Entre o ódio e o amor escrita por Teddie, Madu Alves


Capítulo 23
O segredo de Madeline


Notas iniciais do capítulo

nos falamos lá embaixo



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Christopher’s POV

De tudo que eu poderia pensar que teria acontecido, eu nunca teria pensado naquilo.

A chuva caia sem parar, eu estava encharcado e ela também, a maquiagem estava terrivelmente borrada. Seus olhos azuis tempestuosos estavam mais confusos do que nunca. Havia tristeza, confusão, raiva, e o pior, a culpa.

Eu nunca teria imaginado que o tempo todo era aquilo que tinha acontecido a Madeline.

Passei a mão em seu rosto e ela recuou. Não por antipatia nem nada. Eu sentia que ela tinha medo de eu não aceita-la mais.

Pensei em duas semanas atrás, depois que ela já havia voltado e tudo fazia sentido. Porque ela queria afastar todos de si.

Vamos voltar um pouco a historia, está bem? Veja se agora você entende melhor.

Madeline’s POV

- Madeline, espera! - ouvi a voz do meu namorado soar longe. A musica em meu ouvido estava tão alta que eu estava quase ficando surda.

Pelo menos se eu ficasse surda, eu não teria que ouvir tanta coisa estúpida da boca de pessoas estúpidas o tempo todo.

Ignorei Christopher - coisa que eu estava fazendo com muita frequência - e continuei caminhando, mas levei um susto quando eu o vi na minha frente, puxando meus fones de ouvido e me olhando com certa raiva, que até então era desconhecida.

- Qual foi, eu pedi para me esperar!

- Está cego, Christopher? Eu estava com fones, não te escutei - menti.

- Eu cego? É você que não está vendo mais nada.

- O quer dizer com isso? - perguntei, já temendo sua resposta.

- Sabe do que eu estou falando, Sullivan, não se faça de idiota, porque eu sei que isso você não é. Eu pensava que você me amava, sabia? Eu pensava que o sentimento que eu tinha era recíproco. Pelo visto eu me enganei. Sabe, talvez eu esteja cego - suspirou - Talvez eu estivesse cego quando não vi que você não me amava.

O sangue me subiu para as bochechas, assim como as lágrimas nos olhos. Ele duvidava do meu amor. E o pior, com razão. Eu vinha sendo uma vadia mesmo. Não uma vadia de dar para todos, mas aquela vadia destruidora de corações. Aquela mulher ruim.

- Você não sabe de nada, Christopher - repeti uma frase que usara há muito tempo atrás.

- É claro que eu não sei, você não confia o suficiente em mim para desabafar. O que é estranho, porque eu confiaria minha vida a você. - disse, e eu pude sentir a decepção dele em sua voz.

Aquilo só me cortava mais o coração.

Não é que eu não confiasse, é que... eu não aguentava mais reviver tudo de novo. Os pesadelos haviam voltado e tudo estava desmoronando. Tudo que eu conquistara ali em Oxford estava se desfazendo aos poucos, tudo porque eu não conseguia lidar comigo mesma.

Eu era uma fraca.

- Eu não consigo, me desculpe - passei por ele, secando umas lágrimas e fui para meu carro.

Dei a partida e fui para casa, finalmente me permitindo chorar. Coisa que eu não fazia há tempos e desde que voltara de Londres, acontecia com muita frequência.

Thomas’s POV

Madeline passou por mim, parecendo não me ver. Seus olhos estavam vermelhos, sinal de que ela estava chorando ou prestes a chorar.

Ou apenas tinha puxado um fumo.

Eu sempre tenteara entender aquela garota, ela nunca foi, para mim, a arrogante que parecia ser. Ela parecia ter muito mais dentro daquela cabecinha. E muito mais tristeza no coração. Alguns partilhavam dessa mesma ideia que eu, como Christopher, mas o resto da casa tinha uma opinião quase que diferente.

Não os culpava, é claro. Madeline sabia interpretar bem. Kate costuma dizer que tem horas que ela parece que sofreu muito, mas ao fazer Christopher sofrer, ela era só mais uma vadia sem coração antipática e arrogante.

Eu preferia pensar que ela apenas não conseguia lidar com seu sofrimento.

Vi Christopher olhando para a entrada do prédio, a expressão vazia. Pelo visto eles haviam tido uma conversa, ou uma tentativa, já que a ruiva não estava aberta para conversas desde que voltara.

- Você está bem, mano?

- Na verdade, não - suspirou.

- Coloque-a contra a parede, a sua persistência talvez tenha sido o que mais chamou a atenção nela. Porque se formos contar com a beleza, bem... - tentei fazer uma piada e ele riu, mas não tinha humor nenhum na risada dele.

- Não adianta mais falar com ela, Tom. Não sei se aguento mais - ele abaixou e foi embora, me deixando meio perdido.

Por que tudo na vida tem que ser complicado? Se eles se gostam, que fiquem juntos, se tem problemas, tentem resolver juntos, como um casal e não como Madeline fazia. Ela afetava não só Christopher, como todo o resto da casa que está com pena dele, e que estão decepcionados com ela, porque ela parecia querer se enturmar depois de meses.

Bem, fui para o departamento de moda. Ia buscar minha Barbie para um encontro, eu queria ajudar Christopher e Madeline, mas eu também precisava de uns momentos para mim e minha boneca.

Madeline’s POV

Eu queria dizer que quando cheguei em casa tomei um banho, coloquei uma lingerie bem pequena e esperei Christopher chegar para nós fazermos um sexo de reconciliação. Era o que eu queria, mas não foi o que aconteceu.

Bem, eu tomei banho, mas coloquei uma roupa qualquer e bem decente, comparando com o lingerie que eu queria usar. Tentando mudar meus pensamentos de culpa, coloquei uma musica para tocar e tentei estudar.

Tentei.

Acabei pegando no sono, uns vinte minutos depois.

Acordei com um barulho insuportável lá fora, estava chovendo, e muito, percebi que eu estava com frio, todos os pelinhos do meu braço estavam arrepiados. Suspirei, eu amava a chuva, era bom, a chuva sempre fez eu me sentir melhor. Será que se...

Desci as escadas correndo, com uma tentativa de sorriso que queria brotar no meu rosto, os cinco estavam na sala, vendo algum filme na televisão, passei correndo por eles, tentando não chamar a atenção. Sem sucesso.

- Madeline, aonde vai? - Christopher perguntou.

- Ali - respondi.

- Está chovendo - constatou.

- Me deixe Christopher - saí e sentei perto da piscina, deixando a chuva cair em cima de mim, poço me importando se eu estava maquiada ou não.

Era reconfortante, porém não estava me ajudando como eu queria, eu me lembrava de tudo que não queria. Eu e minha mãe costumávamos brincar na chuva, Christopher devia estar preocupado comigo aqui, tudo dava errado para mim. Não agüentando mais tudo o que estava na minha mente, chorei. Chorei como nunca.

- Madeline, entre, precisamos conversar - Christopher gritou e eu o olhei, ele estava dentro da casa, junto com os outros 4.

- Não quero - disse, ainda com a voz chorosa.

- Ótimo, ficamos por aqui mesmo - vi que ele veio para a chuva e eu fiquei de costas para ele - Madeline, quer fazer o favor de me olhar?

- O que quer? - Perguntei, virando para ele, mas continuando sentada.

- Quero que pare com todo esse mistério, com todo esse drama, quero que confie em mim tanto quanto eu confio em você, quero que se abra comigo, porque senão, nossa relação não tem mais sentido nenhum.

- Para que quer saber de tudo isso?

- QUERO SABER PORQUE EU TE AMO, PORRA - gritou - Quero poder te ajudar em todos os momentos, quero saber para entender porque de todas essas lágrimas e poder secá-las e dizer que está tudo bem.

- Eu não consigo, não dá Christopher - disse.

- CLARO QUE CONSEGUE, VOCÊ QUE NÃO ESTÁ TENTANDO O SUFICIENTE.

- SE EU ESTOU DIZENDO QUE NÃO DÁ, É PORQUE NÃO DÁ, EU JÁ TENTEM VARIAS VEZES

- NUNCA TENTOU O SUFICIENTE, OU NÃO ME AMA O SUFICIENTE PARA CONFIAR EM MIM E DIZER.

Eu tinha noção que todos os outros estavam atentos àquela briga, sabia que seu eu falasse, traria de volta todas as lembranças que eu sempre quis enterrar, era me ver no meu casulo eterno ou liberar todos os meus sentimentos e ficar com Christopher, se ele me quisesse.

- Eu... não dá, me desculpe - disse, chorando.

- Acabou - ele abaixou a cabeça e quando ia entrar, me toquei que perder Christopher por isso seria muito mais doloroso que qualquer lembrança triste.

- Espera - gritei - Se quer tanto saber, saberá - reprimi mais lágrimas - Eu.. eu matei minha mãe ta legal? Satisfeito?

Ele me olhou, estático. Eu aproveitei para me sentar novamente de costas para ele e chorar.

Chorar por finalmente, depois de mais de um ano, falar da minha culpa para alguém.

Christopher’s POV

De tudo que eu poderia pensar que teria acontecido, eu nunca teria pensado naquilo.

Ela estava de costas para mim, sentada na grama e chorando, mas mudei isso, me sentando de frente para ela.

A chuva caia sem parar, eu estava encharcado e ela também, a maquiagem estava terrivelmente borrada. Seus olhos azuis tempestuosos estavam mais confusos do que nunca. Havia tristeza, confusão, raiva, e o pior, a culpa.

Eu nunca teria imaginado que o tempo todo era aquilo que tinha acontecido a Madeline.

Passei a mão em seu rosto e ela recuou. Não por antipatia nem nada. Eu sentia que ela tinha medo de eu não aceita-la mais.

-Me conte isso direito, Madeline. Que história é essa de você ter matado sua mãe?

- Eu.. há um ano atrás mais ou menos - ela respirou fundo, eu sabia que deveria ser muito difícil para ela - Eu era cheia de vida, era líder de torcida, popular, vivia cercada de amigos, não tantos, nunca fui chegada àquela falsidade toda. Eram amigos de verdade sabe. Eu tinha uma ótima relação com minha mãe, éramos melhores amigas. Ela era enfermeira no hospital que meu pai trabalhava.

“Sabe que existem vários congressos e festas de médicos, não?” assenti “Então, em um desses conheci Raymond Levine. Ele era um perfeito cavalheiro, tinha quase 30 anos. E era o genro que toda sogra queria ter”.

Ela riu sem humor e continuou.

- Mas tinha um problema, ele já tinha uma sogra. Ray era casado. Eu sabia que deveria ter me afastado, mas não consegui, ele me enfeitiçava, eu achava que o amava loucamente.

-E por que só achava? - perguntei, tentando afastar a dor no meu peito que se formava ao imaginar minha Madeline amando outro.

- Porque eu só descobri o que realmente é o amor quando eu te conheci. - sorri abertamente e ela continuou a historia - Enfim, eu e Raymond começamos a ter um caso e infelizmente minha mãe descobriu.foi horrível, nossa relação piorou drasticamente - ela voltou a chorar.

“Ela vivia me falando para esquecer Raymond, que nunca daria certo, porque ele nunca largaria a mulher para ficar comigo. Eu a ignorava e continuava com as esperanças de que Ray largasse a mulher para ficarmos juntos. Como eu era burra.

“Até que um dia eu e minha mãe resolvemos viajar para tentar resolver nossa situação. Nunca chegamos ao local. Ela começou a falar no meio do caminho sobre como meu relacionamento era uma insensatez e que eu deveria largar Raymond. Eu fiquei furiosa. Começamos a brigar e eu que estava dirigindo, acabei perdendo a direção do carro, quando consegui controlar novamente, um caminhão de carga vinha na nossa direção. Eu estava dirigindo na contra mão. Não consegui desviar a tempo”.

Ela parou para chorar mais e eu não precisava ser um gênio para decifrar o que aconteceu. Toda culpa de Madeline estava naquele maldito acidente de carro. Era totalmente justificável, agora eu conseguia compreender tudo.

- Eu acordei cinco dias depois no hospital. Não tinha acontecido nada comigo, exceto um corte no supercílio e escoriações pelo corpo, meu pai estava ao meu lado e parecia muito abatido. Eu perguntei pela minha mãe e ele começou a chorar. Ele disse “ela não sobreviveu”. Meu mundo caiu nessa hora. Eu só conseguia pensar que tinha matado minha mãe.

- Mas Madeline - interrompi - Não foi sua culpa, podia ter acontecido com qualquer um, poderia ter sido... você - estremeci ao pensar nela morta.

- Era preferível que tivesse sido eu. Você não sabe o quanto eu me culpei toda noite até hoje. Toda vez que eu me olho no espelho e vejo esses malditos olhos azuis e que eram iguais aos dela. Eu me lembro de como ela era feliz, de como sempre havia luz nos olhos dela e eu acabei com isso, porque eu fui burra.

Ela chorava tanto que meu coração ficou apertado. Era tanta coisa que ela guardava dentro do coração, que dava pena.

- E Raymond? - perguntei e ela sorriu sem humor algum.

- Procurei por aquele cretino quando saí do hospital. Eu disse que não queria mais nada com ele, e me desliguei de tudo. Foram os piores seis meses da minha vida. Até que um dia eu resolvi tentar esquecer de tudo e fui beber. Ai quando eu já estava bem bêbada, liguei para Ray e acabamos transando. Era minha primeira vez e eu nem me lembro. Ai depois fui conversar com ele e o que ele disse mesmo - refletiu por uns minutos - Ah, ele disse “eu nunca ficaria com uma pirralha que mal sabe dirigir, por mais gostosa que seja” e foi embora. Eu estava sozinha e desiludida.

Nunca senti tanta raiva de alguém na minha vida como senti raiva desse Raymond. Jurei que se um dia eu o conhecesse, o mataria. E eu não estava brincando.

- Foi ai que eu resolvi virar o que sou hoje e vir pra Oxford. Londres me trazia muitas recordações ruins.

- Foi por isso que voltou tão diferente de lá? - perguntei.

- Sim e não. Londres tudo mais estavam normais, a culpa não estava me pressionando tanto desde que vim, e ir de volta não mudou muita coisa. Sempre que pensava em minha mãe, pensava em você e tudo ficava bem. Mas em uma dessas festas novamente, encontrei Raymond e ele me trouxe todas as más lembranças e eu não consegui segurar mais. Voltei a ser aquela do começo do ano e então estamos aqui discutindo na chuva.

Não sabia o que dizer. Eu estava muito chocado com toda essa historia. De todas as coisas que eu poderia falar, falei a mais inútil:

- Vem, vamos sair dessa chuva. Você precisa de um bom banho e roupas secas.

Entramos e tosos os outros nos deram espaço, eu não sabia o quanto eles tinham ouvido e nem se tinham ouvido algo. Madeline tomou um banho e eu aproveitei para tomar um também. Quando voltei, ela ainda estava no banheiro e eu me deitei em sua cama. Quando saiu, estava com os cabelos molhados, com uma calça de caveirinhas e uma blusa preta de manga comprida. Estava sem maquiagem alguma.

Ela estava linda.

- Deite-se aqui comigo, meu amor.

- Pensei que depois de contar tudo você não me quisesse mais, assim como... - ela não concluiu, mas eu entendi o que ela queria dizer.

- Não pense que sou um canalha igual o Levine, eu te amo e nunca te deixaria por nada - ela se deitou do meu lado, de frente para mim e ainda meio receosa. Eu a abracei, tentando transmitir toda minha compreensão e amor.

- Madeline, nada daquele dia foi culpa sua, e eu quero que me prometa que não ficará mais se martirizando com isso.

- Não sei se consigo Christopher. - mordeu os lábios.

- Claro que consegue, meu amor. Você é forte. - incentivei.

Ela respirou fundo, talvez estivesse se decidindo. Eu sabia que muitas vezes ela se culparia, mas eu estava lá para ajudá-la.

- Prometo.

Então eu a beijei, um beijo calmo, sem pressa, apenas para mostrar que eu a amava e que sempre estaria ali.

- Eu te amo - ela disse

- Eu também te amo, agora durma. Você merece uma boa noite de sono.

Ela se virou de costas para mim, mas de um jeito que eu ainda podia abraçá-la. E logo sua respiração ficou mais calma. Ela havia dormido. Aproveitei e fiz o mesmo.

Mas dormi bem, diferente de todos os outros dias. Dormi bem porque agora eu tinha a minha garota nos meus braços e se dependesse de mim, nada a tiraria dali. 


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Notas finais do capítulo

Ah, faltam apenas dois capitulos para chegarmos ao fim de EOA. Bem, os comentários são bem vindos, e é isso.
até o proximo



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