A relação entre o Mello e o Matt era bem instável, já que o próprio Mello era instável – parecia uma garota na TPM. Uma hora estava animado, outra estava aborrecido, e assim levava a vida.

         Matt ainda estava chocado pela morte de seu melhor amigo. Evitava a todos, e, antes de se deitar – no mesmo dia em que recebera a notícia – chorou. Aquilo era vergonhoso, mas ele era o único que lhe entendia. O único que entendia sua dor.

         Conseguiu parar de soluçar quando seu celular – não muito moderno – tocou, avisando que recebera uma nova mensagem. Não deu bola, continuou com a cara no travesseiro. Só levantou da cama quando alguém bateu na porta.

         Sua reação foi olhar para a cama e pensar “Mello deve ter voltado”, mas lembrou de que Mello havia falecido.

- Quem é? – perguntou, ríspido.

- É o Ne... É o Near!  Eu posso entrar?! Matt, por favor!

         Matt estranhou-o: ele não costumava ser tão desesperado. Quando abriu a porta, foi surpreendido por um forte abraço.

- Eu sinto muito! Sinto muito mesmo! Você deve estar péssimo! Não... Eu não sei como te consolar, eu também fiquei muito chocado, sabe?! – e se soltou, mas continuou a falar que sentia muito.

- Calma... Near, pare de falar um pouco. Eu estou bem. – mentiu ele.

         Se Near acabara de lhe dar um abraço, então o fim do mundo estava próximo.

- Roger me disse que eu vou ter que mudar de quarto, que você devia estar 67%  mais desesperado que o  normal, e 81% mais triste, mas você quer ficar sozinho, não quer? – o garoto fechou a porta (que até agora estava aberta) e começou a chorar.

         “Você é que está desesperado, isso sim”, pensou Matt, “ e eu estou mais confuso que o normal. O que está acontecendo?”.

- Ei! Ei! O que foi? Não estou entendendo mais nada! Por favor... Não chora...

- Não me deixaram ver o corpo dele. – falou Near. – Pode ser apenas uma brincadeira, não pode? Quem foi que te falou que ele estava mort... – a palavra não saía.

- Foi o Roger. Mas eu realmente acho que ele morreu, sim. E eu não sei por quê. Tenho um sexto sentido muito aguçado.

         Ele se sentou na cama. Parecia despreocupado, até indiferente. Mas não era nada disso. Nunca tinha estado tão triste. Respirou fundo umas três vezes. Será que era algo relacionado ao seu “segredo”? Podia ser. Podia não ser. Tudo era possível.

         “Eu gosto de outro garoto”, a frase ainda ecoava em sua cabeça. Era um sentimento horrível.

- O que é isso? – indagou Near. Ele tirou o travesseiro que estava na cama de Mello, e embaixo havia um caderno de capa vermelha. – Eu sei que não devia mexer nas coisas dele, mas...

- Eu nunca tinha visto isso aqui antes. – respondeu o ruivo. – Mello era bom em esconder as coisas, hein? E olha que éramos melhores amigos. Imagina se não fôssemos.

         Ele pegou o caderno e abriu a primeira página. Deu uma olhada, arregalou os olhos e voltou a fechá-lo.

- Será que devemos? – perguntou. – É exatamente isso que você imagina que é. Um diário. Sério, eu não acredito que ele tinha uma coisa dessas.

- Eu acredito. De qualquer forma, vão retirar as coisas dele do quarto. Melhor guardar isso.

- Como você sabe que vão retirar as coisas dele do quarto?

         Near voltou a ficar sério. O Near de antes, ou seja, o de sempre.

- Confie em mim. Estou aqui desde os dois anos de idade.

         Matt se surpreendeu. Desde os dois anos?! De fato, nunca foi de se interessar pelo passados das pessoas com quem convivia. Ele pensou. Então, o albino já presenciara outras mortes.

         O orfanato Wammy’s House está cheio de segredos...