Nightmare escrita por slymiranda


Capítulo 9
Capítulo 9 - Cruel


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora.



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-Amy. -ouvi uma voz entediada chamando meu nome.

Abri os olhos e olhei em volta. Alguns segundos de compreensão foram necessários até eu me lembrar de onde estava. Maggie estava de pé, arrumando sua cama. Ela usava uma roupa preta, que me pareceu... sombria. Sombria demais. Uma blusa de manga comprida simples, uma saia que ia até seus joelhos e uma sapatilha simples e rude. Em algum momento do passado, eu teria rido daquela roupa tipicamente pseudo-gótica, mas agora, com a perspectiva de ser acusada de um crime sobre minha cabeça, eu achava meio difícil rir de alguma coisa.

-Bom dia. -eu disse. Como na noite anterior, ela não me respondeu. Só moveu a cabeça levemente na direção do banheiro.

-Se for tomar banho, é melhor se apressar. São 5:40 e temos que estar no refeitório ás 6:00.

Fiquei surpresa com o tom agressivo em sua voz. Qual era a daquela menina? O que ela tinha contra mim? E por quê diabos eu não podia ter uma colega de quarto mais, sei lá, normalzinha?

Levantei e, depois de arrumar minha cama, fui para o minúsculo banheiro. Entrei debaixo dos pingos de água que caiam do chuveiro velho, e estremeci. Se aquilo pra mim já era gelado, imagina como devia ser de noite. Tomei um banho rápido, e me enrolei na toalha branca que estava dobrada em cima da pia. Saí do banheiro e comecei a procurar nas minhas malas alguma coisa pra usar.

-Você tem que usar o uniforme. -me informou Maggie. 

-Ahn... Mas eu não tenho.

Ela jogou algumas roupas idênticas as dela em cima da minha cama, e colocou sapatilhas pretas do lado. 

-Agora tem.

-Obrigada...

Vesti aquelas roupas horríveis e segui Maggie para fora do quarto. Assim que chegamos no andar térreo do bloco sete, pude ouvir uma música baixinha vindo de pequenos alto falantes que eu não notara na noite anterior. Demorei pouco mais de um minuto para reconhecer o som. 

"(...) Here we are now, entertain us. I feel stupid and contagious (...)"

Me perguntei quem escolhia as músicas, porque Smells Like Teen Spirit definitivamente não combinava com aquele lugar. A sala estava cheia de adolescentes, sendo que todos eram meninas. 

-Não, Stella, para com isso! -ouvi um gritinho infantil e me virei automaticamente para o lugar da onde vinha o som. Todas as meninas da sala também olharam. 

Uma menina loira de uns nove anos olhava para uma outra, de uns seis anos, com um olhar maldoso. A menor estava com uma expressão apavorada, e lágrimas caiam dos seus olhos. A príncipio não percebi o que acontecia, mas logo em seguida vi que a loirinha segurava uma bonequinha de cera em uma mão e ameaçava jogá-la no chão. Em um segundo, percebi que não só ameaçava como pretendia fazê-lo, e, seguida de um gritinho agudo da menininha mais nova, vi a loira -Stella, provavelmente- soltar a boneca, que caiu no chão e quebrou em mil pedacinhos. Fiquei indignada com a crueldade do ato. E então, para minha surpresa, Stella pegou a mão da menina mais nova, e sussurrou algo em seu ouvido.

-Entendeu, Abby? 

Abby assumiu uma expressão séria.

-Claro, Stel. 

Então elas começaram a rir e saíram andando, ainda de mãos dadas, e todas as outras garotas voltaram para suas atividades normais. Posso afirmar com toda a certeza que eu, definitivamente, não entendi nada daquela cena. Em choque, lancei um olhar indagador para Maggie, que havia observado tudo aquilo com uma expressão divertida no rosto.

-Mentalmente desequilibradas. -ela explicou. -São doidas, completamente malucas, vivem brigando por coisas sem sentido, e segundos depois esquecem sobre o que era. Tem a mesma consciência do que fazem do que um átomo. -debochou. -É cruel, eu sei. -acrescentou, diante meu olhar chocado. -Mas a vida é cruel. 


O refeitório ficava em um prédio sem número na frente. Era idêntico aos outros, a única diferença era que ali não ficava nenhum dormitório, e sim o refeitório, as salas de aula, a biblioteca, enfermaria, e algumas outras salas, segundo o que Maggie me explicava, tediosamente.Depois de comer uma refeição que era, basicamente, horrível, olhei no meu horário e vi que meu primeiro tempo era -ah, não!- terapia em grupo. Terapia em grupo?! Que diabo de lugar era aquele? A sala era a número dois, portanto perguntei a Maggie onde ficava. 

-Você também tem TG agora? -ela indagou. Imaginei que TG fosse como eles chamavam terapia em grupo por ali, e balancei a cabeça afirmativamente.Ela saiu andando e eu imaginei que devesse segui-la. Depois de subirmos dois lances de escada, ela seguiu por um corredor comprido e escuro, até parar em frente a uma porta igual a do nosso quarto, porém com um número dois pintado, e escrito "Terapia em Grupo" embaixo.Maggie a abriu e entrou, com calma. A sala era escura, e a pouca luz que possuía iluminava vinte e uma cadeiras arrumadas em círculo. Três cadeiras estavam vazias. Maggie sentou, e indicou levemente que eu me sentasse ao seu lado. 

-Minta sobre tudo. -ela sussurrou em meu ouvido e eu fiquei surpresa. -Você deve mentir sobre tudo, entendeu? Eles vão dizer que querem te ajudar, mas é mentira. Portanto, entre no jogo e minta também. 

Nesse exato momento uma mulher alta e com aparência etérea entrou pisando firme na sala, fazendo com que todos se calassem.

-Bom dia. -ela tinha um sotaque forte, fazendo com as palavras saíssem de um modo amendrotador. Os adolescentes responderam em uníssono um "bom dia" mal humorado.

-Para os novatos -seus olhos pousaram em mim-, meu nome é Claire.

Então ela pegou uma folha e começou a chamar alguns nomes. Cada vez que um nome era chamado, a pessoa se levantava e tornava a sentar. Aquilo me pareceu idiota e sem sentido. 

-Lee, Amy Lee. -eu me levantei e sentei de novo, me sentindo muito babaca. E então, finalmente, Claire terminou a lista de presença com um rude "Weber, Maggie Weber". Maggie se levantou, e, para minha surpresa, sorriu para Claire. 

-E então, Srta. Weber... -Claire começou com um tom divertido. -Espero que esteja melhor hoje do que quinta-feira passada. -Sim, eu estou. -Maggie respondeu no mesmo tom divertido.Fiquei confusa. Parecia que as duas partilhavam alguma piada pessoal, e eu estava totalmente por fora do que elas estavam falando.

As duas horas e meias de TG foram irritantes. Como era de se esperar, Claire tentou, desesperadamente, se aprofundar na minha história, e nos meus motivos para "cometer um ato tão cruel e terrível". Para meu horror, eu me vi chorar no meio da sessão, e quis morrer de vergonha. Felizmente, alguns sofridos dez minutos depois, Claire nos dispensou.

Eu vi que minha próxima aula era RB, que imaginei que fosse reabilitação. Parecia que eu teria aquilo pelas próximas cinco horas. Eu suspirei e fui andando em direção a sala quando senti uma mão no meu ombro. Me virei e fiquei surpresa com o que -ou melhor, quem- vi.

-R-ronald?

Ele estava pálido e com aparência de cansado.

-Venha comigo, garota. Agora.

Em transe, eu o segui, e pela segunda vez em minha vida não reconheci o roteiro da minha história. Eu suspirei cansada, pensando que desventura o destino me trazia agora. 

Entrei na casa da mulher baixinha sem perceber exatamente que estava fazendo isso. Vi muitas pessoas lá dentro, a maioria policiais, mas não reconheci nenhuma. A mesma expressão de choque se passava de pessoa em pessoa, e se eu estivesse em condições de analisar alguma coisa, perceberia que a expressão com a qual eles me olhavam mudara - não era mais desprezo, apenas... Remorso? Dó? Pena? Não saberia dizer. Passava pelas pessoas como se vivesse minha vida em terceira narrativa, eu sabia dos acontecimentos, mas parecia que não eram comigo. Vamos confessar que isso era pior, porque eu nem sabia direito o que estava acontecendo. Foi nesse momento que levei um susto tão grande que quase caí para trás.

Ali, no sofá sujo que eu sentara logo na noite anterior, estava uma mulher. Uma mulher chorando. Uma mulher que eu reconheceria a qualquer momento. 

Minha mãe.

Assim que me viu ela levantou e correu em minha direção. Não se deu ao trabalho de pedir desculpas, apenas me abraçou, mas para mim, aquele abraço significou tudo, foi melhor do que palavras ditas. Alguém tossiu atrás de nós. Me virei e a única coisa que consegui dizer foi:

-Droga.

Mike e Leo me encaravam com uma expressão piedosa. 


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Notas finais do capítulo

Prometo, prometo, prometo de verdade postar os capítulos com mais frequência. Me desculpem de verdade. Deixem reviews.
xxS



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