- Mamãe. -a pequena chamou, ao lado de sua mãe, que lavava a louça.- Diga, querida. - Eu quero aprender a tocar piano. - Sakura sorriu.- Posso lhe ensinar, filha. Espere que eu termine aqui, está bem? -a garota puxou-lhe o vestido de seda.- Não quero aprender assim. Quero aprender com o tio Itachi.
Itachi. Sakura hesitou, as mãos paradas, a água escorrendo pelos dedos e pelo prato. Não, não pode ser o mesmo Itachi. Tentando evitar as lágrimas, respondeu em uma voz trêmula para a filha:
- Quem seria este, minha filha? -engoliu em seco quando uma voz rouca ressoou no recinto.- Este seria eu, Sakura-san. 
Tentando aparentar uma firmeza que não tinha, a mulher fechou a torneira e, aos poucos, virou-se para trás. Em segundos, viu-se frente à frente com o seu antigo - mas muito atual - amor. Uchiha Itachi. 
- Não se preocupe. Não irei cobrar pelas aulas. Gosto muito de Naomi-chan, sentiria muito prazer em ensiná-la.
Hesitante, Sakura lançou um olhar perdido para a filha. Não sabia o que responder. Entretanto, diante o olhar carente da menina, murmurou um sim fraco. Enxugou as mãos no pano de prato que se encontrava sobre a mesa, e pôs-se a seguir os passos da filha e do homem, os quais já se dirigiam para a sala onde estava o piano da Haruno. Por quê? Ela cruzou os braços em frente ao corpo, e caminhou olhando para o chão. A estabilidade que aprendera a sentir depois de um ano que ele havia ido embora estava ali, despedaçada, e o seu chão parecia ter sido destruído. Parou assim que chegou na porta, encostando-se no batente de madeira, só então levantando o olhar para eles. Naomi já estava sentada na banqueta em frente ao piano e Itachi organizava algumas tablaturas no espaço indicado para estas. Este se encontrava de pé, curvado atrás da pequena Haruno para poder ajudá-la. Sakura perdeu-se em suas divagações, olhando-o tão absorto no que fazia. Tão distraída estava, não notou quando o Uchiha levantou os olhos e sustentou o olhar dela. Assim que percebeu, sentiu algumas lágrimas teimosas mancharem sua pele rosada. E, com a profundidade de seu olhar, sentiu que voltava ao dia onde tudo havia começado.

### 6 anos atrás

Sakura ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Aos 18 anos, fazia faculdade de medicina. Porém, continuava quieta, sem contato com o exterior e tinha grandes dificuldades em renovar amizades. Era órfã desde os 14 anos, e depois de perder os pais em um acidente de avião, começou a ficar depressiva. E aquilo perdurou por anos, e só foi ter seu fim ao conhecer o pianista japonês que viera do Japão à procura de Haruno Aoi.
- Ele... E-ele... -a Haruno gaguejou, olhando para baixo. 
Estavam parados na porta da casa da rosada. Itachi tocara a campainha, e ao invés de encontrar com o sempre alegre regente junto de sua pequena filha, encontrou somente a pequena filha. Que, por sinal, não era mais pequena. Esperou paciente até que as palavras trêmulas saíssem da boca da Haruno, mas não esperava que esta desabasse em seus braços, manchando seu suéter de lágrimas.
- Ele morreu. Ele... Eles. 
E apartir de então, Itachi passou a ir todos os dias para visitar a Haruno, sempre tentando libertá-la da prisão na qual ela mesma havia se prendido. Foi em um desses dias que, menos depressiva, ele tocou uma doce melodia no piano que havia sido de Haruno Aoi. Sakura sentiu os olhos pesarem ao vê-lo apertar as teclas com tanto fervor, da mesma forma que costumava ver seu pai tocar. Então, não conseguiu segurar as lágrimas.
- Sakura-san... Não chore. -e lá estava ele, abraçando-a como sempre fazia. 
Quando finalmente conseguiu se acalmar, contou-lhe o motivo das lágrimas. Abriu um pequeno sorriso melancólico quando ele prometeu que iria lhe ensinar a tocar. Disse-lhe que daquela forma ela poderia estar mais próxima ao espírito do pai. Sakura assentiu, e passou os dias seguintes tocando da maneira que Itachi lhe ensinava, cada vez se superando.Até o dia em que, tão boa estava, ele abriu um sorriso de canto e sentou-se para tocar com ela, iniciando-se assim um dueto que, ao acabar, traria alegria aos olhos de Sakura. Itachi sorriu, satisfeito com sua conquista, e olhou Sakura com o que ela nunca esperou que veria: amor.No mesmo dia, eles amaram-se como um homem amaria uma mulher, no tapete da sala, próximo ao piano. Quando ele se levantou e começou a arrumar as roupas, sorriu para Sakura com pesar. 
- Eu... Me perdoe. Sakura-san. - Suspirou. Sakura levantou o tronco, olhando-o com o medo de perde-lo. -Tenho que voltar para o Japão. 
E a alegria de outrora voltou a evaporar. Sakura observou o seu novo amor sair por aquelas portas, depois de dar-lhe um selinho de adeus, e nunca mais voltar. Porém, o que Itachi não sabia, é que aquele amor teria frutos, e nove meses depois, Sakura segurava nos braços a pequena Naomi. Haruno Naomi.

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Sakura piscou, observando a filha começar a tocar as mesmas notas que tocara com Itachi, 6 anos atrás. Sentiu o coração apertar-se, e ficou a tarde inteira observando professor e aluna - pai e filha tocarem. Suspirou longamente, quando percebeu a luz solar se extinguir e a sala ser tomada pela escuridão noturna. 
- Está na hora de tomar seu banho, querida. -a voz falha, baixa, anunciou. Naomi olhou-a com um brilho nos olhos, e não contestou a mãe. Beijou a face do "tio Itachi" e então subiu as escadas.
Por alguns minutos, ficaram em silêncio, enquanto os passos de Naomi deixavam de ecoar no assoalho de madeira do segundo andar. Só então, quando a casa estava silenciosa, Itachi levantou-se da banqueta e caminhou em passos lentos para Sakura. Com um sorriso nos lábios, ficou de frente para esta.
- Desculpe. -ela o olhou, esperando. - Mas eu prometi que iria voltar.
E então abraçou-a, sentindo novamente as lágrimas de Sakura mancharem o seu suéter. Sentiu-se bem quando ela devolveu-lhe o abraço. Sakura sentiu que seu chão estava sendo reconstruído, ao sentir o homem de sua vida junto de si. 
- P-por quê? Por que foi embora? -ela perguntou assim que conseguiu se separar dele.- Eu tinha esposa. -aquilo lhe chocou, mas ela se manteve firme. Afinal, ele havia voltado, certo? -Mas não a amava. E precisava pedir o divórcio para ficar com quem realmente importava. E conhecer minha filha.
Sakura sorriu, sem proferir palavra, e voltou a abraçá-lo. Chorando silenciosamente, beijou-lhe a boca, e da mesma forma que haviam feito há 6 anos, voltaram a se amar no mesmo tapete, na mesma sala, depois da mesma melodia. Por que agora, ele não iria mais. Ela não deixaria.

### END