Capítulo 27

When the future's architectured

Quando o futuro é arquitetado

By a carnival of idiots on show

Por um carnaval de idiotas a mostra

You'd better lie low

Seria melhor você mentir

Violet Hill - Coldplay

A sorte é que ele não tinha reparado em mim, e estava justamente olhando para a porta naquele momento.

Como boa advogada, soube me controlar e disfarçar muito bem meu medo mediante à situação.

-Bebê, está pronto para ir embora? – eu perguntei à minha barriga com voz exageradamente infantil. Eu tinha mania de falar sozinha e de falar com o bebê também, mas aquilo fiz apenas para ganhar tempo. O cara, fosse quem fosse, acharia que era perda de tempo me render sendo que aparentemente eu era uma retardada.

Pelo menos era por aquilo que eu torcia para que ele pensasse.

-Está? – dei uma risadinha, ainda olhando para minha barriga. Minha voz estava a um segundo de sair trêmula, então não disse mais nada; apenas caminhei para fora.

Eu estava na porta do prédio, logo abaixo dos dizeres em mármore “Hale e associados – escritório de advocacia”. Respirei fundo e caminhei em direção a casa de Alice e Jasper com um pouco de pressa. O bairro era familiar, então eu esperava que não houvesse perigo de andar dois quarteirões a pé.

Se bem que eu só percebi o quão idiota havia sido depois de já estar na porta da casa do meu irmão. Havia assaltantes no escritório, pelo amor de Deus! Podia muito bem haver cúmplices na rua também.

Abri a porta da casa de Alice e Jasper sem cerimônia nenhuma.

-Jasper! – gritei esbaforida. – JASPER!

Meu irmão desceu as escadas correndo, seguido de perto por Alice.

-Rose?! – ele estava bastante preocupado. – O que foi?

-Você está chorando... – Alice me olhou e se dirigiu à cozinha. Só naquele momento que eu havia reparado nas lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Meu corpo todo começou a tremer. 

-Rose, senta. – Jasper pegou a minha mão e me levou ao sofá. – O que aconteceu? Você não pode ficar nervosa assim!

-Assalto... – eu respondi com uma voz horrível. Estava perdendo o ar de tanto chorar. – Assalto no escritório, Jazz!

Ele arregalou os olhos.

-Alguém fez alguma coisa com você? – ele se forçou a ficar calmo e eu apenas meneei a cabeça negativamente.

-Polícia! – implorei. – Chame...

Jasper soltou minha mão e foi ao telefone. Nesse momento Alice chegou com um copo de água e me entregou.

-Beba. – ela mandou, e eu não recusei. Sabia que ficar daquele jeito fazia mal ao meu bebê. –Travis e Ella?

-Ficaram com Sue hoje. – eu a respondi um pouco mais calma. Eu conhecia aquela tática. Ela estava tentando mudar meu foco no problema do escritório.

-E Emmett? Ele ligou pra você hoje? – ela perguntou, parecendo de repente interessada. Eu sabia que aquilo a ela pouco importava, pelo menos no momento.

Pelo canto do olho, vi Jasper desligar o telefone e ameaçar sair de casa. Alice segurou sua mão.

-Vou ficar bem. – ele respondeu à sua pergunta muda e lhe deu um selinho. Ela assentiu.

Eu olhava para aquela situação em pânico. Levantei-me também. Não podia deixar meu irmão ir sozinho.

-Você fica. – Alice ordenou, fingindo ter a calma que ela não tinha. – Você não respondeu a minha pergunta, lembra? Emmett ligou?

Meu celular, como se ouvisse conversas aleatórias, começou a tocar de dentro da minha bolsa. E era bem Emmett. Logo Emmett!

-Não vai atender? – Alice me olhou compreensão.

-Não sei. – limpei as lágrimas de meu rosto, tentando me acalmar. –Emmett é perceptivo demais. Vai ver que está acontecendo alguma coisa e ele já tem muito com o que se preocupar.

Alice assentiu, concordando.

-Mas ele não vai achar estranho você não ter atendido o celular? – ela pareceu incerta.

-Melhor isso do que ele nervoso em Chicago. – garanti. –Dou uma desculpa depois. Estou preocupada.

-Eu que o diga. – o rosto de Alice ilustrava o sofrimento. -Mas você está mais calma agora?

Assenti. Já tinha parado de chorar.

-Pode me contar o que aconteceu? – ela pediu. Então eu contei da parte que eu sabia. – Você correu um perigo enorme, Rosalie. Tenho certeza de que quem você viu não estava sozinho. O prédio é bem grande.

Nós estremecemos juntas.

-Só espero que Jasper fique bem. – Alice afirmou com a voz tremida.

-E que meu pai já tenha ido embora, que minha mãe não tenha resolvido ir trabalhar hoje... Que Heidi tenha conseguido sair – acrescentei e Alice concordou com um aceno de cabeça. Essas pessoas, fora tantas outras. O lugar era realmente enorme.

Ficamos em silêncio enquanto o celular insistia em tocar.

-Aparentemente ele não vai desistir. – Alice comentou.

E eu sabia que ela estava certa novamente. Emmett sabia muito bem que eu sempre andava com o celular e que nunca deixava de atendê-lo. Quando eu não o fazia, alguma coisa estava errada.

Ele sabia que as coisas não estavam bem por aqui, de uma forma ou de outra; e não haveria desculpa no mundo que se pudesse dar a ele para que ele não desconfiasse de nada.

Mesmo assim, eu tentaria. Não era bom Emmett saber da verdade. Não hoje, não agora; não quando o mundo já estava desabando sobre ele.