que obedecia quieta, com a cabeça baixa. Voltava a ser minha mãe apenas quando estava sozinha comigo, então eu podia ver o calor nos olhos dela outra vez.
Sentei à mesa da cozinha, que já estava um lixo, porque os pirralhos faziam sujeira com o leite e o cereal, enquanto o pai deles assistia ao noticiário atentamente, pelo menos até eu chegar.
- Você é bem preguiçosa. Podia acordar mais cedo, e fazer um café-da-manhã decente – disse ele, olhando de rabo de olho pra minha mãe, que lia uma página do jornal. Levantei-me e fui até o fogão, e ouvi ele dizer: - Faça uma omelete pra mim também.
Terminei de fritar os ovos e voltei pro meu lugar, começando a comer sem dar atenção à cara de babaca do babaca sentado ali.
- Por que não estou comendo uma omelete?
- Deve ser porque não tem uma omelete.
- Então se levante e faça uma pra mim.
Parei de comer e levantei meus olhos.
- E se eu disser “não”? – falei rispidamente, vendo minha mãe finalmente prestar atenção à cena. – Você tem duas mãos, por que não se levanta e faz você mesmo?
- O que você disse? – disse ele se levantando.
- Isso mesmo que você acabou de ouvir. Ou está ficando surdo agora? Por mais que ache, você não manda em mim. – disse, dando um olhar significativo pra minha mãe.
- Querido... Pode deixar que eu faço – disse minha mãe.
- Quer saber? É melhor eu ir andando, antes que eu vomite em cima da mesa – e saí da cozinha, pegando a minha mochila na sala e batendo a porta ao sair.

Parecia que a dislexia estava ficando cada vez pior, se isso fosse possível. As letras dançavam à minha frente, me confundindo mais ainda, então eu fui mandada pra casa mais cedo. Os dois pirralhos brincavam na sala e quando eu entrei me olharam como quem dizia “se deu mal”. Eu cheguei à cozinha, a minha mãe estava cozinhando e cantarolando como sempre, então eu fui cumprimentá-la, e o mané do Harold estava esparramado na cadeira.
- Sabe que ligaram da sua escola pra cá? – disse ele com ar de deboche.
- Ah é? Que bom... – respondi indiferente.
- E eles disseram que você está ficando pior. Será que o seu cérebro está derretendo? Porque parece que você está ficando bem mais retardada, sabe... – falou, espantando com a mão uma abelha que entrara pela janela aberta. – E talvez nós tenhamos que te colocar em um internato dessa vez... – continuou ele, agora chamando a atenção da minha mãe, que parara de cantar e de cortar os legumes, segurando a faca com mais força. – Quem sabe assim nós nos livramos dos problemas que você causa, não é Maggie? – Meu maxilar agora estava tenso, e as minhas mãos fechadas em punho.
Seria mais fácil se aquela abelha picasse a língua dele, assim ele pararia de falar tanta bobagem” pensei, me divertindo com a ideia. A minha mãe estava em uma posição defensiva na minha frente, respirando ruidosamente, visivelmente furiosa. E era assim que eu gostava de vê-la.
- Ai! – gritou Harold. – Abelha idiota! Maggie, pega gelo pra mim, anda logo! Droga, vai ficar parada aí mulher? – quando eu vi o que tinha realmente acontecido, lutei pra segurar o riso: a abelha tinha picado a língua dele. E aparentemente ele era alérgico, porque começou a inchar muito. Percebi que a minha mãe também prendia o riso enquanto ia pegar um cubo de gelo, e fez com a cabeça um sinal pra eu sair. Entrei no meu quarto e fechei a porta, me jogando na cama e rindo, lembrando do acabara de acontecer. Mas fiquei feliz só por alguns segundos, porque lembrei que ela não queria se livrar dele. A minha mãe continuava submissa.
Mas eu já sabia o que tinha de fazer. Tinha deixado a mochila pronta, e no dia seguinte ia me mandar daquele lugar.

- Estou pronta – foi o que consegui falar quando o encontrei depois da escola. Parecia que alguém tinha dados vários nós no meu estômago, mas acho que essa devia ser a sensação de fugir de casa. Esperava pela sensação de liberdade a qualquer momento.
E ele sorriu, como se já soubesse que eu tomaria essa decisão.
Mas no começo não foi fácil. Eu tive medo. E não sabia como a minha mãe iria reagir. Mas logo depois do que aconteceu na cozinha aquela manhã eu sabia que tinha que dar o fora dali.
- Deixou o bilhete como eu te disse?
- Sim – confirmei. – Só não sei se ela vai entender, na verdade eu também não entendo muito bem...
- Eu sei que ela vai. E você também, mas não agora. Vamos.
Percy chamou um táxi e disse ao motorista para ir para Long Island.
- Katherine, é o seguinte, eu sou um filho de Poseidon – falou ele, sério.
- Ok. Mas o que é isso? É uma gangue ou algo do tipo?
- Não! Eu sou um meio-sangue.
- O que isso quer dizer?
- Quer dizer que eu sou metade humano...
- E metade o quê? – perguntei, com medo de onde aquilo pudesse chegar.
- E metade deus. Pode chamar de semideus, se preferir.
Eu poderia dizer que fiquei chocada, mas daí não seria verdade, porque eu não estava acreditando.
- Então você quer que eu acredite que você é como Hércules, ou Perseu?
- É.
- Tá. Mas por que você está me contando isso?
- Porque você também é uma. Quer dizer, não filha de Poseidon, mas também é uma meio-sangue.
- Como os heróis das historias antigas...
- Não são só histórias, é tudo verdade!
- São mitos! Histórias que os gregos inventaram pra explicar como as coisas acontecem, como a chuva, os maremotos, e até mesmo o amor!
Ele olhou pra mim por um tempo, e depois se voltou para falar com o taxista.
- Aqui está bom, obrigado.
- Tem certeza? Aqui, no meio do nada?
- É aqui mesmo – disse e entregou um maço de dólares.
Só que o que o taxista dizia ser “o meio do nada” era na verdade uma propriedade enorme, cheio de chalés e um campo de morangos. Não entendo como ele conseguiu não ver.
- Que lugar é esse?
- O Acampamento Meio-Sangue.
- Tá, agora isso parece com uma brincadeira.
- Não é uma brincadeira, ok? – ele ia continuar dizendo alguma coisa, mas se interrompeu, sacou a caneta esquisita, que se transformou em uma espada de bronze outra vez, e disse: - Fique atrás de mim.
Eu já devia ter aprendido que quando uma pessoa diz isso nos filmes, alguma coisa ruim está acontecendo, e ela só quer te proteger, mas eu sou do tipo teimosa. Mas isso mudou um pouco quando eu me virei e o maior rotweiller que eu já vi na vida estava rosnando pra mim. Quando eu digo que ele era grande, pense em um grande tamanho “container”. Com toda a minha sabedoria sobre cachorros que eu tinha adquirido em verões passados, eu me mexi muito devagar e fiquei atrás do Percy.
Antes que o cachorro resolvesse atacar, Percy foi pra cima dele. E a criatura veio pra cima de mim. Quer dizer que eu comecei a correr, mas levei uma patada e bati em uma árvore, resultando em uma dor de cabeça descomunal. Ainda consegui ver aquele cachorro se desintegrando, e ter a sensação de ser carregada antes de apagar totalmente.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Agora é só deixar uma review pra eu saber se posso continuar (:



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