La Barbe Bleue escrita por Kaya


Capítulo 1
Capítulo 1




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Normalmente, as manhãs são frescas e cheias de vida, enquanto a noite é escura e fria. Eu, particularmente, prefiro o dia, mas minha irmã, Kristal, prefere a noite. Ela diz que a escuridão é mais intensa e misteriosa, e que as manhãs são muito honestas e sem-graça. Ou talvez essas só sejam nossas características. Kristal, ou como nós carinhosamente a chamávamos, Krista era intensa e misteriosa, eu, honesta e sem-graça. Eu sou alguns anos mais velha que Krista, porém tivemos a mesma educação, fomos criadas pelas mesmas pessoas, mamãe e papai, no mesmo lugar, Vila Peorce. Mas mesmo assim, Krista e eu somos como água e vinho. Nós até nos damos bem, contudo nunca concordamos em nada.
Eu estava perto do lago, sentada cuidadosamente em uma pedra. Gostava de fazer isso. Todos os dias depois que eu terminava minhas tarefas, vinha até o lago e sentava na pedra mais distante à margem. Ficava ali, olhando para a água e ouvindo ao som da natureza enquanto pensava em coisas triviais, ou, mais recentemente, ficava ali lembrando como era bom quando ainda tínhamos vovó conosco. Ela morreu de uma forte gripe que atacou a vila no último outono, mas antes de morrer ela me deu um colar. O seu colar preferido. Era um camafeu que seu pai tinha feito para ela quando ela completou dezesseis anos. Ficava me lembrando de quando, em seu leito de morte, ela tirou o camafeu da sua caixa de joias e colocou-o envolta do meu pescoço. Ao me lembrar disso, imediatamente levei minha mão até meu pescoço, segurando o colar entre meus dedos enquanto fechei os olhos e respirei fundo, sorrindo em seguida enquanto lembrava-me do seu rosto. Era bondoso e pacifico. Ah, como eu sentia falta dela! 
Olhei para o céu e reparei que não dali a muito tempo, o sol iria embora, me deixando na escuridão da floresta. Levantei lentamente e fui andando pelas pedras até chegar à margem do rio, então peguei o Atalho das Flores. Queria pegar algumas para enfeitar a mesa do jantar, como fazia quase todos os dias. Estava passeando calmamente pela trilha quando reparei em uma rosa azul. Nunca tinha visto uma antes ali, então andei até ela e quando a arranquei do galho, reparei, por trás do estrado da planta, um cavalo e seu cavaleiro na clareira da floresta. Era raro alguém vir até a clareira num fim de tarde de quarta-feira. Na verdade, era raro alguém vir até a clareira no fim de qualquer tarde. Eu só tinha visto alguém ali duas ou três vezes, e mesmo assim, eram nômades perdidos ou nômades acampando. Não sei dizer por que ninguém ia até lá. Não é uma clareira mal assombrada ou qualquer coisa do tipo, é uma clareira normal, mas nunca havia ninguém ali. O cavalo estava com as patas dianteiras dobradas e sua cabeça estava inclinada para frente enquanto seu cavaleiro estava segurando sua espada bem à frente do cavalo. O cavaleiro, então, levantou sua espada repentinamente e o cavalo acompanhou seu gesto com o corpo. O cavalo deu alguns passos para trás, ao mesmo tempo em que seu cavaleiro jogou a espada para cima, então o cavalo virou sua cabeça de lado e abriu a boca, pegando a espada entre os dentes em seguida. Ele voltou a abaixar as patas dianteiras e inclinar a cabeça para frente, dando a espada a seu cavaleiro. O mesmo pegou a espada e abriu sua bolsa, então jogou uma maçã para o cavalo e apalpou sua cabeça em sinal de aprovação em seguida. Ri baixo entre os galhos da planta ao ver a cena. Era impressionante como o cavalo obedecia ao olhar do cavaleiro.

- Quem estás aí? – o cavaleiro perguntou enquanto virava e apontava sua espada na direção das flores, onde eu estava. – Responda-me!

Balancei minha cabeça negativamente e comecei a correr na direção do final da trilha, aonde começava uma nova trilha pela floresta que, finalmente, dava na vila. Estava segurando as pontas do meu vestido com a mão esquerda e as flores com a mão direita. Quando cheguei ao final do atalho, me virei para o lado para ver se o cavaleiro ainda estava me procurando quando senti meu corpo chocar contra algo com força, então cai no chão, derrubando as flores ao meu redor. Levei minha mão até minha cabeça e apertei a lateral direita do meu rosto com certa força, abri meus olhos devagar e vi a ponta de uma espada apontada na minha direção.

- Quem és? – a voz do cavaleiro quebrou o silêncio.
- Eu sou... Kristenny Lecter... da Vila Peorce. – disse entre os dentes, ainda recuperando minha respiração. O cavaleiro apenas concordou com a cabeça e tirou a espada do meu rosto.
- A senhorita Lecter não sabe que é feio olhar as outras pessoas sem a sua exata permissão? – olhei para cima e vi sua mão estendida, então segurei na sua mão para conseguir me equilibrar.
- Sei sim, senhor. Desculpa-me, é que... fiquei encantada com seu cavalo. – disse rapidamente, assustada com a facilidade que as palavras estavam passando pelos meus lábios.
- Ouviu isso, Hector? A senhorita Lecter ficou encantada com você. Agradeça-a. – ele disse em um tom imperativo, então o cavalo novamente inclinou as patas dianteiras para trás e relinchou educadamente, como se estivesse realmente se curvando na minha direção, e agradecendo. Sorri de canto, impressionada e voltei a olhar para o cavaleiro. - Vila Peorce, hum? – ele perguntou, olhando para frente pensativo. Apenas concordei com a cabeça e me abaixei, colhendo as flores que haviam caído. – Meu pai fala muito bem da vila Peorce.
- Seu pai...? – disse lentamente, com medo de perguntar.
- É, meu pai. – ele disse com desdém. Então concordei com a cabeça, sorrindo em seguida. - Peorce deve ser uma das vilas mais produtivas de Pamive, não? – assenti com a cabeça ao levantar do chão e começar a andar na direção da floresta. O cavaleiro desceu do cavalo rapidamente e começou a andar ao meu lado, o cavalo nos seguindo atrás. – É, é sim. – a voz dele soava ressentida, como se o assunto não lhe agradasse muito. Sorri sem graça e olhei para o lado contrário, desejando não estar tendo essa conversa estranha com um estranho. Queria perguntar quem ele era, mas tinha medo de que a pergunta não fosse do seu agrado.
- Você vive na vila há muito tempo? – ele perguntou, quebrando o silêncio novamente.
- Desde que nasci. – respondi rapidamente. Ele sorriu de canto e olhou para as flores na minha mão direita com uma expressão pensativa. – Para a mesa do jantar. – respondi com uma voz baixa ao notar sua expressão.
- Deus, onde estão meus modos?! – ele perguntou, mas a si mesmo do que a mim. – Eu sou Henry Hayes, de Pamive. – ele disse sorridente, estendendo a mão na minha direção e se ajoelhando ao chão. Sorri de canto e estendi minha mão esquerda até a sua, então ele beijou a mesma e me olhou sorrindo.
- Pamive é distante daqui. – comentei medrosamente, tentando descobrir o que trazia Henry até Peorce.
- É, três horas quando Hector está calmo, duas quando está nervoso. – ele riu e eu ri junto. Ele tratava o cavalo como ser humano, tinha até dado um nome a ele. Hector. – E você, o que estava fazendo antes de me espionar? – ele disse condescendentemente, o que me deixou sem graça e me fez corar rapidamente.
- Ahn... Eu estava colhendo flores para o jantar. – disse olhando para o chão, e logo depois para frente. Reparei que estávamos perto do portão da vila, então sorri sem graça e me virei para olhar Henry. – Foi um prazer, senhor Hayes, mas temo que esteja tarde e eu tenho que ir agora. – concordei com a cabeça e sai correndo cuidadosamente na direção do portão da vila, agradecendo pelo sol não ter ido embora ainda.


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