Além de Seus Medos escrita por QueLopes


Capítulo 3
CAPÍTULO III - ENTRE FERAS


Notas iniciais do capítulo

Oiieee... Meus amores, peço mil perdões por não ter postado no dia em que prometi. Eu tentei diversas vezes, mas a internet de casa não ajudou. Foi mal mesmo.

Espero que ainda tenha leitoras =)

Agradeço a quem comentou, fiquei muito feliz e emocionada. ^^

Espero que gostem do capítulo.

Boa leitura.



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Bella POV

Não quis descer para tomar café no outro dia. Minha mãe também não veio me chamar, talvez pensando que eu estava cansada demais por causa da viagem. Mas não tinha nada haver com cansaço. Eu só tinha vergonha de ir e encarar meus pais, mesmo que eles não vissem as marcas em meu braço, eu ainda me sentia decepcionando-os e lhes entristecendo.

Foi por essa razão que viemos para Forks, para tentar uma nova vida e esquecer as tristezas de minha adolescência. Às vezes vejo na televisão relatos de adolescentes que dizem, “Queria mudar minha vida!”, ou, “Minha vida é um inferno!

Essas pessoas não fazem idéia do que é o verdadeiro inferno. Eu também não, mas cheguei bem perto de descobrir. Por isso que ainda agradeço por já não estar morta, por ter pais unidos que me apoiaram no momento que mais precisei, e apesar de ter um irmão que me odeia, eu sei e compreendo os motivos deles, e tenho consciência de que a culpa é minha.

Eu queria ter os problemas que a maioria dos jovens tem. Queria não ter medo de sair de casa, e ir me divertir. Quem sabe até ter um namorado, e ter as mesmas discussões bobas que logo são resolvidas e seladas com um beijo apaixonado. Como qualquer pessoa normal.

Mas são coisas que não tenho, e talvez jamais vá ter. Parece que fui condenada a uma vida quase trágica e completamente problemática.

Ouvi três batidas na porta, e logo o rosto de minha mãe apareceu, sempre com um sorriso meigo.

-Querida, seu pai e eu vamos ao centro. Quer ir? – Ela veio e sentou-se na beira de minha cama. Disfarçadamente cobri meu braço esquerdo com o edredom. Ela não percebeu.

-Não, mamãe, estou um pouco indisposta. –

-Oh, meu anjo, quer que eu lhe traga alguma coisa? – Mamãe logo se preocupou. Sorri negando com a cabeça.

-Não precisa. Eu vou tomar um banho e logo estarei melhor. – Ela assentiu, porém, não parecia convencida.

-Tudo bem. Acho que seu irmão também vai sair... – Percebi a tristeza na voz dela. – Qualquer coisa, ligue para mim, ok? –

-Claro, mamãe, eu te amo. – Ela sorriu e me deu um beijo na testa.

-Também te amo, meu anjo. –

Mamãe saiu de meu quarto ainda avisando que deixaria meu café na mesa, e os números do corpo de bombeiro e até da polícia. Eu ri. Mamãe não percebia que se eu precisasse falar com a polícia, eu só tinha que mandar um torpedo pro papai.

Fiquei mais algum tempo na cama, refletindo o que eu havia feito. Foi um erro perigoso, e eu precisava me cuidar. Não queria ser motivo de preocupações para os meus pais novamente.

Levantei-me e fui direto até o meu armário. Peguei a caixinha e fiquei alguns segundos ali, pensando. Fechei meus olhos.

Você precisa se livrar disso. Você não é fraca. Você consegue se livrar. Seja forte.

Um pensamento que parecia não ser meu, invadiu minha mente. Abri meus olhos e corri para o banheiro. O lixeiro. Não. Era perigoso demais, mamãe poderia ver ou eu seria fraca novamente. As duas opções eram ruins.

Fitei meu espelho e no reflexo aparecia a janela do meu quarto. A cortina branca era convidativa.

Enquanto eu me aproximava da janela, o quarto parecia se encolher a minha volta, e a caixinha parecia pesar dois quilos, ao invés de gramas.

 Abri a janela. O vento gélido bateu em meu rosto e correu entre meus cabelos soltos. Incrível como aquilo não me pareceu um mal sinal. Eu sempre relacionei o vento gelado às sensações ruins.

Naquele momento, tudo isso parecia bobagem.

Fechei meus olhos e contei até três.

-Um... Dois... Três! –

Abri os olhos e só o que vi foi a caixinha voando pra sabe Deus onde. Sorri. Eu consegui me livrar de um fantasma.

Quando desci, quase pude ouvir o eco de meus passos, de tão silenciosa que a casa estava.

Era domingo, então provavelmente meus pais chegariam após o meio-dia, e meu irmão... Bem, talvez só visse à noite. Eu tinha a casa todinha pra mim, numa gélida, porém, bela manhã. Só não sabia se eu gostava disso ou não. Dei de ombros. Logo eu me acostumaria com a imensidão daquela casa, era só uma questão de tempo.

Fui pra cozinha e enquanto comia o café que minha mãe havia deixado, fiquei pensando na nova escola. Emmett estaria no terceiro ano, e eu no segundo. Suspirei pesadamente. Eu não tinha muitos amigos em Port Angeles – quase nenhum, pra ser sincera -, e sendo novata, as coisas seriam um pouco mais difíceis.

Nunca fui do tipo sociável, e isso só piorou quando eu... Tive meus... Problemas.

Mas eu só precisava ficar fora do caminho de todos, e então ficaria tudo bem. Ninguém iria perder tempo para falar comigo, então, eu não precisava me preocupar.

Eu torcia para que isso realmente acontecesse.

~~*~~*~~

||| Segunda – feira / 13-02-11/ 6h50min |||

Primeiro dia de aula.

E já havia começado uma semana mais tarde.

Eu só esperava que isso não fosse um mau presságio.

Eu estava usando o casaco que Emmett havia me dado há quatro anos. Eu tinha treze. Isso significava que eu continuava tão magra quanto antes... E Emmett ainda não me odiava.

Emmett não me odiou sempre. Não, éramos bons irmãos. Não tão unidos como eu gostaria, mas o suficiente para que ele me carregasse nas costas, fingindo ser um cavalo, e me ajudando a por curativo no meu joelho que eu ralei ao tentar subir numa árvore. Ele prometeu me ajudar a subir, quando eu crescesse mais um pouco...

Eu cresci, mas ele nunca me ensinou a subir na árvore. 

A cozinha estava em completo silêncio. Emmett estava quieto e emburrado novamente. Mamãe lavava a louça sem cantarolar, algo que ela fazia sempre que estava de bom humor. Fui até ela e lhe dei um beijo no rosto, ela me olhou rapidamente e sorriu.

Nesse rápido movimento percebi que seus olhos estavam vermelhos e inchados. Eu não disse nada, apenas dei meia volta e sentei para tomar café, bem à frente de Emmett. Enquanto passava geléia no pão, percebi que ele olhava pra mim. Não pra mim exatamente, mas para o casaco que eu usava.

Não o fitei de volta, com medo do que o olhar dele poderia dizer.

-Emmett, leve Bella pra escola, por favor. – Mamãe destacou bem as duas últimas palavras. De relance vi Emmett assentir.

-Ótimo. Vou trabalhar, se cuidem. – Ela beijou a testa de Emmett e a minha.

Não foi difícil mamãe conseguir um emprego. Além de a cidade ser pequena, mamãe era muito simpática e convincente. Era quase um dom.  

Emmett seguiu até o jipe enquanto eu trancava a casa, como eu fazia em Port Angeles. Eu era sempre a última a sair.

Tive um pouco de dificuldade para subir naquele carro. Ele era enorme. Combinava com o dono. Emmett era muito forte, muito mesmo. E grande. Poderia ser quase assustador, se ele não tivesse um rosto tão lindo. Quando ele está de bom-humor, parece uma criança gigante, e essa é a parte que eu mais amo nele. Tudo pode estar ruim, mas ele sempre vê um lado divertido nas situações.

Mas isso não se estabelece à mim. Aí o caso é bem diferente. Não há nenhum lado divertido. E eu não digo só por ele.

A Forks High School não ficava muito longe de casa, e com a velocidade que Emmett dirigia, o trajeto foi feito em menos de cinco minutos.

Desci do jipe me sentindo naquelas cenas de filmes, em que tudo a sua volta fica sem foco e você se sente perdido, com um mundo de jovens lhe encarando com visível curiosidade.  

-Poderiam ser mais discretos. – Ouvi Emmett resmungar, batendo a porta do jipe com força.

-É. –

-Não falei com você! – Ele me olhou e eu baixei a cabeça, começando a andar a passos rápidos. As pessoas abriam caminho para mim, sempre me encarando. Realmente, eles poderiam disfarçar um pouco mais.

Fui direto à secretaria. Não foi difícil encontrar, uma série de plaquinhas com setas indicavam o caminho. Eu só precisei assinar um papel que confirmasse minha entrada ali, e levar uma autorização que meus professores precisavam assinar.

-E aqui está o seu horário e um pequeno mapa da escola, caso você se perca. – A senhora rechonchuda falou, entregando-me os papéis. Do jeito que ela falou, parecia que ela realmente acreditava que eu precisaria daquele mapa.

-Obrigada. – Segurei-me para não falar outra coisa.

-Por nada. Boa sorte. – Disse indiferente, já voltando à atenção ao computador. Ergui uma sobrancelha. Era esse o tipo de profissionalismo que tanto falam? Deus ajude os críticos.

Respirei fundo, agradecida por estar fora da secretaria. A sala já estava se tornando pequena demais pra mim.

Minhas primeiras aulas eram trigonometria e literatura. Cheguei a sala e o professor, Sr. Banner me olhou de cima a baixo e depois sorriu. Tentei retribuir, mas me contentei em lhe entregar a autorização para assinar.

-Sente-se, Isa. – Quase fechei os olhos. Mas o quê?!

-Isabella! – Frisei entredentes, antes de seguir até a última mesa vazia do canto esquerdo da sala.

-Ah, claro... Desculpe-me. – O professor disse rapidamente, antes de voltar-se para o quadro e escrever o seu nome e a matéria no mesmo.

A partir de agora eu odiava matemática!

~~*~~*~~

-Olha a roupa dela...

-E esse sapato? Onde ela arrumou? Numa liquidação de um centavo?

-Dá nojo só de olhar pra ela... E esse cabelo? Meu Deus!

-Como a deixaram entrar, hein?

-Deve ser bolsista! -

Eu deveria revidar. Deveria defender o casaco que meu irmão me deu, e o sapato que minha mãe me deu no Natal passado, o qual ela comprou com o dinheiro que ela tanto se esforçou para ganhar. E o cabelo que meu pai sempre elogia, dizendo que era idêntico ao dele e por isso é tão lindo. Isso me faz rir. Eu não era bolsista, mas o dinheiro que meus pais suam tanto para ganhar valia bastante, e eu só poderia me esforçar para recompensá-los.

Eu deveria fazer alguma coisa!

Mas eu estava ali, numa mesa do refeitório, sozinha, apenas ouvindo os murmúrios de três garotas que sentavam em uma mesa próxima a minha. Uma era ruiva, parecia ser a líder pela sua pose e por estar sentada no meio às outras duas, uma loira e a outra de cabelos pretos.

Já era meu terceiro dia de aula, e ninguém falou comigo. O que não impedia que as pessoas falassem de mim.

-Ah, acho que eu já acabei. – De relance vi a ruiva se levantar com sua bandeja. Ouvi as risadinhas das outras duas. A ruiva foi passar ao meu lado e então, “acidentalmente” deixou sua bandeja cair sobre mim.

Senti o suco gelado impregnar em minha blusa branca – Branca! Por Deus! – e o resto de uma torta sujar minha calça. Praticamente pulei, levantando-me.

As risadas das duas, mais a da ruiva, foi mesclada às gargalhadas de todos que estavam no refeitório.

Eu estava prestes a chorar, eu sentia. Mas foi só quando meus olhos encontraram os do meu irmão, este que gargalhava tanto quanto a ruiva, que as lágrimas começaram a cair.

-Oh, ela tá chorando gente! – A ruiva zombou, seguida de uma risada malévola.

-VAI CHORAR EM CASA, SUA RIDÍCULA! – Alguém gritou sabe Deus de onde. A ruiva se aproximou de mim, e se inclinou para falar em meu ouvido.

-Você nunca vai pertencer a esse lugar, v****! Você é uma idiota! -

Eu não pensei em mais nada, apenas peguei minha mochila e o casaco e fugi daquele lugar cruel.

Deixei pra traz as risadas, mas as palavras da ruiva ficaram me rondando.

Em nem me preocupava mais em limpar as lágrimas, elas não paravam de banhar o meu rosto.

Fui para fora da escola, porém corri para algum lugar detrás dela. Andei, andei, então de repente encontrei um lugar interessante. Ficava praticamente ao lado da escola, mas não parecia exatamente fazer parte dela, apesar de estar “grudada” à ela.. Era como um teatro... Um teatro com uma aparência e estrutura bem peculiar.

Havia somente uma porta. Entrei, dando de cara com um extenso corredor. Não havia nenhuma porta, apenas a imensa parede.

 Enquanto andava, passei meus dedos sobre a parede rústica, muito bonita. Aquela área da escola era totalmente desconhecida a mim, e realmente incitou minha curiosidade.

Não havia ninguém por perto, e parecia que fazia muito tempo que alguém caminhava por aqueles corredores. Seria ali uma parte abandonada da escola? Mas, por quê?

Senti uma saliência sobre meus dedos, e virei para olhar a grande rachadura que riscava a parede. Fiquei surpresa. Como aquilo ainda poderia estar de pé? Pelo que parecia, aquele era o único lugar que os responsáveis não se importavam em cuidar, ou fingiam que não existia. Uma pena de qualquer jeito, o lugar era mesmo bonito.

Repentinamente virei meu rosto, ao ouvir uma melodia, bem ao longe. Fui andando vagarosamente, e a cada passo que eu dava a melodia se tornava cada vez mais presente. Era linda.

Dobrei num pequeno corredor e dei de cara com uma porta. Estava entreaberta e em cima havia uma janelinha de vidro. Abri mais um pouco a porta, visualizando toda a sala.

Estava completamente vazia, exceto pelo canto esquerdo mais afastado da porta. Posicionado ao chão havia um belo piano de cauda, e tocando graciosamente cada nota da linda melodia que ainda enchia meus ouvidos, estava um garoto. Estava de costas para mim, o que me dava pouca visão de seu rosto. Mas ele era alto, mesmo sentado daria para perceber, e seus cabelos cor de cobre avermelhado eram moldados de um jeito bem diferente, eram cheios e desgrenhados, mas perfeitamente arrumados.

De uma forma bem estranha, eu gostei daquilo.

E então o que eu menos esperava aconteceu. Só percebi que ele havia parado de tocar quando meus olhos encontraram os seus. Não sei por quanto tempo fiquei ali, parada, profundamente hipnotizada por aqueles olhos incrivelmente esverdeados.

Eu já sentia meu rosto esquentar. Pisquei diversas vezes e foi então que finalmente me dei conta da idiotice que havia feito. Saí correndo dali antes que ele começasse a gritar comigo, com certeza reclamando minha intrusão.

-Espere! – O ouvi gritar, e eu quase parei ao escutar sua voz.

Mas não podia. Se eu voltasse, seria mil vezes pior, e eu não poderia me arriscar novamente.

~~*~~*~~


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Notas finais do capítulo

Então, espero que tenham gostado... Só quero avisar algo que eu esqueci de comentar, rsrs... Essa história não será muito grande, acho que terá em média uns 15 capítulos, quem sabe mais, conforme minha inspiração colaborar. Agora que as minhas aulas iniciarão, ficará um pouco mais difícil postar com frequência, espero que entendam. Mas farei de tudo para atualizar sempre que puder. O meu amigo, Cleyson, que geralmente posta pra mim quando eu não posso, está dodói, então complica, mas eu dou um jeito, ok? =D

Até o próximo, meus amores.
Beijuhs!



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