Oposites escrita por ana way


Capítulo 1
Oposites


Notas iniciais do capítulo

A fic é one-shot, ou seja, só tem um capitulo. Desclaimer: Os personagens não são meus, obrigada.



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Ele é uma criatura grotesca. Grotesca e solitária. Costuma esconder suas tristezas por baixo de um sorriso irônico e safado. Mas eu consigo ver, consigo perceber o amor dentro de seus olhos, por mais que esse amor seja a coisa que ele mais tenta esconder. Ele não é exatamente bonito. Quer dizer, ele tem sua beleza, uma beleza natural e diferente. Mas nem todos são capazes de vê-la por baixo de seu longo cabelo sujo, como eu vejo. Na verdade nem ele mesmo é capaz de perceber que eu percebo isso. Ele não repara em mim como eu reparo nele.

Ele me vê apenas como o “amigo que o ajuda sempre com seu amor impossível”.Mas eu não ligo de ser apenas isso. Porque eu sei que é isso que eu vou ser sempre. 

Ele está deitado no meu colo agora. Olhando atentamente seu amor, Gerard, enroscado com a maioria das meninas bonitas e gostosas da escola. Bert não era nada alem de um peso morto, quase sem forças pra nada. Depois que ele o havia chutado, nada mais importava. E, claro, eu sempre estava tomando conta de seus ataques histéricos.Eu, sempre o lembrando que eles tinham sido apenas amigos de infância e que Gerard, depois que sua popularidade aumentou na escola, esqueceu do pequeno e indefeso Bert, quebrando seu coração gelado que por algum tempo havia sido quente e acolhedor. 

Eu sabia que não havia mais chance nenhuma entre eles. Sabia também que Bert era invisível aos olhos de Gerard. Mas não podia deixar de confortá-lo, dizendo sempre que um dia, seu amado acordaria e ia perceber que Bert nunca havia deixado de ser “seu pequeno”, como costumava o chamar na infância. Me sentia culpado de saber da sua indiferença quanto a Bert, apenas não podia arrancar mais um pedacinho de seu coração. 

- Preciso ir ao banheiro, Berty. – me sentia na obrigação de criar um apelido próprio, um jeito só meu de chamá-lo, pelo menos assim me sentiria único. - Eu vou com você. Porque eu não quero ficar sozinho aqui, eu me sinto meio... Deslocado sem você. – se eu não o conhecesse tão bem, diria que ele estava me flertando, mas sabia muito bem que não estava.  

Assenti. Ele se levantou e me seguiu até o banheiro. Ao atravessarmos o grande salão da casa de Catherine, namorada de Gerard, a garota mais bonita e popular do colégio, porem não muito bonita por dentro, pude perceber por meros segundos os olhos de Gerard e Bert se cruzarem. Em tempos distantes, quando eu ainda não havia descoberto meus sentimentos pelo meu melhor amigo, me sentiria feliz, esperançoso, pensando que talvez finalmente eles voltariam a ser como antes. Mas não, não me sentia assim, muito pelo contrario, meu estomago revirou ao perceber o simples contato.  

Seus olhos se desviaram, pude ver um leve sorriso se formar no canto da boca de Bert. Senti aquela sensação ruim de novo, mais dessa vez, foi um formigamento que subiu pelo meu corpo.

Algo ia acontecer, e eu sabia muito bem o que era.

Abri com toda a força a porta do banheiro, olhei por cima do ombro e pude vê-lo entrar logo atrás de mim e me encarar confuso. Ignorei. Pelo menos tentei ignorar.Olhei-me no espelho, não gostando muito da imagem por trás dele. Bert me olhou pelo mesmo, e eu desviei o olhar. Ele me conhecia bem demais pra olhar muito tempo dentro de meus olhos, ele com certeza saberia exatamente o que estava acontecendo por apenas olha-los por pouco tempo. O mesmo se aplicava a ele.  

Entrei em uma das cabines vazias, encostando minha cabeça na porta, batendo-a algumas vezes como se tentasse me punir, tentando não fazer muito barulho, não queria que ele me ouvisse.Abaixei minhas calças, me sentindo aliviado. Logo me senti rígido, quase como se algo tivesse me paralisado.  

Gerard entrava no banheiro, e falava com Bert com o tom de voz mais doce que um dia tive a oportunidade de ouvi-lo usar. Sabia que Bert estava mais do que feliz naquele momento, por isso me puni de novo por querer que Gerard apenas engasgasse e morresse ali mesmo. Muito mais rápido do que pude prever, eles já não estavam mais no banheiro. Com um leve toque no seu braço, Gerard indicou que o garoto de cabelos longos caídos sobre o rosto deveria segui-lo, e assim ele o fez. 

Eu errei. Errei ao dizer que não existia mais hipótese alguma de vê-los juntos.  

Esperei mais um tempo até sair de lá. Não queria, de jeito nenhum, que Bert me visse saindo correndo de lá. Senti vontade de chorar, gritar e morrer. Mas não podia, não na frente de todas aquelas pessoas. 

Percorri aquele jardim imenso mais rápido do que qualquer pessoa poderia fazer. Parecia que eu conhecia bem o lugar. Ou talvez aquilo havia sido apenas instinto ou desespero demais. Acabei por sentar no balanço do parquinho, onde provavelmente Catherine passava as tardes com o namorado que no momento estava muito ocupado com as habilidades de Bert. O lugar estava escuro e vazio, em outra ocasião sentiria medo. Pensei em deitar no chão e observar o céu que estava tão bonito naquela noite, mas preferi ficar onde estava, esperando.

 Soltei um gritinho assustado, que logo foi abafado pelo grande sorriso de Bert.  

- Você dormiu Quinny. Eu te procurei por horas, sabia? – disse com aquele sorriso meigo que há tanto tempo não via em seu rosto.
- Sério? Bom, eu me senti meio sozinho depois que você saiu com ele, então resolvi dar uma volta e... Er... pelo jeito acabei dormindo. Mas, como foi?
- Esquece ele. Ele não é mais a criança que eu conheci. Ele não é mais o Gerard gordinho e meigo que dormia em casa e fazia guerra de travesseiros. – ele sorriu e acariciou minhas bochechas de leve. - E você esta bem por descobrir isso?
- Mais do que bem, só acho que não deveria ter perdido tanto tempo.  

Senti o que não sentia há muito tempo: frio na barriga. Senti os lábios quentes dele tocarem nos meus, ele sugava a minha língua tão docemente que cheguei até a não reconhecê-lo.  Bert há muito havia percebido os meus sentimentos, e por algum motivo começou a senti-los também, apenas demorou tempo demais pra perceber, assim como Gerard demorou. Mas diferente de Bert, meus sentimentos não morreram, apenas esperaram a hora certa.  

O brilho em seu olhar havia voltado, o sorriso fácil também, não escondia mais o amor em seu olhar. E eu sabia o culpado disso era eu.  

 

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