O carteiro havia passado cedo aquele dia de Novembro e, junto com as contas e papeladas de sempre, trouxera um envelope diferente, uma carta. Fazia anos que Bruna não recebia cartas de ninguem e, além do mais, nem conhecia o remetente. Mas como estava curiosa, abriu-a. A carta de envelope azul e de papel amaçado dizia: 

“Bruna... sei que voce não me conhece, ou não se lembra de mim, mas... quer ler uma historia?
            ...Era começo de verão, mas Matheus não estava feliz. Por onde ele passava ninguém o notava, era como se ele não estivesse ali. Ele era um garoto cheio de idéias boas, porém ninguém as ouvia, ou quando ouviam, não aceitavam e diziam que era uma idéia tola. Ninguém se importava com ele. Matheus se sentia muito triste e revoltado, queria que aquilo não fosse real, mas como era muito tímido e reservado, ninguém percebia o quanto ele se lamentava. Afinal, ele parecia bem. Um dia ele estava chorando em um canto da escola quando uma garotinha de uns 10 anos se aproximou. Se chamava Bruna e ela se sentou por perto. Matheus viu que sua ultima esperança era aquela menininha. Ele olhou-a e sorriu, o sorriso mais sincero que podia dar naquele momento. Porém ela se assustou, se levantou e foi embora, sem nem falar algumas palavras ou retribuir o sorriso. Ele ficou desolado, nem a garotinha o queria como amigo. Depois disso Matheus passou os próximos anos numa grande depressão e solidão. Até que um dia ele se cansou de tudo aquilo. Imaginou durante dias como seria sua vida se tudo fosse diferente e se ninguém o ignorasse. Ele pensou o que não tinha feito para ser normal como os outros, mas ele percebeu que tudo que ele fez foi em vão, pois nada serviu e nem serviria. Foi quando ele decidiu acabar com tudo de uma vez por todas. Se despediu das coisas simples que possuía. E decidiu se despedir da única pessoa que lhe deu esperança algum dia na vida. Aquela garotinha que, apesar de o ignorar, fez a chama da esperança se acender nele. Fez uma linda carta de despedida e mandou para ela. Depois disso, abriu a janela e pulou para sua salvação...
          Triste a historia não? Infelizmente o que aconteceu não pode voltar atrás, e dói demais saber disso e saber que não a nada a fazer. Bom Bruna, acho que já esta na hora de eu me apresentar. OI! Eu sou o Matheus, ou eu era...”

Bruna só teve tempo de decorar o endereço do remetente antes de sair correndo de casa. Quando chegou ao endereço percebeu que era verdade, que não tinha nada a fazer. O endereço da carta era do velório de um menino chamado Matheus que se suicidou sem nenhum motivo aparente, como disse sua mãe. Mas ela sabia que, no fundo, era a culpada. Se sentiu tão mal por ter acabado com a vida de um menino, que a unica coisa que pode fazer era se aproximar do caixão, olhar seu rosto, sorrir e dizer:
       "Oi, eu sou a Bruna e voce? Porque voce está chorando?"