Jake me carregou nos braços por alguns quilômetros, e eu já me sentia bem melhor. Em pouco tempo nós chegaríamos a casa dos Cullen, e ficaria tudo bem.

–-Não!Não! Volte! -- eu gritei quando pensei na recepção que eu teria ao entrar numa casa cheia de vampiros sangrando daquele jeito.

–-O que foi Nessie? -- Jake me perguntou enquanto parava bruscamente.

–-O sangue Jake! -- eu o indicava pra ele.

–-Aohh! Desculpe, eu não tinha pensado... Eu vou te deixar no chalé e vou chamar o Doutor está bem?

–-Tudo bem. -- eu respondi mais calma. Ele então tomou o caminho de volta, em direção a seu pequeno chalé.

Ainda estávamos longe quando percebi que havia alguém lá. Eram dois vampiros. Identifiquei imediatamente o cheiro da minha mãe. A medida que nos aproximávamos, percebi que o outro era o vovô. Mas o que eles faziam ali? Assim que nos ouviram chegar eles seguiram para a porta de trás. Minha mãe veio depressa na minha direção, me tirando dos braços de Jake.

–-O que aconteceu? O que você fez a ela? -- minha mãe disse ferozmente.

–-Eu... eu não fiz nada. -- Jake respondeu aturdido.

Ela me levou até o chalé, e me colocou deitada sobre a cama dele, onde o vovô começou a me examinar.

–-O que aconteceu querida? -- ele me perguntava calmamente.

–-Eu não sei...eu...estava correndo, e de repente... -- os soluços voltavam a medida que eu começava a falar.

–-Como você se machucou?

–-Eu só estava correndo, e então senti essa dor... -- coloquei a mão sobre o meu ventre. Mamãe e Carlisle trocavam olhares confusos quando Jake interrompeu.

–-Eu estava seguindo a Leah quando a vi assim. Ela me mostrou, como se tivesse me tocado, mas ela estava longe. -- Mamãe pareceu confusa com as palavras dele, mas vovô Carlisle, se manteve calmo.

–-Você podia nos deixar por um minuto Jake? -- vovô pediu.

–-Mas... -- ele retrucou. Mas assim que viu o olhar da minha mãe, se calou e saiu.

–-Agora me diga meu bem. O que você sente? -- perguntou o vovô. Respirei tentando me acalmar um pouco.

–-Eu só estava correndo vô, quando senti essa dor e parei. Só então notei que estava sangrando. -- expliquei.

Ele e minha mãe se entreolharam.

–-Você acha que pode ser Carlisle? -- do que ela podia estar falando?

–-É o que parece. Mas eu preciso examinar o sangue. -- com um cotonete ele colheu um pouco do sangue que sujava o meu jeans e o espalhou sob a superficie de algumas lâminas de vidro que ele tinha trazido em sua maleta. Começei a pensar o porquê de eles estarem ali. E como eles podiam estar tão preparados.

–-Mãe. -- eu falei finalmente -- O que vocês faziam aqui?

–-Alice. -- ela respondeu simplesmente.

Como tia Alice podia ter previsto meu futuro tão perfeitamente? Durante quase cinco anos ela só conseguia prever "ao meu redor" como ela sempre dizia. Ela só conseguia saber onde eu não estaria, o que eu não faria...

–-É melhor levá-la pra tomar um banho Bella. -- indicou o vovô.

–-Um banho? -- eu perguntei alarmada. -- Eu chorei e sangrei hoje vovô!

Ele não respondeu nada, só olhava para mamãe que acenou com a cabeça.

–-Eu vou analisar o sangue. -- ele falou só pra mamãe. --Fique tranqüila meu amor. -- agora dizia para mim.

Mamãe me ajudou a levantar, o desconforto havia passado e agora eu só sentia uma leve dor no pé da barriga. O vovô foi embora, ele parecia ansioso em analisar o sangue que ele havia coletado. No banheiro eu pude me olhar em um pequeno espelho, e vi como estava diferente. Eu parecia três ou quatro anos mais velha agora. Meus traços eram diferentes. Meus cabelos tinham um brilho diferente. Tudo em mim mudara. Minha mãe se pôs por trás de mim no espelho. Ela e eu parecíamos ter a mesma idade agora. Ela me mostrou um sorriso diferente, passou a mão pelos meus cabelos, os prendendo em um coque no topo da cabeça.

–-Você está tão linda Nessie. -- e era verdade, eu era como eles agora. Sangue ainda pulsava nas minhas veias, pois meu coração ainda batia no peito, mas eu era agora tão bonita quanto eles.

–-Está ainda mais parecida com o seu pai. -- mamãe falou emocionada. Pensei que ela choraria se pudesse. Mas foi do meu olho que uma lágrima escorreu. Ela a tocou como da última vez. Ficamos nos olhando por uma segundo. Ela parecia ainda mais bonita agora, que eu a podia vê-la melhor.

–-Tome seu banho Nessie. Nós temos muito que conversar.

Tomei meu banho em silêncio, imaginando o que poderia estar acontecendo comigo. Me enxuguei com a toalha do Jake que estava pendurada no box. Ainda estava molhada. Eu sentia como nunca seu cheiro.

–-O que eu tenho mãe? -- falei como se implorasse uma explicação. Ela me olhou com certo receio.

–-Eu e seu avô achamos que você possa estar passando por uma experiência humana, que toda menina passa na sua idade, ou até mesmo mais jovens...

–-Você acha que eu estou menstruada? -- perguntei perplexa. Aquilo nunca me passaria pela cabeça.

–-Talvez Nessie, seu avô foi examinar o sangue e logo saberemos.

Fiquei muda por alguns minutos, tentando assimilar a idéia. Como eu podia estar menstruada? Não me lembro de Nahuel ter comentado qualquer coisa sobre as suas irmãs. Mas eu era tão pequena quando ele esteve conosco. Talvez ele tivesse falado com alguém da família sobre esse assunto.

–-Nahuel falou alguma coisa sobre isso?

–-Não, ele nunca chegou a tocar no assunto e nós nunca imaginamos algo assim. -- mamãe disse frustrada. --Isso é uma coisa boa Nessie. Isso pode ser a sua parte humana se manifestando. É a melhor coisa que poderia ter acontecido a você.

Eu não sabia o que ela podia achar de bom em toda aquela confusão. Como eu posso viver numa casa cheia de vampiros, sangrando todo mês? Onde eu vou viver agora? Meu cheiro sempre foi diferente, mas não chegava a incomodar tanto quanto o cheiro de um humano incomodaria. Mas agora, eu sabia que seria insuportável pra eles conviver comigo. Até mesmo a mamãe, que sempre foi tão controlada, parecia nervosa. Ela viu a confusão nos meus olhos e me puxou num abraço.

–-Vai ficar tudo bem meu amor. Nós vamos estar sempre com você, não se preocupe.

–-O que eu vou fazer mãe? Eu não posso voltar pra casa. -- mais lágrimas acompanhavam cada palavra.

–-Você pode ficar aqui por enquanto, Jake vai cuidar de você, e eu vou estar aqui sempre que você precisar. -- eu baixei os olhos com as palavras dela. Como eu podia ficar tão perto do Jake agora? Ela percebeu minha tristeza.

–-O que aconteceu? Você e Jake brigaram? Você estava fugindo dele não era? Não me diga que ele fez algo contra você. -- ela perguntou agitada.

–-Não! Ele... Eu o vi com Leah -- aquelas palavras pareciam doer ao serem pronunciadas.

–-Ohh meu bem! -- ela me abraçou. -- Eu não esperava por isso.

Alguns segundos depois ouvi Jake entrar pela porta da frente. Estava tão distraída com a conversa, que não tinha percebido que ele havia saído, mas ainda bem que ele não estava aqui pra ouvir toda aquela conversa. Ele bateu na porta do banheiro. Eu me cobri com mais algumas toalhas, enxuguei minhas lágrimas e acenei pra que mamãe abrisse a porta. Ele estava do outro lado com uma mochila na mão.

–-Eu trouxe algumas roupas pra você. -- ele sorria como se nada tivesse acontecendo. -- Eu coloquei o... uma coisa, peguei nas coisas da Leah... está ai na mochila.

–-Obrigada. -- foi o que eu pude responder. Mamãe fechou a porta e se virou na minha direção.

–-Nós precisamos ir pra casa. Vai ser difícil explicar pra todo mundo.

A idéia de encarar o meu pai agora, me entristeceu. Ele não ia gostar nada da idéia de me deixa sozinha com Jake nestas condições. Talvez eu tivesse até que ir pra La Push com ele. Sem ter idéia do que iria acontecer comigo de agora em diante, coloquei o tal do absorvente íntimo, me vesti, tomei coragem e fui em direção da minha casa, acompanhada pela minha mãe e por Jake.