Contam os que contam e dizem os que sabem que, a muitos e muitos anos, um distinto cavalheiro de nome Neville Longbotton andava, perto de meia noite, por uma estrada de terra secundária e desértica. Uma tempestade que lembrava o tão famoso dilúvio caia de modo que o solitário rapaz não enxergava nem um palmo a sua frente, já que a Lua cheia fora tampada pelas nuvens e os incessantes relâmpagos serviam apenas para apavorar mais o nosso amigo.

Enquanto tentava se deslocar em meio à lama, Neville se lembrava das histórias dos fantasmas que habitavam o caminho. A mais famosa das lendas rezava que um senhor desconhecido sofreu um violento acidente naquele caminho e costumava aparecer para dar caronas aos viajantes em noites de Lua cheia como aquela.

Tentando afastar esses pensamentos, o rapaz se concentrava no caminho que o levaria até o pequeno povoado onde encontraria conforto e calor nos braços de sua amada Luna Lovegood.

Eis que de repente Neville sente um brilho de farol às costas. Rapidamente vira-se e observa que ao longe, pelo caminho no qual passou, um carro se aproxima em marcha lenta. Feliz demais com sua sorte, lembra-se do rosto da garota e pára a caminhada, o coração cheio de esperanças. Estica o famoso dedão de carona, na esperança de que o motorista tenha sentimentos e não o deixa naquela terrível situação.

Estranhamente o carro se aproxima a uma velocidade mínima, mas Neville raciocina que, naquela chuva, a visibilidade do motorista não deve ser muito melhor que sua própria. Quando o veículo se encontrava paralelo ao rapaz, este, radiante, não pensou duas vezes e adentrou o automóvel, virando-se pra fechar a porta antes mesmo de olhar quem o guiava. Com a porta fechada, o rapaz vira-se feliz com a intenção de agradecer só pra perceber que não há motorista: Neville acabava de embarcar num carro fantasma.

Chocado, o rapaz toma conhecimento de sua difícil situação, mas antes que pudesse reagir de algum modo, o carro retoma sua lenta marcha. Neville vê o carro se aproximar de uma curva, mas caso o veículo continue em linha reta cairá em um penhasco. Sem outra alternativa, o garoto começa a rezar fervorosamente para que, aconteça o que acontecer, Deus poupe-lhe a vida. Quando o carro se encontrava a escassos metros do parambeiro e Neville começava a perder as esperanças, eis que uma mãozinha surge pela janela do lado do motorista e concerta a direção do carro.

Branco de terror, o rapaz queria gritar, mas as forças lhe faltaram. Sem outra opção, Neville, que se encontrava em estado de choque, imóvel e pasmo, assiste as constantes aparições da mãozinha nas várias curvas do caminho para concertar a direção do automóvel.

Foi quando o infeliz rapaz avistou ao longe as poucas luzes do povoado e teve ânimo pra tentar escapar do futuro incerto dentro daquele veículo. Num último esforço, recupera a consciência e reúne as escassas forças que ainda lhe restam e, demonstrando uma coragem incrível, abre a porta do carro e pula fora, aproveitando-se da baixa velocidade do veículo, e em seguida some no meio do matagal em direção ao povoado de Hogsmeade.

Ao chegar ao povoado, exausto, encharcado, arranhado pela corrida desesperada no meio do mato e ainda em choque, o ofegante rapaz adentra o primeiro boteco que avista e toma de imediato dois copos de cachaça, pra combater o frio e o medo, e começa a narrar à incrível e aterrorizante situação pela qual acabara de passar. Todos no boteco escutam em religioso silêncio, pois no seu íntimo tremiam de medo. Ao fim da narrativa um pavoroso silêncio se instalou no ambiente.

Meia hora mais tarde dois moradores do povoado, Harry e Rony, adentram o mesmo boteco em situação parecida com a entrada de Neville. Os rapazes estão ensopados e exaustos e tremem de frio, mas ao olhar as pessoas em volta, deparam com a figura de Neville. Rony rapidamente aponta para o outro e grita, em auto e bom som:

– Olha lá Harry. Aquele ali não é o RETARDADO QUE ENTROU NO CARRO QUE A GENTA TAVA EMPURRANDO???

Eu acho que vocês já sabem o final da historia.