Sunnyday escrita por Evelyn_Moraes


Capítulo 2
Capítulo 2




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Na manha seguinte, assim que abri meus olhos, pude ver uma nova mensagem, e dessa vez não tive curiosidade de olhar. Eu sabia que teria de falar a serio como Scoot. Eu nunca poderia correspondê-lo como uma garota normal, e deixá-lo se iludir não seria muito legal da minha parte. Mas romper com ele seria muito mais doloroso para mim. Ele tem sido meu único amigo fora das paredes dessa casa, além do Jake é claro. Mas diferente do Jake, Scoot não era como um irmão para mim, e ele também não me via desse jeito. Foi com ele que eu aprendi a me relacionar com outras pessoas, pessoas que não são da família ou me viram nascer.

Me levantei para um banho rápido e tratei de tirar a expressão de tristeza da minha cara.  Afinal Jake chegaria no sábado e eu teria algo pra fazer e alguém pra conversar. O dia estava ensolarado, o que era comum por aqui. Enquanto saía do banho minha mente estava ocupada em que roupa eu usaria esta manha, quando me deparei com a mamãe sentada na minha cama.

- Por acaso o Jake está vindo Ness?

- O que? O papai está monitorando meus pensamentos agora?

- Não! Eu só... – Minha mãe me olhava perplexa e eu a retribuía com curiosidade. – Eu só tive essa...sensação.

- Ele chega à noite. Disse que iria passar a semana conosco. Algum problema?

- Não! Está tudo bem. – Ela parecia estranhamente desconfortável. – Nós deveríamos preparar o Chalé para ele. – o chalé era uma pequena casa a beira mar que a Esme preparou para visitas como essa (E também para encontros românticos).

- OK – Respondi ainda meio desconfiada.

Ela concordou com um aceno de cabeça e fechou a porta atrás de si. Sequei meu cabelo vagarosamente enquanto pensava na atitude esquisita da mamãe. Descendo as escadas de piso de mogno, a qual eu sofrera uma queda feia no nosso primeiro ano em Oak Harbor pude ouvir a voz da mamãe cantarolando uma das canções do papai enquanto preparava o desjejum. A sua voz doce me inspirou e decidi que tocaria alguma coisa pra ela mais tarde. Percebi que todos já haviam saído para a escola, apesar do dia claro, mas ela continuava ali.

- Você não vai pra escola? – falei enquanto me sentava na bancada.

- Não, eu não vou. E desça daí agora mesmo mocinha!

- Qual o problema?

- Eu não quero que digam que eu criei uma meio-vampira mal educada.

- E quem diria isso, se ninguém na face da terra sabe da minha existência nessa cidade? – Resmunguei revirando meus olhos.

- Talvez os seus professores no próximo semestre.

- Você está brincando? – eu dei um salto da bancada.

- Eu falei com o seu pai... – eu não a deixei terminar a frase.

- Mãe você é a melhor mãe do mundo!

- Você vai ter que aprender a se controlar Nessie! Reações como essa causam suspeitas!

- O que? – perguntei sem entender a razão das reclamações.

- Esse salto que você deu, não é humano Ness. – Toda a euforia parecia escorrer pelo meu corpo.

- Por isso que nós vamos ficar em Forks. – ela foi interrompida novamente por meus gritinhos de alegria, mas mesmo assim prosseguiu. – Depois do seu aniversário nós ficaremos lá até o fim do ano. Seu pai já foi cuidar da nossa transferência.

- Obrigada mãe! Eu sei que pelo papai isso não aconteceria.

- Não me agradeça ainda. Você não vai numa viajem de férias Ness. Você estará lá pra aprender a se comportar na presença de humanos. E para aprender a ignorar o cheiro.– ela falava seriamente, mas sua voz ia vacilando a medida que as palavras iam saindo, como se aquilo a machucasse.

Eu baixei os meus olhos para o prato de bacon com ovos que ela pôs sobre o balcão da cozinha. Eu sempre soube que a sede seria uma coisa que eu teria que lidar quando estivesse entre humanos, mas nunca foi algo extraordinário pra mim. Eu vivi entre eles um curto período de tempo, e neste tempo nunca ocorreu nada da qual eu me arrependesse. Mas depois de tanto tempo sem uma convivência duradoura, eu não tinha certeza de como iria me sair. Isso tudo era a cara do meu pai, como um teste para saber se eu estou pronta. A mamãe sempre foi mais rigorosa com relação aos humanos, foi ela quem me proibiu de caçar regularmente e de ir à cidade. O papai acaba sempre concordando com ela, mas acabava me dando tudo que eu quero pra compensar. Isso sempre a deixa louca! Diz que ele está me mimando.

Eu me lembrei do meu segundo aniversário quando o papai me comprou um pônei, mesmo com a mamãe discordando da idéia. Primeiramente eu pensei que ele seria o jantar, mas ela era tão linda, branca com manchas acinzentadas e uma crina pintada em lilás. A mamãe ficou aborrecida, porém não me tirou o cavalo. Na primeira oportunidade que tive, tentei montá-la sozinha. Eu devo ter passado um pouco da minha euforia pra ela. Não faço idéia de como o animal recebeu e processou meus pensamentos, mas tenho certeza de aquilo o assustou, pois assim que o montei ela empinou, me fazendo levar o maior tombo que já tomei na minha vida – e a maior bronca também. Claro que eu não me machuquei, mas a mamãe conseguiu provar o ponto dela. Eu era muito jovem e mimada para ser responsável por um animal de estimação daquele porte.

- Você não vai comer?

- Sim. Eu só estava lembrando da Mrs. Violet.

- Oh! Aquele pônei foi a pior idéia que o seu pai já teve!

- Você lembra como ele ficou se desculpando durante a semana toda.

- Ele se desculpou comigo por mais de um mês querida.

- Você tem razão mãe!

- Sobre o que?

- Bem. Sobre eu ter que me preparar pra escola e tudo mais.

- Eu sei meu bem! Em La Push você sempre terá alguém pra cuidar de você e não te deixar fazer nenhuma bobagem.

- OK. Eu não farei nenhuma bobagem. Eu prometo.

Ela estava diante de mim em um milésimo de segundo. Beijou a minha testa e me abraçou apertado.

- Eu sei que posso confiar em você. – Retribui seu abraço e então voltei ao meu café.

Esme e Carlisle aproveitaram a folga que o vovô teve no hospital e foram passar o fim de semana na nossa casa no Lago Cranberry, no extremo norte da ilha.

Como os outros haviam ido para a escola, eu e a mamãe teríamos a casa só para nós até o final da tarde. Combinamos de limpar o chalé para o Jake depois do meu almoço. Ela cuidou de lavar as roupas de cama e as toalhas de banho, enquanto eu separava alguns itens de entretenimento para o nosso convidado. Engoli ansiosamente a comida, mas devagar o suficiente para a mamãe não reclamar.  Separamos alguns mantimentos e materiais de limpeza, jogamos tudo no banco traseiro do jipe do tio Emmet e rumamos para o sul. A mamãe foi boazinha e me deixou dirigir. Dirigir nunca foi uma coisa que ela fizesse por prazer como todos nós. E ela era uma ótima passageira, não ficava resmungando como o papai. A distância entre o chalé e a casa não chegava a uma milha, então a viajem foi bem rápida.

Nosso chalé era erguido em madeira sob alicerces de tijolos a poucos metros do mar. Quando as portas foram abertas eu pude sentir o cheiro de mofo misturado ao cheiro adocicado de vampiros. As paredes de madeira lustrosa estavam cobertas de fotografias nossas. A sala era ampla, mobiliada apenas com um grande sofá em L, e uma poltrona velha, mas muito confortável, além de uma grande TV na parede oposta. Ela era separada da cozinha à esquerda por uma bancada em granito preto, e a direita havia um pequeno lavabo. A escadaria nos fundos da sala dava para o segundo andar onde havia duas suítes. A principal à esquerda tinha uma linda vista do mar e estava mobiliada por uma grande cama de casal com dossel, uma cômoda e uma mesinha para dois. O segundo quarto possuía uma cama de casal mais modesta e um grande closet abarrotado de roupas de frio.

Decidimos que eu ficaria com o segundo andar e a mamãe com o primeiro. Eu subi as escadas e fui direto para o primeiro quarto, o que o Jake sempre usava quando vinha nos visitar. Abri todas as janelas e deixei a brisa que soprava do mar entrar e inundar o quarto. O cheiro da maresia parecia impreguinar em tudo. Os lençóis da cama ainda tinham o cheiro dele, um perfume amadeirado com um toque profundo de almíscar. Esse cheiro só aprofundava a saudade que eu sentia dele. Eu o amo com a qualquer um dos meus tios, ou talvez mais. Mas o que eu mais amo sobre o Jake é a forma como ele me faz sentir querida, amada. Não que os meus tios não me amem, mas só ele me faz sentir assim. E só com ele que eu tenho a sensação que posso falar qualquer coisa, sem me sentir julgada nem nada. Minha família tem sempre essa coisa entre eles, sempre se protegendo e dividindo as coisas. O Jake não se importa com nada disso, e eu sei que ele não vai acabar deixando escapar nada pro papai.

As lembranças das ultimas visitas dele me fizeram sorrir sozinha naquele quarto. Os passeios à cidade, a casa do lago, a praia, são as minhas melhores lembranças. No entanto, as visitas dele foram ficando mais raras nesse último ano, e já fazem mais de seis meses desde que ele nos visitou pela última vez. Ele diz estar tendo muito trabalho com o negócio da oficina.  As visitas do Jake sempre nos traziam muitas noticias de Charlie e do Bando. Ele que nos deixou a par do envolvimento de vovô com Sue Clearwater, que de vez em quando se tinha noticias (através de seth é claro) que ela não voltara pra casa depois de visitas ao Charlie. Seth já estava bem crescido agora e podia tomar conta da casa, ele vinha nos visitar com Jake de vez em quando. Leah saíra de casa, resolveu fazer faculdade de medicina na Filadélfia e se afastou do bando, há três anos ela não se transformara. Sam e Emily tiveram três filhos, duas meninas e um menino que acabara de nascer, eles se chamam Sarah, Eva e William Uley. Nós ainda não os conhecemos, pois não estivemos em Forks desde então. Papai nem mesmo me deixou ir ao casamento deles, Jake me contou que eles comemoraram em volta de uma fogueira a noite, que contaram as historias da tribo e cataram canções antigas. Eu queria mesmo ter estado lá.

Eu escutei os barulhos da mamãe lá em baixo e percebi quanto tempo eu havia desperdiçado abraçada aos travesseiros. Troquei os lençóis de cama tentando ser o mais rápida possível. Espanei os moveis e passei um produto pra limpeza da madeira em todos os lugares. Espalhei desodorizadores por todo o closet e parei um segundo para sentir o cheiro que emanava do quarto. Só consegui sentir o cheiro do pinho e da maresia que entrava pela janela. O meu olfato nem se compara ao do Jake, mas isso vai ter que ser o bastante.

Quando sai do quarto senti o cheiro de comida que vinha da cozinha. Ao descer as escadas percebi que a mamãe já havia limpado todo o lugar e que agora estava colocando alguma coisa no forno.

- O que você está preparando?

- Lasanha. Eu sei que ele gosta de comida italiana.

- O Jake come qualquer coisa mãe. – ela sorriu com o comentário, mas o sorriso não tocou os seus olhos.

- Ness, venha até aqui. – ela parecia preocupada, então eu não discuti e me sentei na banqueta em frente a ela – Eu tenho tido essa sensação o dia inteiro, e eu não me sentia assim desde que estava grávida. Eu senti isso pela manhã e agora foi ainda mais forte.

- Como assim? Que tipo de sensação?

- Eu me sinto...ansiosa. E tem também umas lembranças que me vêem à mente. – ela parecia cada vez mais confusa.

- Que lembranças são essas?

- Lembranças das visitas do Jake, alguns passeios que fizemos. Como no dia em que fomos andar de barco no lago.

- O que tem de errado? – essa conversa da mamãe já estava me deixando desconfiada.

- Foi só por uma segundo, mas era como se eu estivesse vendo tudo sob o seu ponto de vista. Como se você estivesse me mostrando àquelas coisas.

- É somente a sua imaginação mãe. Eu estava lá em cima, bem longe de você. E nem mesmo estava me lembrando disso. – Eu estava me lembrando do Jake e talvez isso tenha passado pela minha cabeça, mas ela não pode ler pensamentos como o papai, ainda bem. Como minha resposta não pareceu convencê-la a expressão de angustia não saiu do seu rosto.

- Eu não sei. Mas eu vou falar com o seu avô quando ele voltar do lago. É tudo muito real Ness. – Eu tentei disfarçar, mas a sua preocupação me contaminou.

- Se você vai se sentir melhor... Mas eu acho que é tudo imaginação sua mamãe. – essa foi a minha resposta, mas eu também me sentiria melhor depois que ela falasse com o vovô.

Eu já estava no primeiro patamar da escada quando ela me chamou novamente.

- Ness! Tem outra coisa... – eu esperei que ela continuasse, mas ela parecia muito desconfiada e insegura.

- Fala logo mãe!

- Quando eu tenho essas lembranças, eu sinto... eu sinto como se você estivesse apaixonada pelo Jacob. - Eu tive que sorrir dessa vez. Mesmo assim ela continuou com aquela angustia nos olhos. – Você me contaria não é? Se você se sentisse assim por ele?

Eu desci as escadas sorrindo e a abracei.

- Mãe! Você perdeu o juízo? O Jake? – Ela só podia estar ficando maluca como a tia Alice. Eu não podia estar apaixonada pelo Jake. Logo por ele?

Eu o amo, é claro, como amo aos meus tios. Não, não como eu amo meus tios, mas também não o amo como aquelas pessoas nos filmes, que namoram e se beijam. Eu não quero mais pensar sobre isso. Me virei e subi as escadas antes que ela percebesse a confusão na minha cabeça.

Quando terminei de limpar tudo e a mamãe de preparar a comida e abastecer a geladeira já era final da tarde. Fechamos o chalé e estávamos indo em direção ao carro quando a mamãe tentou entrar no assunto novamente. Mas eu realmente não queria falar sobre isso com ela. Mamãe sempre foi minha confidente e sempre ajudou com essa coisa de ser meio-humana, já que a maioria da minha família não se lembrava muito da sua vida antes de Carlisle os transformar. Mas este era um assunto que eu não queria discutir com ela.

Pensei durante todo o breve caminho sobre a conversa com a minha mãe. Ela conseguiu me deixar realmente intrigada. Agora eu consigo lembrar que eu estava mesmo lembrando daquele dia no lago. Nós passamos horas na água, eu nem mesmo quis caçar. Jake me ensinou varias cambalhotas diferentes pra pularmos do píer quando o papai e a mamãe sumiram por um momento. Algumas vezes pulávamos juntos outras competíamos pra ver que pulava mais longe, e ele sempre me deixava ganhar. Como ela poderia saber o que eu estava pensando? Espero que ela também não possa ler mentes agora. Já é o bastante ter um pai que sabe de tudo que passa pela sua cabeça. Talvez tenha alguma coisa de errado comigo.

Eu realmente não tenho me sentido eu mesma esses dias. Tenho me sentido uma estranha no meu próprio quarto, desconfortável dentro das minhas roupas e até mesmo desconfortável pela forma como as pessoas me tratam. Nem mesmo conversar com o Scoot me faz sentir melhor. Na verdade ele tem me dado mais dor de cabeça do que algum conforto. Com a chegada do Jake fico ansiosa e insegura. Mas isso não significa que eu estou apaixonada por ele. Como eu poderia? Seria como me apaixonar pelo meu irmão mais velho. Eu já assisti filmes o suficiente para saber como as pessoas ficam quando estão apaixonadas. Elas só pensam naquela pessoa e ficam bobas, escrevem poemas, suspiram e tudo mais. Eu não ajo assim, muito menos o Jake. Mas o que eu sei sobre essas coisas? Só mesmo aquilo que eu vi nos filmes. Eles são a minha única referência quanto ao comportamento dos humanos. Que, pessoalmente, pode ser meio irracional às vezes. Eles parecem ter uma certa tendência a complicar tudo. Nos romances sempre tem algo que o mocinho não fala pra mocinha e que complica tudo no final. Eu vou mesmo precisar de um curso intensivo na reserva pra entender como as coisas realmente funcionam.

O Jake é sempre tão atencioso comigo e faz tudo pra me deixar feliz, mas isso não significa que ele esteja apaixonado por mim. As pessoas que se gostam fazem isso certo? Eu não sei mais o que pensar a esse respeito. Mas eu vou poder descobrir como eu realmente me sinto ao seu respeito quando ele estiver aqui. Isso me fez ficar ainda mais ansiosa com a sua chegada.


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