Com a chegada dos outros guardiões, foi mais fácil terminar com aqueles Strigois que estavam ali. Mas eu sabia, eu sentia, muito mais viram, apesar de também saber que tantos Strigois trabalhando juntos era algo que não acontecia com facilidade. Com a morte de Isaiah, eles deveriam ter um novo líder. Um poderoso líder que conseguiu fazer com que tantos deles se aliassem.

Alberta, que liderava aquele grupo de guardiões, veio até mim, com uma expressão preocupada. Certamente, ela estava se questionando como era possível tantos Strigois juntos e dentro do terreno da Academia. Certamente, ela estava se perguntando se conseguiríamos reverter esta situação.

“O que aconteceu aqui, Belikov?” Alberta perguntou.

“Quase não acreditamos quando sua aluna chegou gritando no dormitório.” Stan acrescentou “pensávamos que era mais uma das brincadeiras dela. Mas, então, ela falou ‘buria’...”

Eu tive vontade de responder à altura aquele comentário inapropriado de Stan. Tudo tinha seu momento, e aquele certamente não era um para ele fazer insinuações sobre Rose. Mas o meu instinto de guardião estava falando mais alto e eu o ignorei.

Eu ainda podia sentir a adrenalina da luta passando por minhas veias. Minha respiração estava pesada e o coração disparado, mas minha mente ainda estava funcionando a mil por hora. Logo, me ocorreu que outros pontos da escola poderiam ser ou já estar sendo atacados.

“Não temos tempo para conversar agora.” Falei urgentemente “existe algum problema com as wards. De alguma maneira, elas pararam de funcionar, foram quebradas. Os Strigois perceberam isto e a Academia está sob ataque. Temos que cobrir as áreas dos dormitórios Morois. Ao que parece, os Strigois se aliaram e não podemos prever quantos estão nos atacando podem ser poucos, mas pode ser um batalhão.”

“Eu mandei grupos de guardiões averiguarem a situação pelos arredores do campus e outros para proteger os dormitórios Morois. Mas não sabemos qual a real dimensão disso tudo. Eu vim para cá imediatamente, pois era o local onde tínhamos certeza que havia Strigois, não fiquei para saber qual retorno eles trariam.” Alberta me informou.

Todos os guardiões, que estavam ali, reagiram às nossas palavras imediatamente. Alberta mandou que Stan fosse com Celeste e Yuri para os dormitórios do campus fundamental. Nós retornaríamos ao campus superior e mandaríamos reforços para eles.

Eu e Alberta corremos, com a maior velocidade que podíamos. Ambos concentrados no imenso combate que teríamos. Ambos sem saber o que encontraríamos. Apesar de ser bem mais velha, Alberta ainda tinha um preparo físico excelente, nada deixando a desejar aos guardiões mais jovens. Enquanto corríamos, não me contive em perguntar.

“Onde Rose está?”

Alberta ficou silenciosa por poucos segundos. Eu não sabia dizer se ela estava pensando na pergunta ou no problema para o qual estávamos correndo.

“Eu a deixei tomando conta do dormitório dhampir. Realmente cogitei a idéia de mandá-la para o combate, ela está totalmente pronta para isso, nós sabemos, mas... olhando aqueles jovens aprendizes, percebi que não podia deixá-los sem proteção. Se os Strigois atacarem a ala dos dhampirs, sabemos que muitos não conseguirão lutar contra eles. Seria um verdadeiro massacre. Alguém tinha que ficar por lá.”

Internamente, uma onda de alívio passou por mim. Mesmo sabendo que Rose era melhor do que muito guardião que estava na linha de combate, e que a ajuda dela faria uma grande diferença nessa batalha, a parte egoísta minha achou que tinha sido uma grande idéia deixá-la “guardada” dentro do dormitório dhampir. Dificilmente os Strigois chegariam até lá, já que o alvo principal deles sempre eram os Morois e teria bastante guardiões para retê-los. Mesmo sendo jovem e mal treinado, qualquer dhampir reagiria a um ataque Strigoi, ao contrario de um Moroi que não ofereceria qualquer resistência.

Quando saímos da floresta e pudemos ver o campus superior da Academia de longe, tivemos uma visão atemorizadora. Em uma contagem superficial, mais de quarenta Strigois travavam uma verdadeira guerra contra os guardiões que ali estavam. A situação era caótica. O barulho de uma grande batalha era ouvido por todos os lados. Socos, chutes e gritos, muitos gritos.

Senti meu corpo reagir instantaneamente. Eu podia sentir a sede pela luta arder dentro de mim. Enquanto corria, segurei firmemente a minha estaca. Todos os meus sentidos, todos os músculos do meu corpo entraram em ação. Parti para um Strigoi que lutava contra um guardião que não conseguia detê-lo. Aproveitando o elemento surpresa, cravei a estaca em seu peito e o observei cair morto. Rapidamente me virei para outro, e mais outro. Tudo passou como um borrão em minha mente. Honestamente, eu não saberia dizer com quantos lutei e nem quantos matei. Alguns eram claramente mais fracos, sendo eliminados facilmente, outros eram fortes e resistentes, bem treinados, provavelmente dhampirs que haviam sido transformados, mas nem por isso, eu era vencido. Parecia uma batalha sem fim. Strigois apareciam por todos os cantos e eu não conseguia pensar em mais nada a não ser terminar com eles. Com todos eles. Até que, uma certa hora, o número deles começou a diminuir. Eles estavam se retirando. Olhei em volta e pude perceber. Apesar de ainda estar escuro, estava próximo do amanhecer e eles estavam fugindo. Foi quando a realidade dos acontecimentos me atingiu. Havia corpos espalhados por toda a extensão dos pátios. Corpos de Strigois e corpos de guardiões. Imediatamente, o dormitório dhampir veio a minha mente. Rose. Eu precisava saber como Rose estava.

Corri até lá, entrando sem me importar com quem quer que fosse. Mas ninguém tentou me impedir. Todos estavam assustados. Passei para a área comum do segundo andar, onde os alunos estavam. Meus olhos varreram o ambiente, buscando por Rose, mas não havia qualquer sinal dela. Fui até um dos garotos dhampirs, que parecia liderar o grupo e perguntei por ela.

“Ela saiu, Guardião Belikov. Logo no começo. Ela disse que precisava proteger Christian. Ela saiu pela janela e não voltou mais.”

Senti meu corpo congelar. Eu já deveria saber que Rose não ficaria aquartelada enquanto uma guerra se travava do lado de fora. Eu estava tão envolvido com tudo aquilo que não enxerguei o óbvio. Ela tinha ido lutar e agora eu não sabia o que tinha acontecido. Ela podia estar morta agora. Eu sabia que ela era muito boa e bem treinada, mas eram muitos Strigois.

Sem dar uma palavra mais, corri dali. Pensando rapidamente, fui até o dormitório Moroi, ela só podia estar com Lissa. Provavelmente, ela tinha levado Christian para lá e ficado para proteger sua amiga. No caminho, um guardião trombou em mim. Era Celeste. Ela me segurou, seu rosto estava completamente desfigurado e sangue molhava toda a sua roupa.

“Belikov. Isso foi terrível. Você pode me ajudar até a clínica médica?” Ela falou em meio aos ferimentos.

“Desculpe Celeste, preciso encontrar Rose.” falei, sem me importar em parecer mesquinho ou egoísta.

“Rose está no campus fundamental. Ela acabou com quase todos os Strigois de lá. Se ela não tivesse aparecido, nem sei o que seria de nós.”

“Rose lutou com vocês?”

“Sim. Ela e Christian.” Não sei como, mas Celeste ainda conseguiu sorrir, mesmo tão machucada. “Ele colocava fogo nos Strigois e ela os empalava. Uma bela dupla.”

Eu não podia acreditar naquilo. Soltei o ombro de Celeste e praticamente voei até o campus fundamental.