Diary escrita por Elken Lue, tati_surou


Capítulo 5
Elken´s Diary - 14 e 16 de Maio de 2011


Notas iniciais do capítulo

Wow! Atualização monstra!



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14 de Maio de 2011, 12h16min

Dr. Dr. Feel Good. Come make me feel real good
Strap me down into my chair. I've been feeling real bad
Dr. Dr. Feel Good. Come make me feel real good
Strap me down into my chair. I've been feeling real bad.



- Não acredito!!!


Frustrada com a interrupção abrupta nos meus sonhos, chutei as cobertas até que caíssem da cama. Sentei-me bruscamente, soprando os cabelo que cobriam meu rosto. Junho sabia ser bem inconveniente. Já era a oitava ligação seguida que recebia. Apesar de não ter conferido no visor do celular, sabia que era ele.


- Esse homem sabe me tirar do sério! Nunca vi tão irritante como ele!


Dr. Dr. Feel Good. Come make me feel real good
Strap me down into my chair. I've been feeling real bad
Dr. Dr. Feel Good. Come make me feel real good
Strap me down into my chair. I've been feeling real bad.



Levantei da cama como um relâmpago e peguei o aparelho em mãos. Número confidencial, era ele. Não que precisasse conferir, afinal, a única pessoa que me ligava era ele. E meus pais, mas esses tem um toque diferente.


- Eu disse a você pra não madrugar na minha porta! - gritei o mais alto que minha voz rouca pôde.
- Bom dia, Bela Adormecida! Ou seria boa tarde? Eu não madruguei na sua porta, eu estou te ligando, se você ainda não se deu conta... E de qualquer maneira já passa do meio-dia, você não vai almoçar?
- Você entendeu o que eu quis dizer, Junho! Não se faça de idiota!
- Nossa que agressividade! – o miserável ousou rir de mim. Ele pensava que era brincadeira? - Por que você não toma um banho bem gelado e eu passo aí pra comermos?
- Não, obrigado. - na verdade me foi tentador. Mas o dinheiro já tinha acabado. Extrapolei em compras desnecessárias. Tenho que me conformar em passar o resto do mês comendo lámen instantâneo. - Estou sem dinheiro pra comer fora. E não quero seu dinheiro, antes que ofereça.
- E quem disse que eu ofereceria? Estava pensando em algo mais econômico. Que tal na minha casa? Posso cozinhar uma autentica refeição coreana!
- Junho, não me entenda mal, mas eu não vejo a comida coreana com bons olhos.


Não que seja algum tipo de preconceito à tradição alimentar coreana, claro que não. É só que... A maioria dos pratos coreanos são bem... Condimentados. Temperos muito fortes não são do meu agrado, principalmente quando se trata de pimenta. Pra mim, até pimenta-de-cheiro arde!


- Pela segunda vez, você não está no país errado?


Seu timbre ameno me deixou mais calma. Confesso que senti medo dele me interpretar erroneamente . Fiquei em silêncio por algum tempo. Acho que até demais.


- Tudo bem. Então eu levo algumas coxas de frango que tenho no freezer e comemos com arroz, o que você acha?
Acho ótimo!
- Em vinte minutos estarei aí. – e desligou rapidamente. Creio que temendo algum arrependimento de minha parte.


Ele conseguiu me fazer esquecer a raiva por ter me acordado cedo. A ideia de frago frito soa bem melhor que comida instantânea. Lee Junho, você está me fazendo acreditar que está interessado em mim. Por favor, que seja verdade!



13h07min



- Você demorou! Vinte minutos... Sei... - olhei-o de soslaio enquanto lhe dava passagem.
- Que drama! Eu sei que você deve estar passando fome, mas não se deve tratar assim alguém que te oferece um prato de comida.


Desgraçado, idiota, inútil, cretino! Senti tanta raiva que meu rosto esquentou. O ranger dos meus dentes era algo completamente audível.


- Se você não quer que nossa amizade pule para a fase de eu quebrar a sua cara, é melhor guardar as gracinhas! Seu maldito bastardo, ignóbil!
- Hã? Que diabos é isso?
- CALA A BOCA E ME DÁ LOGO ISSO!


Tomei o saco gelado de suas mãos e rumei a cozinha. Junho veio ao meu encalço, fechando a porta atrás de si. Percebi que ele observava meu apartamento. Aliás, da Soojin. Não gostei disso. Não sou de chegar na casa das pessoas e ficar reparando no que elas tem, ou não. Se é organizado, ou não. Odeio com todas as forças quando fazem comigo. Me sinto numa completa invasão de privacidade. Por isso não convido ninguém até aqui..

- Belo apartamento! - Sorriu enquanto fazia a volta no balcão, para ficar de frente a mim.
- Obrigado. Mas ficaria mais confortável se parasse de avaliá-lo. Não é como se você fosse comprar.


Tentei lançar-lhe um olhar intimidador, deixando claro que não gostava de atitudes invasivas como aquela. Mas não consegui me manter séria por muito tempo. Seu meio sorriso sedutor me fez esquecer o motivo daquele olhar.


Tirei os pedaços de frango, e joguei-os numa panela com aguá. Liguei o fogão e os deixei lá, para que esquentassem e derretessem um pouco o gelo. Estavam muito gelados, seria difícil assá-los daquele jeito.


Por algum milagre, Junho manteve-se calado enquanto eu organizava a cozinha. E assumo que estava tendo um certo trabalho para encontrar as coisas. Afinal, eu só a usava para Lámen instantâneo!


- Você bebe chá? Não parece do tipo que gosta de curtir uma reflexão a base de chá.
- Não frequentemente. Mas acho que tem por aqui em algum lugar. A Soojin sempre toma.


Junho acomodou-se em um dos bancos do balcão enquanto eu revirava o armário atrás dos sachês de algum “chá que eu nunca lembro o nome”. Bem, eu não tenho certeza se há algum, afinal, sempre que a via ela já estava com a xícara na mão.


- Chá a uma hora dessas? - tentei puxar conversa enquanto procurava. - Você é algum tipo de viciado, ou algo assim?
- Bem, acho que sim... Virou hábito desde que comecei a trabalhar pela noite. É muito difícil se manter acordado. Ainda mais em uma emergência. Quase impossível tirar um cochilo.
- Hum... Mas aí café seria mais eficiente, não? O que você faz? - perguntei meio sufocadamente. Estava tentando alcançar a garrafa térmica que jazia em cima da geladeira.
- Café nos deixa atentos, porém cansados. Chá nos deixa atentos, e relaxa tanto o corpo quanto a mente. E eu sou Técnico em Radiologia.


Quase deixei a garrafa cair quando finalmente consegui pegá-la. Técnico em Radiologia? Oh! Que curioso!


- Sério? Estou cursando o superior de Radiologia.


Ele me olhou desconfiado. Acho que pensou o mesmo que eu, que aquilo era muito...


- Estranho!


Concordei acenando com a cabeça enquanto verificava se o conteúdo da garrafa era mesmo chá.


- Já escolheu uma área pra atuar?
- Ainda não, estou em dúvida... Quer na xícara?
- O chá? - concordei. - Não, joga no chão e vem empurrando com um rodo.


Meus olhos se apertaram diante a piada. Não acredito que caí numa saturada como essa... Tratei de manter a calma. Eu sei que ele estava tentando me irritar, ganhando assim algumas gargalhadas as minhas custas.


Peguei um copo qualquer, ignorando completamente o comentário anterior e o servi. Ele sorria divertido pra mim, como se apenas o fato ter conseguido me pegar nessa piada já fosse o suficiente.


- Então, brincadeiras a parte, em quais áreas você está em dúvida?
Medicina Nuclear e Ressonância. - respondi enquanto preparava o arroz.
- São áreas interessantes. Mas Radioterapia é melhor remunerada. Tô pensando em fazer uma especialização. Mas ainda é muito cara pro nível técnico. Mas ando fazendo umas economias para isso.
- Acho Radioterapia muito arriscada. O nível de radiação é altíssimo. É a única área que eu não gosto. Que não faria de maneira nenhuma.
- Realmente, é bem arriscado. Mas também é a que pagar melhor. Se tomar todos os cuidados necessários não é tão apavorante assim.


Parei de picar as cenouras por um momento, largando a faça no balcão. Me sentindo completamente entendida sobre o assunto, o corrigi.


- Primeiro, não é a melhor remunerada. A melhor é a área industrial. Paga tão bem, que você poderia manter três famílias com apenas um emprego. Segundo, dois empregos numa RMN* supera e muito o salário de quem trabalha com Radioterapia. Dependendo do local, claro. E não há perigo nenhum de irradiação ou contaminação, já que RMN não é radiação ionizante e sim, puro campo magnético. E terceiro, eu não ligo para o dinheiro.


Ele fez uma falsa expressão de choque. Eu sei que sou demais! Coçou a cabeça por um momento, e enfim pareceu notar algo diferente no que eu havia dito.


- Por que não liga para o dinheiro? É a melhor parte! Carga horária reduzida, aposentaria adiantada e 40% de insalubridade. Por que você não liga?
- Porque não tenho número dele. Se tivesse, certamente já teria ligado há muito tempo!


Nos encaramos por alguns segundos antes de nos desmancharmos em gargalhadas. Ainda sorrindo, voltei minha atenção às cenouras, e joguei-as dentro da água fervente. Agora, era só esperar que o arroz e a cenoura cozinhassem e as coxas de frango esquentassem para poder assá-las.


- Até que você não é tão rabugenta quanto aparenta. - confessou enquanto me fitava de uma maneira enigmática.
- Não se engane. Só estou sendo legal pela comida, Lee Junho.
- Eu não acredito. Tenho outra conclusão sobre você.
- Como se alguém pudesse descrever uma personalidade em apenas alguns dias. - enxuguei as mãos e me dirigi a um dos bancos aos seu lado. - Só se...
- Se? - interrogou enquanto eu subia no banco.
- Se você for umprofiler!
- Profiler?
- É, como Hotch. São pessoas especializadas em montar o perfil psicológico de qualquer pessoa, especialmente mentes maníacas, em um curto período de tempo, mesmo não as conhecendo intimamente. Como em Criminal Minds.
- Que seria...? - ele me olhou curioso. Arqueando uma de suas sobrancelhas bem feitas.
- Um seriado policial que eu gosto.
- Hum...


O silêncio mostrou-se onipotente entre nós. Porém, não era algo desconfortável. Pelo menos não de minha parte. Gosto do silêncio. Não sou muito boa com as palavras e nem tenho paciência com quem o é. Prefiro apreciar o silêncio reconfortante quando se está com alguém de quem gosta ou simpatiza. Eu sou a única pessoa no mundo que tem preguiça de falar?


- Quer conhecer a Branca?
- Hã? - tornei a prestar atenção em sua face quando sua voz me tirou do meu desvaneio.
- Minha gata. Quer ir conhecê-la enquanto esperamos a comida?


Não, eu não queria. Mas ele se mostrou tão animado com isso que me fez ficar com pena de recusar. Me sentiria a pessoa mais malvada do mundo se negasse.


- Ok. Vamos conhecer a “filha” do irresponsável que não lembra das vacinas anticoncepcionais.




13h35min



eu estava nervosa! Mas não por finalmente conhecer a minha nora, e sim porque eu estava prestes a entrar no apartamento de Junho. Meus músculos faciais estavam rígidos e meus dentes trincados. Saber que estavas prestes a adentrar na zona desconhecida do inimigo estava me deixando insegura...


- Primeiro as damas!


Junho abriu a porta de seu apartamento e por alguns segundos senti como se meu coração perdesse o marcapasso. A passos lentos adentrei no recinto, que mostrou-se bastante confortável. Se não tivesse absoluta certeza que todos os apartamentos eram da mesma dimensão, juraria que o de Junho era bem maior que o da Soojin.

Acho que os poucos móveis davam essa impressão. Tipico alojamento masculino. Poucos móveis, em cores neutras e com poucos utensílios decorativos. Ainda assim, me pareceu bem confortável. Não pretendia fazer análises, mas como ele o fez no meu, tinha esse direito. Assim que Junho entrou, uma bola branca e pequena pulou de trás de uma poltrona próxima ao balcão da kitnet.


- Aí está você, Branca. - ele agachou um pouco para acariciar os pêlos da cauda que alcançava seus joelhos.


Eu apenas observava a cena, ela rodopiava e embrenhava-se entre as pernas de Junho. Não pareceu ter percebido minha presença de imediato, ou apenas me ignorou. Junho moveu-se para próximo de mim, e a gata enfim me “percebeu”.

Seus olhos felinos deram-me a impressão de ter se comprimido ao me vislumbrar. Ela passou um certo, e estranho, período de tempo me observando. Sem sequer se mexer. Estava me assustando. Normalmente não tenho medo de animais, exceto insetos. Mas Branca estava me dando a entender que era uma “filha ciumenta”. A tensão entre nossos olhares foi quebrada quando, enfim, ela esboçou alguma reação a minha presença, miando pra mim.


- Por que ela tá miando pra mim, Junho?
- Porque é uma gata. Você queria o que? Que ela latisse?


O fitei mortalmente. Aquela piada foi completamente desnecessária. Ele sabia muito bem o que eu queria dizer com aquilo.


- Você entendeu bem o que eu quis dizer, brutamontes.
- Relaxa, ela só deve estar estranhando a presença de outra pessoa além de mim na casa. Deixe que ela te cheire.
- O quê? Nem morta. Vai que ela resolve me morder, ou arranhar?


Junho sorriu pra mim. Acho que tentando me acalmar, ou passar segurança. Seu sorriso era acolhedor.


- Você deve ter o cheiro do Alemão. Deixe que ela sinta, assim vai reconhecê-la.


Aham! E ela é o que? Algum tipo de gata policial? Mas antes que eu pudesse responder ou tomar algum tipo de reação, percebi que ela estava sarrando por entre minhas pernas. Parando por alguns segundos, cheirando a pele exposta pelo short de malha. Abaixei-me e deixei que ela cheirasse minha mão, para logo depois forçar sua cabeça a mim. Como se pedisse para ser acarinhada.


- Viu?


Olhei para cima com a minha melhor expressão de desagrado na face. Levantei-me e voltei ao meu apartamento sem esperá-lo, alegando que precisava olhar a comida.




14h00min



Junho ainda não tinha voltado de seu apartamento. Eu já tinha organizado a comida simples em cima do balcão a cerca de cinco minutos atrás e o esperava. Estava prestes a comer tudo sozinha, meu estômago roncava, implorando por comida.

Peguei as tigelas e levei ao tapete na sala. Acomodei-me entre algumas almofadas gigantes jogadas no chão e fiz o que tanto meu estômago pedia. Se ele não vinha, problema dele. Eu estava com fome e sem paciência.




14h40min



Será que ele está bem? Estava demorando muito... Certo, eu estava ficando preocupada. Já havia comido o suficiente, lavei a louça suja, guardei a comida restante e ele não aparecera...

Resolvi por fim ir verificar o que tinha ocorrido. Saí do apartamento descalça e um pouco relutante. Algo me incomodava, não tinha certeza o quê. A passos lentos e silenciosos me aproximei de sua porta, me sentindo uma verdadeira investigadora. Foi então que ouvi gritos. Certamente eram de uma mulher, berrando muito! Gritava algo como “Onde você estava?”, “Por quê está fazendo isso comigo?”.

Me aproximei mas da porta, grudando o ouvido nela para poder escutar melhor a evidente discussão. Não conseguia ouvir a voz de Junho, apenas os estridentes berros femininos. A cada segundo que se passava, meu corpo se tornava mais e mais tenso. Meu inconsciente gritava “Dá o fora daí!”, mas meu corpo não obedecia. Como se eu estivesse fincada no chão como a Excalibur de Artur estava na pedra. Excalibur de Artur... Rimou!

Estava prestes a enfim sair dali antes que alguém me visse quando a porta foi aberta de supetão. Quase caí para frente com o movimento abrupto. Olhando para o chão, ainda estática ouvi a que antes berrava, soar ainda mais colérica.


- Você estava ouvindo pela porta? Quem é essa mulher, Junho?


Foi então que levantei a cabeça, juntando coragem para encará-los. Estava morrendo de vergonha! Junho ainda mantinha sua mão na maçaneta, seu peito subia e descia devido a respiração acelerada, ele estava com a expressão de mais pura ira.


- Sinto muito, eu só ia perguntar se estava tudo bem. Ouvi barulhos do meu apartamento e pensei ter sido algum acidente.


Mentira, eu não ouvira nada até resolver ir bater na porta dele, e muito menos estava sentindo arrependimento por isso. Os dois estavam alterados, com certeza não iam prestar atenção e muito menos raciocinar sobre a minha desculpa.


- Veio ver se estava tudo bem com o ouvido grudado a porta?


Foi então que finalmente prestei atenção a suas afeições. Era realmente uma mulher bonita, feminina. Maquiagem, longos cabelos negros brilhantes, perfume marcante e roupas elegantes. Seu grandes olhos contraídos e rugas surgidas pela raiva. Se aquela era algum tipo de namorada de Junho, não entendo o por que dele ter se interessado em mim. Ela me nocauteava com força sem me dar chances para defesa!


- SunYe, vá embora!


A voz grave de Junho interrompeu a nós duas. Ele continuava a segurar a porta. Agora entendi o porque dela ter sido aberta tão abruptamente. Ele estava expulsando-a.


- Eu não vou embora antes que você me dê satisfações!
- Eu não tenho que dar nada a você!
- Não pense que vai conseguir se livrar tão fácil assim de mim. Dois anos não são dois dias, duas semana ou dois meses! É muito tempo, Junho. Gastei dois anos da minha vida me dedicando a você, não vai se livrar tão fácil de mim!


Ok, era hora de ir embora dali. Me envolver em uma briga de casal era muito para minha pacata vida de preguiçosa. Não discuto, não brigo, não me envolvo. Meu lema, minha base. Lidar com pessoas é muito difícil, e quando é algo não-amigável se torna impossível. É demais para minha mente desanimada.

Aproveitei que ambos estavam entretidos em sua discussão para reparar no meu sumiço e saí dali. De volta ao meu apartamento, peguei meus ingressos promocionais e fiz a única coisa me faz sair de casa de bom grado em um sábado. Fui ao cinema.




22h54min



Baby I'm so lonely lonely lonely lonely lonely
Baby I'm so lonely lonely lonely lonely lonely
Baby I'm so lonely lonely lonely lonely lonely
Baby I'm so lonely lonely lonely lonely lonely


“Sinto muito por hoje. Não sabia que iria acontecer aquilo.”




Tanto faz. O importante é que eu comi! E garanti o jantar, já que ele não pegou a parte que lhe era de direito... Eu realmente gostaria de me incomodar com o que vi. É tão obvio que eles ainda tem algo, ou tiveram a pouco tempo. Se ainda tem, devia estar furiosa por ele ser um mau-caráter. E se tiveram a pouco, deveria estar furiosa por ele querer me usar para esquecê-la. Mas não estou. Não entendo bem, na verdade não entendo nada. Só não estou com raiva, triste ou sequer magoada. Oh my God, eu sou tão fria!



*RMN: Ressonância Magnética Nuclear






16 de Maio de 2011, 9h00min



Dr. Dr. Feel Good. Come make me feel real good
Strap me down into my chair. I've been feeling real bad
Dr. Dr. Feel Good. Come make me feel real good
Strap me down into my chair. I've been feeling real bad.


Isso de ficar me acordando já está ficando chato... O que ele pensa que é? Algum tipo de despertador? Peguei o celular em mãos, pronta para lhe mandar para um lugar desagradável quando percebi que era realmente o despertador. Eu havia colocado a música de toque como despertador por que sabia que assim que tocasse pela manhã a primeira coisa que me viria a cabeça seria “Junho está me ligando!”. Eu sei, sou um gênio! Se fosse qualquer outra coisa eu apenas ignoraria...

Depois de um domingo normal, em casa dia e noite, resolvi tomar alguma iniciativa quanto a minha aparência. E essa decisão não tem nada haver com eu não querer me sentir intimidada pela presença invejável da tal SunYe, nada disso! Eu apenas cansei de pensar sobre como eu deveria ser, e finalmente fazer algo para mudar o que realmente sou. Medo de balança, nunca mais!

O bom de morar em Seul é que aqui o clima raramente é quente. O que faz com que eu não precise acordar cedíssimo para aproveitar os benefícios de uma caminhada matinal. Se fosse em Itamaracá, eu teria que levantar as cinco da manhã! Essa é uma coisa que eu realmente gosto na Coréia. É como se eu vivesse em quatro países num ano só. Dá pra ir à praia, ver as folhas todas caindo, mudando de cores e colorindo tudo, e também dá pra ver o milagre da vida aparecer de novo onde tudo parecia estar morto. Diferente do Brasil, que pelo menos onde eu morava, só existiam dois climas. A temporada de sol e calor e a de chuva e mormaço!

Com sete horas de sol por dia, sem chuvas, e uma temperatura de cerca 15°, levantei mais energética da minha cama quente e aconchegante. Estava disposta, não sei como. Apenas aproveitei-me disso. Tomara que essa disposição dure!



9h53min



Não consigo evitar. Pensar naquela discussão ontem é algo que é inevitável. Necessito entender aquilo, interpretar, descobrir. Minha imaginação é boa demais para se conformar com um “são um casal, e estavam brigando”. Apesar da recente revitalização do Rio Cheonggyecheon, eu não conseguia distrair a minha mente com nada. Nem mesmo a incrível mudança do local, sem viaduto e sem trânsito. Por um momento, fiquei exuberante diante de tamanha mudança. O que é ótimo, já que o parque que eu pretendia ir era um pouco mais longe, e o espaço para caminhada é bem menor. Até aqui, posso até vir andando, como um aquecimento.


- Elken?


Wow! Estou imaginando coisas? Por um minuto pude jurar que ouvi alguma voz conhecida chamar meu nome. Não era Junho, tenho certeza. Eu reconheceria sua voz mesmo em sussurro, e não era ele.

Olhei para trás afim de me certificar. Não sei se aquele dia em especial as pessoas resolveram verificar a mudança de Cheonggyecheon, ou estava tendo algum tipo de evento inaugurativo. Acabei por desistir da segunda opção, já que era uma segunda-feira, provavelmente a inauguração foi ontem.


- Elken!


Dessa vez consegui identificar a direção do chamado, ao meu lado direito. Assim que olhei para cima me deparei com o rosto que eu jamais imaginaria encontrar em qualquer lugar que fosse. Seu sorriso charmoso e encantador fez com que eu paralisasse por longos momentos. Como aquele homem conseguia fazer isso? Digo, como ele conseguia fazer com que esquecessem que ele não passa de um cafajeste, safado e mau-caráter?


- Bom dia, Professor Kim!


Ual, como ele estava lindo! Mesmo que esportivo com uma calça nylon branca, uma camiseta igualmente branca sob um agasalho azul escuro com alguns detalhes em branco. Eu não tinha intenção de esperá-lo descer as escadas da calçada suspensa e vir até mim, mas não conseguia me mexer. Estava tremendo de nervosismo.


- Bom dia!
- Não sabia que o Senhor costumava fazer exercícios. Não imaginei que tivesse tempo para isso. - sorri amigavelmente.


Tentei manter uma breve conversa cordial, sem dar chances que se prolongasse. Muito menos me tensionei a iniciar uma caminhada. A última coisa que eu queria no momento era a companhia do homem que me fez sonhar perversões numa sala de anatomia humana. Além do mais, precisava me concentrar em minhas teorias “Junho X SunYe”, e com certeza não seria o que minha mente produziria.


- Não precisa me chamar tão formalmente. Só Kim Bum está ótimo.


Seus gestos, seu tom de voz e suas expressões eram tão graciosas e ao mesmo tempo viris que sequer prestei atenção no continuar da frase. Sempre senti uma atração anormal por ele. Não por sua beleza angelical, ou por seu poder e influência. Era algo mais... Era uma admiração por sua inteligência, por sua personalidade forte e dominante. Ele é como eu gosto de me ver no futuro. Independente, imponente, influente e livre. Bem, nesse último ele não é. Mas age como se fosse, e acredito que ele se sinta assim mesmo não sendo a realidade. Dos três tipos de pessoas existentes, ele é o tipo que mais almejo ser. Aqueles que com apenas um toque, conseguem tudo que querem.


- Desculpe, não me sinto confortável com tamanha intimidade. - expliquei sentindo o rosto enrubescer. - Afinal, é meu professor! Seria estranho manter esse tipo tratamento. As pessoas poderiam imaginar coisas...
- Coisas? - por um segundo, imaginei ter visto malícia em seu olhar. - Tem medo que as pessoas pensem que estamos tendo algum tipo de envolvimento apenas por me chamar de maneira informal?
- Não. Eu temo que as pessoas pensem que o Senhor possa estar me favorecendo por permitir-me chamá-lo de maneira informal.
- Favoritismo que poderia ser deduzido por algum tipo de envolvimento?


Qual era a dele com essa insistência em “ algum tipo de envolvimento”?


- Bem, não seria algo excepcional de se deduzir...


Ui, falei demais! Sinto que serei altamente prejudicada em minhas futuras avaliações de anatomia humana por conta da minha língua solta! Imediatamente baixei a cabeça, envergonhada pelo que disse e apenas me inclinei a continuar a minha caminhada. Queria sumir de sua presença antes que ele me condenasse à morte.


- Posso lhe fazer companhia?


Pela segunda vez, paralisei. Bem, eu pensei que ele estaria furioso por minhas palavras. Mas ao invés de me odiar, se oferece a me acompanhar? Hã?


- Er... Hum.. - não conseguia raciocinar alguma resposta plausível. Meus neurônios pareciam estar entrando em colapso tamanha a adrenalina liberada no meu corpo.
- Se for um incomodo, não tem problema.


Sorriu e acenou em despedida. Na verdade, eu queria muito que ele me fizesse companhia. De inicio preferia que fossemos a lados opostos, mas ao vê-lo partir senti a necessidade de sua companhia. Antes que se distanciasse muito eu o chamei de volta.


- Não é um incomodo! - falei alto o suficiente para que apenas ele ouvisse. Não estávamos muito longe um do outro. Cerca de dois metros apenas.


Ele virou-se novamente para mim, sorrindo maliciosamente. Dessa vez não havia dúvidas quanto a isso. Ele não escondeu sua intenção.


- Que bom! Estava começando a lamentar não ter tido a chance de conhecê-la melhor.


Que andar mais felino! Nossa, era tudo tão obvio e tão excitante ao mesmo tempo. Se o Professor mais adúltero de todos os tempos estava querendo caçar, eu não seria uma presa fácil. Acho que as coisas iriam começar a ficar mais sexualmente animadas na minha vida. Nada como uma iniciação com um homem que sabia tudo sobre o corpo humano. Nunca fui muito romântica em relação a sexualidade, apenas não apareceram homens interessantes na minha vida. Que me fizessem desejá-los ardentemente. Machos alfas! Pelo menos, não até hoje...




12h12min



Cansada, suada, fedendo e feliz! Foi dessa maneira que o porteiro me viu chegar. A felicidade era tão evidente, já que eu não conseguia esconder o sorriso, que ganhei meu primeiro “Bom Dia” dele desde que vim morar no prédio. O respondi tão calorosamente que o mesmo chegou a me perguntar se eu estava me sentindo bem.

Se eu estava me sentindo bem? Eu estava nas nuvens! Finalmente! Finalmente um homem que eu desejo me mostrou reciprocidade! Ah, como eu adoro essa sensação! Tão diferente do que eu sinto na presença de Junho. Com ele eu me sinto feliz, confortável, segura... Mas com Kim Bum, eu me sinto luxuriosa, excitada! E eu adoro isso!


- Ual! Que sorriso mais descarado!


Pensando nele... Encontrei-o assim que as portas do elevador se abriram. Estava tão feliz que senti uma imensa vontade de abraçá-lo! Só não o fiz porque tinha consciência do meu odor. Não era dos melhores.


- Olá! Como você está vizinho que me alimenta, que me faz sorrir e que me paquera mesmo tendo namorada!


A minha intenção não era ser sarcástica ou de condená-lo. Apenas falei o que me veio a mente. Foi espontâneo mas sem maldade. Mas acho que ele não percebeu isso. Me puxou pelo cotovelo para dentro do elevador e esperou que as portas se fechassem novamente para começar a falar.


- Sinto muito por aquilo. Eu não tinha ideia que ela resolveria aparecer sem avisar. Eu nem sabia que ela tinha meu endereço...
- Não precisa se desculpar, Junho. Eu sei como são essas ex-namoradas neuróticas que não conseguem seguir em frente depois do fim. - lhe mostrei um sorriso sincero. Eu não estava com raiva nem nada do gênero. Foi realmente algo inocente e espontâneo. - Não falei por mal, foi só algo que saiu! Não fique grilado com isso!
- Grilado?
- Sim. Não fique preocupado! - ele pareceu relaxar ao ver que eu estava falando a verdade quando disse que não falei por mal. - Então, tá indo pra onde?
- Hum... Você parece bem animada! Me perguntando onde eu vou, sorrindo sem motivo aparente, “ bem animadinha”...
- Estou feliz, posso? Agradeça por presenciar essa cena. Com certeza nunca mais a verá novamente. É como a Síndrome de Proteus, extremamente rara de se ver!
- Síndrome de Proteus?
- Sim, Joseph Merrick. Já ouviu falar?
- O Homem-Elefante?
- Esse mesmo! 100 casos noticiados até hoje em todo o mundo. Como eu disse, muito raro de se ver.


Nós gargalhamos juntos. Nossa, como eu estava extrapolando alegria! Quem é você? Por quê me possuiu espirito da alegria? Saia desse corpo que não te pertence!


- Então, o que te deixou tão feliz assim? - ele perguntou assim que saímos do elevador e conseguimos controlar nossas gargalhadas.
- Te ilude que eu vou dizer! É particular, então desista.


Resolvi mudar de assunto antes que ele insistisse. Contar ao marido que arrumei um amante seria suicídio. Se bem que... Junho não era meu marido. E Kim Bum não era meu amante... Ainda...


- E a Top Model descontrolada? O que você fez para fazê-la transformar-se em Monga?
- O que é Monga? Conversar com você é muito trabalhoso! Muitas palavras que eu desconheço.
- Eu sou brasileira, Junho. É obvio que não vamos nos entender sempre, se conforme! E Monga é a personagem de uma lenda. Uma mulher muito bonita que se transformava em uma macaca quando ficava furiosa. Assim como o Bruce se transforma em Hulk.
- Deve ser uma lenda brasileira. Nunca ouvi falar disso em canto nenhum...
- Na verdade é uma estória de parques de diversões para assustar pessoas. Uma mulher bonita, de biquíni, fica presa dentro de uma jaula enquanto um narrador explicava a tenebrosa transformação pela qual ela passaria. Pêlos cresciam, garras apareciam e dentes viravam presas. No clímax da metamorfose, o monstro destruía grades e atacava o público, que fugia apavorado. Tudo show de ilusão, mas que dá um certo medo nas pessoas mais facilmente iludidas.
- As pessoas no seu país são bem criativas, não?
- Nem sempre. Se usassem a criatividade para coisas boas seria ótimo. Mas a maioria é egoísta demais pra isso. Mas enfim, eu nunca vi um espetáculo da Monga, aquele foi o primeiro! É realmente assustador! - brinquei.



Assim que destranquei a fechadura, percebi que Junho se afastava. Olhei-o de maneira interrogativa, afinal, estávamos conversando e eu não tinha dado a entender que queria o fim daquele bate-papo. Estava prestes a convidá-lo para entrar quando ele se explicou.


- Preciso ir comprar ração para Branca. Vai almoçar lá no Yan Ping hoje?
- Não. Esqueceu que estou falida? Comer fora só no próximo mês!
- Quer ir almoçar comigo? - arqueei minha sobrancelha direita ao ouvir o convite. Não estava em posição de recusar e nem mesmo o queria.
- Vai pagar?
- Claro, se estou convidando! - colocou uma das mãos na cintura e a outra gesticulou de maneira obvia. - Me ofende ao pensar que deixaria uma mulher pagar o que não pode.


Aquela foi venenosa! Entendi bem o que ele quis dizer. O miserável estava judiando da minha atual condição financeira!


- Desista, Junho. Nem mesmo suas provocações ardilosas vão acabar com meu bom humor.


Dando-se por vencido, ele se foi. Entrei e caminhei direto para o banheiro. Precisava urgente de um banho. Apesar de não estar fazendo sol forte e muito menos calor, o percurso foi longo e bastante cansativo. Ao total o Rio Cheonggyecheon tinha quatrocentos hectares, mas de onde iniciamos ao final, acredito que foram cerca de trezentos, mais ou menos três quilômetros! Sem contar a volta. Ainda sim, muita coisa para um primeiro dia. Em via devido a minha falta de costume, em outra por manter uma conversa animada e cheia de segundas intenções com o sagaz amante, Kim Bum.


- Soojin?


Ouvi um barulho vindo da sala. Passei tão rápido até meu quarto, quase correndo, e nem reparei se havia alguém em casa. Procurava alguma toalha seca quando ouvi os ruídos de algo caindo no chão.


- Oi?
- Ah! - me senti mais aliviada vendo que era ela mesmo. Tive medo de ter deixado a porta aberta em meio a minha euforia e alguém ter entrado. - Pensei que fosse algum estranho, não estou acostumada a te ver em casa.
- Já estou saindo pra almoçar na faculdade. Você vai ficar por aqui?
- Não, vou tomar um banho rápido e vou sair para almoçar com o vizinho. Você vai chegar muito tarde hoje?
- O doido com a gata grávida? Não, minha aula termina às sete e meia... Acho que aí pelas oito eu estou em casa.
- Ele mesmo. - confirmei sorrindo. Acho que ela se assustou com isso. Digo, isso de me ver sorrindo. - Hum, certo. Quero falar uma coisa com você. Sobre esse mesmo doido da gata grávida.
- Sério? Você vai me deixar curiosa! Mas ok, de noite a gente se fala.
- Certo. Eu chego lá pelas onze! Fica acordada!!! - gritei a última parte enquanto corria para o banheiro com a toalha em ombros.




13h07min



Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Que algum dia, um dos meus sonhos de consumo fosse se tornar realidade. Eu sei bem que o que Kim Bum quer comigo é apenas sexo. Mas é o que eu também quero dele. Apenas isso. Ele não precisa ser perfeito, só precisa ser meu. Posso não ser experiente, mas também não sou cega. Pode não trazer felicidade, afinal se trouxe não existiria puta triste, mas é como uma necessidade. Uma fome, que não importa o que faça, sempre vai me corroer até se consumida, saciada. Meus anos de castidade estavam para chegar ao fim. Estava mais que na hora de conhecer os prazeres da vida adulta. Apesar de nem na Coréia do Sul, e nem no Brasil, eu possa ser considerada legalmente adulta. Já estava com dezenove anos, idade suficiente ao meu ver.

Vestia minhas peças intimas quando ouvi a campainha da porta. Devia ser Junho, prestes a reclamar da minha demora assim que eu abrisse a porta. Enrolei-me na toalha e resolvi atendê-lo assim mesmo. As roupas que tinha escolhido demorariam um pouco para serem vestidas. E ainda precisava me pentear. Deixá-lo esperando em frente a porta seria uma tamanha falta de educação! Se bem que atendê-lo daquela maneira também não é educado. Mas estava tentando seduzi-lo, conquistá-lo. Deixá-lo louco por mim. Então um pouco de provocação não faria mal a meus planos malignos...


- Pensei que tinha...


Sua frase morreu quando percebeu como eu estava trajada. Seus olhos percorria meu decote de maneira descarada. Indaguei-me por um momento se ele estava consciente de sua atual situação abasbacada. Acredito que não!


- Entra logo! Preciso terminar de me trocar. Feche a porta, por favor. Pode ficar a vontade!


Corri de volta ao quarto. Precisava me apressar, meu estômago roncava muito diante a expectativa de boa comida. E de graça! Isso de ficar esfomeada tinha se tornando comum ultimamente... Vesti minha meia-calça preta e bordada em flores com cuidado para não rasgá-la. Seu tecido era muito frágil e eu gostava muito dela para arriscar danificá-la. Após a cerimonia de conservação procurei acelerar meu ritmo. Coloquei a saia de veludo preto que pouco cobria minhas coxas, e logo após, a blusa branca de mangas compridas. A a lã da blusa me mantinha aquecida o suficiente para sair. A temperatura continuava amena, não seria desagradável sair de saia.


Escovei rapidamente meus cabelos, arrancando alguns fios no processo, e os prendi em um coque frouxo. Não me preocupei em usar maquiagem. Junho nunca me vira maquiada antes, não faria diferença. Pelo menos não para pior.


- Hum! Estou gostando do que vejo! - insinuou levantando-se do sofá. Alemão, que estava seu colo, veio até mim antes mesmo dele levantar.
- Oh, meu bebê! Esqueci da sua comida, não foi amor? - me agachei para acariciar seus pêlos volumosos. - Mamãe é tão malvada! Vem, bebê...


Junho observava toda a cena em silêncio, com seus braços fortes cruzados defronte o tórax. Seu olhar questionador me deixa ainda mais excitada. Nem mesmo um banho gelado conseguiu me acalmar. Ainda estou pegando fogo!


- Mamãe, que tal você se apressar antes que eu desista e vá sozinho?
- Calma, papai! Você sabe muito bem que os filhos sempre estão em primeiro lugar...


Sorri de maneira marota, me certificando que ele visse. Eu queria arriscar, estava disposta a isso! Flertar de maneira saudável não faz mal a ninguém. E dessa maneira, se ele me der um fora, eu posso me defender usando a desculpa de ser “apenas brincadeira”.


Sem muita pressa, fui até a geladeira pegar o sachê de carne preparada para gatos. Esqueci de comprar ração, e não tinha mais dinheiro pra isso. Alemão iria ter que entrar no regime de escassez. Dois saches por dia. Era tudo que tinha.




14h00min



Não me enganei em relação ao clima, mas me esquecera de um detalhe chamado: ar-condicionado. Como essas pessoas aguentavam trabalhar num frio daqueles? Deveria estar cerca de 5°! Me arrepiei assim que sentei na cadeira com detalhes metálicos. Apesar da predominância de matéria-prima ser a madeira, as partes metálicas eram suficientes para me fazer ter a sensação de estar sentando em um bloco de gelo!

- Você tá tremendo?
- Não, estou no modo vibratório pra não fazer barulho! Claro que eu estou tremendo! Que ser humano que aguenta um frio desses sem tremer?
Bem, eu... Os garções, o shushi man...


Eu estava pronta para respondê-lo grosseiramente quando percebi a palavra sushi man. Foi como se eu estivesse num campo florido e fresco! Há dias não comia sushis! Estava sem dinheiro para tanto. Sempre optava por pratos do cardápio por serem mais baratos. Poucas vezes me dava ao luxo de comer sushis!


- Sushi man? Onde? - virei meu pescoço em todas as direção até avistar o homem em um kimono completamente branco, com uma faixa representando a bandeira do Japão presa a sua testa. - Junho...


Implorei de modo denguoso. Ele entendeu o que eu queria, mas parecia estar fazendo-se se dificil quanto a isso. Se negava a atender meu pedido. E isso sim, começava a tirar meu bom-humor.


- Você gosta de me ver alegre e espontanea assim?
- Gosto... - respondeu meio desconfiado de minhas intenções.
- Então... Se não quiser que eu fique de mau-humor e te esgane, trate de chamar aquele shushi man e peça um rodízio! - completei a frase de maneira firme, com a voz estrangulada.
- Isso é uma ameaça, Elken Lue?
- Parece que entendeu bem, Lee Junho.


As pessoas que nos rodeavam começaram a olhar em nossas direções, acho que por conta do clima tenso que se formou. Nós encarava-mos firmemente. Nenhum dos dois ousava sequer piscar os olhos. Travava-mos uma batalha silênciosa. O prêmio certamente seria o direito de escolha à comida.


- Tá, você ganhou. - desisti depois de poucos segundos. Estava morrendo de fome e ele parecia disposto a levar aquilo a sério. - Me conformo em comer o que você quiser, sendo comida está ótimo pra mim...


Ele sorriu vitorioso. Se gabando de sua vitória pouco merecida. Afinal, eu era a garota que ele estava tentando conquistar, eu devia escolher!


- Sushi man! - chamou pelo homem de meia-idade. - Aposto dez mil won que você não aguenta nem quize. - me desafiou enquanto o homem se aproximava da nossa mesa.
- Boa noite, jovens. - mostrou reverencia em respeito a seus clientes.
- Boa noite. - respondemos em unissono. - O Senhor poderia nos preparar um rodízio, por favor? - completou.


O Senhor se dirigiu até sua bancada móvel, cheia de iguarias para o preparo das bolotas recheadas de origem chinesa. Tigelas com arroz, salmão, morangos e kiwis fatiados mais algumas outras frutas não identificáveis, camarões e alguns molhos que desconheço o nome.


- A aposta ainda está de pé? - provoquei-o. Topava qualquer coisa que envolvesse dinheiro! Bem, nem todas...
- E ainda complemento! - pegou sua carteira do bolso e colocou dois montes de dinheiro com valores diferentes sobre a mesa. - Aposto dez mil que você não aguenta quinze. E mais dez mil como você não chega aos vinte sushis.


Hum... Aquilo ficou interessante. Além de comer algo que eu gosto, ainda vou ganhar dinheiro por isso? Tudo bem que eu realmente não consigo comer muitos, mas por dinheiro eu empurro tudo goela abaixo! Essas bolinhas de arroz enganam! Por serem pequenas nos dão a entender que conseguimos comer várias, mas na realidade, se eu conseguir mais de dez já é muito!


- Então, qual a sua estória? - eu o olhei atentamente. Não tinha certeza se devia contar coisas pessoais a ele... - Você está inclinando a cabeça! Tá parecendo aqueles cachorrinhos que não entendem o que o dono fala!
- Está me comparando a uma cachorra, Lee Junho? - não estava irritada. Meu espirito alegre ainda não tinha sumido, apenas diminuido.
- Não no sentido ofencivo! - ele defendeu-se sorrindo. E que sorriso!
- Bem, meu pai é filho de alemãos, mas nasceu e cresceu no Brasil. Minha mãe é coreana. Se conheceram em Busan, numa conferencia sobre administração pública e se apaixonaram. - dei por concluída minha estória deixando-o perceber através do meu silêncio a seguir.


Ele pareceu estar esperando que eu continuasse. Quando percebeu que eu não o faria, resumiu-se a uma palavra:


- Só?
- É. Você pediu a minha estória. Foi assim que eu "surgi". - ele soltou um resmungo de inconformação. - Ok, eu conto a minha se você contar a sua com a "Monga".
- Feito.
- Continuando, minha avó materna ficou muito doente a dois anos atrás. Minha mãe resolveu vir pra Coréia cuidar dela, já que eu não passei no vestibular por duas vezes e meu pai estava aposentado. - o sushi man começou a nos servir enquanto eu narrava como cheguei a Seul. - Meu pai concordou sem problemas, ele nunca gostou muito do Brasil. Ele é muito rígido quando aos bons costumes e o Brasil... Bem, digamos que não está numa fase muito boa para a estrutura familiar...


Fiz uma pequena pausa para me servir. Estava enlouquecendo de fome. Precisava sentir algo no meu estômago antes que ele próprio pulasse fora do meu abdomen atrás de alimento.


- Eu não estava feliz no Brasil, então não foi dificil me convencer a vir. Tudo que eu queria era mudar de ares...
- Mas você não está morando com eles. Não estão em Seul?
- Não. Estão em Busan, na casa da minha avó. Eu vim pra Seul afim de uma boa instituição de ensino superior. Não quis tentar Universidade por que se no Brasil eu não passei, aqui muito menos! E também seria bem mais burocracia, não tenho paciencia pra isso. - pausei novamente para me servir. Esperei um pouco mais afim de que ele me fizesse alguma pergunta, mas não o fez. - Em novembro, quando ficou confirmada a minha admissão na Faculdade eu vim morar com minha prima, Minah. Estudamos na mesma classe também.
- Combinaram o curso? - ele arqueou uma das sombrancelhas.
- Não. Eu escolhi Radiologia assim que terminei o ensino médio. Ela escolheu por que não queria ficar sozinha. - Porque é burra e queria alguem de quem colar na hora da prova! - Mas em Fevereiro eu me mudei para o apartamento da Soojin. Não aguentei o estilo de vida agitado da minha prima, não combina comigo. Principalmente fingir gostar de coisas que eu não gosto... E estou lá até hoje. Fim.
- Pensei que seria algo mais... Emocionante!
- Oh! Queria que eu fosse filha de espiões internacionais e estive aqui sob disfarce pra te investigar?
- Você descobriu meu segredo! Por favor, não me entregue pra eles! Não quero morrer! - Junho encenava uma cena de choro muito mal interpretada. O Senhor dos sushis sorria sempre que olhava para nós.
- E a sua?


Ele exitou por um momento. Acho que não queria falar sobre o assunto. Mas pouco me importa se ele quer ou não. Eu quero, e isso já basta.


- Dois anos? Não é muito tempo... - incentivei-o a começar.
- Dois anos que estamos juntos. Eu e a SunYe nos conhecemos desde o colegial em Ilsan, mas nunca fomos próximos. - Ilsan? Não faço a mínima idéia de onde é isso... - Um ano depois da formatura, nos encontramos em Seul, no curso técnico. Ficamos mais próximos por sermos os únicos de Ilsan mas não chegamos a nos envolver.
- E esses dois anos começaram quando...?
- Quando tivemos nossos estágios curriculares. Eramos só nos dois estagiando no plantão de final de semana e acabou acontecendo.
- Do jeito que você fala, é como se não fizesse diferença se aconteceria ou não.
- E não faz. Fazia, no caso. Eu só deixei as coisas irem acontecendo, nunca senti nenhum sentimento além da atração física pela SunYe.
- Que safado! - tratei de sorrir para que ele não entendesse mal meu comentário.
- Eu literalmente a enrrolei por meses, até não aguentar mais a pressão. A cobrança... - ele ficou sério. Senti que estava sendo sincero. - Ela é muito ciumenta e neurótica. A ponto de invadir a minha privacidade, de maneira que eu realmente me irritasse e desse um fim a tudo...
- E o resto eu já sei, você se mudou mas ela descobriu e agora está atrás de você de novo. Essa parte deu pra entender no sabádo.
- É...


A conversa o deixou visivelmente desanimado. Apesar de dizer que não possui algum sentimento mais forte pela Monga, eu acredito que ele se sente mal por ter deixado as coisas chegarem ao ponto que estão. É, Junho. Você devia ter dado um fim nisso antes de ter começado a ficar sério. Pelo menos pra ela... Tratei de mudar o rumo da conversa. Chega de remoer o passado!


- Quantos anos você tem? Ainda não te perguntei isso.
- Vinte e um. Aposto que você ainda está na adolescencia...
- Hum, verdade. Tenho dezenove. Problema com isso?


Ele entendeu a minha indireta. Olhou-me nos olhos e manteu o cantato visual por alguns mínimos segundos.


- Não... Problema nenhum...





17h42min




Bom, pelo menos eu tentei. Dessa vez meu pai não pode jogar a culpa em mim, afinal, passeatas é algo que eu não posso inventar. Sempre passam em algum jornal ou noticiário! Depois da aposentadoria é a única coisa que ele faz o dia todo, assistir a noticiários. Além de se embebedar nos domingos. Tanto noticiários coreanos quanto brasileiros através da TV a cabo. Eu queria ter ido ao Conselho Regional de Técnicos e Tecnólogos em Radiologia hoje. Ao contrário do que ele pensa, eu quero trabalhar. Só não tenho vocação pra ficar correndo atrás de emprego. Não sei por que... Ok, eu sei porque. A culpa é dele!

O trânsito um inferno. Passei quase vinte e cinco minutos num ponto só. Sem o coletivo andar um centímetro. Adoraria saber o motivo dessa maldita passeata, mas felizmente o motorista resolveu dar meia volta assim que pôde. Não estava mais aguentando ficar sentada naquela cadeira dura e desconfortável, com um homem discursando sua religião logo atrás de mim.

Não tenho nada contra. Só não é meu caminho. Eu e Deus temos uma relação melhor quando somos apenas nós. Não preciso de testemunhas para encontrá-lo. E muito menos de alguém que acredita que tudo sabe, ou pelo menos alguma coisa. É como Robert Oxton Bolt uma vez escreveu, "Uma crença não é meramente uma ideia que a mente possui, é uma ideia que possui a mente." Prefiro a Sócrates quando ele diz: ‘Só sei que nada sei. ’ E não tenha nada contra em não continuar sabendo. Tudo tem seu tempo, e eu não sou curiosa. Estou bem assim. Procurar motivos pra explicar seu bem-estar é o mesmo que cavar a cova da sua felicidade. A partir do momento que se precisam motivos para viver bem consigo mesmo, nada é como antes...

Devido ao caminho alternativo do ônibus, consegui descer quase na portaria da Faculdade. Não que estivesse animada para as aulas de física com Gameiro. Eu só estava com preguiça demais para andar do ponto de ônibus até a Faculdade. Começava a sentir os efeitos da caminhada exagerada... Aproveitei que consegui ganhar dez mil won na aposta com o Junho e parei para comprar a salada de frutas do Senhor Hwang. Eu nem gostava muito da salada. Meu vício mesmo era a granola, além do farelo de biscoito e amendoim, que ele disponibilizava para nós completarmos a nosso gosto. Quando misturava os três, eu nem sentia o gosto das frutas!

Estava distraída, me servindo dos complementos quando senti uma mão tocar minhas costas levemente por cima da grossa blusa de lã preta. A temperatura baixara muito e também tinha o ar-condicionado da sala, que me fazia sentir como num freezer. Lã era o único tecido quente que me deixava confortável. Virei-me espontânea para ver quem me tocou, quando avistei o Professor Kim Bum sorrindo para mim. Virei-me para frente instantaneamente para continuar o que fazia, como se aquilo nem tivesse acontecido. Torcendo para que ninguém não tivesse visto ou percebido algo.

Entrei no prédio indo diretamente às escadas, como de costume, quando o percebi nelas conversando com um aluno desconhecido. Tentei mudar disfarçadamente meu percurso e fui até o elevador, que não tinha fila, já que ainda era cedo. Apertei insistentemente o botão de fechar, para não correr o risco de que ele entrasse no cubículo também. A porta quase se fechava por completo quando uma mão interrompeu que se trancasse. Meu músculos enrijeceram e fiquei petrificada. Mas ao perceber que não se tratava dele, relaxei, e o que foi mais estranho, fiquei decepcionada. Por outro lado, eu queria que tivesse sido ele...

- Vai subir?


Fui tirada do meu mundo de desilusão pela pergunta idiota do rapaz a minha frente.


- Nada... A sala vai descer pra me pegar.


Ele me olhou de maneira desgostosa e entrou resmungando um “mau educada”. Foda-se. Pergunta idiota, tolerância zero.





18h10min




- Elzinha!!! - Minah correu até mim. Sentou na cadeira ao meu lado e me olhou radiante, como sempre.
- Oi! Como foi o final de semana? - perguntei tentando parecer interessada. Tentando... Porque eu não estava nem um pouco...
- Ah, divertido como sempre.


“Ah, divertido como sempre!” Imitei-a mentalmente com a voz infantil que ela adorava fazer. Essa conversa mecânica me irritava. Preferia não ter que me esforça para manter uma boa relação com ela. Entre raposas, você finge ser uma.


- E você, mocinha? Ficou em casa, de novo?
- Óbvio! Cada um faz o que gosta, Minah. Eu gosto de ficar em casa.
- Tudo bem, então! Se você diz que gosta...


Ela deu-se por vencida, mesmo deixando claramente que não acreditava no que eu dizia. Pra ela, não ser popular, não ter namorado, ou não ter vida social ativa, era o mesmo de não ter nada. Um dos motivos de eu ter procurado outro lugar para morar. Eu e Minah não temos ritmos semelhantes. Personalidades coerentes. Somos diferentes demais para conviver em um mesmo ambiente.


Ficamos em silêncio por longos momentos. Eu não gostava de conversar com ela. Com nenhuma das minhas colegas de classe. Eu não tinha experiencias semelhantes para compartilhar, tão pouco o faria se tivesse. O silêncio foi quebrado assim que as outras meninas do Clã Popular chegaram. E iniciou-se a minha tortura... A vida é estranha. Você sempre vai estar rodeados de estranhos. Alguns desses estranhos vão se tornar seus amigos. Talvez mais que amigos. E depois alguns voltam a se tornar estranhos, de uma forma que nem dá pra imaginar.


- Boa noite, meus amores!


A voz do Professor não fez efeito algum diante a barulheira na sala de aula. Ninguém se importava com a presença de Gameiro na sala. Ninguém o respeitava. Era algo deprimente de se ver... Me sentia numa sala do ensino fundamental.





23h05min




Cheguei em casa enjoada. A primeira coisa que fiz ao entrar no apartamento foi correr para o banheiro. Sentia como se a qualquer momento vomitaria. Aquela náusea desconfortável estava prestes a explodir! Depois de alguns minutos esperando que algo saísse, dei-me por convencida e voltei a sala para trancar a porta.

Encontrei Soojin deitada no sofá, com o laptop sobre seu abdômen. Estava vestida com roupa de dormir, mas acredito que não estava me esperando. Parecia concentrada na leitura de alguma coisa. Talvez algum livro... Ela tinha uma estante cheia deles.

- Lendo algo interessante? - perguntei enquanto me certificava de trancar a porta corretamente.
- Ahn... Não muito. Um artigo sobre literatura infantil, pra Faculdade.
- Hum... - sentei em meio as almofadas gigantes. Adorava deitar ali. - Soojin?
- Sim? - ela sorriu e ajeitou-se melhor para me olhar. - E então, o que é que você queria me dizer sobre o nosso vizinho?
- Junho. O nome dele é Junho. Bem, ele me disse que falou com você sobre a gata dele. Que você deu o número do telefone... Você deu o número do meu celular?
- Sim, eu tava saindo de casa esses dias e encontrei ele parado na porta. Ele parecia desesperado por causa da gata grávida. Eu tinha uma entrevista de emprego e já estava super atrasada, aí dar o seu número foi a primeira coisa que me passou pela cabeça... Fiz mal?


Se você fez mal? Se tivesse me perguntado isso a quatro dias atrás eu iria dizer que você merecia cair no mármore do inferno! Mas agora...


- Não, sem problemas! O cara fez o maior drama por causa daquela gata! Foi muito estranho, vergonhoso! Ele me lembrou aquele psicopatas dos filmes e fiquei assustada. No fim, era tudo por causa da bendita gata grávida! - sorrimos juntas. - Fora isso, ele é bem legal...
- Então o nome dele é Junho? Tem certeza de que o pai dos gatinhos é o Alemão? Estória mais doida!
- Sim, ele me convenceu. E não é como se eu fosse pedir um exame de D.N.A ou algo assim... Enfim, sei que agora estamos “amigos”...
- Amigos? - ela não fez a minima questão de esconder um sorriso maldoso. - Desculpa perguntar desse jeito, mas... Tem alguma coisa "a mais" rolando, não tem?


Eu gargalhei alto! O bastante para acordar Alemão, que estava deitado no sofá junto dos pés da Soojin, que se assustou diante o som estridente repentino. Senti pena dele quando suas orelhas continuaram atentas ao que acontecia ao seu redor. Coitado do meu neném... Assustei ele.


- Não, somos apenas amigos... Por enquanto! - meu sorriso se alargou ainda mais quando confessei. - Mudando de assunto, tem alguma droga pra enjoo aqui? Tô passando mal desde que saí da Faculdade. Minha boca está salivando muito, mas não consigo vomitar e me livrar dessa ânsia de uma vez!
- Olha, nem faço ideia, mas dá uma olhada por aí. Comeu alguma coisa que te fez mal?
- Soojin, se eu estou te perguntando é porque eu não conheço nenhum. - se eu soubesse eu não teria perguntado, apenas pegaria e pronto. - Não estou por dentro de medicamentos coreanos... Acho que foi o leite condensado quem vem com a salada de frutas. Meu organismo é sensível a galactose e a glicose em abundancia...
- É muito difícil eu ficar enjoada... Se tiver alguma coisa aqui em casa pra enjoo foi você quem comprou, mas não lembro de ter visto nada. Procura na internet alguma receita caseira, pode ser que resolva... Se você piorar eu posso ir até a farmácia, também.


Ah... Agora fiquei com pena de ter pensando que ela era meio demente... Eu tinha acabado de dizer que não estava por dentro dos medicamentos coreanos e ela me vem com uma de “se tiver alguma coisa aqui em casa pra enjoo foi você que comprou”. Precisamos exercitar essa coisa de você ser mais compreensiva e paciente com as pessoas quando elas querem te ajudar, Elken. Enquanto apenas pensa está suportável. Mas se evoluir pra um estado de sarcasmo e egocentrismo você vai entrar em apuros...


- Deixa pra lá. Vou fazer o de sempre. Não é a maneira mais rápida, mas é a mais prática. - levantei das almofadas quase caindo. Estava cansada demais. Passei as aulas de Gameiro ensaiando o que íamos conversar mas agora não lembro de nada. A única coisa que me passa pela mente é minha cama quentinha me esperando. - Vou tomar um banho e me deitar. Deve ser cansaço também. Levantei cedo para fazer caminhada hoje...
- É, descansar pode te fazer bem. Vai deitar, enquanto isso eu continuo lendo sobre como a ideia do amor materno foi inventada durante a ascensão da burguesia e me perguntando qual é a parte em que eles realmente começam a falar de literatura infantil...


Eu gargalhei novamente, dessa vez da expressão aborrecida com o artigo que surgiu na face dela. Eu não tenho paciência para ler quase nada que não tenha sexo no meio. Até começo a ler, mas depois de um tempo, quando eu percebo que nessa moita não tem coelho eu desisto. Acho que os únicos livros sem referência sexual que eu já li na minha vida foram os de medicina e os da série Força Sigma. E esses último preciso conferir se já saíram as versões traduzidas em português da continuação da saga. Não que eu não consiga ler em inglês ou coreano, mas prefiro em meu idioma natal. Assim consigo ficar mais confortável à leitura.


- Vou indo. Boa noite, Soojin.





00h48min



Eu tinha planejado dormir cedo hoje. Eu realmente estava prestes a cumprir isso. Sinto meus olhos pesados e desgaste físico por todo meu corpo. Mas não consegui... Maldito computador que me hipnotiza. Sempre há algo para fazer nele. Baixei diversos filmes coreanos. Dos mais variados gêneros. Pelo que parece passarei a madrugada assistindo filmes. E o sono... Só pela manhã.


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