Porto Alegre escrita por melatonina


Capítulo 1
First. O dia que nunca acaba.


Notas iniciais do capítulo

tudo bem eu escrevo uma média de 2048 caracteres por noite (obrigada orkut) e como os capítulos são longos eu acho que demorar um bocado pra acaba-los.



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Eu sou dona de um bar. Na verdade, trabalho nele, mas seu Jorge confia tanto em mim, que é como se eu fosse a dona. Eu moro na parte de cima, são cinco andares e o andar de cima é uma espécie de prédio com a tinta verde escura desgastada e as paredes em verde claro. Moramos eu e mais sete pessoas. Dona Lúcia e seu Jorge que são casados e não tem filhos, uma mulher já com uns trinta anos e sem família. Tão misteriosa, quanto o cara que o Deep Purple cita na música "smoke on the water", um casal com um pequeno capeta chamado Gustavo, e uma menina na barriga e por fim Matheus que divide o apartamento ao lado do meu.

Eu devo citar que Matheus é tipo... O melhor amigo do mundo, bom, pelo menos por enquanto. Ele faz faculdade no mesmo lugar que eu, só que ao invés de jornalismo ele faz História, eu sei, eu sei. Eu já disse que história não era faculdade pra homem, mas quem disse que ele liga? Ele só fala "Jornalismo investigativo não é pra damas feito você" esse também é outra coisa pra ressaltar em Matheus. Ele tem todo esse cavalerismo que deve ter herdado do avô ou algo sim. Matheus também é tão charmoso quanto qualquer galã de cinema. Ele tem esse cabelo loiro dele que deve ter herdado de algum parente distante e os olhos escuros, mas não tem importância a cor dos olhos ou do cabelo. O importante é a boca, que é carnuda, tão carnuda quanto um bife de carne bem passado.

E então tem o nosso apartamento. Nós quebramos a parede pra ele ficar maior, e agora temos um andar inteiro apenas pra nós dois. Uma geladeira e uma cozinha cor de vinho. Matt disse que ficaria bonito, tão bonito quanto as paredes da sala que são um tom mais claro do que vinho. Eu disse que ambos era vermelho, mas ele prefere o termo âmbar. Você sabe, tem essas merdas de designer moderno. Mas a única coisa que me importa na sala é a grande TV de 50 polegadas preta. Cafeteira inclusa. Não que eu goste de café, mas tudo pra combinar com minha coleção de canecas de todos os lugares que vou onde existe a palavra "anime" no meio.

E então temos três quartos. Um meu, um de Matheus e o outro pra qualquer coisa. Matt gosta de guardar coisas lá, e eu, prefiro ter um maravilhoso acervo de coisas pra escrever; digo... Faço jornalismo, sim? É bem útil ter essas merdas de máquina de escrever, computadores, papel e lápis. E na outra parte são livros de história. Eu marquei uma linha no chão pra dizer qual é a minha metade e qual a metade dele, se não, ele encheria minha metade com livros e eu a dele com uma das três máquinas de escrever e as caixas de papéis A4 que guardo pra qualquer situação.

Tem o banheiro em conjunto, temos uma banheira lá. Uma banheira, dá pra acreditar? Seu Jorge disse que quando sairmos de lá ele iria vender o AP por uns bons trezentos mil. E eu disse "ótima odeia" mas todos nós sabemos que falta apenas cem mil, trezentos e sete reais e cinquenta e cinco centavos pra mim compra-lo todo pra mim e chutar Matheus e suas paredes vermelhas de lá.

E então, finalmente o bar-padaria de seu Jorge "Padaria Augusta", por que do nome eu não sei exatamente, mas seu Jorge disse que era por causa da Rua Augusta em São Paulo. 

Um fato importante, e que só agora eu me lembrei de falar: Nós estamos no Sul, mais preciosamente em Porto Alegre, próximo a Praça Itália, e não, eu não sou daqui. Sou do interior de São Paulo, bem do interior, do interior mesmo. Tudo bem a cidade onde morava nem é tão pequena assim. Eu disse que queria fazer jornalismo desde quando aprendi a escrever, e a minha mãe (Dona Tereza, por favor) me apoio desde então. Porém o curso de Jornalismo Investigativo, só existia em dois lugares do Brasil, e cara, nem fodendo eu iria pro Rio de Janeiro. Por isso estou aqui. Segundo semestre de faculdade, um mês de estágio no maravilhoso Correio do Povo, atendente a noite no ba...  Na padaria Augusta, e as noites de sexta sendo guitarrista pruma banda de covers a qual o nome será citado brevemente.

— Fudeu. — Eu disse enquanto imprimia umas folhas sobre a próxima edição do jornal. "Assassino da corrente é flagrado pela polícia mais foge" as letras em preto e grandes eram tão chamativas que eu tinha me esquecido de desligar a copiadora e centenas de folhas já estavam saindo. Eu só precisava de uma.

— Olha a boca Naomi. — E é eu só olhar pra trás que o inferno parece um lugar tão mais legal. Senhor Marco, meu chefe, estava a minha frente olhando a enorme bagunça com uma caneca de café na mão. Veja bem, quando se trata de chefes dedicados com seu trabalho seu Marco está consequentemente no final da lista. Ele é gordo, mas não um gordo normal, um gordo de cerveja. E tem esse bigode que parece de Hitler, e seu terno cinza claro que ele usa desde que cheguei aqui a três meses. 

E então nos próximos cinco minutos eu tento de todas as maneiras achar uma desculpa de porque tantas cópias ao invés de apenas uma. E essa desculpa é apenas pra me livrar do corto de salário deste mês. Pena que não deu sorte e seu Marco ficou uma fera comigo.  

Mas então chegou Samanta.

Em todas os empregos possíveis existe alguém capaz de te fazer perder o senso de tão bonito que chega a ser. Esse alguém aqui é Samanta — redatora oficial.

E Samanta com todos seus vinte e cinco anos, cabelos perfeitamente ruivos e olhos cintilantes chega pra acabar com o sermão que neste exato momento Seu Marco está dando. Ela é a redatora mais jovem que esse jornal já teve, por isso o fato de ser respeitada por aqui.

— Naomi, já fez as cópias que eu pedi? — E então tem aquele pequena cena constrangedora em que você olha pra um e depois redireciona o olhar pra outro sem saber o que fazer. Eu olhei pras cópias na mão do meu chefe que estavam na altura do meu rosto, e depois para seu bigode e depois um pouco para um pouco pra cima pra ver a figura de Samanta piscando pra mim; como pra concordar em algo que apenas nós duas sabemos.

Eu sussurrei um "saquei" antes de pegar as folhas na mão do senhor Marco e dizer que as cópias eram pra reunião daqui a vinte minutos.

E então eu segui Samanta para a sala de reuniões no sétimo andar. O elevador estava quebrado então tivemos que sair do segundo andar pro sétimo. E enquanto isso, eu observava ela subir com graciosidade os degraus. Graciosidade apenas pra mim; as pessoas comparavam ela com o diabo, mas ela era tão bonita que o fato dela ser chata com a maioria, recobria o fato dela ser linda.

E então, nós estávamos arrumando a grande mesa de reuniões oval de madeira escura com uma grande TV preta. Café, os encadernados com o tema da reunião e canetas com "Correio do Povo" escrito.

— Porque você me salvou de seu Marco? Você sabe que isso não cairia na reunião de hoje. — Eu disse olhando-a. Finalmente tinha percebido que havia me esquecido de perguntar o motivo. Ela sempre foi tão legal comigo, que eu a defendia com dentes. Principalmente quando alguém a-chamava de bruxa na minha frente.

— Você já olhou onde aconteceram os assassinatos? — Ela tirou uma cópia do monte de jornais que tinha no canto da mesa, e me apontou o Lead "Ao todo seis vítimas na extremidade da praça Itália". Eu não tinha percebido que era perto de casa, e então, eu comecei a ler a reportagem "Desde que o primeiro assassinato aconteceu dia dezessete deste mês..." — Nós estamos empenhados em tentar ser o primeiro jornal a resolver esse caso. E eu acho que você tem essa capacidade. É próximo de sua casa, não é? Vai ser mais fácil, e nós vamos cobrir todos os custos da investigação se prometer guardar segredo. O motivo dessa reunião hoje é exatamente por isso; você ganhou o direito desta investigação e reportagem. 

"Você ganhou o direito desta investigação e reportagem" Eu estava tão eufórica que tudo que fiz foi abraça-la tão forte a ponto dela dizer que estava com falta de ar. Eu não conseguia parar de sorrir, eu iria contar pro Matt e pra Dona Lúcia e Seu Jorge. eles falariam obrigado, e então eu pegaria um bolo deles pra comemorar com Matheus. Eu também iria dar balas pro mini capeta que tem no andar de cima, porque agora eu tenho uma matéria só minha. Algo pra investigar, e escrever com minhas palavras. 

— É claro que isso vai exigir total dedicação de você. Nós fomos informados que você tem um outro emprego de noite, certo? Peça demissão hoje mesmo. Seu salário vai ser aumentado em vinte por cento. — Eu olhei pra ela ainda em seus braços com os olhos tão arregalados que minha vista estava meio embaçada. — Eu sei que está feliz Naomi, você merece. Mas será que dava pra me soltar? Daqui a pouco os outros setores estão aqui pra discutir isso, e não ficaria legal ver a chefe da redação abraçada com uma estagiaria, certo? 

E eu disse desculpe muitas vezes antes de me sentar em uma cadeira onde tinha uma pilha de papéis. Samanta sorriu pra mim a reunião inteira, e seu cheiro anda estava em mim.


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Notas finais do capítulo

segundo: 24 de julho. // depois corrigir acentuação.
primeiro post: 22 de julho.



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