Capítulo 8 – A Casa do Lenhador

Depois que eu voltei do mundo de Honix, acabei adormecendo em minha cama.

O dia amanheceu tão ligeiro que eu não tive nem tempo de descansar. “Waldon”, meu irmão mais velho, estava jogando basquete com seus amigos no lado de fora. Eu podia ouvir claramente as batidas que a bola emitia. Decidi me levantar da cama para tomar café. Ainda bem que hoje é sábado, isso significa que não tem aula. Senti o cheiro do café de longe. Fiz minha higiene pessoal, desci as escadas e fui até a cozinha. Lá estava a mesa preparada com pães quentinhos e um café bem fresquinho. Minha mãe estava terminando de arrumar a mesa com uma bandeja de xícaras.

- Filho. Não sabia que tinha levantado tão cedo hoje – disse minha mãe colocando as xícaras na mesa.

– É que hoje eu tenho que aproveitar bem o dia – respondi sentando na cadeira próxima á mesa.

- Siana telefonou mais cedo hoje.

- Sério? O que ela queria?
- Ela só perguntou por você e queria falar algo. Já que você estava dormindo, eu não tinha coragem de acordá-lo.

- Eu vou saber o que ela quer – eu disse saindo da cozinha.

- Espera filho! Termine de tomar o seu café!

- Já terminei!

Minha mãe verificou realmente se eu tinha comido tudo. Fui até a sala de estar, sentei no sofá e peguei o telefone na escrivaninha ao lado.

- Alô, queria falar com Siana...

Segundos depois Siana atendeu ao telefone.

- Leskion, eu queria mesmo falar com você – disse Siana.

- Tá certo! Pode falar.

- No momento não posso... Pessoalmente!

- Tudo bem. Onde nos encontramos?
- Na Livraria próxima á Escola.
- OK.

- Te vejo daqui a pouco – disse Siana.

Coloquei o telefone no gancho e fui até o meu quarto. Peguei meu amuleto, coloquei no pescoço e sai de casa. Os amigos de Waldon ficaram me encarando enquanto eu andava. Nem liguei pra aqueles otários. A rua estava movimentada hoje, cheios de carros passando. Isso mal acontece por aqui... Atravessei a rua e logo avistei Siana em frente á Livraria. Ela acenou pra mim, como se eu não estivesse olhando para ela.

- Que demora Leskion!

- Foi mal. Demorei porque eu estava procurando o meu amuleto...

– Ainda bem que você o trouxe consigo...

– Por quê?
- Porque nós vamos precisar dele... Olha, lembra daquele item importante que Darlan nos deu?

- Sei – respondi seriamente.

- Então, eu me esqueci de pegá-lo de volta. Klaus deve ter ficado com ela.

- Bom... Será que Klaus vai estar no mesmo lugar que o encontramos no mundo de Honix? – perguntei com a mão no queixo.

- Acho que sim. Ele disse ontem que estaria perto da casa do Lenhador, caso voltássemos para Honix...

- É sim! Agora me lembro. Vamos depressa!

A Floresta ficava muito próxima dali, então andamos rapidamente. No mundo de Honix, Siana avista uma criatura muito estranha. Eu nunca vejo as coisas quando acontecem, é preciso ser algo muito grotesco para notar. Enfim, eu não sabia o que ela tinha visto, mas percebi que a criatura tinha fugido pelos arbustos. Siana simplesmente correu em direção aos arbustos para encontrar a criatura.

- Espera por mim! – gritei correndo atrás de Siana.

Ela estava procurando, procurando, procurando e não encontrava nada. Até ver uma pequena luz entre as árvores próximas aos arbustos. Siana olhou fixamente para a criatura luminosa. Eu nem pude ver, quando me aproximei dela, a criatura já tinha ido embora...

- Você não faz idéia do que eu acabei de ver – disse Siana com um sorriso no rosto.

- Imagino o que seja...

- É... Inexplicável! Apenas existe.

- Lembro que também tinha visto uma criatura fantástica. Na primeira vez que você veio no mundo de Honix, eu avistei um pássaro enorme com asas flamejantes voando sobre o céu azul.

- Queria ter visto também – disse Siana se lamentando.

- Ah! Quase íamos esquecendo! Vamos encontrar Klaus.

- Sim!

A cada dia que passava, as árvores ficavam mais bonitas. Cresciam rápidas, como se o tempo voasse. Caminhamos um pouco, e chegamos ao Jardim Silencioso. Tinham flores que se mexiam por vontade própria! É difícil de acreditar, mas é verdade. Entre as flores do Jardim Silencioso, eu vejo uma fumaça no céu. Imagino que seja alguém assando alguma carne ou coisa do tipo.
- Veja lá Siana! – eu disse apontando o dedo para o céu.

- Acho que alguém deve estar próximo daqui...

- Klaus! – eu e Siana dissemos ao mesmo tempo.

Fomos até a direção da fumaça e lá encontramos Klaus encostado numa árvore. Siana correu em direção a ele e disse:
- Que bom ver você de novo Klaus! – exclamou Siana com um brilho nos olhos.

– Siana! Você veio sozinha? – perguntou Klaus.

– Não, não. Leskion veio junto comigo.

– Siana, não saia correndo desembestada por aí – reclamei olhando para ela.

– Desculpa Leskion. E você Klaus, está com o Hatontem? – perguntou Siana.

– Você se esqueceu de pegá-lo comigo...

– Como fui distraída!

– Oi Klaus – eu disse me aproximando dos dois.

– Oi Leskion...

– Então Klaus! Está ai com você ou não? – perguntou Siana impacientemente.

– Não. Guardei na casa de um grande amigo meu.

– Amigo?

– Sim. Sabe o Lenhador que eu falei pra vocês dias atrás?
- Sei.

– Então. Vamos até a casa dele, agora que estamos muito perto de chegar lá – disse Klaus com entusiasmo.

– Beleza! – eu disse.

Seguimos Klaus até chegar numa cabana no meio da Floresta. Lá estava um senhor de grandes bigodes e com bastante vigor, cortando lenhas para queimar. Klaus foi o primeiro a falar com ele.
- Voltei senhor “Ozak”! – gritou Klaus andando em sua direção.

- Finalmente encontrei você garoto – disse Ozak com um machado na mão direita.

O que aquele senhor quer com Klaus usando um machado? Será que vai matar ele? Vou esperar e vê o quão longe ele pode chegar.

- Psiu! Siana! Venha aqui! – exclamei chamando Siana.

Siana se aproximou perto de mim e disse:
- O que foi Leskion?
- Você não acha estranho um senhor que diz ser amigo de Klaus e depois dizer “finalmente encontrei você” com um machado na mão?

- É paranóia sua Leskion. Relaxa. Você não viu que ele estava apenas trabalhando?

- Não sei não.

Klaus aproximou Ozak para perto de mim e Siana. Logo ele nos apresentou ao senhor.

- Ozak, esses ai são meus amigos. Leskion o da esquerda – disse Klaus apontando o dedo em minha direção – E essa ao seu lado chama-se Siana.

- Comovente – respondeu Ozak com a maior tranqüilidade.

- Quê? – reagi.

- Ora Ozak! Diga pelo menos um “oi” – incentivou Klaus para que Ozak falasse conosco.

- Olá crianças. Como vocês estão? Estou assando um pão bem quentinho pra vocês. Mas antes levem as mãos – disse Ozak sem ânimo.

Esse cara dá medo. Uma hora ele está sério, outra hora sem graça. Se esquisitice fosse gente, eu encontrei a pessoa certa.

- Desculpem pessoal. Ele não é muito social sabem... É... Querem entrar? – perguntou Klaus olhando para casa de Ozak.

Ozak se afastou e caminhou até o quintal da casa para terminar o seu serviço com as lenhas.

- Se esse cara é esquisito, imagine a casa dele? – eu disse.

– Leskion! Tenha modos! – exclamou Siana olhando para Klaus.

- Não tem problema. Vão responder a minha pergunta? – disse Klaus.

- Se tiver pão como o senhor disse. Bem quentinho, estou lá! – eu disse.

- Esse garoto não tem jeito mesmo – disse Siana se lamentando.

- Acho que deve ter. Vamos, vamos! – exclamou Klaus puxando o meu braço e o de Siana.

Ao entrar na casa, percebi que ele gostava muito de espadas. As paredes eram cheias de espadas penduradas. Como dizem “o velho ditado” – “Tem gosto pra tudo”. Apenas achei estranho a foto de uma garotinha de cabelos ruivos e olhos verdes. Fiquei curioso e decidi perguntar.

- Klaus. Você sabe quem é esta na foto? – eu disse apontando para a foto na parede.

- Essa é uma das perguntas que eu fiz quando conheci o Ozak. Mas ele não me respondeu.

- Seria a filha dele? – disse Siana curiosamente.

- Acho que não – disse Klaus.

- Ela nem se parece com aquele velho! Ela até que é bonitinha – eu disse rindo da situação.

Enquanto isso, Ozak estava escutando a conversa do lado de fora de sua casa. Mas logo ele volta para terminar de cortar as lenhas.

De repente, eu começo a escutar vozes de um garoto. Será que ele está com problemas? Só não posso ficar aqui.

- Vocês escutaram isso? – perguntei.

- Isso o quê? Não ouvi nada – respondeu Siana.

- Esperei você dizer isso Leskion. Acho que alguém está sendo atacado! – exclamou Klaus.

- Então o que estamos fazendo parados aqui? Vamos lá ajudá-lo! – exclamei.

Saímos correndo da casa de Ozak para o quintal. Ozak teve até um susto quando aparecemos.

- Mas o que está acontecendo? – perguntou Ozak espantado.

- Ouvimos vozes de socorro! Você não escutou? – respondeu Siana.

- Enquanto eu estava trabalhando, emitindo barulhos, acho que não percebi.

- Temos que ir depressa até o garoto! Vamos Siana! – exclamei.

Corremos para o sul, era de onde a voz estava vinda. E finalmente acabamos encontrando o garoto. Ele estava cercado por várias criaturas medonhas.

- Mas que seres são esses? – perguntei espantado.

- São conhecidos como “Slibers” – respondeu Klaus.

- Slibers? Quer dizer que essas gosmas em formato de bola de pêlos, têm nome? – disse Siana.

- Que seja! Temos que ajudá-lo! – exclamei.

Os Slibers tinham uma cor esverdeada, olhos pequenos e um formato redondo. Parecia até com uma gelatina.

- Já vi que estou sozinho nessa... Já que ninguém estar por perto mesmo, vou derrotá-los! – disse o garoto.

– O que ele disse? – perguntou Siana.

Em poucos instantes, o garoto movimentou seus braços e logo os Slibers foram jogados para longe!

- Como... Como ele fez isso? Ele nem sequer encostou um dedo neles! – eu disse surpreso.

- Será que ele... Não – disse Klaus olhando fixamente para o garoto.

Mas os Slibers não desistiram e logo fizeram um motim no garoto! Isso não foi o suficiente para deter o garoto, ele simplesmente levantou os braços para o céu e os Slibers voaram ao longe. Desfazendo o motim sobre ele...
- Incrível! – exclamou Siana.

O garoto estava quase sem nenhum arranhão. Mas nossas vozes o chamaram atenção.

- Quem está ai? Apareçam! – gritou o garoto furioso.

O momento estava tão intenso que resolvemos nos apresentar diante do garoto. Saímos perto das moitas e fomos em direção á ele.

- Quem são vocês? – perguntou o garoto encarando a gente seriamente.

- Calma. Apenas estávamos perto daqui e ouvimos o seu pedido de socorro e... – eu disse, mas antes terminar a falar, ele interrompeu.

- Foi de propósito! – exclamou o garoto.

- Propósito? Como assim? – perguntou Siana.

- Eu atraí vocês aqui – respondeu o garoto.

- O que você quer dizer com isso? – perguntou Klaus.

- Eu sei que vocês são... Digamos que... “Especiais”! – exclamou o garoto.

- Não sabemos do que está falando! – gritei.

- Você de cabelo azul, é o Herdeiro do Dragão do Fogo! E você, o loiro, é o Herdeiro do Dragão da Água! Estou correto? – disse o garoto.

- Você está falando coisas sem sentido. Vamos embora daqui pessoal! – disse Klaus.

Decidimos voltar para a casa do Lenhador, mas antes, o garoto nos chama a atenção.

- Já vão embora? Acho que não! – gritou o garoto.

O garoto correu em nossa direção e se posicionou em nossa frente. Ele nos encarou e disse:

- Você! – exclamou o garoto apontando o dedo para mim. – Derrotou um Inseto gigante na Floresta com um incêndio. Estou errado? – perguntou. – E você! – exclamou apontando o dedo para Klaus. – Apagou o incêndio causado pelo outro moleque, usando jatos de água saindo pelas pontas de seus dedos. Estou errado? Acho que não!

- Como você sabe de tudo isso? – perguntou Siana espantada.

- Porque eu sei. Eu estava lá presenciando tudo!

- Então fale garoto, o que você quer? – perguntei seriamente.

- Eu sou “Rogg”. E o que eu quero... É lutar contra vocês dois!

Esse garoto está com algum problema! Quer lutar contra agente sozinho? Não. O que vai ganhar com isso? Tem que haver outra maneira de resolver essa situação. E qual o motivo ele quer fazer isso? Só não vou deixar esse garoto continuar a nos insultar! Se não houver jeito, ele que venha! Vai ser moleza derrotá-lo.