Já estava de noite, e o frio começava a ficar mais intenso e cortante.

Todos os semideuses estavam encolhidos, sentados em um círculo no gramado que usaram antes para treinar. Uma fogueira ardia no meio da roda, aquecendo-os.

- Aonde o Apolo foi mesmo? – Perguntou Nina tremendo de frio.

- Não sei. Ele disse que voltaria amanhã, e só, eu acho. – Respondeu Rita.

- Amanhã... – Repetiu Bia um pouco tensa – Gente, nosso tempo está correndo. Se não nos apressarmos em derrotar o exército de Cronos do Leste, nunca vamos conseguir salvar o pessoal.

Todos assentiram.

- Será que sou só eu que se lembra que dois de nós vão se dar mal? – Perguntou Amanda distraída, e de repente todos ficaram mudos – Sinto muito.

- Não. Tudo bem. – Disse Rita respirando fundo – Nós sabemos que isso vai acontecer de qualquer jeito. Não há porque ignorar isso.

- Se vai acontecer de qualquer jeito a melhor coisa é ignorar isso. – Disse Mariana – Não tem como mudar a profecia, né? Então dane-se.

- Ótimo. É realmente lindo. “Dane-se”. – Repetiu Nina levemente irritada.

- O que houve, Nina? – Perguntou Rita.

- Isso cansa, sabia? – Desabafou Nina – Acho super legal ser uma heroína, e não me importo com os perigos e tudo mais. Mas eu odeio quando ficam controlando a nossa missão. Porra! A missão é nossa! São as nossas vidas em jogo, por isso por que não podemos fazer as coisas do nosso jeito?!

- Nina, eles só estão tentando ajudar... – Disse Rita calmamente.

- Fodam-se eles então! – Exclamou Nina com raiva. Rita olhou para ela e imaginou Nina calma novamente. Estava tentando usar seus poderes, mas não tinha certeza se isso daria certo – Quem é que pediu ajuda daqueles...!

Nina parou de repente. Todos olharam para ela sem entender, e a filha de Zeus abriu um lindo sorriso.

- Gente... Ai, ai... Eu amo vocês, amigos. Como eu viveria sem vocês? Vamos cantar um pouco e aproveitar o tempo que temos juntos. Eu amo todos vocês mesmo. – Disse Nina e Amanda começou a rir.

- Dooorgas! – Riu Amanda – Nina, você está igual aqueles hippies supimpas dos anos 60! Está tão engraçado.

- Mas é isso aí... Eles eram gente boa. Paz e amor. Paz e amor... – Sorriu Nina fazendo o sinal de paz e amor. Rita arregalou os olhos, impressionada, com seus poderes de controlar emoções.

- É... Tá bom... – Disse Mariana franzindo o cenho e estranhando a cena – Mas acho melhor nós irmos dormir antes que a Nina comece a cantar “Yellow Submarine”.

- Eu gosto dessa música. – Disse Amanda.

- É. Vamos dormir agora. – Confirmou Mariana ignorando o comentário.

Tods estavam dormindo tranquilamente, principalmente Nina. Estava tão cansada de ser derrubada o tempo todo por Atena, que aproveitava um sono profundo e relaxante, até que...

- Nina, acorda. – Disse alguém sacudindo ela. A filha de Zeus abriu os olhos, e viu o rosto de Rita cheio de preocupação – Você tem que me ajudar.

- O que houve? – Perguntou ela franzindo o cenho e se colocando sentada.

- Eu tive um pesadelo. Eles estão vindo para cá. – Disse Rita puxando Nina. A filha de Zeus saiu correndo com Rita, tropeçando nos próprios pés por causa da velocidade.

- O que?! Eles quem?! Rita, anda devagar! – Exclamou Nina em um tom baixo.

- Não temos tempo. – Rebateu Rita. Elas pararam perto de uma árvore bem alta, e olharam para frente. Tinham acabado de descobrir que estava no meio de algum tipo de vale.

Olharam para a descida de uma colina com certa concentração, até que...

- Por que estamos encarando o mato? – Perguntou Nina.

- Não estamos encarando o mato! É que... Eles estão vindo nos pegar. – Disse Rita tensa. Nina olhou para ela.

- Você quer falar logo quem são “eles”? – Perguntou Nina irritada.

- São seguidores de Cronos guiados por Céos. – Respondeu ela. Nina franziu o cenho sem entender o que Rita dissera.

- Quem é Céos? – Perguntou ela.

- Céos deve ser um titã. Mas não sei do que. Ele quer...! – Antes que a filha de Afrodite terminasse a frase, ela foi interrompida por um grito alto. Provavelmente de Bruna – Eles devem ter chegado! Vamos ajudar o pessoal!

Rita e Nina correram em caminho ao pequeno acampamento improvisado, mas se detiveram ao ver a cena horrível.

Amanda e Natália estavam presas por uma corrente de ferro, impedindo qualquer movimento. Bruna estava amarrada á uma árvore. Mariana, Bia e Marcos estavam dentro de uma jaula. Vinícius estava simplesmente algemado, mas parecia não fazer nenhum esforço para escapar, já que tinha um cara com uma faca no seu pescoço.

Todos eles foram capturados por alguns meio-sangues (provavelmente), mas de repente eles não pareciam ser os mais importantes ali.

Um homem de terno caminhou com um sorriso maligno no rosto, analisando cuidadosamente cada um deles.

- Ora, boa noite, semideuses. – Sorriu ele superior – Eu por acaso atrapalhei o sono de vocês?

- Quem é você? – Perguntou Bia tensa. O homem olhou para ela de um modo frio e repulsiva, como se Bia fosse a criatura mais nojenta do mundo.

- Ah, então quer dizer que os filhos de Atena não são tão inteligentes assim? Sempre soube. – Provocou ele com cara de nojo – Você é a prova que o tempo da sua mãe já passou há muitos milênios.

- Ah, que lindo. – Resmungou Bruna – Um titã. Era tudo que faltava.

- Calada, caçadora. – Disse ele rigidamente. Ele parou no centro de todos e olhou em volta – Eu sou Céos, titã da inteligência. Com o intuito de poupar tempo de Cronos em ter que acabar com vocês, eu mesmo farei isso.

Céos foi até a jaula onde estavam Bia, Marcos e Mariana.

- Vocês agora são prisioneiros de guerra, meio-sangues da profecia. – Disse ele com um sorriso maldoso – Agora vamos ver o que temos aqui... Uma filha de Ares estressada como sempre, uma filha idiota de Atena, e um inútil de Nêmesis? Ridículo.

Mariana chutou a grade da jaula, mas Céos nem mesmo se moveu.

- Meu pai vai chutar a sua bunda, está ouvindo?! Me tira daqui! – Exclamou Mariana irritada.

- Seu pai não pode intervir diretamente. Não é uma peninha? – Zombou ele, e depois olhou para Bia – Nem mesmo a estúpida da sua mãe vai poder fazer alguma coisa.

- Minha mãe é melhor que você! – Exclamou Bia.

- Eu sou mais inteligente! – Berrou ele com raiva fazendo Bia se calar, mas logo respirou fundo e voltou á postura normal. Ele olhou em volta e resolveu ver os outros.

- Uma filha de Íris, caçadora de Ártemis. – Analisou ele – Tsc. Como se fosse grande coisa. É uma pena a sua imortalidade não ser completa.

- Mas ela me deu experiência o suficiente para eu aprender como acertar uma flecha na sua testa! – Retrucou Bruna com raiva.

- Só que para fazer isso, você precisa do seu arco. – Disse Céos segurando-o na frente de Bruna – Quer pegar? Ah, que pena. Suas mãos estão ocupadas abraçando a árvore.

Céos riu e quebrou o arco ao meio. Ele olhou para Vinícius e prendeu o riso também.

- Eu acho melhor nem comentar sobre você. Um filho de Dionísio? Acho que você seria o único que eu poderia deixar vivo, já que é um inútil mesmo. – Comentou ele.

- Sério? Legal. – Sorriu Vinícius como se fosse um elogio – Então me solta.

- Uhm... Não. Vão todos presos juntos, como um lindo grupinho feliz. – Respondeu.

- Merda... – Murmurou Vinícius.

- Então... A filha de Poseidon. Me diz, você já fez alguma coisa de importante até agora, ou ficou só esperando seus amiguinhos agirem? – Perguntou ele rindo de Natália – Tanto poderes com a água e não deve nem mesmo saber usá-los.

- Me solta, e vamos descobrir. – Desafiou Natália.

- Bela tentativa. Mas sinta-se a vontade para usá-los lavando o chão do Tártaro. O lugar onde o seu pai e seus parentes vão quando Cronos se erguer. Acho que isso vai dar muito orgulho á ele. – Zombou Céos.

Nátalia fez uma careta para ele, mas Céos só riu e olhou para Amanda, que estava amarrada junto de Natália.

- E aqui está. A filha de Hermes que não sabe nem mesmo andar em linha reta! Há Há! – Riu ele, mas Amanda não estava com paciência. Ela estendeu a perna e chutou a canela de Céos, que senti um pouco de dor.

- Não tem o direito de falar mal de nós, capacho de Cronos! – Exclamou ela. Céos cerrou os punhos e fez uma cara ameaçadora, mas depois riu um pouco.

- Quer saber qual é a sua única utilidade nessa missão? Fazer os passos certos. – Disse ele calmamente – Só que ninguém parou para pensar que nunca conseguiria isso, se uma coisa dessas acontecesse.

Céos pisou com força no pé esquerdo de Amanda e ela deu um grito de dor. Pode sentir seu tornozelo torcer, o que não foi nada bom.

- Quero ver salvar seus amiguinhos agora. – Desafiou ele voltando-se para ver os outros dois meio-sangues, mas então parou e franziu o cenho. Ele olhou para um dos meio-sangues que o ajudaram a capturá-los – Onde estão as outras duas?

- Ferrou... – Pensou Nina sentindo seu corpo gelar. Se pegarem ela e Rita, todos ficariam presos no Mundo Inferior. Aquele lugar abafado, frio, escuro e cheio de monstros e gente morta.

- Eu não sei, senhor. Nós só achamos eles. – Respondeu o meio-sangue sentindo medo.

- E vocês, idiotas, estão esperando eu mandar um convite escrito para começarem a procurá-las? Andem logo! – Exigiu Céos impaciente. Quase todos saíram correndo para procurar Nina e Rita, enquanto alguns ficaram para vigiar os meio-sangues capturados.

- Rita... – Nina virou-se para Rita, mas ela não estava do seu lado. Seus olhos se arregalaram pensando que sua amiga tinha sido capturada, mas na verdade, a filha de Afrodite estava mais distante dela, ainda escondida entre as árvores.

 - Nina, vem cá. – Chamou em um sussurro. Nina correu até ela fazendo o máximo de silêncio, e quando chegou ao seu lado... – Vamos fugir. No meu sonho, eu vi o Apolo. Temos que achá-lo e pedir ajuda.

- O que? Que loucura é essa, Rita? Apolo foi embora, e também... Sem intervenção direta! – Falou Nina.

- Mas ele pode ajudar de algum jeito. – Disse Rita com toda a certeza do mundo.

- Mas como a gente vai fugir?! – Perguntou ela, mas Rita só olhou para uma direção. Nina olhou também, e depois riu de nervoso – Você bebeu por acaso? Vamos morrer se...

- Vamos morrer se não fizermos isso. – Insistiu Rita – No três você me segue correndo, certo?

- O que?! Mas eu...! – Nina ia protestar, mas Rita a interrompeu.

- Três! – Exclamou e saiu correndo. A filha de Zeus correu também, e seguiu-a de perto.

Por sorte, os meio-sangues de Céos demoraram para notar elas duas correndo, o que deu mais tempo para que chegassem ao lugar que queriam.

- Eu não acredito... Que vamos roubar a moto do Ares. – Disse Nina tensa. Rita subiu na moto sem preocupação e revirou os olhos.

- Então eu vou roubar a moto do Ares, já que você tem medo. Sobe logo. – Disse Rita apressada. Nina ia protestar dizendo que não tinha medo, mas acabou desistindo e subindo na moto também.

- Você sabe dirigir esse negócio, não é? – Perguntou Nina tensa.

- Eu vou aprender agora, mas não deve ser difícil. – Admitiu tranquilamente.

- O que?! – Exclamou Nina com medo. Rita deu uma risada maníaca, e Nina sentiu vontade de sair correndo e se entregar para o povo de Céos.

- Olha ali! São elas! – Exclamou um deles.

- Hora da ação! – Exclamou Rita com um sorriso enorme.

- Você está me dando... Medo! – Nina berrou a última palavra ao sentir a moto acelerar bruscamente. Rita jogou seu corpo para frente e começou a controlar o veículo, enquanto a filha de Zeus se agarrou á cintura dela e fechou os olhos – Papai, eu vou morrer!

Rita quase atropelou dois meio-sangues, mas por fim conseguiu sair de lá e cair na estrada perto do lugar onde acampavam.

- Vamos achar o Apolo logo. – Pediu Nina, mas Rita estava animada demais por estar dirigindo uma moto para se tocar de alguma coisa.

- Isso é tão legal! Não é legal? É muito legal! – Exclamou ela como se tivesse tomado uma bebida energética.

- Zeus, por favor, guarde um lugar muito bonitinho para mim no Mundo Inferior, tá bom? Tipo o Elísio. – Pediu Nina mentalmente pensando que ia morrer.

- Quase... – Disse Rodrigo bufando – Quase...!

- Você não vai conseguir... – Comentou Rhamon.

- Cala a boca! – Berrou ele, e voltou ao trabalho.

- Rodrigo, você está cavando um buraco. Cavando! Porra, você não vai conseguir. – Disse Rhamon cético.

- Se eu conseguir eu vou tampar ele só de sacanagem e deixar você preso aqui! – Exclamou ele.

- Ah, vai lá então! Tenta sair por um buraco de 30 centímetros por debaixo da grade! – Desafiou Rhamon.

- Vou mesmo! – Berrou Rodrigo de volta. Ele estava segurando uma colher, e começava a cavar cada vez mais fundo. Mas aquilo demoraria dias até que chegasse perto do tamanho normal de uma pessoa, para que a fuga pudesse ser realizada.

- Eu ainda acho que eu tinha que ter um advogado. – Comentou Mateus coçando o queixo – Ou... Ou direito á visitas e á um telefonema.

- Você não foi preso por um crime, pela milésima vez! – Exclamou Rhamon.

- Cara... Está escuro para cacete nesse buraco frio e imundo. – Resmungou Rodrigo. Mateus foi até perto dele, e se ajoelhou.

- Você quer luz? – Perguntou o filho de Hefesto estalando o dedo. Na ponta de seus dedo indicador surgiu uma pequena chama. Rodrigo arregalou os olhos para ele com medo.

- Mas que porra é essa?! – Berrou ele com medo.

- Cara, você faz isso?! Como?! – Perguntou Rhamon com os olhos arregalados.

- É um dos meus poderes foda. – Respondeu Mateus. Ele sorriu malicioso, e lambeu a ponta do dedo, depois á encostou no quadril fazendo o fogo apagar – Eu sou muito quente.

Rodrigo estreitou os olhos para ele, e depois olhou para o buraco novamente.

- Eu quero sair daqui. – Choramingou ele – Vocês são retardados demais!

- Guigo... – Disse Flávia, que estava encolhida em um canto – Você vai fugir e deixar a gente para trás?

- É claro que eu vou! – Exclamou ele – Vou fugir eu e a minha colher!

Rodrigo ergueu a colher de sopa que tinha na mão, mas Mateus resolveu zoar ele e fingir que ia bater na colher. Só que Rodrigo moveu-a de última hora, e o filho de Hefesto acabou acertando o alvo.

- Minha colher! – Berrou Rodrigo olhando para a colher entortada. Ele tentou cavar novamente, mas ela quebrou. O filho de Hades fez uma cara de choro – Por que nada dá certo comigo?! Por quê?!

Flávia foi para perto e lhe deu um abraço.

- Tudo bem... Você ainda tem a gente. – Disse ela, e Rodrigo começou a chorar de repente.