First Tatoo escrita por Liliaceae


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Essa veio num surto da madrugada. São 11h04 da manhã e eu ainda não dormi. Pelo menos, coloquei pra fora. Espero que gostem...



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Beta: Takashima Nii (http://www.fanfiction.com.br/takashima_nii) - Domo por topar betar, mesmo depois de postada ^^

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First Tatoo

- Renji... Tem certeza disso? – o careca perguntou pela décima vez. Naquela meia hora.

- Já disse que sim! – o ruivo nem se deu ao trabalho de virar na direção do amigo. Continuou, a passos firmes, rumo ao seu objetivo – Você tá com mais medo do que eu Ikkaku!

- Baka! – correu um pouco para acompanhar o ritmo do ruivo – Só acho que está sendo meio precipitado! Como sempre, aliás...

- Yare! Já decidi! – parou na frente de uma porta. Hesitou um pouco. Tinha mesmo decidido? Dane-se – Vamos nessa!

Renji entrou na loja e Ikkaku apenas observou. Não achava que ele fosse se arrepender, conhecia-o o bastante para saber que não. Mas também sabia que ele ia chorar como um bebê até o resultado final. Deu de ombros e entrou no estabelecimento, preparado para ouvir todos os tipos de xingamentos que conhecia. Não tinha com o que se preocupar, no fim das contas. Afinal, era ele que ia sofrer com as agulhas e tintas das tatuagens que tanto queria.

Ao entrar, percebeu que Abarai já estava acertando os detalhes com o tatuador. Não deu muita importância. Ocupou-se olhando os catálogos. Até que os desenhos eram maneiros... Quem sabe não saia dali com uma tatuagem também...

- Ei, Ikkaku – ouviu o ruivo chamá-lo – Vai ficar parado aí ou vem junto?

- Já estou aqui mesmo, não me custa nada ver o bebê chorão berrando em desespero – ironizou.

- Vai rindo, baka – Renji deu-lhe as costas, entrando no estúdio e sentando-se – Quando eu terminar, arranco sua cabeça!

Ikkaku riu. O ruivo era mesmo um bebê chorão.

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- Que merda é essa na sua cara, Abarai? – Yumichika berrou, assustando Hisagi e Kira. O ruivo e o careca tinham acabado de entrar no bar e, obviamente, a testa recém tatuada de Renji chamara a atenção. Não era todo dia que se via um shinigami com papel filme na cabeça.

- Não enche, Ayasegawa! – Abarai puxou uma cadeira ao lado de Hisagi – Já basta o Madarame!

Puxando outra cadeira e sentando-se ao lado de Yumichika, Ikkaku não continha as risadas.

- Essa ameba aí achou que ia tatuar a cara sem sentir dor nenhuma! – bateu na mesa, arrancando o riso meio contido de Izuru e o espalhafatoso de seu companheiro no 11º esquadrão. Além, obviamente, de meneios negativos do fukutaichou do 9º.

- Não me leve a mal, Renji-san, mas, sério, por que isso? – Shuuhei manifestou-se, olhando meio preocupado para o amigo.

- Você é o que menos pode falar aqui Hisagi-san – Abarai argumentou, debruçando-se sobre os braços na mesa. Fazia diferença explicar para qualquer um ali os motivos de suas tatuagens? Definitivamente, não. Sua dor de cabeça estava aumentando – Aliás, nunca perguntei o porquê desse ‘69’ na sua cara.

- Se eu bem me lembro – Kira se intrometeu – Hisagi-san tatuou esse número depois de ter sido salvo por alguém que tinha a mesma tatuagem, ou algo assim.

O moreno apenas concordou, virando mais um gole de sakê. Já tinha bebido sua cota e seu estômago estava começando a doer. Mas estava pouco se importando para esse detalhe. Precisava daquilo.

- Hisagi-san está meio pra baixo hoje – Yumichika não conseguia ficar de boca fechada – Tomou outro pé na bunda, não foi?

- Não é dá sua conta – bufou, alcançando a garrafa no centro da mesa.

- Vamos ver – Ikkaku foi mais rápido, apanhando a garrafa das mãos do moreno e enchendo o copo à sua frente – Shuuhei está enchendo a cara porque levou um fora. Yumichika...

- Porque não tinha mais nada pra fazer – completou o rapaz, tomando a garrafa das mãos do amigo, deixando Hisagi com cara de poucos amigos.

- Certo. Kira?

- Tédio – Izuru respondeu e aproveitou para apanhar mais uma dose de sakê, para desespero do fukutaichou do 9º esquadrão. Não era esse o motivo. O motivo estava no 3º esquadrão. Não era da conta deles.

- Tédio? – Madarame estranhou e o loiro deu de ombros, pousando a garrafa e sorvendo mais um gole. Garrafa que, novamente, foi pra longe de Shuuhei, uma vez que Abarai foi mais rápido – Você é mesmo estranho. Enfim. Eu, também por hábito e o Renji por ser um baka de marca maior e meter tinta na própria testa! Isso que eu chamo de dia produtivo!

- Fale por você, teme – o ruivo esvaziou o que restava da garrafa em seu copo, deixando Hisagi a ver navios, puto por não ter mais o que beber.

- Sakê! – o fukutaichou berrou inconformado, arrancando risos dos companheiros e um resmungo de reprovação do garçom. A noite ia ser longa.

∞∞∞∞∞∞

- Puta que pariu – xingou ao olhar-se no espelho.

Tinha acabado de chegar em casa, depois de ajudar Kira a levar um Hisagi meio esverdeado para o alojamento do 9º esquadrão. O fukutaichou sabia que não podia, mas insistia em forçar seu estômago ao álcool. Era de longe o mais fraco para a bebida. Os problemas estomacais de Shuuhei eram o de menos.

- Não é a toa que tá doendo tanto – murmurou, arrancando a shihakushou e jogando-se na cama. Graças ao sakê, só agora percebia o quanto sua cabeça ia continuar a doer – Kuso! – estava começando a se arrepender.

Sua cabeça doía tanto que acabou demorando a adormecer. Estava difícil arrumar uma posição em que não mexesse muito e os músculos da face relaxassem. Quando conseguiu, pesadelos. Borrões de sangue e gritos. Cheiro de algo queimando. Acordou assustado.

- Kuso... – gemeu, virando-se para o lado contrário.

O ardor em sua testa aumentava. Começou a achar que era febre. E, talvez, fosse. Dormir... Acabar num sonho que mais parecia uma lembrança...

∞∞∞∞∞∞

- Rukia! – o ruivo chamava pela pequena nos corredores da academia.

O lugar estava atulhado na hora do intervalo entre as aulas. Esbarrou em uns três ou quatro colegas que não se importavam com o fato dele estar tentando alcançar alguém que estava na outra ponta do corredor. Alguém que não o ouvia.

- Rukia! – voltou a gritar, correndo na direção da amiga. Surda diante da voz de Renji, a morena continuava a andar, calma, entrando por uma porta lateral. Abarai alcançou a mesma porta, instantes depois.

Já não era uma das salas da academia. A paisagem era a do lugar onde cresceram. Inuzuri, Rukongai #78. Perto do rio. O riacho onde ele, Rukia e seus falecidos amigos tentavam pescar algum peixe para matar a fome. O lugar onde, numa tarde a muito perdida no tempo, ele vira Rukia, ainda menina, com os pés na água, até a altura dos joelhos. Os raios de sol banhavam as águas e a pequena, que sorria, observando uma flor ser levada pela correnteza. Na tarde em que ele corara pela primeira vez ao observá-la e seu coração falhara uma batida, os olhos perdidos no sorriso de Rukia.

- N-Nande? – olhou a sua volta e tudo o que viu foram as árvores sopradas pela brisa e alguns passarinhos brincando entre os galhos. O riacho corria tranqüilo e o barulho da água corrente trazia paz ao coração do ruivo.

Caminhou até a beira d’água, observando seu reflexo. A testa exibia as tatuagens que ele havia acabado de fazer, só que com um aspecto bem melhor. Eram visíveis outras, descendo por seu pescoço e tórax. Como ele planejara. Mas ainda não fizera... Fizera?

- Renji? O que foi? – a voz da morena chegou-lhe aos ouvidos e a sombra dela cobriu sua imagem. Percebeu os pés pequenos no fundo raso do riacho.

- Rukia... – ergueu os olhos para a garota. Ela parecia diferente. Mais velha do que ele se lembrava. Crescera um ou dois centímetros. Dizer que fora mais do que isso, seria mentira. Os cabelos estavam no mesmo formato, pouca coisa mais longos. Os olhos permaneciam curiosos, apenas tinham ganhado um quê de seriedade que não existia na infância. O yukata verde-claro era de um tecido macio e pouco usado, bem diferente do batido e sujo de outra hora.

- Você tá bem? – ela estava preocupada – Tá com uma cara estranha...

- E-Eu? – demorou para assimilar as palavras. Ocupava-se em guardar os traços dela – Estou bem – respondeu meio atordoado – É que faz tempo que a gente não se encontra...

- Nande? – ela devolveu um olhar confuso – Do que está falando, itoshii?

“Itoshii?”, arregalou os olhos, visivelmente mais confuso do que ela. Rukia nunca o tratara daquele jeito. Não mesmo.

- E-Er...

Ela saiu da água, segurando-o pelo braço.

- Sente-se um pouco – empurrou de leve, obrigando o ruivo a sentar-se na grama – Será que está com febre? – Rukia aproximou a face da testa tatuada e fechou os olhos, averiguando a temperatura. Estava normal. Só as bochechas que ganhavam a cor dos cabelos – Não... Está normal.

- R-Rukia, o que está acontecendo? – perguntou, enquanto se assustava mais ainda ao vê-la empurrar seu joelho direito para sentar-se entre suas pernas.

- Eu é que pergunto! – a pequena sorriu, aconchegando-se no corpo dele, puxando os braços musculosos à sua volta – Aconteceu alguma coisa no esquadrão?

- N-Nanimo – respondeu, meio entorpecido pelo perfume suave que vinha dos cabelos negros. O corpo dela era tão quente – Nada que eu me lembre...

- Que tipo de shinigami é você, Abarai? – ela sorriu, divertida, passando as unhas com suavidade pela pele do braço dele – Não se lembra nem do que comeu no café da manhã?

- Pra falar a verdade, não mesmo – admitiu, coçando a nuca – Acho que estou com algum problema de memória.

- Bem... Qual parte você esqueceu? – Rukia virou o tronco, ficando de lado, pousando a cabeça na curva do pescoço dele, roçando os lábios pelo pescoço de músculos tensionados. Renji soltou o ar de um jeito pesado e ouviu um risinho em resposta – Então vamos do começo.

Num movimento rápido, o ruivo se viu deitado na grama, com Rukia sentada sobre ele. Uma perna de cada lado de sua cintura. As coxas prendendo-o sob ela. Mãos espalmadas em seu abdômen. Mordendo os lábios, fazendo cara de que ia aprontar. Debruçando-se sobre o corpo do rapaz, a morena cruzou os braços sobre o peito dele, mantendo as faces próximas. Sorrindo de um jeito doce da confusão estampada na face alheia.

- Você é Abarai Renji, fukutaichou do 11º esquadrão da Gotei 13. Um ruivo esquentadinho que eu conheço desde que me lembro por gente, odeia pimenta e com o qual eu fiz a besteira de me casar há alguns anos – apoiou a cabeça nas mãos rindo da cara boba que ele fazia.

- C-Casou? – os lábios tremiam na afirmação.

- Casei – repetiu ela, rindo ainda mais – Como assim você se esqueceu da gente, itoshii?

Ela ria e ele quase chorava. Não se lembrava de nada daquilo. Lembrava-se da vida que tivera até ali. Do momento em que ela o abandonara, dizendo que seria adotada pelos Kuchiki e da sua ida ao tatuador. Nada fazia sentido.

- R-Rukia... E-Eu não entendo – pousou o braço sobre os olhos, não conseguia encará-la.

- O que você não entende? – ela puxou o braço, obrigando-o a encará-la.

- Nada disso aconteceu! – gritou.

O som de suas palavras calou o riso de Rukia. A expressão alegre da garota tornou-se fechada e triste.

- Não somos casados! Nem posso dizer que somos amigos como éramos no tempo em que vivíamos aqui! – ela ergueu-se e ele fez o mesmo. Levou as mãos até o rosto dela, sentindo a maciez da tez, os olhos brilhantes fechados – Rukia...

Ela não o deixou continuar. Envolveu o pescoço dele com os braços delicados e colou seus lábios com força. O ruivo se assustou mais uma vez. Mas não conseguiu resistir. O calor daquele corpo e a necessidade daqueles lábios... Ninguém resistiria. O abraço ficava mais apertado, as línguas mais afoitas. O beijo que ele sempre desejou.

- D-Diga... – ela pediu, afastando as bocas, puxando o ar com força. Testas coladas. Lágrimas nos olhos – Diga que não é real. Diga que não me ama. Que eu não te amo.

- Rukia... – tentou puxá-la para si. Tentou com todas as forças não perdê-la. Não adiantou. Como névoa, ela desapareceu entre seus dedos.

- Renji... – um último sussurro e o perfume se foi.

∞∞∞∞∞∞

Abriu os olhos e estava, novamente, em sua cama. Encarava o teto. Todo o seu corpo doía. Fechou os olhos de novo, implorando para voltar, para dizer a ela... Que a amava também.

- Rukia.

O nome dela ecoou no quarto e não houve resposta. Ouvia o som distante de conversas. Na certa, a maioria do 11º esquadrão já estava de pé, procurando briga por aí. Nunca sentiu tanta vontade de continuar na cama. Nunca quis tanto voltar a ser aquele garoto de Rukongai que passava fome e não tinha um teto. Nunca odiou tanto um teto. Ergueu uma das mãos, observando os reflexos do sol que entravam pela janela, iluminar os traços da palma. Ela estivera ali, sentira a pele dela. Seu toque. Era real. Era real.

Levantou. Misteriosamente, ao contrário do corpo, sua cabeça não doía. Encarou novamente a palma da mão. Concentrou-se numa linha. Era fina. Não estava ali desde que nascera. Uma cicatriz. Lembrou-se de quando a ganhara. Ele e Rukia, correndo de um vendedor de maçãs. Rukia carregando duas maçãs e ele segurando uma cerca de arame farpado para ela passar. A pressa para não serem pegos. A beira do riacho. Rukia chorando ao vê-lo sangrar. A primeira vez que a vira chorar.

- Daijoubou Rukia-chan! – apesar do ardor, tentava sorrir para fazê-la parar com as lágrimas. Aquilo era mais doloroso que o corte – Olha, parece uma tatuagem...

Para Y.


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Notas finais do capítulo

P.s.: Renji e Rukia nem é meu casal favorito... Mas, sempre que penso nos meus próprios amores platônicos, inevitavelmente, me lembro do ruivo.