2000 Miles Away. escrita por biamcr_


Capítulo 3
Apenas uma festa.


Notas iniciais do capítulo

Gente, meu Word deu pau TOTALMENTE! Fiquei mais de meia hora tentando arrumar mas não deu. Qualquer erro de formatação ou de português, culpem-o por me fazer escrever direto no Nyah!



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“É só uma reuniãozinha entre amigos, Frank. Você não vai morrer”, murmurei para mim mesmo, durante o tempo em que estive em casa, tentando achar coragem para ir a tal reunião.

O pensamento de me misturar com outras pessoas, me abrir com elas, deixá-las saberem da minha vida ou, simplesmente, ser amigo de uma delas me assustava pra porra. Eu estava muitíssimo bem assim, sozinho, apenas eu e meus pensamentos. E eu me odiava totalmente por ter dito ao Mikey que iria. Eu precisava de uma desculpa, de algo que me afastasse um pouco dele porque, caralho, eu já estava ficando amigo demais desse cara, e isso não era bom. Eu não podia ter amigos, eles só destruiriam a minha vida e me tornariam um babaca. As pessoas, atualmente, têm essa mania de serem tão retardadas quanto conseguem, e tentam fazer os outros ficarem na mesma merda. Mesmo Mikey não parecendo ser esse tipo de gente, eu não queria. Ser amigo dele, talvez... Mas dos amigos dele? Nunca. OK, eu estava sendo infantil e julgando antes da situação acontecer, mas, porra, eu não podia evitar. Aquilo me assustava pra caralho.

Eu sempre fui aquela criança considerada bizarra, que passava o intervalo todo em algum canto da escola e que não saia. Todo mundo tentou fazer bullying comigo por causa disso, me chamando de “nerd excluído” e coisas do tipo, mas eu ignorei. As pessoas que não entendiam a minha necessidade de ficar sozinho e ser livre me irritavam. Porra, a sociedade me irritava. Eu queria que as pessoas conseguissem entender o que se passa na minha cabeça e me respeitassem desse jeito. Mas, aparentemente, é impossível.

Vesti uma roupa qualquer, arrumei meu cabelo e chamei um táxi – não Mikey, outro. Ao chegar ao local onde Mikey havia me dito para ir, me assustei ainda mais. Tinha tipo, uns dez carros lá. Achei que seriam poucos amigos e o filho da puta chama essa cambada toda!

– Frank! Já estava achando que você não viria. –, disse Mikey, saltando pra fora da porta da casa, me fazendo riscar a opção “sair correndo enquanto ninguém me viu” da cabeça.

– Claro que eu vim! Não perderia por nada, preciso mesmo conhecer um pessoal legal da cidade. –, menti, sorrindo falsamente. “Merda, eu sou um péssimo mentiroso”, pensei.

Enquanto ele me levava para dentro da casa com a intenção de me apresentar aos seus amigos, eu suava frio. Cada passo me deixava mais nervoso. Eu estava tentando ficar confortável, mas parecia a coisa mais impossível do mundo naquele momento. Ao entrar na sala, parecia melhor do que eu imaginava. O lugar não estava cheio de caras idiotas se enchendo de bebidas e se esfregando em garotas, mas sim de caras com aparência civilizada, que conversavam. Um loiro, de olhos azuis e vestido todo de preto jogava videogame com outro cara que, a julgar pela aparência de extremo mau humor, estava perdendo. Outro, que mais parecia um coqueiro ambulante, conversava animadamente com mais uns três. E, mais pra frente, podia-se ver que estava uma cozinha e, nela, havia mais alguém. Um cara, sentado de costas pra mim, usava um notebook e parecia não se importar com o que estava acontecendo ao seu redor.

– Pessoal, conheçam Frank. Ele é novo na cidade e estudará na BHS. –, anunciou Mikey, sorrindo animadamente.

Senti meu rosto ferver de vergonha enquanto todos eles me olhavam e me julgavam. Alguns sorriram, outros apenas murmuraram um “E aí, cara”. Sorri ao perceber que era bem-vindo no lugar.

O único que parecia não ter notado minha presença – e, se notou, não se importava – era o cara do computador.

– Gerard, venha cá. –, chamou Mikey. O outro nada respondeu. – Gerard, não se faça de surdo.

– O que você quer? –, perguntou, levantando-se da cadeira e carregando o computador consigo.

Nessa hora, pude ter uma visão melhor do estranho. Ele era alto – bem mais alto que eu, é claro, todos são –, tinha cabelos um pouco compridos e usava maquiagem e roupas pretas. Ele parecia realmente mal humorado.

– Diga olá ao... –, começou Mikey, sendo interrompido pelo outro.

– Eu não me importo. – respondeu o homem, que aparentava chamar-se Gerard, e que reconheci como sendo o irmão de Mikey que havia falado ao telefone comigo. Ele já estava ao pé da escada quando Mikey chamou-o de volta.

– Gerard, nós conversamos e você disse que não agiria como um completo idiota hoje. Dê oi ao Frank, por favor.

Pra mim, aquilo estava sendo totalmente constrangedor. Eu parecia um folgado na casa alheia, eu odiava ser inconveniente. Mas, para os outros, aquilo parecia ser normal, pois nada falaram e continuaram com o que estavam fazendo. Tentei dizer isso ao Mikey, mas ele pareceu não ouvir.

– Deixe-me beber, então. –, respondeu, chegando mais perto e encarando o irmão com um tom desafiador. Mikey apenas revirou os olhos. – Não se esqueça, criança, sou maior e mais forte que você. –, completou, sorrindo debochadamente.

– Gerard, você sabe a merda que dá sempre que você bebe. Não vou deixá-lo beber. –, respondeu Mikey, decidido.

– Eu não bebo enquanto eu não quero realmente beber. Entendeu? E olá, Franklin. –, virou-se para mim, estendendo a mão – Me chamo Gerard, como já percebeu. Sou irmão do Michael.

Eu realmente achava que eles iriam se matar, bem ali na minha frente.

– Hm, olá. –, respondi, cumprimentando-o.

– Então, Mikey, já que não me deixará beber, eu quero pizza. Pode devolver as chaves do carro que está no meu nome, que eu paguei e que é destinado à uso meu, por favor? –, pediu, dando ênfase a todas as palavras que faziam referência a si mesmo.

– Pegue, estão na mesa. Sua carteira está junto. –, respondeu Mikey, feliz ao ver que o irmão desistiu da ideia de beber e voltando-se ao grupinho de conversas que estava lá. – Mas, Gerard, leve alguém com você. Não quero que fuja e vá beber por aí. Leve o Frank, já mostre-o as melhores pizzarias da cidade. –, completou, animado.

Gerard apenas seguiu seu caminho, aparentemente ignorando o que o irmão disse. Pegou suas chaves, sua carteira e uma jaqueta. Parou na porta, olhando-me nos olhos.

– Vamos, Franklin. Não tenho a noite toda.

Acompanhei-o até seu carro.

O começo foi um tanto desconfortável, pois o silêncio tomou conta de nós. O único barulho que era possível se ouvir era o dos carros passando na estrada.

– Você bebe, Franklin? –, perguntou, sem tirar o sorriso malicioso do rosto e os olhos da estrada.

– Na verdade, é Frank. –, corrigi, apenas ouvindo-o resmungar um "Que seja" – E bebo, sim. Mas só às vezes.

A verdade é que eu bebia pra caralho, mas só quando estava puto com o mundo. Eu realmente gostava de beber, mas não conseguia beber apenas um pouco. Ou era muito, ou era nada. Mas eu não queria passar essa impressão a uma pessoa que eu havia conhecido agora.

– Ótimo. –, respondeu baixinho, como se falasse mais a si mesmo que a mim.

Gerard dirigiu por mais alguns minutos, até parar em um lugar que, sinceramente, não parecia uma pizzaria. Tava mais pra um barzinho de beira de estrada, onde bêbados miseráveis passavam as noites quando eram expulsos de casa pelas suas famílias. Ele saiu do carro tão rápido que nem pude perguntar o que ia fazer, apenas sentei a esperá-lo.

Gerard voltou alguns minutos depois, com algumas garrafas de bebida nas mãos. Entregou elas a mim e disse que eu deveria cuidá-las para não quebrar, ignorando totalmente quando perguntei porque ele ia fazer isso, já que Mikey o disse para não fazê-lo.

– O fato, pequeno Frank, é que o meu irmão não manda em mim. Aliás, eu que mando nele, já que sou mais velho. –, comentou, enquanto continuava a dirigir.

Mas o lugar onde estávamos indo não era de volta à casa deles, era na direção oposta. A estrada ficava mais escura e deserta a cada minuto, e isso me assustava.

– Aonde estamos indo, Gerard? –, perguntei, receoso.

Ele nada respondeu, apenas desligou o carro e saltou para fora, carregando consigo uma mochila e as bebidas. Parecia que estava querendo visitar o lugar há bastante tempo, já que pareceu bastante animado ao descer do carro e observar o horizonte.

– Lá. –, respondeu por fim, quando percebeu que eu já estava ao seu lado e o seguia.

Andamos mais um pouco, até chegarmos em um lugar que parecia mais um cemitério abandonado. Gerard sorriu, soltando a mochila no chão e sentando-se junto ao túmulo que já estava todo vandalizado. Tirou, da mochila, uma vela e acendeu-a sobre o túmulo, deixando o lugar mais iluminado. Logo após, tirou um caderno e começou a desenhar, enquanto bebia.

Eu simplesmente não conseguia acreditar que ele se sentia confortável sentado em um cemitério, desenhando à luz de uma vela posicionada em um túmulo. E bebendo, claro.

– Sente-se, criança. Beba comigo, se quiser. –, disse, sem desviar os olhos do papel.

Sentei-me no chão, perto dele, porém não encostado a algum túmulo.

– Não sou tão mais novo que você –, comentei. – São apenas uns quatro anos...

– Sim, o que te faz uma criança. Se você é menor de idade, você é uma criança. Para mim, pelo menos, funciona desse jeito. Mikey, por exemplo, não é mais uma criança, mas age como tal. – disse, voltando os olhos para os desenhos novamente.

– Por que você vem pra cá? Digo, isso é um cemitério. Você não tem medo? –, não era culpa minha, eu só não conseguia evitar as perguntas.

Como já disse, eu gosto de estudar as pessoas, gosto de entedê-las. E Gerard era uma das pessoas que eu podia estudar, mas não conseguiria entender se não o conhecesse.

– Eu gosto. Me sinto bem. –, respondeu simplesmente. – Já tentei sair daqui, mas não dá. Já fiz algumas tentativas de substituir esse lugar, e os destilados, por um parque infantil e café. Falhei miseravelmente.

Era ele. Era ele o cara que eu vi no parque. Nesse momento, meus pensamentos foram à mil e eu consegui entender um pouco. Gerard sempre estava nos lugares errados, onde não se encaixava. Exatamente como eu. Ele estava fumando na praça infantil, enquanto as crianças brincavam; ele estava sendo totalmente anti-social em uma festa onde todos estavam se divertindo. Mas ele estava feliz em um cemitério. A diferença entre nós era que ele tinha esse lugar que era apenas dele, onde ele sentia-se confortável e podia ser ele mesmo.

Nesse momento, Gerard parecia a pessoa mais interessante do mundo e eu queria poder fazer mil perguntas a ele.

No meu bolso, algo vibrava. Percebi que era meu celular. Gerard apenas olhou-me, erguendo uma sobrancelha e demonstrando curiosidade.

– Merda! É o Mikey. –, informei-o. – O que eu digo?

– Minta. –, respondeu simplesmente, largando seu lápis para prestar atenção na conversa.

– Hm, OK. –, concordei, nervoso. – Alô?

– Frank, por que estão demorando tanto? Aonde vocês estão? Aconteceu algo?

– Estamos bem. Gerard apenas resolveu que queria ficar e comer a pizza aqui na lanchonete mesmo. E talvez a gente demore, pois acabamos de pedir outra e –, olhei para o lado, Gerard fazia sinal para eu continuar com a enrolação – Gerard ainda quer parar em algum lugar pra comprar outras coisas.

– Ah, sim. O que mais irão comprar? –, perguntou, curioso.

– Hm... Bolo. –, respondi com a primeira coisa que me veio à cabeça, ouvindo Gerard gargalhar ao meu lado.

– Ah, OK então. Qualquer coisa, me liguem. –, e desligou.

– Bolo, Frank? Depois de toda aquela enrolação sobre a pizza, esperei coisa melhor e mais criativa de você. – comentou, ainda rindo.

– Foi a primeira coisa que eu pensei, eu não sou bom mentindo. Aliás, eu sou péssimo. E também não sei porque eu to te escondendo do teu irmão. Depois acontece algo contigo pela bebida e fico eu de mentiroso, pois disse que estávamos bem.

E eu realmente não sabia porque eu estava escondendo-o. Digo, eu não precisava. E ele não pediu. Mas Gerard parecia uma daquelas pessoas que, se você as ajuda, sempre terá benefícios.

– Bom, nisso você não mentiu. Eu estou bem, você está bem. Nós estamos bem. Não há mentira nisso. E não se preocupe, eu não fico mal quando estou bêbado e também não dirijo rápido. Não quando estou com alguém.

– Gerard, posso perguntar uma coisa? – eu sabia que, uma hora outra, minha curiosidade me venceria e eu acabaria perguntando-o tudo sobre sua vida. Pra quê esperar, então?

– Você já perguntou. –, respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Mas, ao perceber que eu não continuei falando, erguei o rosto de seus desnhos e continuou: – Pergunte. Só não prometo que serei sincero ao responder.

– Por que seu irmão não quer que você beba? –, ao terminar a frase, percebi que ele mudou de expressão. Ele não estava mais feliz – Digo, se não for muito pessoal...

– A história é longa, vai te tomar muito tempo. –, respondeu, ríspido.

– Bom, eu tenho todo o tempo que estaríamos possivelmente comprando um bolo, acho que isso é suficiente.

– OK, então. –, começou, fechando o livro de desenhos. – Meu pai é bastante severo e sempre exigiu que eu e Mikey nos dedicássemos demais e tirássemos notas perfeitas na escola. Há três anos, ele foi promovido e começou a ter que viajar bastante por causa do trabalho. Na viagem mais longa, que durou muitos meses, ele não deixou dinheiro para nós, dizendo que gastávamos demais em besteira. Mikey tinha 16, e eu tinha 18. Ele deveria estar começando o primeiro ano do ensino médio comigo, já que repeti algumas vezes. Mas ele decidiu que largaria a escola naquele ano, tiraria carteira e começaria a trabalhar para pagar suas mordomías e, quando o nosso pai não estivesse, as coisas da casa. Seis meses depois, ele estava de volta e quase expulsou Mikey de casa quando o mesmo mentiu ter repetido um ano quando, na verdade, não o fez.  No ano seguinte, continuamos a estudar normalmente. Mas, no começo desse ano, Donald foi promovid outra vez e acabou tendo que mudar para Nova York. Nisso, eu comecei a ter uma recaídas em certos probleminhas que eu tive na adolescência e comecei a beber exageradamente, mas ninguém percebeu. Nos meses depois, nossa mãe foi para NY também e ficamos só nós dois. Eu, atualmente, faço faculdade de artes e trabalho em algumas coisas ridículas nas horas vagas. –, concluiu.

– Mas ainda não respondeu minha dúvida. –, falei, ainda analisándo a história.

– Ah, sim. Me desculpe. Perdí-me em memórias e esqueci de respondê-lo. O fato é que Mikey nunca quis que eu bebesse, pois ele sabia que eu sempre exagerava. Então comecei a me revoltar e, certa vez, ameacei bater nele. Mas, depois, acabei admitindo que nunca o faria e todas essas besteiras de irmão. Ele fica com medo que eu acabe matando-o, ou até a mim mesmo, quando bebo.

Guardei palavra por palavra dia por Gerard, com a intenção de analisá-las perfeitamente depois. Mas agora não era a hora. Apenas me surgiriam mais dúvidas e, com suas respostas, mais confusão.


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Notas finais do capítulo

Comentem! ^^



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