Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 51
Viagens


Notas iniciais do capítulo

=)



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Eu não arrumei uma mala. Nem mesmo uma pequena mochila. Minha jornada estava prestes a começar, mas meu caminho ia muito além de onde apenas passos poderiam me levar.
                Deitei-me na cama. Rolei um pouco e fiquei forçando a mente a se concentrar. Estava bem difícil esvaziar a cabeça. Eu pensava em não pensar em nada, porém isso já se transformava em um pensamento perturbador. Abri os olhos e observei o teto. O sentimento de incompetência começou a chegar. Com um pulo fui até a janela tomar um ar. Já era quase noite. Uma bela noite, por sinal. Uma noite em que os jovens estariam por ai, se divertindo entre amigos, rindo e curtindo. Afinal é sexta-feira! E é isto que adolescentes fazem nas sextas. Exceto eu, que de jovem só tenho a idade. O que me falta é ser gente.

               Dei uns passos para trás e me lancei sobre uma poltrona. Macio e confortável. Como tudo na minha vida precisava ser.

                E foi com uma força boa que eu dei um tapa na minha própria cabeça. Para com isso moleque inútil! Tanta coisa para resolver e você só fica ai se lamentando de uma vida que não é mais sua. De que adianta? Não vai voltar. Já era. Acabou. Tem que começar de novo. Vai, concentra. Só isso que você precisa fazer. Fechar os olhos e...

                Âmbar. É, âmbar era uma boa cor que definia tudo o que eu via. Eram várias formas geométricas que se amontoavam em morrinhos de paralelepípedos, cilindros, cones. Até o chão era irregular, o que dificultava um pouco que eu andasse rápido. Fui me equilibrando entre as pontas que brotavam sob meus pés e olhando ao redor para ver se havia alguma novidade.

               Nada.

               Não é possível que eles já tivessem saído daquele sonho! Não fazia nem um minuto que eu havia sentido eles entrando. Eles tinham que estar ali. Tinham.

               E estavam. Avistei há uns cem metros de mim o que parecia ser um vulto negro caminhando bem rápido. Tentei cambalear me concentrando em pisar apenas sobre os cubos para tentar alcançá-lo. Ele ia rápido, mas não correu ao sentir que minha presença se aproximava. Só ficou ali, esperando até que minha mão segurasse no seu ombro.

              - Ei! – gritei.

              Ele não se virou, apenas parou de andar.

              - Eu estou falando com você!

              Com uma leve arrogância ele se virou. Um manto cinza bem escuro o cobria por completo. Mal havia um buraco para os olhos. Desenhos em prateado com pequenas pedrinhas brilhantes cobriam toda a vestimenta. Pareciam tatuagens tribais, que o envolviam e reluziam naquele ambiente amarelado.

              - Mas eu não tenho nada a tratar com vermes. – uma voz doce saiu de sua boca, abafada pelo manto. Era uma mulher.

              - Você é um deles, não é?

              Ela manteve o silêncio, o que me irritava.

              - Responde!

              - O que sai da minha boca não é para ser ouvido por aqueles que são inferiores. Siga sua missão verme, que eu sigo a minha e nada se interfere neste sonho.

              Acho que eu nunca tinha me sentido tão sem mundo que nem naquela hora. Eu era um nada no Mundo Real e no Mundo dos Sonhos. Não é possível um ser assim.
              - Olha aqui... – segurei com força no braço dela. – Não sei quem você é, quer dizer, até faço uma ideia de que grupo faça parte, e acredite nesse verme aqui, você quer sim falar comigo! Então para, arranca esse negócio da cara e me escuta como dois Arautos que somos. Tenho certeza que os nossos interesses são os mesmos! – Eu estava muito bravo. Irritado mesmo. Não medi nenhuma palavra ao falar. Ela podia estourar meus miolos se fosse isso que ela quisesse fazer, mas não o fez. Para minha sorte.

               Ela levou as mãos ao rosto e em um golpe rápido puxou o manto que a cobria. Aparentava ser bem jovem. Tinha um cabelo loiro e muito comprido jogado sobre o ombro. Traços bem angelicais, que eram um tanto que encobertos pelas tatuagens parecidas com as do manto, só que grafadas em seu rosto. Era a confirmação que eu precisava. Ela era uma deles.

               - Fale o suficiente e olhe para o chão. Não ouse levantar os olhos para mim. – ordenou.

               - Você pensa que é o que, uma deusa? – perguntei em tom de deboche, novamente sem medir uma palavra sequer. – O que eu vim lhe falar é para ser dito assim, olhando nos olhos. – mirei fundo contra seus olhos. Eram azuis também.

              - Como ousa falar assim com uma Nata! Eu posso muito bem acabar com sua raça aqui e agora seu imprestável que suja nosso mundo – ela cuspiu para o lado. – tenho nojo da sua condição!

               - Então acaba comigo logo, se assim preferir. Já podia ter feito isso desde o momento em que me viu, mas não quis. Tem repudia do meu ser, mas não repudia o que venho lhe propor. – retruquei com uma confiança que nem eu sei de onde surgiu.

               Ela me olhou de cima a baixo e deu um sorriso de canto de boca.

               - Então temos aqui um verme ousado. Disposto a tudo. Diga logo então, o que você quer!

              Eu ri alto.

              - Não é o que eu quero, e sim o que vocês querem. Algo que foi perdido há poucos anos atrás, algo que era para eu saber, mas que vocês tentaram impedir. – ri novamente. – Que azar hein! Quem diria que nem eu nem vocês saberíamos. Quem diria que esse segredo se perderia!

              - Você...? – ela fechou o risinho que torcia sua boca. – Então é você o verme criado por Ascar, você é o Mensageiro de Ascar?
              Quem? Ascar era o nome do meu criador? Eu nunca soube o nome do meu criador. Talvez porque ele nunca tenha pensado em seu próprio nome. Sabia muito menos que eu era chamado de Mensageiro de Ascar, e conhecido pelos Manipuladores.

               Ela baixou a cabeça e começou a gargalhar. Rapidamente ergueu os olhos e deu uma risada sádica.

               - Eu vou te matar. – murmurou.

               Antes que eu tentasse dizer qualquer coisa para me defender, ela fez um movimento muito rápido com o braço, eu mal pude entender o que era. Só consegui ver uma chuva de cones âmbar vindo em minha direção, como mísseis direcionados. É, eu ia morrer. De novo.


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Notas finais do capítulo

Comentem ^^



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