Como Deixar de Ser Idiota em 30 Dias escrita por Lie-chan


Capítulo 5
Capítulo 5




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Como deixar de ser idiota em 30 dias.

 

Capítulo 5:

 

– Como assim “isso se nos pegarem”? É impossível colocar um pé para fora deste banheiro sem ser filmado! Você se esqueceu do sistema de segurança? E mesmo que não houvesse câmeras, perceberiam que nós estamos na escola já que fomos na enfermaria! Se a minha mãe souber disso ela vai ter um chilique enorme de tão decepcionada... – Comecei a falar tudo que se passava pela minha mente perturbada, tomada pelo desespero.  Eu sei que sou meio dramático, mas não consigo evitar. Certo, completamente dramático. Mas isso não é tão ruim assim... Ou talvez seja, mas eu não queira admitir nem para mim mesmo.

 

Nossa, que ótimo! Agora além de falar que nem um louco sem nem pausa para respirar com o Charlie, ainda estou conversando comigo mesmo sobre o nível de dramaticidade no meu diálogo.

 

– E como chilique, você se refere à mesma coisa que está fazendo neste momento, não é? – Rebateu sarcástico.

 

– É. – Deveria ter dito algo como “eu não estou tendo um chilique!”, mas ia ser obviamente mentira. Então, já que eu não tenho mais nenhuma imagem para preservar mesmo, é mais fácil falar a verdade logo. Mesmo que ela me constranja.

 

O Max com certeza acharia minha resposta normal, mas mesmo nesse ponto de nossa conversa, o Charlie ainda não se acostumou muito bem comigo, então daria para perceber a dez quilômetros o olhar reprovador que ele dirigiu à minha resposta. Porque, é claro, ela foi muito idiota.

 

– Observe e aprenda. – Falou com um sorriso de canto.

 

– Que frase mais brega! De onde você tirou isso? Parece que tirou de algum filme de baixa produção... – É claro que antes mesmo de eu terminar a frase o seu sorriso já tinha se defeito.

 

– É para combinar com você. – Respondeu sarcástico. Comecei a reparar que pelo menos metade do que eu já o escutei falar foi para me irritar, principalmente quando ele é irônico.  Legal! E caso você leitor não tenha reparado, eu também estou sendo irônico. Mas acho que não sou muito bom com isso.

 

Eu fiquei esperando por alguma dessas cenas de filme de ação, em que o mocinho faz várias acrobacias para passar despercebido pelas câmeras, usa vários apetrechos de alta tecnologia e finalmente depois de lutar contra ninjas, escapar de um tiroteio, ser exposto à radioatividade, ou algo do tipo, chega ileso ao outro lado.

 

Então, não quero nem imaginar o cara que eu fiz quando vi o Charlie passar despreocupado pelo corredor, descer as escadas, enfiar uma nota de vinte reais por baixo da porta da sala dos professores e depois continuar o seu caminho tranqüilo, saindo da escola pela porta da frente e sem olhar para trás. Claro que eu o segui, afinal, sou idiota, não burro, e ficar ali não ia ajudar em nada.

 

– Ei, porque você está me seguindo? Era para você ainda estar no banheiro pensando em como sair sem ser suspenso. – Claro, já que ele é um desgraçado sem coração de sangue frio, como metade daquela escola, o dinheiro embaixo da porta era para livrar só a fixa dele, não a minha. Mas a minha esperança em achar pessoas de mente pura me leva a acreditar que alguém se importa comigo.

 

Geralmente eu acharia que pagar propina a um sistema educacional para fugir da escola seria o cúmulo da falta de ética e da corrupção, começaria a gritar que nem um louco e tentaria tirar fotos para mandar como denúncia a algum jornal, ou fazer algo estúpido e escandaloso do tipo, mas quando se está envolvido isso parece muito menos errado. Eu infligi os meus princípios fugindo da escola daquele jeito, tudo à toa! Certo, acho que estou sendo muito dramático de novo.

 

– Eu estava brincando, idiota. – Ele completou, com uma voz cansada, provavelmente assustado com a cara de psicopata em crise que com certeza eu estava fazendo. Não tenho como me olhar no espelho para ter certeza, mas segundo o Max, quando tenho uma dessas crises, o que infelizmente acontece com freqüência, eu fico com a cara tão estranha que ele nem conseguiu me descrever direito. Parece que hoje eu tirei o dia para ser exageradamente dramático.

 

Eu até tentei ficar com raiva dele, mas descobri que é impossível ficar com raiva de alguém com o cabelo tão bonito, então desisti e não respondi nada, apenas continuei seguindo-o em silêncio, enquanto ele andava aproximadamente quatro quarteirões até o shopping da cidade e se sentava em uma mesa da praça de alimentação para continuar a ler o seu livro.

 

Depois de alguns minutos percebi que ele estava simplesmente me ignorando, então me levantei e fui até uma livraria logo em frente. Reparei que ele nem levantou o olhar para ver onde eu estava indo. Ou o livro era realmente muito bom ou eu sou realmente muito chato. Estou torcendo pela primeira opção.

 

–Oi, Jesse, querido! Chegou o próximo livro do “Diário da Princesa”! Estão no estoque, ainda não tirei das caixas para colocar na vitrine, mas se quiser eu posso pegar um para você! – Essa é a senhorita Christine, dona da livraria, que acabou virando mais ou menos minha amiga quando eu inventei de ler aquele monte de livros.

 

Mesmo que eu tenha me acostumado a ler muito depois daquilo, sempre acabo lendo romances água-com-açúcar. Qualquer outra história que eu tente ler simplesmente não prende a minha atenção, eu enjôo nas primeiras paginas. Mas hoje, quando eu vi em uma prateleira ao entrar na loja o mesmo livro que o Charlie estava lendo, tive outra idéia.

 

– Eu venho comprar ele outro dia. Começar a vender ele antes das outras livrarias pode te causar problemas. Agora eu gostaria de dar uma olhada na garota que pegava livros. – Mesmo que ela seja muito gentil e tente esconder, eu sei que quando ela me deu um volume de “O garoto da casa ao lado” antes da data de estréia (a livraria dela é de uma rede e todas as lojas devem lançar os livros na mesma data com o mesmo preço) a livraria quase levou uma multa.

 

– O nome do livro é “A menina que roubava livros”. – Ela disse rindo um pouco da minha ignorância. – Eu vou pegar um mais novo para você lá dentro, o da vitrine está meio amassado. Tente não quebrar nada até eu voltar. – E depois subiu uma escadaria bem antiga que tinha no fundo da loja para buscar o exemplar mais novo.

 

A ultima observação dela foi uma piadinha, na minha opinião bem sem graça, em relação a uma vez em que eu derrubei uma estante sem querer. O estrago nem foi tão grande, afinal eu ajudei a arrumar depois, mas eu tive que ficar uns dois meses sem vir ao shopping, pois todos os funcionários ficavam rindo quando eu passava e me chamando de “o garoto da estante”.

 

Logo ela voltou com o livro e trocamos mais algumas palavras sobre algum assunto qualquer enquanto eu pagava, sem conseguir resistir a direcionar algumas olhadas furtivas em direção a onde Charlie estava, imaginando o que viria a seguir...

 

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Nhay... Eu estava postando de dez em dez dias, mas amanhã eu vou ficar sem net então um dia de diferença não faz mal...
Bem, agora eu estou de férias! Então acho que vou poder escrever mais rapido... Se esse capítulo conseguir 15 reviews eu passo a postar toda sexta feira (certo, a direfença nem foi tanta, mas considerem)...