Ps: Dont Write escrita por scarecrow


Capítulo 17
Post Script




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PS: Don’t Write

Chapter Seventeen: Post Script

Chega um tempo em que o amor se espalha tanto que já não se consegue mais carregá-lo em seus braços ternos. Chega um tempo em que o amor se acaba em seus próprios sonhos e ele já não pertence mais a suas ilusões. Chega um tempo em que o amor se torna impossível, porque de tão inacabado tornou-se inexistente.

E ainda assim, chega um tempo em que o amor se entranha tanto que já não se consegue mais ficar sem senti-lo todos os dias. Chega um tempo em que o amor renasce em seus próprios meios e ele já se torna quase que independente. Chega um tempo em que o amor se torna palpável, por que de tão forte tornou-se único.

O meu amor era completamente palpável.

O meu amor se entranhou, renasceu, se tornou algo que eu já não conseguia mais conter e limitar. Só me bastava agüentar no meio de minhas batidas cardíacas.

Os últimos dois meses foram estranhamente sufocantes. Depois de nossa conversa, Sasuke voltou para casa apenas por uma semana, e depois voltou para o hospital, e está lá desde então. Dois meses, 60 dias.

E ali, sentada naquela cadeira não tão confortável de espera no hospital, eu não soube dizer quanto tempo tinham sessenta dias. Não sabia dizer se seriam 60 dias de festa que passariam rápidos como meio dia, ou sessenta dias de saudades, que corroeria cada hora como uma semana.

Aos poucos, eu me encontrei no amor de Sasuke, o suficiente para agüentar qualquer tipo de sessenta dias.

Desde que foi internado, não tive muitas escolhas se não dar alguma explicação para Naruto. Contei que um amigo importante estava morrendo, e que eu não poderia fazer muita coisa por ele sem ir visitá-lo todos os dias. Ele sorriu gentil, como sempre.

Tsunade, diretora do hospital no qual eu trabalho com as crianças, me deu uma pequena ajuda, deixando-me sair todos os dias de quatro às cinco do trabalho, o único tempo que tenho com Sasuke, desde então.

E toda vez que eu me encontrava como agora, naquela cadeira do hospital, eu tinha certeza de que o que eu estava sentido era amor, e não desespero. O amor se parece incondicionalmente com o desespero. Porque de todos aqueles sentimentos e emoções que o ser humano pode sentir, o mais difícil de explicar é o desespero.

O desespero é o vazio. Por isso é desesperador.

O desespero corta o peito e descasca a alma. O desespero são todos os sentimentos juntos, rápidos, indistinguíveis, inigualáveis, mas sempre presentes. E é por isso, que no momento em que eu encaro aquela porta branca todos os dias antes de entrar, eu tinha certeza de ser apenas o meu amor por Sasuke. Não era desespero. Não pode existir desespero se a morte está tão perto.

“Doutora Uzumaki, pode entrar” Me avisaram.

“Obrigada” Disse simples, antes de entrar no quarto.

Sasuke havia mudado bastante de dois meses para cá. Ele parecia mais frágil, acho que por estar de cama há muito tempo. Seus cabelos estavam grandes, e seus olhos mais fundos. Seus sorrisos pareciam mais sinceros.

“Você veio hoje” Ele disse, se ajeitando na cama.

“Claro” Eu disse, deixando um beijo tímido em seus lábios como sempre. Ele sorriu.

“Lembrei de você hoje. Estava brincando com o baralho” Sasuke disse, apontando para o monte de cartas bagunçadas em cima da mesinha. Fiz uma careta, e ele riu de mim. “Um dia ainda te conto qual foi o truque que ele usou”

Conversamos pelo tempo que nos era dado, e nos despedimos com um beijo. Acho que já estava começando a apreciar o gosto amargo de remédios.

Saí do hospital com a vontade de chorar amarrada em minha garganta. Era assim desde então. Nós nos víamos, conversávamos, nos beijávamos e no final, eu queria chorar até me acabar em lágrimas salgadas, e mergulhar nelas até o amanhecer.

E eu não chorava, no final das contas. Por que, por mais que seja difícil sentir a tristeza arranhar minha garganta e não poder fazer nada, eu não poderia fazer isso nunca na frente de Sasuke, muito menos em casa com Naruto.

“Olá, Testuda!” Ino me chamou um pouco menos escandalosa do que o normal. Mesmo já tendo dois meses, o frio não passara. Já não nevava mais com tanta freqüência, mas ainda assim as ruas continuavam brancas e o inverno rigoroso.

“Oi, Ino” Disse meio seca, tossindo o choro. “Obrigada por me buscar hoje”

“Sem problema. As meninas estão lá em casa, quer ir?” Me perguntou, enquanto eu entrava em seu carro. Balancei a cabeça positivamente.

E como sempre, as meninas estavam me ajudando mais do que o necessário, e apesar de tudo, isso realmente me deixava melhor. Contei para elas de como Sasuke sempre me escondia tudo para evitar meu sofrimento por algo que não tinha mais jeito. De como ele pensou em mim todo esse tempo, e que finalmente, tínhamos confessado um para o outro o nosso amor desajeitado e talvez, mais proibido do que parece.

Quando eram aproximadamente seis horas, o apartamento de Ino se coloria de laranja. Yamanaka dormia no sofá ao lado, engolindo o controle e a televisão. Tenten ocupava-se no banheiro com um banho demorado que acabara de começar; Temari saiu para alugar uns filmes.

Só tinha eu, a Hinata e a tristeza na sala.

“Sabe, Hinata” Eu comecei, olhando para o teto sem cores. A televisão falava, mas eu não a ouvia de verdade. “Obrigada. Acho que eu só consegui me organizar por que você me disse o que eu precisava ouvir”

“Não a de que” Ela disse, acanhada. Seus pés estavam frios, e suas pernas encolhidas entre os braços.

Então, ela me abraçou.

Um abraço terno, quente, e tão necessário, que só então fui perceber como a vontade de chorar estava esmagada dentro de minhas coragens. Eu chorei em silêncio, e minhas tristezas se misturavam com minha dor, toda dor, caindo pelo meu rosto angustiado, coberto pela amizade minha e de Hinata.

E eu chorei, como de verdade, não fazia a muito tempo.

Por que a dor, quando não é física, machuca tanto seu psicológico que chega ate cegar. As lágrimas me cegavam. Nessas horas, eu me lembrei de todas as coisas que poderia fazer para essa dor passar, por que o cérebro só sente a dor mais forte, não é mesmo? Eu só preciso de uma força maior do que essa, que me faça senti-la mais dentro de mim.

Não importava para mim quanto tempo eu estava naquele abraço, mas eu sei que havia chorado tudo o que precisava, com força que precisava. E ainda assim, eu não me sentia extremamente bem.

Por que para mim, não tinha mais um por que.

Apenas dor.

Dor, dor, dor.

E não importam quantas teorias, quantas noites eu passe sem dormir, quantos abraços eu receba, eu sabia que a única coisa que poderia curar minha dor seria Sasuke. Mas Sasuke estava morrendo, e eu sabia disso.

Eu não posso forçá-lo a nada, e não posso mantê-lo em lugar nenhum se não e meu coração, que antes fraco agora é forte, apenas para não entregá-lo a morte.

Naquele abraço, eu percebi então o quanto Sasuke deveria estar sofrendo. Ele é quem está sofrendo mais. Por que no fim, o personagem de toda essa história é Sasuke, não eu. Eu sou apenas uma narradora, apenas uma médica, sem nada de diferente na vida.

Nunca aconteceu nada comigo, eu nunca fui nada. Eu tenho meu marido desde sempre, meu emprego desde sempre, e se tem algo que eu posso me orgulhar em minha vida, foi o que Sasuke fez com ela.

Uchiha Sasuke apareceu, e me fez enxergar. Ele deu cores à minha surdez, e vida ao meu olfato. Ele me deu algo que eu nunca havia sentido, ele me deu um motivo.

Ele me deu a felicidade.

E o que eu estou fazendo para recompensá-lo?

Visitá-lo todos os dias no hospital, e falar que o amava, dia após dia. Ele me disse que só precisava disso, eu lembro. Mas na verdade, isso é o máximo que eu poderia fazer por ele.

Por que já não adianta fazer nada mais, não por ele, mas sim pela minha rotina triste.

No dia seguinte, eu pensei em fazer algo diferente, e é por isso que eu passei as três horas da tarde no lugar de quatro. Ele estava sorrindo quando eu entrei. Era um sorriso tão verdadeiro, tão intenso e aberto, que eu não pude me conter, sorrindo também. Era um sorriso apaixonante, e eu me senti apaixonada. Eu me senti apaixonada, do mesmo jeito que eu estava me sentindo todos os dias desde que o conheci.

Então, no lugar de um breve beijo de olá, ele aprofundou nosso contato. Foi um beijo triste, úmido e menos amargo que o normal.

Mais uma vez, eu percebi que o amava.

Acho que amor, aliás, amar, é isso, no fim. Amar é sentir seu coração pulsar por todo seu corpo, te fazendo sentir o sangue mais quente. Amar é quando você encontra a felicidade de todos os dias de apenas uma maneira. Amar é viver. Amar é querer ignorar a física, e tentar deixar o seu corpo ocupar o mesmo lugar que o dele.

Amor, amar é não se importar com todos os seus problemas, e escapar deles apenas para sentir na pele um atrito de emoções diferentes. Amor é o motivo, amar é a luta. Amor é tudo aquilo que eu sentia, amar é por tudo aquilo que eu vivia.

Amor é o meu mais puro e genérico sentimento por Sasuke, amar é meu único jeito de exercê-lo.

Por que não se pode amar apenas sonhando, apenas falando. E eu percebi isso naquele dia, às três horas da tarde.

“Me desculpe, Sakura” Ele começou, triste.

“Pelo o que?” perguntei sorrindo, sem entender.

“Acho que hoje é o meu dia” Riu. Sua mão fria encostou-se na minha, e eu percebi que por mais que ele queira me apertar e dizer-me que estava tudo bem, ele apenas deixou seus dígitos em cima dos meus, fracos.

“Por que está dizendo isso?” Eu perguntei, tentando não soltar as palavras em cima uma das outras.

Ele sorriu, e eu sabia. O fechar devagar de seus olhos, os lábios secos se curvando para cima, as emoções se esvaindo de seu cheiro.

“Não diga isso, Sasuke, pelos céus.” Eu o repreendi, e ele começou uma crise forte de tosse, incessível. “Eu vou chamar os médic-“

“Não vá agora, eu não preciso deles mais.” Ele disse agora sentado, sua mão fazendo força sobre a minha. O calor da força me deu alívio, porém eu ainda estava preocupada com a dor visível em seu rosto. “Prometi a mim mesmo que se levantasse daqui seria para repetir a dose da última vez”

Oh. Uma brincadeirinha.

“Você é impossível” Eu disse, já sentindo as lágrimas embaçarem a minha vista. “Brincando em uma hora dessas”

Silêncio.

“Sabe, Sakura” Ele anunciou meu nome, entre as tosses. “Eu decorei tanta coisa para te dizer agora.” Riu sem graça. “Shakespeare. Eu tinha lido alguns dias, e achei que seria mais romântico se agora, eu lhe recitasse algumas frases, mesmo que soltas...”

“Sasuke, não faça esforço, eu vou-“

“Calma” Ele disse rindo, colocando a mão na frente da boca ao tossir, como se isso fosse impedir seu coração de parar de bater. “Eu não me lembro do que era. Ridículo, não?” Voltou a deitar. “Acho que no fim, eu só queria que você fosse para sempre minha Julieta”

“Por favor, Sasuke, deixe-me chamar os médicos” Implorei. Ele sorriu fraco novamente, e o cardiograma estava correndo de mais. Eu tentei levantar, porém o medo de perdê-lo enquanto estivesse fora era tão grande, que nem mesmo minhas lágrimas acumulada em meus olhos conseguiam sair do lugar. “Você não pode morrer, Sasuke, não! Eu te amo, eu, eu-“

E ele riu. “Acho que eu daria tudo no mundo para ficar mais dois minutos com você”



Eu não soube muito bem o que aconteceu depois. Minhas lágrimas caíram tão densas, que eu não distingui sequer quais eram os médicos que entraram no quarto do hospital, me levando para longe de Sasuke.

Porém eu me recordo, não só daquele dia, todos os detalhes, mas sim de todos os momentos que Uchiha Sasuke esteve comigo.

Me lembro do barulho insuportável do cardiograma ao tornar nulo o batimento cardíaco dele. Me lembro de seu sorriso sem vida, e de seus olhos que, mesmo fundos, pareciam cheios de emoção.

Aquele foi meu último momento com Sasuke, e mesmo assim eu não pude colar de novo nossos lábios ou descolar nossos corações.


Na noite do dia seguinte, foi seu enterro.

E antes de entrar com os lírios brancos para dentro do cemitério florido – o mesmo que minha vó estava, por sinal – a mãe de Sasuke veio falar comigo.

Ela não me disse nenhuma palavra de consolação, nada. Não me deu sorrisos, abraços, talvez por que ela soubesse que agora, eu não precisava de nada. Nada que a vida poderia me dar.

Então, ela me entregou uma carta.

E ao abrir, eu reconheci a letra.


Minha Sakura,

Sabe, às vezes sinto como se minha voz se espalhasse pelo espaço, remoendo o sofrer da falta de uma resposta digna, como o amor é. O amor se espalha, se desfaz, se concreta em sonhos e desaparece. Desaparece deixando rastros, passos, sons. Para você se lembrar, rever, re-ouvir e se arrepender - se arrepender pelas juras não ditas, pela porta não batida, pela chance esvaída, ofensas engasgadas na gentileza.

Assim como a solidão avassala nossa sanidade, o amor nos reveste de saudade, solidariedade, o amor nos faz, me faz lembrar de você, nos momentos mais inapropriados, alegres e tristes, melancólicos e compreensivos, momentos sempre solitários quando sem você.

Por que nada no mundo é a mesma coisa.

Substituir coisas foi algo criado pelo homem, que não conseguiu se contentar no vazio das palavras, no vazio das ações, no vazio das coisas que nunca são iguais.

Nós, seres humanos, necessitamos até mesmo do vazio que nos completa. Necessitamos sempre do vazio constante. Talvez, esse vazio só sirva para afogar agonias, sentimentos arrasados pelo arrependimento.

E eu me arrependo sim, de ter começado essa carta num momento melancólico de um modo melancólico, no lugar de correr para seus braços em busca de carinho, em busca de ocupar meus grandes vazios.

Por que você é a única coisa que me dispersa da necessidade de um vazio.

Nada no mundo é a mesma coisa, nem meus sonhos, nem seus sonhos, nem meu futuro, nem seu futuro, nem minhas frases perdidas no tempo, nem seus carinhos perdidos nos meus. Nada no mundo é a mesma coisa, nem meu suplico amor por você, nem seu caloroso amor por mim.

Sei que tudo o que você menos quer agora é uma carta póstuma, mas eu realmente precisava escrever, para te relembrar do quão grande é meu amor por você, e para pedir-te desculpas. Desculpas por estarmos tão longes.

Por que você é especial. Você está sempre aí, mas sempre aqui, no meu coração. Você é a pessoa que ocupa meu vazio, meu todo, ocupa meu completo. Você ocupa meu ontem, meu hoje. Você ocupa minha vida, e eu quero sempre ocupar um pedacinho da tua.

Por que não foi a distancia que separou Romeu e Julieta.

PS: ...


Não existiam reações para serem feitas. Eu não poderia sorrir, e nem me acabar em lágrimas. Eu não poderia fazer nada, se não continuar meu caminho pelo cemitério, deixar-lhe flores, e quem sabe, cumprimentar minha avó.

“Oras” Mikoto começou a frase, sem entender muito. Ela estava lendo a carta junto comigo, e mesmo com as lágrimas presentes também em seus olhos, ela decidiu por me perguntar: “Por que esse PS está vazio?”

Eu sorri, enfim.

Eu sabia o que um PS vazio significa. É como uma dica. Sabe, dessas coisas sempre valem pra alguma coisa. Uma dica como...



PS: Não escreva de volta, por que não terá resposta.

PS: Don't write, cause you will not get a reply



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Notas finais do capítulo

Bom, acabou.
Quero dizer que adorei, de verdade, escrever essa fanfic - eu realmente coloquei muito de mim nela. Gostaria de pedir desculpa pela demora nas atualizações, e nos erros de ortografia.
Obrigada por todos que acompanharam a fanfic, e PRINCIPALMENTE aos que mandaram reviews até aqui.
Espero que não tenha sido muito corrido ou de repente, nem nada do tipo ):
E peço que, como presentinho de último capítulo, reviews, claro :3 q
Comentem nesse último, já que PS: DW não é uma fanfic famosa ou com muitos reviews, e eu realmente gostaria que todo mundo que acompanha ou leu comentasse, até mesmo para saber se a fanfic está boa ou não >:
Como me encontrar: @FoolFuckerDream
http://www.formspring.me/FamousLivinDead