Não entendia o jeito como as pessoas me viam. Nunca entendi e acredito que nunca entenderei. Não faz sentido.

Eu sou gentil, pacífica... Se faço algo que desagrada os outros, é porque aquilo tem que acontecer, não é como se eu pudesse escolher. Sim, as vezes eu pareço injusta, mas, acredite, se não fizesse esse trabalho, o mundo seria um lugar terrível, cheio de pessoas sofrendo mais do que deveriam.

Se for pensar bem, eu alivio o sofrimento de muitos. Aqueles que sabem que não conseguiram seguir em frente, aqueles que sofrem em demasia, aqueles que sabem que já fizeram tudo o que tinha para ser feito... Esses me entendem, esses gostam de minha companhia e me dão boas vindas de braços abertos, ansiosos para saber das novidades que lhes trago. Mas nem todos são assim. Alguns temem a minha visita mais do que qualquer coisa, temem o dia em que finalmente irão me conhecer, como se eu fosse algum tipo de monstro que os arrastará para um mundo escuro e sombrio... Eu não sou assim.

Talvez os outros gostem de me culpar pelas suas ações, afinal, eu sempre sou a conseqüência das coisas muito ruins... Mas ninguém se lembra de que eu não causei aquilo, eu sou a conseqüência, apenas isso. Eu não escolhi ter que tirar a sua filha de você, senhora, foi ela quem decidiu fazer isso quando começou a abusar dos cigarros. Não, eu não quis roubar o seu marido, querida, foi aquele homem de arma na mão que o fez. Não, eu nunca quis que milhões perecessem em uma guerra, foram vocês quem quiseram... Eu nem gosto de guerras, para começo de conversa.

Eu sou só a conseqüência... E, mesmo assim, os outros não deveriam ter medo da minha presença. Como já disse, sou gentil e tranqüila, nunca vou machucá-lo. Nunca. Eu só o estarei ajudando.