Aquele sorriso inocente ainda estava em seus lábios. Como ela conseguia? Eu não sabia, e ainda não sei... Não sei como uma pessoa consegue ser tão preta e branca. Ela tinha o poder de misturar o ódio e amor num doce perfeito. Doce que me conquistou na primeira mordida.

Perto, distante. Liberdade, vergonha.

Quando ela me tocava, parecia acariciar meu coração. Mas quando seus longos cabelos faziam uma cortina entre nós, eu sentia necessidade de retirá-los dali e perguntar: “Você ainda está sorrindo?”. Ela estava. Sempre esteve. Não importava se tudo estivesse ruim, seu sorriso sempre conseguia tirar os monstros de perto. Hoje os monstros estão de volta.

Minha primeira reação foi ficar sem reação quando suas mãos seguraram minha cintura, mantendo nossos corpos próximos. “Não quero que esse seja o nosso último beijo!” Sussurrou e beijou meu pescoço demoradamente. Pensei que ela estava brincando, como tantas vezes fazia. Mas ela não estava.

Agora vendo seu corpo pacífico e gelado dentro do caixão eu via quão verdadeiras eram aquelas palavras.

“Tudo vai ficar bem!” O vento sussurrava em meus ouvidos. Sorri sabendo que era ela. Ficaria bem, eu sei que ficaria. O líquido vermelho e bonito que escorria pela lâmina brilhante me confirmava isso.