Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 16
V - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Uhh, esse capítulo promete!



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                Uma música bem bonita começou a tocar. Seu ritmo era doce e suave. Eu estava andando por um corredor, com várias portas e nenhuma janela. Quando passei por uma dessas portas, ela se abriu rangendo. Curiosa, entrei e deparei-me com um belo piano de cauda, com uma menina tocando. Aproximei-me da menina e na hora em que toquei em seu ombro a melodia subitamente parou, a garotinha virou-se para mim e eu pude claramente reconhecer seu rosto. Era a mesma figurinha angelical que havia sido encontrada desmaiada na frente da escola, dias a trás. Levei um choque, primeiro por não entender o que ela estava fazendo ali, segundo, pois eu não estava sentindo aquela horrível sensação que senti quando a vi pela primeira vez, pelo contrario, estava sentindo uma intensa sensação de paz e, terceiro, porque seus olhos eram tão infinitamente azuis quanto os de Daniel. A garotinha então se levantou do banco do piano, abriu um sorriso e segurou em minha mão. Com passos rápidos, que faziam parecer que ela tinha rodinhas no pé, ela me levou até uma sala, cuja porta ainda estava fechada. Ficamos paradas na frente desta porta por um bom tempo, até eu ter coragem de falar algo.

               - Quem é você?

               Ela ficou indiferente e não me respondeu, somente levantou a mão e levou-a até a maçaneta da porta. Eu observei atentamente até ela conseguir abrir a porta. Ao passo que a porta se abria, uma luz intensa invadia o corredor. Ela se voltou para mim com os olhinhos brilhando.

               - Vem Mel!

               - Como você sabe meu nome? – perguntei curiosa.

               Ela sorriu docemente e respondeu.

               - Na vida, há ciosas que não sabemos e procuramos as respostas, porém há mais coisas que sabemos, mas ainda sim procuramos perguntas. Às vezes, é mais sábio não procurar nem uma, nem outra. – ela puxou meu braço, para acompanhá-la.

               Fiquei pasma com o que acabara de ouvir. Quando ia dar meu primeiro passo, a voz, aquela que já considero uma companheira, me chamou. Voltei-me rapidamente para trás, soltando a mão da garotinha, a fim de ver quem me chamara. Novamente, não para minha surpresa, não havia nada. Olhei para frente de novo, para encontrar novamente as mãozinhas da menina, porém só vi uma porta fechada, sem ninguém por perto. Não entendi, tentei abrir a porta novamente, nada. Corri para o outro quarto, a sala do piano, mas estava vazio. Corri por todo o corredor, infinitas portas passavam por mim, mas nenhuma estava aberta. Fechei os olhos e me senti completamente sozinha.

               - Melinda... Melinda... Acorda MEL! – gritou uma voz bem familiar.

               Abri os olhos e encontrei-me deitada na cama com a coberta toda revirada e o rosto suado.

               - Mãe! – sussurrei pulando em seus braços e dando um abraço forte.

               - Mel, Graças a Deus! Você estava gritando eu não conseguia acorda-la!- exclamou minha mãe bem aflita.

               - Foi só um sonho... – murmurei.

               - Já falei que precisamos tratar disso! – retrucou.

               Eu apenas lancei um olhar reprovador e deitei novamente, a fim de tentar dormir novamente.

               - O que você está fazendo. – perguntou ela.

               - Dormindo. – respondi com os olhos fechados.

               - Mas já está na hora de levantar.

               Bati a mão sobre o criado mudo, tentando achar o relógio, quando consegui pegá-lo, levei-o até a frente do nariz e abri os olhos. Deparei-me com impressionante seis e meia e não acreditei. Eu ainda estava com sono, mas consegui lutar contra ele, me trocando e indo para escola.

               Lá o dia correu normalmente, entregamos um trabalho de química, sobre ligações iônicas. Não entendo tão bem de Química quanto Física, mas me viro como posso. Depois da aula, Daniel e eu voltamos de ônibus lendo Memórias de um Sargento de Milícias, pois este livro iria cair na prova de Português daquela semana e nós ainda nem havíamos começado a ler.

                Em casa, além de estudar um pouco mais, descansei a mente por um tempo, assistindo TV e tirando um leve cochilo. Devido a essa pequena cochilada diurna, meu sono tardou a chegar de noite, mas quando chegou, foi tranqüilo e profundo, diferente da noite anterior.

                No dia seguinte, acordei sem birra e preparei o café da manhã antes que minha mãe chegasse à cozinha. Quando ela chegou ficou surpresa ao me encontrar e abriu um longo sorriso, demonstrando satisfação.

                As aulas passaram como sempre e na volta, terminamos de ler o livro. Quando eu estava descendo do ônibus, ouvi a voz de Daniel me chamando.

                - Mel!

                Voltei-me para trás e olhei para os olhos azuis que me fitavam.

                - Hoje, seis horas... Confirmado? – perguntou.

                Abri um gostoso sorriso e confirmei empolgada.

                Em casa, antes de ir para a aula de Tênis, ajudei minha mãe em alguns afazeres domésticos e relembrei rapidamente o conteúdo de Física, para poder explicar melhor as dúvidas de Daniel. Coloquei minha roupa de Tênis e saí. Em dois segundos estava dentro de casa de novo. O frio que havia chegado repentinamente me assustou naquela tarde de outono. Subi para o quarto e pegue uma blusa de moletom, que joguei sobre os ombros. Aí sim, fui para o clube. 

                 Estava jogando um set apertado com minha parceira de treino. Sempre, no final do treinamento, nós jogamos um pequeno jogo, só para não perder o ritmo. Era meu serviço e estava indo tudo muito bem, 40x15. Estávamos no game point então desci para rede, para poder volear. Foi bem nesse exato momento que minha cabeça se voltou para o lado e eu me deparei com a figura de Daniel debruçado na grade da quadra. Rebati a bolinha e paralisei ali mesmo olhando para ele. Estava tão lindo, com um agasalho de tactel branco cujo zíper estava todo fechado. A gola lhe cobria o pescoço e logo encontrava o cabelo tão preto e reluzente. Contraste perfeito com seus olhos azuis. Calça jeans normal e um tênis preto, que ele diz gostar tanto. Fiquei tão perdida em meus pensamentos, que quando dei por mim, a bolinha voava alto sobre minha cabeça. Era um lobby perfeito que eu estava tomando, bem ali, na frente dele. Não dava para acreditar, só para piorar. Fiz uma tentativa frustrada de resgatar a bolinha antes do segundo pingo. Corri como uma louca e quando quase consegui, meu corpo desequilibrou e então, eu totalmente desengonçada, derrapei lindamente na quadra. A minha única sorte foi que justamente naquele dia, nós fomos treinar na quadra rápida e não no saibro, porque senão, o estrago seria muito maior para mim.

               Eu tinha acabado de levar o pior tombo da minha vida no Tênis, o mais humilhantes de todos, um legitimo “catando galinha”, bem na frente do garoto que eu gosto. Não sabia para onde olhar, não queria nem levantar do chão. Meu técnico foi até mim, segurou meu braço e ajudou-me a ficar de pé. Confirmei rapidamente que estava bem, passando a mão nos joelhos levemente ralados. Meu olho estava fixo na bolinha, não tinha coragem para olhar para mais nada. 40x30. Fui para a linha do saque e apenas uma palavra estava na minha cabeça. “Ace”. A única coisa que poderia amenizar o meu belo tombo era um ponto de saque direto. Lancei a bolinha para cima, respirei fundo e me concentrei ao máximo, golpeando-a com força e rapidez. Foi perfeita, atravessou a quadra sobre a rede e pingou exatamente na linha, voando para longe da minha companheira de treino. Fim de game e de set. Nosso treinador nos chamou e fez alguns comentários do treino, incluindo sobre a minha distração não explicada. Depois de dispensada, fui ao encontro de Floukin.

                - Oi. – disse timidamente, rezando para ele não ter percebido o real motivo do meu tombo.

                - Oi tenista! Você está bem? – respondeu olhando para meu joelho ralado.

                - Ah, isso? Estou sim, é normal nos treinos! – na verdade não era, mas...

                - Doeu até em mim! – riu.

                - Pode ter certeza que doeu mais em mim, mas eu supero. – falei em um tom confiante. – Ah! Espera um pouquinho aí que eu vou trocar de roupa. – avisei apontando para um banco na borda da quadra.

                Enquanto ele se sentava, eu fui para o vestiário. Tomei uma ducha, coloquei minha calça jeans e uma camiseta regata, vestindo a blusa por cima. Lavei o rosto, ajeitei o rabo de cavalo, a faixa de cabelo e passei meu desodorante. Peguei minha mochila, abri o zíper e ajeitei a raquete lá dentro, de modo que o cabo ficasse para fora. Coloquei-a nas costas e sai. Daniel estava observando o início de um outro treino de Tênis.

                - Pronto! – disse aproximando-me.

                - Rápida hein! – riu. – Vamos lá então.

                Eu só retribui o sorriso e nós saímos do clube. Na frente da portaria perguntei.

                - Onde a gente vai estudar?

                - Bem, eu não sei se você conhece, mas daqui a uns três quarteirões, tem uma lanchonete restaurante bem legal, com um espaço com mesas, que vai dar para nós estudarmos tranquliamente. – alegou animado.        

                - Ah eu sei onde é! – respondi também empolgada. – Só que nunca entrei.

                - Meu pai costumava levar eu e... – ele interrompeu subitamente a frase e franziu de leve as sobrancelhas, como se engolisse em seco. – Costumava me levar lá quando eu era um pouco menor. O milk shake é muito bom!

                 Ri dessa última frase, mas ainda sim fiquei intrigada com o jeito dele instantes atrás.

              - Vamos andando então? – chamou.

              - Vamos lá! – confirmei.

              Ficamos por pouco tempo em silêncio. Já eram mais de seis horas e como aquele era um bairro comercial, as lojas já estavam fechadas. A rua não estava tão movimenta, estava até bem calma por sinal.

              - E aí tenista, você joga bem hein! – exclamou ele, interrompendo o silêncio.

              - Eu? – ri de mim mesma. – Por enquanto eu só tento jogar. Vai demorar para entrar em um nível avançado.

              - Ah, mas de saque você entende muito bem! – disse ele olhando para mim. – O último que você deu foi perfeito, parecia que você tinha programado exatamente onde a bolinha ia cair!

              - Eu gosto de sacar, eu me solto bem nessas horas... Talvez seja isso! – murmurei sem conseguir falar muita coisa.

              - Eu sempre quis jogar Tênis, como já falei, eu adoro esse esporte! Mas não sei, nunca fui atrás quando era pequeno e agora acho que estou um pouquinho atrasado. – riu, balançando os ombros.

              - Ah, nem tanto! Conheço bastante gente que começou a jogar depois de grande, o que importa é se sentir bem! – tentei plantar a melhor das esperanças.

              - É, o único problema são os horários... Talvez o ano que vem, quem sabe. – respondeu e abriu um belo sorriso para mim, o que, com certeza fez minhas bochechas corarem.

              Mais um instante de silêncio.

              - Estava vendo sua raquete, é Wilson? – perguntou.

              - Ahan! – confirmei. – É uma Wilson de grafite. Antes eu tinha uma Head que eu gostava muito só que, como meu nível estava aumentando, eu precisava de uma raquete com um material melhor. Então meu professor foi um dia para São Paulo, em uma feira de material de Tênis e levou eu e minha amiga junto.

              - Aquela menina que estava treinando com você? – perguntou interessado na história da minha raquete.

              - Essa mesmo. – confirmei e continuei contando. - Meu pai sabia que eu precisava de uma raquete melhor e como estava perto do meu aniversário, ele me deu duzentos reais para eu comprar uma nova raquete. Com esse dinheiro não dava pra comprar uma raquete nova de um bom material, então, depois de muita procura, vi uma banca de raquetes usadas. Lá que eu encontrei esta daqui – apontei para o cabo da minha Wilson dentro da mochila - por trezentos. Estava em um ótimo preço, já que geralmente as novas custam seiscentos e tanto. Conversei com o dono da banca e depois de muito esforço, convenci-o de fazer ela por duzentos mais minha Head. E ela virou minha fiel companheira até hoje.

              - Nossa, que legal! Nunca tinha visto uma raquete ser tão amada por alguém antes! – exclamou ele sorridente como sempre. Porém seu sorriso se fechou em questão de segundos.

              Daniel parou de andar, ficou estático, com um olhar perdido no nada, com uma cara apreensiva que chegava a assustar. Parei também e olhei espantada para ele.

              - Mel, correee! – disse ele com uma voz que soava nervosismo.


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Notas finais do capítulo

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