Apressei os meus passos pela rua escura e deserta...

A solidão era algo quase eminente. Observava as casas ao longo do caminho. As luzes todas apagadas. Um silêncio tão desconfortante que fazia minha alma fria estremecer. Que rumo eu estava tomando mesmo? Bem, isso não importava. Não havia mesmo lugar para onde ir. Eu estava sozinho. Como nunca tinha estado antes. Completamente sozinho...

Eu sentia uma estranha dor pulsar em meu peito. Um gosto amargo e apavorante. Será que era assim que se sentiam quando se perde algo importante? Balancei a cabeça ferozmente e encarei o céu escuro e medonho... Nem a lua e nem as estrelas estavam presentes. Tudo estava tão negro. E me perguntei se o culpado de tudo isso era eu.

Jamais fui capaz de descrever os meus sentimentos. E eu não sabia o quanto isso a machucava. Para mim isso era algo fútil, ridículo e que só os fracos possuíam... Eu achava ela fraca, mas nunca pensei que na verdade o grande fraco de toda essa história era eu. Senti a dor em meu peito crescer ainda mais. Um vazio amargo e incontrolável que me consumia.

O coração que sempre pensei que não tinha, sangrava tanto...

“Empty spaces fill me up with holes

Distant faces with no place left to go

Without you within me I can't find no rest

Where I'm going is anybody's guess”

“Espaços vazios me enchem de buracos

Rostos distantes sem nenhum destino

Sem você em mim não posso encontrar descanso

Aonde vou ninguém pode adivinhar”

Então parei.

Justamente no único lugar em que não deveria parar. Mas a vontade era tão grande. Quase que gritava dentro de minha cabeça. Eu não podia ser tão egoísta, tão covarde. Eu tinha que admitir a verdade para mim mesmo e também para ela. Eu simplesmente não conseguia pensar mais, comer direito, dormir. Passava noites em claro sentindo o seu perfume na minha cama. Lembrando do seu corpo quente sobre meu. Do seu sorriso lindo e radiante ao sussurrar o meu nome. Dos seus olhos, que me preenchiam de alegria e que não me iluminavam mais. Dos seus lábios macios nos meus. Meu deus, como fui idiota! Agora eu percebia isso. Eu percebia o quanto ela me fazia falta. Por que sem ela eu não conseguia viver direito. Ela me completava.

Numa tentativa quase que inútil peguei uma pequena pedra no chão e lancei na janela acima de minha cabeça. A casa como todas as outras estava escura. E o silencio se abateu...

Senti o vendo noturno e gelado, chicotear o meu rosto. E um enorme buraco se abrir em meu coração. A dor de todas as minhas esperanças se estraçalharem pelo chão. Não havia mais volta para mim. Eu tinha errado. Devia pagar por isso e aceitar que eu era o único culpado. Virei meu corpo, sentindo-o pesado. A frustração estava presente em meu rosto. Então ouvi um barulho. E uma brecha de luz me iluminar na rua escura...

- Sasuke-kun? – sua doce voz chamou o meu nome. E de repente, quase que automaticamente senti a dor se diluir dentro de meu peito. Pouco a pouco.

- Preciso falar com você. – minha voz saiu fria e num sussurro. Eu não era tão bom com isso. Mas tinha que encontrar um modo de dizer para ela quão grande era a dor que eu sentia. O tanto que era angustiante a sua ausência. O quanto eu precisava dela ao meu lado novamente. – Preciso me... – minha voz falhou dessa vez. Respirei fundo. Tinha que dizer. – Preciso me desculpar com você.

Disse com esforço e esperei por sua resposta. Um longo silencio se abateu. Longos minutos que se arrastaram e parecera uma eternidade. Uma estranha inquietação me corroeu por dentro. Por que ela não dizia nada? Um “não” já era alguma coisa, me faria cair na real e ir embora, desaparecendo por completo de sua vida. Mas o silencio e a duvida. Era pior. Pensei que não era capaz de sentir isso, mas agora eu sentia. Um grande medo. Um medo tão apavorante. Cerrei minhas mãos em punho, não conseguindo controlar a ansiedade.

Seus brilhantes olhos verdes me fitaram e de repente sumiram de vista. As cortinas que até agora estavam abertas se fecharam... Era essa a sua resposta então? Mas eu não a culpava. O único culpado aqui era eu. Que tantas vezes a deixei sozinha. Que brinquei com seu amor. Ignorando-a. Deixando-a em segundo plano na minha vida. Eu merecia a sua raiva e o seu desprezo. Fechei os olhos sentindo a dor se abater de novo, dessa vez mais poderosa em meu peito... Meu coração...

“I've tried to go on like I never knew you

I'm awake but my world is half asleep

I pray for this heart to be unbroken

But without you all I'm going to be is incomplete”

“Tentei continuar como nunca tivesse te conhecido

Estou acordado, mas meu mundo está adormecido

Eu rezo para que meu coração pare de doer”

Mas sem você eu vou ficar incompleto

- Entre... – sua voz saiu num sussurro. Mas tão meiga e gentil. Reabri meus olhos e me deparei com ela parada na porta. Não sorria me encarava com receio. Ela se afastou um pouco para me dar passagem. Devagar, ainda não permitindo que a dor eu meu peito cessa-se. Entrei. Parando na sala escura de sua casa, iluminada apenas pela luz quase mínima de um abajur. 

Após fechar a porta ela se posicionou na minha frente. As mãos cruzadas sobre o peito. Parecia que estava desconfiada. E seus olhos me fitavam quase que incrédulos e apreensivos. Tomei uma lufada de ar. E me aproximei um pouco mais. Era obvio que ela desconfiava desse meu ato. O grande Sasuke Uchiha era orgulhoso demais para pedir perdão. Mas esse Sasuke que estava na sua frente, era um Sasuke que simplesmente não conseguia mais viver sem ela.

- Vou ser sincero com você... Eu nunca pensei que diria isso um dia, Mas não consigo mais suportar. – minha voz não saiu fria como eu pensava. Talvez por que era a primeira vez que eu era sincero. Que eu realmente abria o meu coração. Que deixava os sentimentos, antes reprimidos, serem ouvidos por outra pessoa. – Sinto muito a sua falta. E só agora eu consigo perceber, o quanto você é importante para mim.

- Importante? – ela revirou os olhos, incrédula. – Pensei que para você eu não passava de um estorvo irritante.

Sorri secamente. Há uma semana era exatamente isso que eu pensava. Mas como podia eu ser tão burro? Como podia eu não ter percebido antes? Tinha sido necessário perder para só então dar valor o suficiente? Infelizmente sim. Pois agora mais do que tudo, conseguia entender que na verdade eu a...

Sim. Por mais que eu negasse, era isso que eu sentia. Só não tinha notado antes.

- Era realmente isso que eu pensava Sakura. – admiti. Não era correto esconder a verdade. E se ela me perdoasse, seria da maneira certa. – Mas me enganei completamente... Desde que você se foi eu não sou mais o mesmo. Não consigo parar de pensar em você. Na sua voz suave... Nesses seus olhos verdes e encantadores... Nos seus lábios macios nos meus... Jamais pensei que sofreria tanto. Mas estou sofrendo. Estou sofrendo por que só agora percebi que não posso viver sem você ao meu lado...

Minha voz falhou no final. Era tudo. Eu estava contando tudo para ela. O que eu realmente sentia. E embora eu quisesse sorrir por ter sido corajoso e forte o suficiente para admitir o que sentia. Não conseguia. Algo me impedia. Talvez seus olhos. Que me fitavam distantes, sem nenhuma expressão neles. Será que era tarde de mais para mim? Será que eu realmente a tinha perdido para sempre?

“Voices tell me I should carry on

But I am swimming in an ocean all alone

Baby, my baby, it's written on your face

You still wonder if we made a big mistake”

“Vozes me dizem que eu devo seguir em frente

Mas estou nadando num oceano totalmente só

Amor, meu amor, está escrito em seu rosto

Você ainda pergunta se cometemos um grande erro”

- Quero acreditar Sasuke... – ela disse finalmente. E apesar do escuro que se abatia e me impedia de vislumbrar o seu rosto perfeitamente. Eu podia sentir. Sua leve respiração acelerada e descompassada. Pequenas lágrimas refletidas pela iluminação do abajur caiam de seus olhos. – Mas não consigo. Simplesmente não consigo.

Suas palavras soaram amargas. Como uma facada em meu coração. Ela estava certa. Como poderia acreditar novamente em mim depois de tudo o que já lhe fiz? Quando sai de minha casa, resolvendo apenas caminhar e tomar um pouco de ar puro. Pensei que era apenas isso que queria. Mas não. Meu corpo e minha alma, automaticamente me guiaram até ali. Na casa dela. Numa tola atitude de esperança. Mas estava na hora de cair na real. Não poderia haver “nós dois” novamente. Era capaz de entendê-la. Acho que nem eu mesmo conseguia acreditar mais em mim. Eu não passava de um maldito, mentiroso e egoísta. Um burro que cometeu um grande erro. Um erro irremediável. O melhor que tinha a fazer agora era reconhecer. Sair daquela casa e de sua vida. Deixá-la ser feliz com quem realmente a merecia.

- Você tem razão. Não posso exigir isso. – tentei sorrir mais não consegui. A dor me apertava tão forte. – Mas eu precisava tentar.

Aproximei-me dela e toquei o seu rosto suave. Seria a ultima vez que a tocava. A última vez que sentiria sua pele quente e suave na minha. E tomado por uma vontade que não pude controlar, aproximei o meu rosto. Lentamente... Era só um beijo. Era tudo que eu pedia agora. Queria levar comigo o doce de seus lábios. Para guardá-los eternamente na minha memória...

Mas não houve beijo. Ela havia virado de lado. Ignorando qualquer tentativa de aproximação. Fechei meus olhos. “Aceite de uma vez Sasuke!” Gritei para mim mesmo. Nem isso eu merecia. Seu desprezo era justo. Na verdade, eu tinha apenas que sair dali. E não a perturbá-la mais. Afastei-me de seu corpo e segui em direção até a porta.

- Você... – sua voz saiu de repente chamando minha atenção. Impedindo-me de sair. – Você nunca disse que me amava...

Senti um estranho desconforto em meu interior. Sim, eu nunca disse que a amava... E até agora, quando implorava pelo seu perdeu, eu também não dissera. E isso só provava. Eu realmente não valia nada. Era só uma palavra. Palavra que nunca tive coragem de dizer. Pois meu egoísmo nunca me permitira.

“I've tried to go on like I never knew you

I'm awake but my world is half asleep

I pray for this heart to be unbroken

But without you all I'm going to be is incomplete”

“Tentei continuar como nunca tivesse te conhecido

Estou acordado, mas meu mundo está adormecido

Eu rezo para que meu coração pare de doer

Mas sem você eu vou ficar incompleto”

Engoli em seco. Não, eu não fugiria dessa vez. Era uma única palavra. Por que era assim tão difícil pronunciá-la? Eu precisava dela ao meu lado. Precisava dela por que a amava. Eu estava completamente apaixonado por ela. Acho que sempre estive. Mas tentava esconder, como agora. Esconder que eu não precisava de nada nem ninguém para se feliz. Que não nutria sentimentos e que isso não valia para mim. Porém, não podia esconder mais. Dane-se o mundo e o que vão pensar de mim. Estava ali, nesse momento, disposto a me ajoelhar aos seus pés. E mesmo que não me perdoa-se ela tinha que ouvir dos meus lábios. Pelo menos uma única vez.

- Tem razão, eu nunca disse... – voltei a me aproximar dela. Sentindo-a recuar um passo. – Mas estou disposto a dizer agora se for preciso.

- Sssuke não... – recuou novamente. Mas parou. Impedida pelo sofá posicionado no meio da sala. Não havia para onde fugir agora. E eu também não podia fugir. Era tudo ou nada. Minha ultima oportunidade. Não poderia e não queria perde-la.

- Eu te amo. E só agora consigo perceber isso com clareza. – segurei em seu rosto para impedi-la de virá-lo desta vez. – Meu orgulho idiota sempre falou mais forte e eu nunca tive coragem de admitir. Mas perdê-la me fez compreender e dessa vez falo a verdade. Estou abrindo o meu coração de uma maneira que jamais fiz com outra pessoa. Acredite em mim... Pelo menos dessa vez. Sakura eu te amo.

Não esperei por sua resposta. A beijei. Como nunca a tinha beijado antes. Sentindo o doce que tanto me fazia falta. Que era o motivo das minhas noites em claro. A princípio ela não correspondeu, mas depois foi permitindo pouco a pouco, que eu pudesse aprofundar mais. Investi minha língua, buscando passagem por sua boca, tocando em cada ponto sensível e vulnerável que a deixava sem reação. Segurei em sua cintura e delicadamente a empurrei. Fazendo seu corpo se deitar sobre o sofá. Coloquei o meu sobre o dela. Ainda sorvendo de seus lábios tentadores.

Deslizei as mãos de maneira ágil, mas ao mesmo tempo sensível. Não sabia que era capaz de fazer isso. Mas desta vez eu sentia essa necessidade. A necessidade de ser tudo perfeito. De aproveitar cada pedaço de seu corpo moldado e curvilíneo. Afastei-me para tomar ar. E pude ver um brilho diferente naqueles verdes profundos. Embora ofegasse e sua respiração estivesse completamente descompassada, eu podia sentir. Ela queria sorrir. Percebi que ainda duvidava, mas queria sorrir. Então eu sorri. De maneira à verídica tudo o que tinha dito antes.

- Repete. – ela soltou um sussurro quase inaudível. Fitando-me de maneira profunda. Ainda tentando reprimir o sorriso que queria saltar de seus lábios. – Tenho que ter a certeza de que desta vez posso confiar em você.

Se era isso que queria. Faria com o maior prazer. Não tinha mais nenhuma vergonha de dizer. O meu orgulho agora estava bem reprimido no profundo de meu peito, onde deveria estar a muito tempo.

“I don't mean to drag it on

But I can't seem to let you go

I don't wanna make you face this world alone

I wanna let you go”

“Eu não quero prolongar isso

Mas eu não consigo deixá-la

Não quero te fazer encarar este mundo sozinha

Eu quero deixá-la ir”

- Eu te amo... – sussurrei em seu ouvido. – Você é a coisa mais importante de minha vida. Não posso mais viver sem te ter ao meu. Por que é a única pessoa capaz de me completar.

Ela finalmente sorriu. E me permitir que a dor fosse embora de vez. Afastando-a pouco a pouco do meu coração. Não havia por que ela ficar ali. Pois a luz que trazia a minha felicidade e me livrava da escuridão já estava ao meu lado.

E não esperando fui surpreendido pelos seus lábios que desta vez tomaram os meus. Suas mãos suaves se entrelaçaram nos meus cabelos. E logo depois desceram para o meu corpo. Abrindo lentamente os botões de minha camisa.

Estremeci.

Puxei delicadamente o seu corpo, pegando-a no colo. Mais do que nunca eu tinha certeza agora. Ela era o grande amor da minha vida. Eu estava incompleto antes de conhecê-la, e sempre pensei que ainda estava. E depois da briga, depois de vê-la me abandonando... Finalmente compreendi. Subi as escadas indo em direção ao seu quarto, focando essa única verdade em minha cabeça. Ela era a minha outra metade e eu finalmente estava completo...

“I've tried to go on like I never knew you

I'm awake but my world is half asleep

I pray for this heart to be unbroken

But without you all I'm going to be is incomplete

Incomplete”

“Tentei continuar como nunca tivesse te conhecido

Estou acordado, mas meu mundo está adormecido

Eu rezo para que meu coração pare de doer

Mas sem você eu vou ficar incompleto

Incompleto”

Eu finalmente estava completo...