Kalyfasepe vai até a janela e olha para céu e para o jardim como se estivesse dizendo "Adeus!". Voltando sua atenção ao papel e a caneta que estão em suas mãos, continuou escrevendo, sem notar as lágrimas que molham sua carta.     

A cada linha, palavra ou letra que ia escrevendo, se lembrava de seu grande amor. Lembrava dos dias na praça da cidade, onde eles liam e namoravam debaixo do velho salgueiro. Lembrava das noites em que ele fazia serenata. Mas também lembrava de onde ele estava agora, esperando pela morte em um leito de hospital. Essa lembrança a ajudou a terminar a escrita e a fortaleceu para que levasse a frente sua decisão.     

Dias depois, Mikayl acordou de seu estado sedado e buscou com os olhos a pessoa que estava mexendo em seu aparelho respiratorio.     

- Onde estão os meus pais? - ele perguntou, com a voz rouca por causa da falta de uso.     

- Vejo que o jovem finalmente acordou. - brincou a enfermeira - Vou chama-los . Só espere um pouco.     

Olhando para todos os lados, ele se pergunta quanto tempo ficou dormindo, mas esse pensamento logo é varrido de sua mente quando ele olha para a fotografia emoldurada que está em sua comoda. "KALY E KAYL. Eternamente um do outro". Ele sentiu uma euforia sem precedentes. Seus pais entraram justamente quando ele pegou a foto e colocou-a proxima de seu coração.     

- Graças a Deus, meu Kayl.  Finalmente você acordou. Estavamos ficando preocupados. - revelou sua mãe depois de um grande abraço.

- Bem-vindo de volta garotão. - disse seu pai, apertando a mão de seu filho.     

- Pai, onde está a Kaly?!     

- Não sabemos - respondeu a mãe, meio incerta se revelava ou não. - Já faz alguns dias que ela não aparece. Os pais dela se mudaram para outra cidade a alguns dias, e ela disse que não aguentava mais te ver desse jeito. Me pediu para te dizer "Adeus!" e para te entregar essa carta - ela estende o papel para o filho.     

Kayl leva algum tempo para absorver o que a mãe disse. Depois pega a carta, com muito medo de descobrir o que nela está escrito. Quando abre, começa a ler:

" Dear Mikayl,     

Quando você ler essa carta, sei que não me encontrará. Peço que não me procure. Não pergunte os motivos que tive para tomar a decisão que tomei, pois a única resposta que terá é que foi por amor.     Não me encontrará no antigo salgueiro. Nem em nossa caverna na floresta. Também não me achará na carteira do colegio ao lado da sua, e muito menos no seu ou no meu quarto.     

Saiba que se tinha alguma duvida se meu coração te pertencia, tenha essa certeza hoje.   

Do coração daquela que sempre foi, que é e que eternamente será sua...

Kaly♥"     

Mikayl chorou ao ler cada palavra. Não suportava ler as palavras de Adeus de sua amada Kaly. "Como ela pode me abandonar quando eu mais preciso dela?!". Guardou a carta dentro em sua comoda, dizendo que aquela era uma lembrança do motivo porque não deveria se apaixonar novamente, porque não deveria dar seu coração novamente a ninguém.     

Durante quase um ano, ele remoeu esse odio. Fez tudo que ele achava que magoaria a menina Kalyfase: se embriagava quase todos os fins-de-semana, ficava com varias garotas, traia as namoradas. Viveu uma vida completamente desregrada, mas nunca se esqueceu da jovem.      

Até que um dia ele foi preso, por dirigir bebado. O juiz condenou ele a prestar serviços a comunidade por 4 meses.     

No ultimo dia de sua sentença, o rapaz foi mandado para o cemiterio, para limpar os tumulos. Na ultima parte de sua tarefa, um nome em uma delicada lapide de marmore preto encrustrado de pedras roxas chamou sua atenção: "Aqui descansa Kalyfase Perez. Amiga Amada, Filha Abençoada e Namorada Eternamente Apaixonada..."     Mikayl prostou o rosto em terra, não acreditando no que lia. "Não pode ser! Devo estar tendo um pesadelo!!!", pensava sem parar. Quando olhou de novo e viu que não era uma ilusão, a data do falecimento dela o deixou intrigado. "20/09... Não pode ser! Não pode ser!".     

O menimo Kayl saiu do cemiterio com o carro e foi em direção onde esteve internado a um tempo atras. Chegando lá, pediu para que a atendente chama-se a medica e a enfermeira que atenderam ele. Assim que chegaram, disse:     

-Quem salvou a minha vida?! - exigiu o jovem.     

-Não podemos dizer. - respondeu calmamente a enfermeira.     

-Quem salvou a minha vida?! repetiu o jovem, já mostrando sinais que logo iria sucumbir a amarga dor que queimava em seu interior.   

-Não podemos responder. - Disse a mulher novamente, percebendo que ele já havia descoberto.     

- QUAL. O. NOME. DA. PESSOA. QUE. DOOU. O. CORAÇÃO.PARA. QUE. EU. VIVESSE.?!- gritou o jovem - Acabei de ir ao cemiterio e encotrei um tumulo que eu jamais esperei ver, o da minha Kalyfase. E sabe o que mais me chamou atenção?! É que ela morreu no mesmo dia que eu recebi um coração novo. Vou perguntar pela ultima vez: Quem salvou a minha vida?!     

A medica percebeu  a dor na face e na voz do rapaz e vendo as lagrimas brotarem de seus olhos, decidiu contar-lhe a verdade.     

-Jovem Mikayl, a doadora de seu coração se chama Kalyfase Perez. Ela sabia que morreria e pediu para que jamais revelassemos nada para ninguém.     

Naquela hora, 15 palavras foram marcadas a 'a fogo' na alma dele, e mais tarde, tatuadas em sua pele:      

"Saiba que se tinha alguma duvida se meu coração te pertencia, tenha essa certeza hoje."