Como Deixar de Ser Idiota em 30 Dias escrita por Lie-chan


Capítulo 13
Capítulo 13




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Como deixar de ser idiota em 30 dias.

 

Capítulo 13:

 

Não. – Foi a resposta curta e grossa que recebi ao ligar para Charlie e convidá-lo para o jantar. Já esperava por essa reação, mas eu não seria doido de contrariar a Kate e nem tentar.

 

– Por que não? – Insisti mais uma vez. Na verdade já era minha quinta tentativa convencê-lo e há essa hora ele já teria me estrangulado se não estivéssemos nos falando pelo telefone. Não sei como não desligou na minha cara ainda.

 

Porque não. – Respondeu novamente ríspido. Sua impaciência era nítida, mas eu também sabia que do outro lado da linha ele estava sorrindo. Claro que ele já deve ter se acostumado a pessoas implorando para sair com ele, no entanto acho que ninguém nunca o fez pelos mesmos motivos que eu.

 

– Por favor! Ela vai me matar se você não vier! – E eu tenho completa noção sobre o quão ridículo e desesperado soei, mas essa era a menor das minhas preocupações no momento. Eu levei exatas duas horas e quatorze minutos para encontrar o número dele na lista telefônica! Eu simplesmente tinha que conseguir!

 

Você tem tanto medo assim da sua irmã, é? – Dessa vez ele não fez questão de tentar esconder que achava a minha situação totalmente cômica. Aquele cinismo dele estava me enlouquecendo!

 

– Tenho. – Respondi receoso, pois já sabia que, definitivamente, não era isso que ele gostaria de ouvir. Mas de algum modo creio que já era essa a resposta esperada.

 

Como você tem a coragem de responder assim, como se isso nem fosse absurdo? – Perguntou ainda incrédulo pela minha cara-de-pau. – E depois realmente acha ter alguma chance de deixar de ser idiota... – Completou suspirando.

 

E eu era obrigado a concordar com ele. Fui mesmo muito idiota em contar toda a história. Eu poderia ter só o convidado para o jantar, mas não! Tive que contar sobre a fixação que a minha irmã tinha por ele e sobre a vontade quase insana dela de conhecê-lo de verdade antes de se mudar.

 

Mas outra coisa que eu sou abrigado a admitir é que no fundo nem faz muita diferença. Qualquer que fosse o motivo do meu convite, já era claro que ele não ia aceitar. Afinal, ele é o Charlie. Isso seria contra as leis da natureza ou coisa do tipo.

 

– É... – Foi tudo que consegui dizer, quase que num sussurro.

 

Já ia murmurar um tchau e desligar, quando a porta do meu quarto se abre num estrondo, revelando minha irmã com uma expressão nada amigável estampada na face. Merda.

 

– Nem pense em desistir! Escutou, pirralho? – Ela berrou antes mesmo que eu pudesse ter alguma reação. Pela altura de sua voz provavelmente estava sendo escutada pelos vizinhos. E também do outro lado da linha.

 

– Espera um pouco, não desliga. – Disse rapidamente pelo fone antes de abaixá-lo, torcendo para que ele não tivesse realmente escutado-a. Logo depois voltei minha atenção a Kate. – O que você está fazendo aqui? – Tentei não falar muito alto, apesar de minha vontade ser a de gritar.

 

– Eu não podia deixar você desligar antes dele aceitar, seu imbecil! Você só faz as coisas direito quando está sob pressão! Trate de inventar qualquer desculpa e faça-o aceitar! – Acho que não preciso nem dizer o quanto não-delicada ela foi ao dizer (leia-se: impor) isso. E depois ainda tem gente que acha o amor fraternal lindo... Se a conhecessem, definitivamente iriam mudar de idéia.

 

Quem sabe algum dia eu coloque uma câmera escondida em algum lugar do meu quarto e grave as nossas discussões...  Talvez eu consiga vender as cenas para alguma emissora e ficar milionário. As pessoas hoje em dia adoram violência, ia dar um ibope altíssimo!

 

– Não sei se você já ficou sabendo, mas o motivo de ter um telefone no meu quarto é eu ter mais privacidade nas minhas ligações... – Comecei, imitando voz de um professor que tenta explicar algo obvio a um aluno problemático. – E não adianta nada se alguém fica escutando tudo pela extensão na sala! – Completei alterando o tom para um bem mais alto.

 

– Calma, não precisa ficar estressadinho... Você só precisa fazer o que eu mandei, okay? – Disse isso sem esperar uma resposta, já saindo do quarto.

 

E sim, foi essa mesma a palavra que ela usou. “Mandei”. Kate tem completa noção do poder que exerce sobe mim e parece não se importar com isso. Que tipo de irmã tenta controlar o irmão a partir do medo? Talvez qualquer dia ela me faça bater em continência. Pensando bem, ela não é disciplinada o suficiente para o exercito, quem sabe para a máfia...

 

Droga! Comecei a divagar e me esqueci completamente do fone que ainda repousava em meu colo. Coloquei-o no ouvido e murmurei um “alô”, mas era claro que não tinha mais ninguém escutando. Pois é, ele desligou.

 

Que exagerado, eu nem demorei tanto. Custava esperar um pouco?

 

Comecei a discar o número dele novamente, mas dessa vez no celular. Não ia ser burro de deixar a Kate escutar (a essa hora ela já deve estar na extensão esperando eu ligar de novo). Até porque acho que ele não ia atender se reconhecesse o meu número.

 

Alô...? – Escutei sua voz dizer, finalmente, depois de longos minutos o esperando atender. Acho que não preciso nem mencionar o fato de minhas mãos estarem completamente suadas, se contraindo em pequenos espasmos de nervosismo. Sei que é excessivo da minha parte ter tamanha reação, mas foi inevitável.

 

– Oi! – Exclamei, sem me importar com o gemido desaprovador e ele soltou ao perceber quem era. Ou pelo menos fingindo não me importar. Minhas mãos suavam como nunca.

 

O que você quer agora, Jesse? – Ele foi completamente inexpressivo nessa frase, de modo que eu não poderia dizer se estava impaciente, irritado ou cansado com a minha perseguição. Talvez sentisse os três, mas também tivesse percebido que eu continuaria, independente de sua insatisfação, sendo assim inútil demonstrá-la.

 

– Você realmente não vai vir para o jantar? – Eu mesmo teria desligado o telefone sem nem dizer “tchau” se alguém me ligasse só para dizer isso. Então não poderia o culpar se fizesse isso.

 

Mas ele não o fez.

 

Em vez disso, escutei um barulho abafado e logo depois outra voz – que no início eu não soube dizer a quem pertencia, mas que logo reconheci sendo a minha – começou a falar. Ele estava usando uma gravação.

 

“A minha irmã está me visitando e ela quer muito mesmo te conhecer e se você não vier para o jantar ela pode me matar e me esquartejar e exibir a minha cabeça em praça pública e antes de tudo isso pintar as minhas unhas de rosa e (...)”.

 

E a gravação continuou correndo por um longo tempo, enquanto eu simplesmente ficava ali, escutando. Não pensei que eu tivesse falado tanto. Ouvindo tudo que eu disse desse jeito, pude perceber que realmente fui muito chato. Até mais do que eu já imaginava ser. Muito mais.

 

Entendeu agora porque eu não quero ir? – Acho que isso foi praticamente uma pergunta retórica, já que ele sabia muito bem o quão sem palavras eu estava.

 

– Desculpe-me por te incomodar... – Tentei responder, mesmo estando totalmente constrangido. – Mas eu gostaria muito da sua presença. – Terminei por fim, numa última apelação.  

 

Algum tempo se passou sem nenhum de nós proferir alguma coisa e, quando eu já pensava que Charlie tinha desligado (de novo), por fim ele disse alguma coisa.

 

– Tudo bem... – Ele pareceu parar um pouco para pensar melhor. – Eu vou. – Soltou um suspiro, provavelmente não acreditando no que tinha acabado de pronunciar.

 

Aliás, nem eu acreditava que tinha mesmo escutado aquilo. Como assim ele ia jantar na minha casa? De uma hora para a outra as coisas pareciam muito irreais... Inconscientemente acabei me beliscando, mas é claro que isso só serviu para uma mancha roxa aparecer em meu braço. Tudo bem que eu já sabia não estar dormindo, mas não custava nada confirmar.

 

– Okay... Você pode vir às sete...? – Ainda estava um pouco receoso ao que dizer, mas consegui pensar em algo útil antes que ele achasse que eu tenho sérios problemas mentais e desistisse. Como se ele já não achasse.

 

Te vejo as sete, então. – Confirmou.

 

– Até... Tchau. – Consegui murmurar nem sei como. Minha mão está tão suada que é surpreendente o fato de ainda conseguir segurar o telefone.

 

Ah, e... Jesse? – Chamou novamente antes que eu desligasse. – Da próxima não enrole tanto, só me chame de uma vez, pode ser? – E então ele desligou.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Desculpem minha demora! (de novo ¬¬)
É que a criança feliz e imperativa aqui já estava sem tempo e com o teclado quebrado e em vez de se dedicar o possivel com as fics já começadas, começou a escrever outra! (a fic é 'Pride', dêem uma lida nela também" ') Nossa, é estranho falar de mim mesma na terceia pessoa... õ_O
Enfim, está aí, espero que gostem!