Nas estórias infantis sempre há um feliz para sempre. Em uma especificamente a princesa dorme. Ela dorme por cem anos, até que o príncipe vem e a beija, fazendo a despertar para o final feliz.

     “Mas por que minha vida não é assim?” se perguntava Nessie. Ela tinha beijado o seu príncipe adormecido e quando ela finalmente espera o feliz para sempre dela, a bruxa má interrompe seus caminhos e pega seu príncipe. Não que Leah fosse uma bruxa má, claro. Mas sua raiva por essa mulher estava crescendo rapidamente, e sua colocação de bruxa ganhava mais destaque.

     Mas, pensando melhor, Leah não tinha culpa. Se tinha alguma. Qual era esta? Fazer Jacob se apaixonar por ela? Ela tinha culpa de ele estar em coma? Bom, essas perguntas Nessie não sabia, e provavelmente nunca saberia as respostas. Mas isso não impedia de ele possuir alguma raiva da Leah.

     Nessie não acreditava em carma, mas diante das situações que vinha se desenrolando até agora, essa seria uma boa desculpa para a sua enorme falta de sorte. Em um passado longe e sombrio, ela deveria ter sido uma pessoa muito má, alguma senhoria de escravos ou até mesmo, partidária de Hittler. Ela deveria ter acabado com o coração de alguém ou qualquer coisa do tipo. Sim. Deve ter sido isso.

     Ela ainda estava no hospital. O relógio pregado à parede marcava quatro horas da manhã. Seus olhos estavam pesados, mas não iria dormir, não logo agora que “ele” acordara. Quill e os outros garotos haviam entrado no quarto a um pouco mais de meia hora, mas para todos os que esperavam do lado de fora, pareciam que se tinha passado meio dia, a vontade de Alice era de entrar no quarto e saber sobre o que eles conversavam. Mas ela e tos os outros a sua volta sabiam que eles e Jake tinham muito papo para conversar, no mínimo uns oito anos de vida para serem atualizados. E isso era só a atualização dos amigos, porque da família e dos parentes de Nessie já eram mais oito anos cada grupo.

     A família de Jacob não morava tão longe, mas eram algumas horas de viagem. Mas logo depois do acidente, o médico de Billy – pai de Jake, 50 – lhe impôs que este saísse a viajar. Billy ficou contra isso durante algum tempo, mas depois de tanta insistência de Sarah, sua esposa e Rachel (mãe e irmã respectivamente de Jake, 48 e 29), decidiu por obedecer e foi para Califórnia onde Rachel morava com seu marido Paul, que era policial. Durante esse tempo, todos os dias eles ligavam para saber das noticias no hospital, e durante o tempo de espera no hospital, apesar do telefonema curto, os Black’s tinham ficado a par de tudo e chegariam em quatro horas.

     Alguns minutos do mais longo silencio ali, vozes saíram para corredor e logo depois delas os donos chegaram a sala de recepção. Todos se levantaram para saber das noticias. Renesmee a mais perto do corredor que ligava aos quartos, foi a primeira a falar.

     - Então... Como ele esta?

     Os garotos logo começaram a falar todos juntos, o que dificultava o entendimento de quem ouvia, ou se esforçava para ouvir.

     - CALMA – gritou Alice irritada – desse jeito não iremos entender nada do que vocês dizem.

     O silencio que se fez no local foi absoluto. Mas o entusiasmo nos olhares ali era enorme, eles se seguravam para não começarem a falar de novo.

     - Ok – ela respirou fundo – agora, antes que eu tenha o meu filho ou filha aqui prematuramente. Me digam o que ele disse. Esperem, – levantou a palma como se pedisse para pararem – o primeiro. Quill?

     Todos viraram os rostos ansiosos por respostas, Renesmee quase quicava no lugar, por mais que quisesse saber o que tinha acontecido, ela tinha medo de Jacob nem se quer ter mencionado quem seria a garota nas fotos do quarto. Lá tinha uma foto dos dois se beijando, mas estava perto da janela, num lugar pouco favorável para a vista da cama.

     - Ele... Hmm, esta ótimo. Fisicamente quero dizer, sem nenhum machucado. Esta surpresa por ter já 26 anos, ele gostou muito da forma física dele de agora, por que vamos combinar, ele era uma vareta esticada – vários risinhos foram dados, e Nessie abriu um enorme sorriso – Nós contamos algumas coisas que aconteceram conosco, na oficina e quando saímos, mas preferimos por deixar para vocês dizerem o resto. Já que são a família dele.

     - Verdade – disse Embry – ele ta super ansioso e curioso. Eu sinceramente não conhecia esse lado do Jake. Parece um menino de cinco anos antes da entrega dos presentes de natal.

     Mais risinhos foram dados e Edward perguntou.

     - Do que ele se lembra? Quero dizer, hmm qual a ultima coisa da qual ele se lembra?

     - Ele nos disse que só se lembra de ter saído para beber com a gente e depois tudo ficou um imenso brando, ai ele acordou com vinte e cinco anos. Ainda bem que ele não se lembra da ressaca daquele dia, por que foi enorme.

     Todos começaram a conversar animadamente sobre mais assuntos do quarto.

     Durante todo esse tempo, Leah tinha ficado quietinha em um canto da recepção. Não queria causar mais problemas para qualquer um ali, mas a falta de importância que estavam dando com sua presença, estava machucando algo dentro de si. O olhar de Seth caiu sobre a mesma quando esta soltou um suspiro cansado.

     - Você esta bem? – perguntou ele sentando ao seu lado num dos bancos dali.

     - Eu pareço bem? – Seu tom era rude e arrogante, mas ao ver a expressão de desagrado do irmão, logo se desculpou – Desculpe, mas é que... Tudo isso é minha culpa. Se eu não tivesse voltado e ligado para ele, talvez isso não tivesse acontecido, e ele...

     - Hey – seu irmão não a deixou continuar – Você não tem do que se culpar. Era para acontecer e se não fosse assim, teria sido por outro motivo – finas lágrimas já desciam pelo rosto dela e se acumulavam no queixo pequeno e redondo.

     - Mas eu preferia que não fosse por minha culpa. Hmmm... ele pergu-untou por mim?

     - Sim. Mas eu expliquei a ele o que aconteceu depois. E você nem tente se aproveitar disso. Ok? A Nessie merece ser feliz, ela já sofreu muito e ainda tem essa amnésia do Jake que não deve ser nada legal.

     - Tudo bem. Ok? Eu não sou essa cobra venenosa que vocês fantasiam por ai não.

     - Eu sei. Mas você não veio a Forks a toa e...    

     - Ta, ta. Eu não vou fazer nada para machucar sua preciosa Nessie. Ok?

     Seth olhou bem fundo nos olhos da irmã em busca de alguma mentira perdida ali, no meio das duas enormes bolas castanhas, mas ao ver que nada tinha ali se cansou e parou soltando um baixo suspiro, mas que foi ouvido mesmo pela irmã. Leah queria perguntar algo ao irmão, mas tinha medo de tocar em alguma ferida dele, mesmo assim decidiu continuar com a pouca coragem que tinha.

     - Hmm... Eu posso te perguntar uma coisa?

     - Pode.

     - Você, err... Você gosta da Nessie?

     O tom ao dizer o apelido de Renesmee não foi dito com ironia como sempre era dito, e isso foi observado por Seth, que teve que pensar muito antes de responder. Leah achou que o irmão não iria dizer a resposta daquela tão temida pergunta, mas se surpreendeu ao ouvir a voz do irmão.

     - Eu... olha eu já gostei dela sim, não vou mentir sobre isso. Você é minha irmão e eu posso confiar em você. Mas... eu vi o amor entre eles, eu vi ele ser regado e eu vi ele nascer, e quem olha para eles também consegue ver isso. Então... eu peço que você não atrapalhe o que Deus criou, eles se amam e se merecem depois de tudo – foi difícil para ele admitir aquilo em voz alta, mas se sentiu mais leve logo que as ultimas palavras saíram de sua boca e se levantou e deixou uma irmã pensativa sentada cabisbaixa.

     Já eram oito e dez da manhã quando um carro de passeio parou em frente a porta dupla do hospital. Os garotos e boa parte da família de Nessie tinham saído as cinco horas, as garotas foram logo depois, restando apenas Nessie, Edward, Bella, Alice e Jasper. O sono já tinha vencido as mulheres e essas dormiam nos ombros de seus maridos, Nessie estava deitada no colo de seu pai e acordou logo quando ouviu o som das rodas do carro.

     Quando viu três pessoas morenas entrar pela porta, se adiantou levantando do colo do pai e correu para os braços do moreno mais alto que sempre adorou. Billy e Sarah sempre a trataram bem, mas Nessie tinha um carinho especial por Billy, o via como sendo um segundo pai.

     - Oh, Nessie como você esta? – Ele perguntou retribuindo o abraço.

     - Cansada Billy, mas eu tenho que agüentar – a voz dela saia baixa por estar sendo abraçada tão fortemente, mas todos ali podiam ouvir e perceber que ela já chorava.

     Sarah logo a abraçou junto ao marido e começou a consola – lá, depois de um tempo se soltaram e Nessie correu para abraçar  Rachel, sempre foram amigas e isso ajudou muito a ela se aproximar do Jake.

     - Own amiga, eu não te falei que tudo iria dar certo?

     - Sim, você disse. Cadê Paul? – perguntou ela percebendo a falta do marido da amiga.

     - Ele teve que ficar, mas prometeu vir no final de semana. Agora me diz como esta o Jake?

     - Esta bem, mas ele... Ele...

     - Ele o que Nessie? – Perguntou Billy preocupado.

     Sarah cumprimentava a resto da família Cullen e parou subitamente quando ouviu a resposta de Nessie.

     - Ele esta com amnésia.

     Com ajuda dos tios e dos pais, Nessie passou a explicar tudo o que tinha acontecido naquela longa madrugada. Falou também tudo sobre o que os garotos lhes contaram sobre a conversa deles.

     - E estávamos esperando vocês chegarem e explicar para ele o resto da historia. Pelo menos a parte de vocês. – Nessie terminou e abriu um sorriso sem graça.

     - Não se preocupe minha filha – disse Sarah de um jeito maternal, mesmo com lágrimas nos olhos, ela e Rachel começaram a contar desde que Nessie tinha gaguejado – nós vamos lá falar com nosso filho e talvez ele se lembre de algo. Ele ainda nem te viu, não perca as esperanças agora.

     - Não vou perder Sarah, mas é que esta tudo tão difícil.

     - Eu sei, mas não desista. Então... vamos entrar? – Rachel e Billy se limitaram a concordar com os rostos – Quando nós te chamarmos você entra ok?

     - Ok.

     Nessie colocava toda sua fé naquelas palavras de Sarah, talvez se ele a visse...

     A porta do quarto estava fechada e abafava os sons vindos do lado de fora do quarto, não que fosse muitos, mas às vezes passos iam e vinham dali. Jacob já estava cansado de ficar deitado, mas não podia fazer nada. O médico havia o obrigado a ficar deitado.

     Depois da visita de seus amigos, sua animação havia aumentado muito, mas essa animação já estava se esvaziando, indo embora junto com os sons da porta. Ele estava muito surpreso por já ter a idade que tinha, ainda não sabia o porquê não se lembrava de tudo. Seus amigos já estavam todos morando sozinhos e boa parte deles já possuíam namoradas e noivas. Noivas. Seu amigo Quill que pensava ser um eterno namoradeiro, iria se casar. Quem diria. Será que ele também estava namorando?  Será que ele tinha conseguido deixar de amar Leah? Tantas perguntas, onde só poucas ele tinha as respostas. Ele estava esperando que finalmente seus pais aparecessem para perguntar lhes tudo o que ainda, ressaltando AINDA, não sabia.

     Parecendo vir do Céu, a porta se abriu e três pessoas entraram por ela. Seu sorriso foi imenso ao ver ali rostos conhecidos, não que seus amigos não o fossem, mas sua família era diferente, eles realmente lhe conheciam. Não pode nem piscar os olhos e logo um corpo magro e pequeno estava  em cima de si, beijando e abraçando.

     - Rachel assim você me mata enforcado. – foi o que conseguiu dizer antes de ela o soltar.

     - Desculpe maninho, mas eu estava com tantas saudades que nem medi as conseqüências. Mas você melhora.

     - Rara muito engraçado sua anã, vem aqui – sentou se direito na cama para poder abraçar a irmã, mas logo sentiu mais quatro braços lhe rodearem.

     Lágrima era o que não faltava naquele encontro familiar. Depois de muitos beijos e abraços, todos voltaram e sentaram em volta da cama. Momentos engraçados e felizes foram lembrados ali, mas Jacob pouco reconheceu do que disseram a ele. Seus pais estavam esperando o momento certo para dizer sobre o casamento. Ainda não sabiam qual iria ser a reação de Jacob ao receber a noticia. Mas esse assunto chegou mais rápido do que eles previram.

     - ... e ele me disse que iria se casar. Como se fosse assim, uma coisa feita da noite para o dia. – contou Jacob um pouco sobre a conversa com os amigos.

     - Eles estavam juntos a muito tempo Jake – defendeu Rachel, que havia se casado com 19 anos então o irmão se lembrava da data – estava na hora de Quill tomar vergonha na cara e fazer alguma coisa.

     - Concordo com ela filho, que sempre brigava com ele para parar de enrolar a moça.

     - Falando nisso – exclamou Jake – eu por um acaso virei gay?

     Risadas foram dadas e Rachel quase não se agüentou de rir. Mas conseguiu parar para perguntar, ainda entre risadas.

     - Não. Por que? Se decidiu agora?

     - Não mesmo. Mas ninguém até agora me falou sobre minhas namoradas, então eu virei padre né?

     Ninguém conseguiu rir com a piada, e Jake sentiu a tensão no ar assim que todos se calaram.

     - O que aconteceu gente?

     - Bom filho – começou Billy um pouco mais calmo, estava com medo de Jake negar Nessie, ela ficaria muito triste – hmm... Na verdade sua masculinidade continua intacta. Você err é casado.

     A reação de Jacob foi inesperada, sua gargalhada deve ter sido ouvida do lado de fora do quarto de tão alta. Billy tinha decidido por contar de uma vez, mas isso não era a reação que ele esperava.

     - Sério mesmo? – perguntou Jake ao ver a face séria dos outros três – Casado? Caramba. Casado.

     E continuou a dizer a palavra mais algumas vezes, até ela finalmente infiltrar em seus pensamentos. Casado. Essa era uma noticia bem diferente das que ele tinha ouvido até agora.  Como será que ela era? Tinham filhos?

      - A quanto tempo? – finalmente disse.

     - A um ano – respondeu Rachel – Você conheceu ela na faculdade. Ela é linda, esta vendo aquela foto – apontou para uma em que estavam ele e a garota bonita que tinha visto antes em outras fotos, ainda não tinha visto aquela que ficava perto da janela, nesta, eles estavam se beijando no que parecia ser um restaurante. “Ela é linda”, pensou ele.

     - Ela esta aí?

     - Sim – dessa vez foi Sarah quem disse – Quer que eu a chame?

     Jake balançou a cabeça e viu sua mãe se levantando da cama e segundo em direção a porta. Seu coração foi a mil. Nunca, desde que acordou, pensou estar casado ou em qualquer outro compromisso que envolvesse duas alianças. Olhou para a mão esquerda e percebeu uma leve marca no dedo anelar, ele não teria percebido em outra ocasião. Seu pensamento voltou a sala quando ouviu a porta novamente se abrir, e sua mãe entrar.

     - Jake, eu quero que conheça novamente – ouviu sua mãe bem de longe dizer e soltar um leve sorriso – Renesmee Black. Entre Nessie.

     E ela entrou.